Adolescência, Crescimento dos Filhos e Conflitos (I)


a)  O Mundo Misterioso dos Adolescentes

Os pais, por vezes sentem-se preocupados e confusos, pois não entendem as mudanças que estão a acontecer nos seus filhos adolescentes. Neste período é muito importante escutá-los e tentar dialogar com eles, pois também eles estão confusos com a irrupção de mudanças que, devido ao facto de serem novas para eles, ainda não aprenderam a gerir.

Cada adolescente é uma pessoa única, original e irrepetível. Muitos dos fenómenos novos que lhes estão a acontecer, embora sejam semelhantes, por vezes surgem de modo diferente em relação aos outros seus colegas. Mas há muitas manifestações comuns no despertar da adolescência:

*Crescimento do sentido de identidade pessoal, atenção especial às experiências interiores.
*Além disso começa a despertar o pensamento abstracto, bem como capacidade de adiar recompensas.
*Começa a despertar nele uma maior preocupação pelos outros e pelos problemas sociais.
*Preocupação e interesse pelo futuro, vontade de assumir tarefas sociais.

É o período em que despertam os sentimentos fortes, bem como os afectos e impulsos sexuais. O adolescente torna-se capaz de viver relações interpessoais com grande profundidade. É na adolescência que se afirma de modo decisivo a identidade sexual, bem como os primeiros apelos a manifestações de ternura e amor sensual.

O adolescente é capaz de sentir o mundo dos valores como um chamamento a comprometer-se socialmente. Este chamamento a comprometer-se com o apelo dos valores surge normalmente com uma forte carga de idealismo. O adolescente come a ser capaz de elaborar objectivos para a sua vida e acção. Cresce nele o apreço pelos valores morais e o sentido da dignidade pessoal.

Afirma-se de modo mais forte a sua auto estima. Por outras palavras, é na adolescência que se afirmam de maneira decisiva as manifestações da mulher ou do homem que vai acontecer e realizar-se de modo livre, consciente e responsável.

Encontramo-nos na vida constantemente chamados a decidir, optar e agir desta ou daquela maneira.  Não podemos realizar-nos como pessoas sem escolher. As nossas decisões e opções acontecem dentro de um sistema de valores que nos foi sendo comunicado e que fomos considerando como o sistema válido para nos realizarmos na vida.

Damo-nos conta da importância das nossas decisões, escolhas e opções quando pensamos no papel decisivo que certa escolha ou decisão teve na nossa vida. Como hoje seríamos diferentes se tivéssemos optado de outro modo em determinado momento da nossa vida! Que seria de nós hoje se não tivéssemos tomado aquela decisão difícil?

O período da adolescência é fundamental para a rapariga ou o rapaz começara a tomar decisões que vão orientar de modo muito forte o seu futuro. As decisões e opções significativas têm sempre consequências na nossa vida, pois são elos que se vão ligar a uma cadeia de muitas outras decisões e opções que só acontecem porque nós optámos de determinada maneira na adolescência ou na juventude. As opções, escolhas e decisões da adolescência têm a mesma importância do alicerce para a edificação de uma casa.

Até ao período da adolescência fomos quilo que os outros foram fazendo de nós. Agora, o adolescente sente-se chamado a decidir aquilo que irá ser, partindo das possibilidades que recebeu dos demais.

Somos seres em construção. Todas as decisões têm impacto e consequências na nossa vida, em particular as decisões tomadas na adolescência e na juventude. Estas decisões têm a força de orientar e alterar o curso da nossa vida. Como sabemos, a pessoa é um ser histórico. As decisões, escolhas, opções e compromissos vão-se entretecendo e tornando interdependentes.

A adolescência é um período cheio de incontáveis oportunidades e desafios.  O jovem está chamado a decidir-se pelos objectivos que irão configurar em grande parte a sua vida de adulto. Por outras palavras, da capacidade de conduzir e orientar bem as oportunidades que se apresentam ao jovem depende em grande parte o futuro da pessoa.

Os pais que conseguem fornecer aos filhos os critérios, a sabedoria e os valores para optarem correctamente, estão a possibilitar-lhes a realização o entanto, através do diálogo, podem iluminar o homem ou a mulher que está a emergir neles de modo único, original, e irrepetível. Os critérios, a sabedoria e os valores são ferramentas preciosas e indispensáveis para os adolescentes decidirem a sua realização numa linha correcta.

Mas a última palavra, naturalmente, cabe-lhes a eles, a fim de poder emergir de modo seguro e sólido a pessoa que eles levam dentro de si em forma de um leque de possibilidades e talentos. Como sabemos, a pessoa faz-se, fazendo. Torna-se capaz de optar, optando.  Quanto mais o adolescente for iniciado na arte de decidir e optar, mais vai sendo capaz de se construir como pessoa livre, consciente e responsável.

Mas devemos ter presente que o excesso é prejudicial. Não podemos cair na tentação de fazer dos adolescentes adultóides, tornando-os pessoas angustiadas e deprimidas. O critério deve ser: por um lado, não fazer o que eles já podem fazer sem dificuldades. Por outro lado, não lhes confiar tarefas que impliquem claramente excesso de responsabilidade, preocupação ou esforço.

Pouco a pouco, no interior da pessoa, vai-se formando um núcleo de decisão onde se combinam os valores transmitidos pela educação, a sabedoria que nos capacita para discernir sobre esses valores e o livre arbítrio ou capacidade psíquica de escolher.

É fundamental que os adolescentes desenvolvam este núcleo a que a Bíblia dá o nome de coração. O coração, neste sentido, é o ponto de encontro do melhor que recebemos dos outros com a luz e a voz do Espírito Santo que nos convida a realizarmo-nos de acordo com os valores inscritos na nossa consciência.

Os pais e os educadores são as principais mediações para acontecer esta emergência e crescimento interior. É importante ajudar o adolescente a compreender que ninguém pode entrar no seu labirinto interior, para encontrar a saída certa. Mas é importante escutar os outros, pois estes são mediações muito importantes para encontrarmos as saídas que nos levam à maturidade psíquica e espiritual.

É verdade que os outros não podem substituir-nos na tarefa da nossa realização pessoal. Mas é igualmente verdade que ninguém é capaz de se realizar sozinho. Neste nosso interior misterioso confronta-se o que a pessoa sente, o que os outros inscreveram nela através da edução e a voz do Espírito Santo que nos convida, interpela e chama a agir na linha da nossa humanização.

Como vemos, a pessoa não pode realizar-se sem os outros e sem Deus. Com efeito, a pessoa não é uma ilha. Pelo contrário, forma um todo orgânico com a humanidade. É importante que os pais facilitem esta interacção não demonstrando indiferença ou azedume devido ao distanciamento aparente do adolescente.

Os adolescentes necessitam de sentir que os pais estão com eles e se disponibilizam para falar. Os pais devem compreender que a necessidade que o adolescente sente de se distanciar é um passo básico para o seu amadurecimento pessoal. Enquanto crianças foram o que os pais quiseram que elas fossem. Agora sentem uma necessidade enorme de se afirmarem como diferentes, autónomos e com uma identidade própria, a qual não se confunde com a identidade dos pais.

Daqui os seus gostos, preferências ou maneiras de se diferenciarem que, por vezes, deixam os pais totalmente confusos. Para o adolescente, é importante afirmar-se como diferente, pouco importando o modo como o fazem. Neste período é importante demonstrar que se é diferente, tanto a nível da política, como das roupas, da música, das práticas religiosas. Tudo isto para se afirmarem como pessoas distintas e separadas dos pais.

Estes comportamentos são uma verdadeira necessidade psíquica e não meros caprichos arbitrários. É importante que os pais compreendem que estes comportamentos não significam menor amor ou menos respeito por eles. Os pais podem ter a certeza de que os adolescentes precisam muito do seu amor, apesar de muitos dos seus comportamentos não terem nada de amável. Quanto mais eles afirmam as suas diferenças através de comportamentos raros, mais estão a necessitar do amor dos pais.

É importante que os pais lhes digam: “Gosto muito de ti” ou “amo-te muito”. É importante que os pais os toquem quando passam por eles, mesmo que por vezes resmunguem! É importante compreender que eles não têm culpa de estar na adolescência. As suas ideias podem parecer-nos perigosas ou mesmo heréticas.  Mas não nos esqueçamos que a adolescência é uma fase de exploração, tentativas de descoberta, busca de identidade, necessidade de afirmação mediante confrontos com os outros.

Muitas das afirmações dos adolescentes têm apenas o sentido de saberem até onde podem ir ou usufruir sem perigos graves. A maneira de o fazerem é opor-se aos pais, pois eles sabem que os pais lhes querem bem e querem dar-lhes o melhor. É importante ensiná-los a discernir e optar pelos valores, mas sem discutir muito. Quando se tratar de chamar a atenção diga-lhes o que tem a dizer e retire-se.

No diálogo é preciso ser pacientes e tolerantes. É importante empregar expressões que os façam pensar, mas não expressões que os magoem, como por exemplo:
*É uma maneira de ver as coisas…
*Mas tu já pensaste acerca deste inconveniente?
*Mas tu já reparaste onde íamos parar se agíssemos de acordo com essa forma de pensar?
Evitemos respostas do tipo: “É a ideia mais estúpida que já ouvi!”

É bom perguntar a opinião deles sobre o papel da família, o sentido da vida ou sobre questões de ética. Isto ajuda-os a formar a consciência. É conveniente falar-lhes da nossa experiência sobre diversos aspectos, mas sem lhes pregar grandes sermões. Ao ouvi-los, não devemos cair na tentação de nos pormos a moralizar, senão eles deixam de se abrir connosco. Se suspeitamos de algum problema em concreto, é muito importante dizer-lhes: “Quando eu era adolescente tive um problema que me perturbou enormemente…”.
Ouvindo os problemas da adolescência dos pais ou avós, percebem que também estes foram adolescentes. Isto ajuda-os a desdramatizar as experiências que os dominam e absorvem e, muitas vezes, eles pensam tratar-se de uma tragédia sem saída.

Não consideremos de menor importância a questão da vida espiritual dos adolescentes. A melhor maneira de os ajudar a crescer espiritualmente neste período é ajudá-los a inserir-se num grupo da paróquia onde normalmente celebram a fé. Os grupos cristãos de adolescentes fornecem um suporte espiritual muito positivo.

Os pais não podem esquecer que a melhor maneira de influenciar positivamente os seus filhos é serem para eles um padrão. Uma atitude sensata; uma decisão acertada; um testemunho de fidelidade aos valores importantes como verdade, sinceridade, doação ou honestidade cavam mais fundo do que uma multidão de palavras.

b)      O Crescimento Pessoal na Adolescência

O despertar da adolescência traz consigo uma forte dose de mistério e, por isso desperta tantas dúvidas e interrogações não só nos adolescentes como também nos pais e educadores. A adolescência surge com uma série de manifestações que são gerais nesta fase importante do crescimento humano.

Eis algumas das manifestações mais comuns que marcam o despertar da adolescência:
*Desenvolvimento do sentido da própria identidade.
*Atenção especial ao seu mundo interior: sentimentos, emoções, impulsos, ideais, etc.
*Despertar do pensamento abstracto e capacidade de entrega generosa a uma causa.
*Capacidade de adiar recompensas.
*Começam a surgir preocupações pelos problemas sociais.
*Interesse pelo futuro, e empenho em tarefas orientadas para combater injustiças e desigualdades, tudo isto acompanhado de um forte sentido dos valores morais e dos direitos humanos.

A adolescência é o período em que despertam afectos e impulsos sexuais fortes. O adolescente torna-se capaz de viver relações interpessoais com grande empenho e profundidade. Vive o mundo dos valores como chamamentos a compromissos generosos, embora com uma forte carga de idealismo. É na adolescência que se afirmam de maneira decisiva as manifestações da mulher ou do homem que vai realizar-se de modo livre, consciente, responsável e capaz de amar.

O adolescente pode não saber ainda muito bem o que quer, mas já sabe muito bem aquilo que não quer. As suas decisões e opções acontecem dentro de um sistema de valores com os quais se identifica. A adolescência é um período fundamental para tomar decisões e fazer opções.

A experiência ensinou os adultos a importância das decisões, opções e escolhas acertadas que fizeram na sua adolescência. Qualquer adulto consciente e bem formado reconhece a verdade de algumas afirmações deste tipo: Como hoje seria diferente se tivesse optado de outro modo quando era jovem. Ou então: Ah, se o tempo voltasse para trás como eu teria optado de outro modo!

E no sentido positivo podemos ouvir isto: “Que seria de mim hoje se eu não tivesse tomado aquela decisão difícil?” Isto quer dizer que o período da adolescência e da juventude são fundamentais para a tomada de decisões que orientam de modo marcante o futuro da pessoa. Como sabemos, as decisões e opções significativas têm sempre consequências na nossa vida. São elos que se vão ligar a uma cadeia de muitas outras decisões e opções que só acontecem porque nós optámos de determinada maneira na adolescência ou na juventude.

As opções, escolhas e decisões da adolescência são como que o alicerce sobre o qual se edifica uma casa. Se o alicerce for seguro, a casa fica sólida e segura. Se, pelo contrário, o alicerce for arenoso e sem profundidade, a casa vai acabar por ruir quando chegarem as tempestades e os vendavais como dizem os evangelhos.

Até ao período da adolescência as crianças são moldadas pelos demais, em especial os pais e educadores. Com a adolescência, a pessoa começa a interagir com os outros de modo selectivo, isto é, aceitando umas coisas e rejeitando outras. O adolescente não pode esquecer que continua a precisar dos outros para se realizar, embora de maneira mais autónoma. Os adolescentes começam a saber excluir coisas que sentem não lhes servirem. Mas precisa ainda dos outros para descobrir muitas coisas que ainda desconhece e são fundamentais para a sua realização.

Na verdade, os adolescentes continuam a precisar dos pais e educadores, a fim de construir aquilo que ainda lhe falta para ser uma pessoa plenamente autónoma, segura e realizada. Com grande alegria os próprios pais também descobrem este crescimento dos seus filhos adolescentes. E assim se vai afirmando o jeito de ser do homem ou da mulher que está a adquirir a sua configuração definitiva na adolescência.

A adolescência é um período cheio de oportunidades e desafios. Felizes dos adolescentes e jovens que começam a decidir e optar orientados pelos valores que conduzem à maturidade e realização pessoal tais como: verdade, lealdade, honestidade.

*Justiça, fidelidade à sua consciência, capacidade de gerir própria vida.
*Atenção aos outros, coragem para manifestar e defender as próprias convicções.
*Sentido de fraternidade, coragem para defender os que estão a ser injustamente marginalizados ou perseguidos.
*Disponibilidade para se comprometer com causas sociais válidas.

Na medida em que o adolescente comece a orientar a sua acção por estes e outros valores básicos, está a configurar de modo positivo o seu próprio futuro. Podemos dizer que o futuro de um adolescente depende em grande parte da capacidade de conduzir e orientar bem as oportunidades que se lhe apresentam neste período da sua vida.

Os pais que apresentam aos filhos os critérios e a sabedoria para decidirem de modo seguro estão a oferecer-lhes excelentes possibilidades de realização. Os critérios, a sabedoria e os valores são ferramentas preciosas para os adolescentes modelarem a sua personalidade numa linha correcta. Como sabemos, a pessoa faz-se, fazendo. Torna-se capaz de optar, optando.

O coração, o mundo interior, é para o adolescente um santuário sagrado no qual ninguém pode entrar para decidir ou optar, substituindo-o. Por outras palavras, o adolescente só poderá ser livre, consciente e responsável na medida em que seja ele a entrar no labirinto interior da sua consciência e encontrar a sua própria saída. Quanto mais fiel o adolescente for aos seus próprios talentos, mais se vai estruturar como pessoa única, original e irrepetível e, portanto, menos ao sabor da opinião dos outros.

O adolescente deve tomar consciência de que os outros não podem substituir-nos na tarefa da nossa realização pessoal. Os outros, no entanto, são para nós mediações que nos podem ajudar a encontrar saídas certas para o nosso crescimento psíquico e espiritual. Nesta tarefa da nossa realização ninguém nos pode substituir, mas também é verdade que ninguém se pode realizar sozinho.

Isto quer dizer que a pessoa humana não é uma ilha e a sua perfeição será atingida na medida em entre numa interacção com os outros, fazendo com eles um todo orgânico, dinâmico e fecundo. Há que realçar sobretudo a importância dos grupos de amigos, fundamentais para a socialização e o amadurecimento afectivo dos adolescentes. O adolescente sente demodo muito forte que a plenitude da pessoa não está em si, mas nas relações de amizade e comunhão.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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