Adolescência, Crescimento dos Filhos e Conflitos (II)



c) A Arte de Gerir Conflitos Com os Adolescentes

A adolescência é um tempo de desafio e mudança, tanto para os filhos como para os pais. Por um lado, os pais pensam que os seus filhos adolescentes ainda não são suficientemente crescidos e responsáveis para lhes permitirem as coisas que eles pedem e exigem. Por seu lado, os adolescentes argumentam que os pais continuam a considerá-los como se fossem crianças.

Para superar as tensões próprias desta fase é fundamental haver muito diálogo e regras bem definidas. É normal que a cedência em relação à autonomia dos filhos se vá operando de modo gradual e progressivo. Uma norma sábia é os pais irem permitindo e cedendo autonomia aos filhos adolescentes na medida em que estes vão dando provas de responsabilidade. Os pais devem ter presente de que amar e ajudar os seus filhos nesta etapa também implica firmeza e coerência.

Eis algumas sugestões para os pais facilitarem com sabedoria e segurança o nascimento da autonomia dos filhos:
*Devem existir regras claras e bem definidas, as quais devem conter limites razoáveis tendo em conta o crescimento e a responsabilidade de que os filhos deram provas.
*Os pais devem permitir que o adolescente experimente as consequências dos seus comportamentos, apesar da vontade de os proteger.

Os pais devem tornar claro que, enquanto pais, têm direitos, como por exemplo:
*Direito a viver numa casa limpa, pedindo aos filhos adolescentes para ser desarrumados e, sobretudo, para arrumar as coisas depois de as terem utilizado.
*Os pais também têm direito a esperar boa educação em casa e cooperação nas tarefas domésticas.
*Têm direito a viverem tranquilos, sabendo que os seus filhos adolescentes se portam correctamente na escola.
* Os filhos adolescentes devem compreender a importância de avisar os pais das suas saídas e dos locais para onde vão. De facto, os pais têm direito a dormir em paz sem estarem sobressaltados pelo facto de não saberem onde os seus filhos se encontram.

*É normal os pais esperarem que os seus filhos cresçam gradualmente como pessoas responsáveis, a fim de não terem que andar sempre a tomar conta deles como se fossem crianças. Isto é importante para os adolescentes, pois ajuda-os a compreender melhor as razões pelas quais eles devem crescer em maturidade e atenção.
*Ao afirmarem esses seus direitos, os pais devem transmitir muito amor e apoio aos seus filhos adolescentes.

Os pais não podem esquecer que além dos seus direitos também têm deveres. Eis alguns desses deveres:
*Os pais tem o dever de mostrar muita ternura e compreensão pelos seus filhos adolescentes.
*Devem repetir muitas vezes aos seus filhos expressões deste tipo:
*Amo-te muito e quero continuar a amar-te e a apoiar-te.
*Quero proporcionar-se uma cada vez maior autonomia, à medida em que vais dando provas de maturidade e responsabilidade.
*Eu sei que tenho o dever de estar atento ao teu crescimento e reconhecer que, na verdade, já não és uma criança.

*Quero cumprir este dever sagrado, mas preciso que me ajudes, dando-me provas de que posso confiar em ti.
*Serás sempre o nosso filho ou a nossa filha, aconteça o que acontecer.
*Mas também te queria dizer que as coisas erradas que fazes nos fazem sofrer muito.
*Quando te portas bem tornas-te para nós um ídolo. Só nos apetece falar de ti a toda a gente!
*Espero e confio em ti no sentido de que também tu saberás cumprir os teus deveres, a fim de me ajudares a cumprir os meus.

*Os filhos adolescentes têm direito a saber com clareza o que os pais esperam deles e quais são os seus limites. Os filhos ganham força e respeito pelos pais quando estes são claros e firmes na afirmação das expectativas e esperanças que depositam neles.
*Os pais não se podem esquecer de que a virtude mais importante a cultivar no trato com os filhos adolescentes é a paciência.
*Os próprios adolescentes precisam de muita paciência para aprenderem a lidar com os seus problemas, sobretudo com as interrogações que emergem dentro deles de maneira impetuosa.
* Os pais devem esforçar-se no sentido de se controlarem e não se deixarem dominar por uma ansiedade excessiva, acabando por recorrer irreflectidamente aos castigos.
*O recurso fácil ao castigo não ajuda os adolescentes a crescer em maturidade, nem lhes dá mais força para modificar o seu comportamento.

*Os pais não podem esquecer que os adolescentes têm necessidade de sentir que os pais se preocupam com eles, sobretudo quando estão com problemas.
*Além disso devem encorajar sempre os filhos e elogiá-los quando eles fazem coisas acertadas e importantes.
*Os pais não devem pôr-se a discutir com os filhos adolescentes sobre coisas secundárias como por exemplo: Estilo do cabelo, modas extravagantes, estilos musicais etc.
*Lembrem-se de que os filhos adolescentes não devem ser tratados como se fossem crianças.
*Quanto mais os pais tratarem os filhos adolescentes como pessoas crescidas e responsáveis mais eles se sentirão fortes para agir como tal.

*Os pais não se podem esquecer de que uma autonomia adequada, uma justa separação e consciência da própria dignidade e identidade são passos importantes para os adolescentes atingirem a maturidade pessoal.
*É importante que os pais não fiquem em pânico se virem que o seu filho adolescente cometeu um erro. Lembrem-se de que, por vezes, aprendemos muito com as consequências dos nossos erros.

Eis em forma de síntese alguns aspectos importantes que os pais devem ter em consideração para facilitar o amadurecimento dos seus filhos adolescente:
*Recuse-se a argumentar sobre a validade ou não validade de uma decisão que lhe pareça justa.
*Não preste atenção a lágrimas, ou gritos de rejeição se a sua decisão lhe parece a melhor para o seu filho.
*Tente ignorar os seus próprios sentimentos de culpa, de raiva, de remorso, a fim de não se descontrolar na relação com o seu filho adolescente.

*Tenha presente de que a educação é uma tarefa que implica amor firme, mas nunca é demagogia ou tirania.
*Sintonize com as alegrias do seu filho quando este está feliz e com as suas tristezas quando estiver a sofrer.
*Mostre claramente que está do lado do seu filho, mas não interfira nem se intrometa no campo da sua intimidade. Se não respeitar este princípio, o seu filho adolescente negar-lhe-à a entrada nos seus assuntos mais pessoais e, deste modo, não o poderá ajudar. Não substitua o seu filho, a fim de ele se tornar mais responsável.
*Oiça e seja aberto às opiniões dos filhos, mesmo que isso, por vezes, lhe custe.

Os pais não podem esquecer-se de que o mundo do adolescente de hoje é muito diferente do mundo dos adultos. Além disso devem ter presente que a maneira de ser adolescente nos nossos dias é muito diferente da maneira de ser adolescente há trinta ou quarenta anos atrás.


d) Os Pais e as Mentiras dos Adolescentes

Uma das coisas que mais desorienta os pais é a detenção de algumas mentiras nos adolescentes. Antes era uma criança incapaz de mentir, dizem, mas agora parece outra pessoa! É assim mesmo. O ser humano, sem deixar de ser o mesmo vai sendo de modo sempre diferente. Somos seres em construção.

Os adolescentes farão tudo para conseguir conquistar a sua autonomia ainda que seja preciso mentir aos próprios pais. A mentira na adolescência e a agressividade nos adolescentes deve ser entendida nesta perspectiva. O facto de irritarem os pais tem para eles um significado de afirmação pessoal: “Estão irritados comigo. Isto é a prova de que não me dominam nem controlam. A minha vida pertence-me, por isso não quero estar sujeito às suas regras”.

O adolescente tem uma grande necessidade de grupos de amigos e companheiros. Muitas vezes, o rompimento das normas dos pais é não apenas a tentativa de reforçar a sua autonomia como também ser leais para com os companheiros. O adolescente põe com frequentemente a lealdade para com os companheiros à frente da lealdade paras com os pais. Eis a razão de alguns desajustes como mentiras, quebra de promessas, descuido em relação à hora de entrar em casa e outros.

Nesta etapa as regras tornam-se-lhes intoleráveis, pois são o sinal de que, afinal, os pais continuam a dominar. A maneira de os pais aliviarem esta tensão é estabelecerem as normas e os horários em diálogo com os próprios adolescentes. Não devemos valorizar estes desajustes em termos de falta moral. Na realidade a quebra do acordo não lhes parece uma coisa moralmente errada, pois resulta da fidelidade aos amigos e da conquista da sua autonomia.

A mentira do adolescente é a expressão de um conflito. A mentira ocasional facilita o estabelecimento de um espaço privado, uma área na qual os pais não têm controle. Os pais têm de aceitar que é uma atitude irrealista esperar que o adolescente diga sempre a verdade. Os pais devem compreender que não é possível conhecer todas as coisas que os seus filhos adolescentes fazem.

O importante é saberem que os filhos estão a controlar os diversos aspectos da sua vida. Mas não pretendam saber tudo o que lhes acontece, pois iriam detectar muitas mentiras. Os pais devem impor regras como, por exemplo, não queremos que tragas para casa companheiros que consomem drogas.

Talvez esta reflexão nos ajude a concluir que não devemos valorizar muito as mentiras detectadas nos adolescentes. Com efeito, neste período confuso, uma mentira verbal significa para eles um mal menor. Os pais não devem concluir que, devido a essas pequenas mentiras, o seu filho se está a estruturar como um adulto mentiroso. O próprio adolescente anseia ultrapassar esta situação que, na verdade, não o deixa satisfeito.

Os pais não devem evitar falar muitas vezes das mentiras detectadas nos filhos ou dizer-lhes que, a partir de agora já não confiam neles. Eis alguns princípios que podem facilitar o diálogo com os seus filhos:

*Procure compreender o que o seu filho ou filha estão realmente dizendo. Lembre-se de que o adolescente, muitas vezes, não queria dizer aquilo que, de facto, disse. Com frequência, ele exprime ideias que logo a seguir lamenta. Na verdade, o que ele disse não corresponde à verdade dos seus sentimentos.  Em vez de ficarem apreensivos com algumas afirmações chocantes, os pais devem fazer perguntas, a fim de ver o alcance e o sentido dessas afirmações.

*Evite dar muitos conselhos, pois estes são indesejados e, por isso, ineficazes. Em vez de dizer: “eu bem te disse que devias estudar, caso contrário o resultado seria desastroso”. É preferível dizer: “Sinto que estás preocupado com o resultado dos testes. Tens alguma ideia sobre o modo de superar este problema?”

*Evite pôr-se à defesa face a algumas acusações dos filhos adolescentes. Se, por exemplo, face às proibições em relação à droga, o filho lhe responder: “Sim mas tu bebes e, muitas vezes perturbas o ambiente familiar por causa do álcool”, não procure justificar o seu procedimento. Pelo contrário, pense que ele está preocupado e magoado com esse seu procedimento. Neste caso seria melhor responder: “sinto que estás preocupado e irritado com este meu problema, mas não deves pensar que a minha proibição em relação ao uso de drogas implica menos amor por ti”.

*Diga o que tem a dizer e retire-se. O adolescente fará tudo para o picar e criar enfrentamento. Os pais devem evitar discussões que acabariam por os descontrolar e tirar eficácia ao que disseram. Não tente lutar usando uma argumentação que acabaria por se revelar totalmente inútil.

*Distinga bem a diferença entre dar apoio ao seu filho, escutando-o e sujeitá-lo a interrogatórios inoportunos. Os interrogatórios irritam-no, pois isso é sentido como mais uma tentativa para o controlar. O adolescente detesta tudo o que se pareça com uma tentativa de controlo. Mostre-se solidário com os seus problemas, mas respeite muito a sua privacidade. Se o vir muito preocupado, pergunte-lhe se haverá alguma coisa que possa fazer para o apoiar. Mostre-se disponível e se ele se abrir, disponha-se totalmente para seguir em frente a sua ajuda.

*Se o filho adolescente lhe comunicar uma experiência daquelas que mais assustam os pais, não perca o controlo nem parta a loiça. Tente salvar tudo o que é possível salvar.
*Procure aprender a divertir-se com o seu filho adolescente. Por vezes umas piadas e brincadeiras realizam maravilhas no sentido de criar uma comunicação profunda.

*Reconheça os sentimentos e ideias expressas pelo seu filho. Nunca ponha a ridículo os sentimentos que ele lhe comunicou. Muitas vezes a solução de um problema está apenas no facto de ter sido escutado, compreendido, aceite e não julgado.

*Evite muitas palavras e sobretudo evite dar muitas receitas e moralismos. Por vezes um toque no ombro ou um abraço faz mais que muitas palavras e receitas morais.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

1 comentário:

  1. AGRADEÇO IMENSAMENTE ....EU ESTAVA CONFUSA COM O COMPORTAMENTO DO MEU FILHO QUE EU NÃO PERCEBI ANTES MAS GRAÇAS A DEUS ESTÁ EM BUSCA DA AUTONOMIA

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