O Casal como Alicerce da Família (III)



III. Crises de Crescimento Matrimonial




Não há crescimento sem crises. O importante é solucioná-las e ultrapassá-las bem. A situação de crise é sempre um momento de confusão e obscuridade. É importante, nestes momentos difíceis, falar com uma pessoa honesta e matura pode ser uma excelente ajuda. Procurar analisar a situação de modo objectivo, isto é, ver as coisas como se de outra pessoa se tratasse é também um bom caminho.


O casal que está a passar por uma crise deve saber que essa crise, se for bem solucionada, vai conduzir a novos limiares de maturidade e crescimento dos esposos, bem como a uma vivência mais feliz da comunhão matrimonial. É importante procurar saídas na linha de uma fidelidade aos talentos pessoais e à continuidade na construção da sua história de amor fecundo.

O casal em crise já não cabe no estado anterior de crescimento, mas também ainda não se encontrou na nova etapa que se está abrir na caminhada da sua aliança de amor. É esta a causa da perturbação que acompanha a crise. A pessoa sente-se no vazio. Parece que nada tem interesse nem sabor.

A crise pode ser só de um dos esposos e ter uma base orgânica, psíquica, espiritual ou moral. Nestes casos a crise tem a ver com a génese da pessoa em si mesma. Neste caso, o outro cônjuge deve estar atento, e ser tolerante e solícito, a fim de ajudar o seu companheiro/a a vencer o problema. Mas pode também ser de tipo matrimonial ou mesmo familiar. Nestes casos o diálogo e a revisão de vida são fundamentais.

A superação correcta da crise é um autêntico parto que possibilita um novo nascimento. Lembremo-nos de que cada ser humano é uma pessoa em construção, tanto a nível pessoal como matrimonial, familiar ou social.

Nos períodos de crise, o casal pode abordar alguém experiente e conhecedor, a fim de encontrar o melhor caminho para continuar a construir a sua aliança de amor. Se os dois estiverem na disposição de continuarem a caminhar em aliança de amor matrimonial, podem estar seguros de que encontraram a rocha firme sobre a qual edificar um futuro com garantia de sucesso.

É uma atitude sensata procurar uma pessoa sábia para nos aconselhar e podermos encontrar a luz adequada para decidirmos de modo acertado. Mas não devemos esperar que sejam os outros a solucionar as nossas crises. Os demais apenas podem ser uma mediação para nos ajudarem a ver o caminho pelo qual temos de continuar a nossa história de realização pessoal e matrimonial.

Quando os esposos descobrem o sentido da crise e a maneira de a ultrapassar, descobriram a chave certa para entrar no novo limiar da sua caminhada de realização matrimonial. As crises, quer pessoais, quer matrimoniais, devem ser tomadas a sério. Uma crise mal solucionada pode provocar derrocadas fatais tanto para a vida da pessoa como para a vida do casal. Não nos esqueçamos que a maturidade é o caminho seguro para a felicidade.  Mas tenhamos presente que a emergência da maturidade é fruto de muitos partos.

Uma vez solucionada a crise, as pessoas entram num novo limiar de maturidade e realização. Sem deixar de ser o mesmo, o casal passa a ser de modo novo. Na verdade o ser humano faz-se, fazendo. Edifica-se, edificando. A nossa identidade pessoal é histórica, isto é, incorpora uma série enorme de renascimentos que se vão sucedendo ao longo da vida. Após o novo nascimento, isto é, depois da crise bem solucionada, as coisas tornam-se claras. As questões que bloqueavam e metiam medo ao casal aparecem como coisas sem importância.

Quanto mais profunda for a realização de uma pessoa ou o crescimento de um casal, mais radicais e profundos são as dúvidas e questões que surgem no momento da crise. Mas também mais profundos são os saltos qualitativos. Para o casal avançado na caminhada de uma aliança de amor, as pequenas coisas já foram respondidas há muito tempo. As que agora vão surgindo são profundas, pois os degraus que é preciso subir levam a patamares nunca antes experimentados. Por outras palavras, quando mais profundos forem os saltos qualitativos do matrimonial mais dolorosos são os partos.

Nestes momentos é importante que os esposos não se esqueçam do diálogo intenso com Deus. O impulso que leva os esposos a saltar o obstáculo da crise provém do Espírito Santo. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5,5). Podemos dizer que ele é a ternura de Deus que, com seu jeito maternal, dinamiza as relações de ternura e comunhão amorosa dos esposos.

É o Espírito Santo que confere densidade espiritual aos vínculos amorosos dos casais. O evangelho de São João diz que o que nasce da nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito Santo é espírito (Jo 3, 6). O casal cristão deve fazer do Espírito Santo um guia e um conselheiro especial para entender bem a dinâmica do seu amor e da sua comunhão orgânica e fecunda.

Felizes das pessoas e dos casais que tomam a sério as suas crises. Não só atingem uma grande maturidade como se tornam excelentes conselheiros para ajudar os outros a renascer e a superar as respectivas crises.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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