Amor, Realização Humana e Felicidade: III. Amor e Humanização



Deus quis que o Homem nascesse inacabado, a fim de tomar parte na sua própria criação. Ao criar-nos, Deus convidou-nos a tomar parte na nossa realização, a fim de colaborarmos com o Espírito Santo na tarefa histórica da construção humana. É exactamente isto o que Jesus nos quer dizer quando nos diz que temos de renascer pelo Espírito Santo (Jo 3,6). Na verdade, o nosso ser interior, por ser espiritual, nasce do amor maternal do Espírito Santo e não dos impulsos da carne ou do querer do Homem, diz Jesus (Jo 1, 12-13).

Nascemos para entrar na marcha da humanização cuja lei é: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.” Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de interagir com os outros em dinâmica de comunhão.

A marcha da evolução trouxe-nos até à complexidade cerebral própria do homem. Com este salto biológico aconteceu a hominização, isto é, a estrutura natural capaz de iniciar a humanização. Como ser em realização histórica, a pessoas humana está a emergir e a estruturar-se em duas dimensões muito diferentes: A dimensão exterior que é o nosso ser individual e mortal, e a interior que é o nível do ser pessoal-espiritual, o qual é irreversível ou imortal.

O nosso ser espiritual é ressuscitável, isto é, tem condições para ser divinizado mediante a sua assunção na comunhão orgânica da Família Divina. No interior do nosso ser exterior emerge o interior como o pintainho emerge dentro do ovo. Portanto, a plenitude da vida pessoal, por ser espiritual, acontecerá no dia em que o ovo eclodir e o pintainho nascer para a comunhão universal.

Nascemos para renascer e emergirmos como pessoas talhadas para a Comunhão orgânica e dinâmica da Santíssima Trindade. Ressuscitamos com Cristo, pois o Homem é proporcional ao próprio Deus. Como sabemos, a Divindade é pessoas e a Humanidade também. Fechado em si e separado da comunhão, o ser humano está estado de malogro. Apenas em relação com os outros, a pessoa se possui e encontra a sua plena identidade.

Uma pessoa está humanizada na medida em que tem um coração capaz de eleger o outro como alvo de amor, aceitando-o como é e ajudando-o a ser feliz. Com efeito, temos a capacidade de eleger os outros como irmãos, mesmo para lá dos laços do sangue. Foi assim também que as pessoas divinas nos elegeram como membros da sua Família: filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação ao Filho de Deus. Como o Espírito Santo é a ternura maternal de Deus, é através dele que somos inseridos na Família Divina!

A pessoa, para emergir, tem de renascer, pois está em processo histórico de humanização. A nossa identidade, mesmo ao nível espiritual, é histórica. De facto, para nos dizermos temos de contar sempre uma história. Não acontece o mesmo com as pessoas divinas, pois Deus não é um ser inacabado como o Homem. Na verdade, a Divindade é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em total convergência de comunhão familiar.

O nosso ser espiritual avalia-se pela capacidade de amar e comungar. Com efeito, a pessoa não vale pelo que tem, mas sim pelo que é. À medida em que renascemos, emergimos como seres livres, conscientes e responsáveis. Estamos talhados para a comunhão com Deus a cuja imagem fomos moldados. Eis a razão de ser desta fome de renascer e transcender que levamos connosco. É uma voz permanente a convidar-nos para vencer os limites da raça, da nacionalidade, dos laços do sangue e da nossa condição social ou sexual.

Como nascemos talhados para Deus já pertencemos à cúpula da criação que é a comunhão Universal das pessoas humanas com as divinas. A meta do homem em processo histórico de humanização é a sua divinização através da assunção e incorporação na comunhão da Santíssima Trindade. Isto acontece graças ao facto de a Humanidade fazer uma união orgânica e dinâmica com Jesus Cristo Ressuscitado.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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