O Homem surgiu na história como resultado de um processo evolutivo a partir do animal. Por outro lado, o homem novo ainda está em construção. Eis a razão pela qual nós experimentamos uma ambiguidade existencial que, por vezes, se torna para nós uma fonte de sofrimento.
Podemos dizer que o homem velho é aquele que ainda está umbilicalmente ligado ao mundo animal. O homem novo, pelo contrário, é aquele que emerge a partir do processo da humanização, constituindo-se como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão.
Deus chama-nos a facilitar a emergência do homem novo tentando dominar as tendências do velho que ainda está vivo em todos nós. O evangelho de São João diz-nos que temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, a fim de que possa emergir o homo novo configurado com Cristo (Jo 3, 3-6). O Espírito Santo, no nosso coração, convida-nos a alegrar-nos com o bem que há em nós e nos irmãos. É ele que nos ajuda a edificar o Homem Novo cujo coração se vai configurando progressivamente com o jeito de ser e amar de Jesus Cristo.
O homem novo edifica-se sobre uma série de atitudes geradoras de relações fraternas, condição para atingirmos a comunhão do Reino de Deus. Eis algumas propostas que o Espírito nos faz, a fim de podermos edificar o homem novo:
Procurar compreender os outros na sua realidade profunda, a fim de facilitar a sua realização e podermos aceitá-los nas as suas diferenças.
Aprender a aceitar o outro por ser o que é e não por fazer o que eu quero que ele faça.
Aprender a confiar nos outros e agir de modo a merecermos a confiança deles.
Estar atento ao bem que os outros fazem, valorizando as suas realizações.
Compreender as crises de crescimento das pessoas com quem vivemos, sabendo que não pode haver crescimento sem crises.
Nas nossas conversas, procuremos utilizar conceitos e palavras que exprimam esperança, a fim de fortalecermos nas pessoas o gosto pela vida.
Não alimentar planos de vingança, nem atitudes que criem roturas nas nossas relações.
Procuremos que as nossas relações se processem numa linha de verdade e autenticidade.
Cultivemos o sentido de pertença em relação à família ou aos grupos dos quais fazemos parte.
Procuremos compreender e aceitar a história das outras pessoas, a fim de sermos capazes de as compreender e aceitar tal como elas são.
Lembremo-nos com frequência de que os outros são um dom, pois são as mediações que Deus nos dá para a nossa realização pessoal.
Não nos esqueçamos de que os outros são os irmãos que Deus nos dá, pois somos todos membros da família de Deus.
Não tenhamos a pretensão de ser bons em tudo. Aceitemos com humildade que há aspectos em que os outros são melhores do que nós.
A maneira mais plena de amar a originalidade e a diferença dos irmãos é deixá-los ser iguais a si próprios.
O Espírito Santo está presente na dinâmica das nossas relações, optimizando-as e fazendo delas o motor que nos conduz à festa da Comunhão Universal. Mas o homem novo não pode nascer sem que o velho vá morrendo a uma série de atitudes e comportamentos que impedem o seu nascimento. Eis algumas das atitudes e forças do homem velho às quais é preciso morrer de modo progressivo, a fim de poder nascer o homem novo:
O homem velho edifica sobre a mentira. Quando a mentira se torna frequente no pensar e no agir de um ser humano, este estrutura-se como pessoa mentirosa. A comunicação da pessoa mentirosa é uma cadeia de mentiras. Do seu coração e da sua boca a mentira emerge com a mesma naturalidade como se de verdade se tratasse. O coração da pessoa mentirosa vai ficando cada vez mais endurecido e incapaz de ver as coisas com a luz e os critérios da Palavra de Deus.
Outra característica do homem velho é a sua rigidez mental. Quanto mais se estrutura na condição de homem velho, mais cresce em si a teimosia que o impede de acolher a novidade do amor de Deus. O homem velho é egoísta e por isso não quer criar laços de fraternidade e comunhão. O maior perigo do egoísmo é a pessoa ficar cada vez mais amarrada a si mesma e, portanto, incapaz de se realizar como pessoa e atingir a plenitude da comunhão universal. Na verdade, a plenitude da pessoa não se encontra em si, mas na reciprocidade amorosa.
O homem velho é vingativo e por isso tem muita dificuldade em perdoar. Como é orgulhoso, pensa que o perdão é uma fraqueza que fere a dignidade humana. Os ensinamentos de Jesus vão no sentido contrário. Na verdade, o Senhor ensina-nos que o perdão nos vai tornando parecidos com o próprio Deus (Mt 5, 43-48). O Espírito Santo é o vínculo maternal da comunhão orgânica que une Cristo e a Humanidade. Como perito de relações de amor, o Espírito Santo conduz-nos no sentido de edificarmos o alicerce do diálogo e do perdão. Quando nos dispomos a perdoar libertamo-nos do rancor obsessivo que nos impede de amar e viver em paz.
Por ser invejoso, o homem velho é infeliz. Na verdade, a pessoa invejosa sofre e amargura-se com o bem que acontece aos outros, mesmo que se trate de pequenas coisas. É frequente a pessoa invejosa ter muito mais benefícios e riquezas do que daquelas pessoas das quais sente inveja. O simples facto de o invejoso ver nos outros algo que ele não tem é já uma fonte de raiva e infelicidade.
A vocação fundamental de cada ser humano é edificar o homem novo com os talentos de que dispõe. Procedendo assim, a pessoa está a ser fiel aos dons que recebeu, pois começamos por ser o que os outros fizeram de nós. Mas o mais importante, é o que fazemos a partir do que recebemos dos outros. Por outras palavras, sendo fiéis aos talentos que recebemos dos outros, estamos a interagir e a ser inseridos no tecido da comunhão Universal.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
Sem comentários:
Enviar um comentário