Adolescência, Crescimento dos Filhos e Conflitos (III)



e) Formar a Consciência dos Adolescentes


 
À medida em que os outros vão inscrevendo em nós os valores estes estruturam a nossa consciência. Por outras palavras, à medida em que são inscritos em nós mediante a educação e a comunicação da cultura, os valores tornam-se inspirações e propostas no sentido de agirmos em conformidade com eles. Por outro lado, à medida em que agimos em conformidade com os valores que moldam a nossa consciência, estes moldam e configuram o nosso ser.

Assim, por exemplo:
*À medida em agimos em conformidade com o valor “verdade” tornamo-nos verdadeiros.
*À medida em que agimos de acordo com o valor “Justiça” tornamo-nos justos.
*À medida em que agimos de acordo com o valor fraternidade tornamo-nos fraternos.
*Do mesmo modo, à medida em que agimos de acordo com o valor fidelidade, tornamo-nos fies;

Podemos dizer que os valores que inscritos na nossa consciência pelo contexto familiar e social constituem a matriz da nossa vocação fundamental, isto é, o chamamento básico para nos realizarmos como pessoas. Os Valores constituem o chamamento básico para a humanização das pessoas. Podemos dizer que os valores são a rocha firme sobre a qual podemos edificar com segurança a nossa casa, isto é, a nossa realização humana.

Este princípio fornece-nos o critério da nossa acção educativa junto das crianças e dos adolescentes. É importante fazer compreender às crianças e aos adolescentes que há valores que não podem ser postos em causa. Além disso, a nossa acção educativa será tanto melhor quanto mais rico for o leque de valores que transmitirmos.

Eis alguns dos valores que nos interpelam no dia a dia da nossa vida:

*A VERDADE:
É um valor básico para poderem acontecer relações humanas e humanizantes. A pessoa que habitualmente se relaciona num clima de verdade torna-se digna de confiança e atinge grande consideração e prestígio junto dos outros. Só é possível haver encontros humanos e humanizantes quando as relações se alicerçam na verdade. A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade, quer se trate da realidade de Deus, do Homem, dos acontecimentos ou das próprias experiências.

Os seres humanos estão talhados para a verdade. Na verdade, quando percebemos que o outro nos está a mentir sentimo-nos chocados e revoltados. O ser humano só se pode realizar-se em relações. Sem o valor verdade, não pode haver relações verdadeiramente humanizantes. De facto, estamos constantemente a comunicar uns aos outros experiências, vivências ou acontecimentos que não são evidentes nem os podem ser confirmados, mas que nós aceitamos com toda a naturalidade, partindo do princípio de que essa comunicação é verdadeira.

A palavra de Deus, diz o evangelho de São João, é a verdade (Jo 17, 17). Deus compreende correctamente a realidade e revela-nos o sentido dessa mesma realidade, a fim de caminharmos de modo seguro para a plenitude da vida. Os que aceitam e permanecem na Palavra de Jesus pertencem à verdade e a verdade torna-os livres (Jo 8, 31-32).

Segundo Jesus, a verdade cresce na transparência. Por outras palavras, a verdade não gosta de águas turvas. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Mateus: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não” (Mt 5, 37). Ao proclamar Jesus como Messias e Salvador, diz o quarto evangelho, João Baptista deu testemunho da verdade, pois testemunhou que Jesus é o Messias Salvador (Jo 5, 33). João Baptista compreendeu a anunciou de modo correcto e adequado a realidade de Jesus. Procedendo assim, disse a verdade.

A primeira Carta a Timóteo diz o seguinte: “Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Segundo este texto, a verdade e a salvação caminham juntas. São Paulo diz que repreendeu São Pedro quando viu que ele não caminhava segundo a verdade do Evangelho (Ga 2, 14).

A pessoa humana torna-se verdadeira na medida em que age e se relaciona com os outros em harmonia com a verdade. Quanto mais verdadeira é uma pessoa, mais o seu coração está capacitado para acolher a revelação de Deus. A verdade gera no nosso coração a sabedoria, isto é, a capacidade de saborear a realidade de modo correcto e adequado.

Sem a sabedoria, a ciência já serviu para destruir muitos milhões de seres humanos. Vazia de sabedoria, a ciência descobre as leis que regem a realidade, mas não consegue saborear o sentido profundo da Vida, da História, do Cosmos e do projecto criador de Deus.

Eis o que São Paulo diz sobre a importância fundamental da sabedoria na vida pessoa: “Nós ensinamos a sabedoria de Deus, mistério oculto e que Deus, antes dos séculos, predestinou para nossa glória. Nenhum dos senhores deste mundo a conheceu, pois se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória. Mas como está escrito, o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração humano não pressentiu, Deus o preparou para aqueles que o amam. A nós porém, Deus o revelou por meio do Espírito Santo, pois o Espírito tudo penetra, mesmo as profundidades de Deus” (1 Cor 2, 7-10).

A verdade lança as suas raízes mais profundas no coração, isto é, no núcleo mais profundo da nossa interioridade espiritual. É do coração que emergem as decisões, opções e escolhas no sentido do amor e do bem.

*A FIDELIDADE:

Como nos sentimos magoados quando a infidelidade se cruza na nossa vida! É o pecado que fere mais profundamente Deus e o Homem. Na Bíblia, o Deus da aliança convida-nos constantemente à fidelidade. A Carta aos Gálatas diz que a fidelidade é um fruto do Espírito Santo (Ga 5, 22). A Bíblia chama adultério à infidelidade do Povo em relação à Aliança de Deus.

A fidelidade é um valor tão fundamental que capacita duas pessoas para entrarem sem medo numa aliança de amor comprometendo a vida inteira. Fundamentados na fidelidade de Deus e procurando ser fieis à sua Palavra de Deus, os evangelizadores atingiram uma grande fecundidade de vida e uma felicidade indescritível. O pecado contra o Espírito Santo, diz o Novo Testamento, não tem perdão (Mc 3, 29: Mt 12, 32; Lc 12, 10). Este pecado é a infidelidade sistemática e incondicional à Palavra de Deus e aos valores essenciais que a pessoa recebeu dos outros.

*A FRATERNIDADE:

Todos nos curvamos perante o valor da fraternidade! Deixa-nos vencidos o facto de alguém nos querer bem, ao ponto de dar provas evidentes de que, sem exigir nada em troca, se está gastando para obter o melhor para nós. A fraternidade é um sacramento da graça de Deus. É a força que consegue vencer a lei da selva que habita o coração humano e cuja dinâmica é: “O mais forte domina, mata, oprime e explora”.

O valor da fraternidade consegue fazer que o mais fraco se torne forte. Isto só pode acontecer porque o mais forte comunica a sua força ao mais fraco em reciprocidade de comunhão. Orientada pelo valor da fraternidade, a pessoa humana é capaz de se tornar irmã dos outros sem quaisquer laços de sangue.

* A JUSTIÇA.

Todos sabemos como a injustiça deixa as pessoas indignadas. Não há maior gerador de violência nas pessoas, nas sociedades e entre as nações do que a injustiça. De tal modo a injustiça é contrária à razão humana que os homens injustos, para a tornarem admissível, recorrem à mentira, à difamação e à fraude. O valor da justiça é o alicerce mais sólido da paz. A injustiça fere os direitos fundamentais das pessoas e dos povos. Uma criança que sofra um castigo injusto nunca mais o esquece ao longo da vida.

*A ATENÇÃO AOS OUTROS

Não podemos humanizar-nos sem humanizar as nossas relações. É importante ensinar as crianças e os adolescentes a ser atentos aos demais. Devemos ensiná-lo a aceitar o outro, não tanto por ele fazer o que nós queremos, mas antes por ele ser aquilo que é. É importante que o adolescente aprenda que os outros também têm direitos.

Só assim ele vai deixando de girar em volta de si mesmo. Ensinar os adolescentes a compreender as crises e defeitos das outras pessoas. Não há crescimento sem crises. É importante reconhecer que o bem feito pelos outros, não deixa de ser bem só porque não foi feito por mim ou por ter sido feito de um modo diferente do meu modo de agir.

Ajudá-los a compreender e aceitar a história pessoal dos outros, a fim de serem capazes de os aceitar e compreender. Ensiná-los a ver que ninguém é bom em tudo. É fundamental aceitar a diversidade e as diferenças de cada um. A maneira mais adulta de amar é facilitar a emergência pessoal do outro, permitindo que seja igual a si mesmo.

Na medida em que aceitamos o outro, este sente-se válido e com pleno direito a existir. Quando valorizamos os outros estamos a facilitar a sua realização e felicidade. De facto, ninguém é capaz de desenvolver o melhor das suas qualidades sem se sentir minimamente aceite e valorizado. Ninguém é capaz de gostar de si antes de alguém o ter valorizado e apreciado.

Os valores têm como meta a construção e a felicidade das pessoas. Realizam-se ou são bloqueados no contexto das relações. É na vivência dos valores que emerge a pessoa, ser sublime com interioridade espiritual livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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