Relações Pais-Filhos


1) O Recado dos Filhos
2) A Resposta dos Pais
3) Critérios a Ter Presente nas Relações Pais Filhos
4) A Criança é Moldada Pelo Contexto Familiar



1) O Recado dos Filhos


O amadurecimento da pessoa humana realiza-se dentro de um tecido de relações onde o amor se faz sentir como uma necessidade fundamental. No interior das famílias felizes, as crianças experimentam o amor como doação gratuita dos pais entre si e dos pais em relação a elas. Esta experiência dá segurança às crianças, ajudando-as a crescer como pessoas bem amadas.

No entretecido das relações familiares surgem mensagens que são verdadeiros apelos a crescer no amor e na gratuidade da comunhão. Uma destas mensagens fundamentais é o recado dos filhos que se fará ouvir tanto melhor quanto mais os pais estiverem atentos à grandeza da sua missão como esposos e como pais. No contexto de uma família em construção, o crescimento equilibrado dos filhos sugere algumas mensagens importantes que podemos descrever mais ou menos deste modo:

Queridos pais,
Eu sei que gostais de mim e por isso não vos troco por ninguém. Fui sendo moldado de acordo com o que vós achastes ser o melhor para mim. De facto, os seres humanos começam por ser aquilo que os outros, especialmente os pais, fizeram deles. Mas também que o mais importante é o que as pessoas fazem depois com o que receberam dos outros, em especial dos pais. Eis a razão pela qual eu queria chamar a vossa atenção para algumas verdades que não podeis deixar de ter presente:

Não esqueçais que eu sou um “TU” em relação a vós. Eis a razão pela qual não deveis pretender que eu seja uma cópia de vós. Apesar de eu estar a ser moldado por vós, não esqueçais que tenho uma identidade própria. Como sabeis, cada pessoa é única, original e irrepetível. Na verdade, os seres humanos não são peças de artesanato feitas em série.

Na verdade, se pretendeis fazer de mim uma cópia de vós não me estais a amar a mim mas a vós. Pretender fazer do outro uma cópia de si próprio é matá-lo na sua essência de pessoa livre, consciente e responsável. A dignidade da pessoa consiste no facto de não nascer determinada como os animais e também no facto de não se confundir com qualquer outra. Não vos esqueçais de que em cada ser humano está a emergir a humanidade de modo único, original e irrepetível.

Queridos pais, gostava ainda de vos sugerir o seguinte: Não me deis tudo o que vos peço. Por vezes peço, apenas para saber até onde posso desfrutar. Mais que de muitas coisas, preciso de vós. Também queria pedir-vos para não me gritardes. Tenho menos admiração e respeito por vós quando me gritais.

Se me gritais ensinais-me a gritar também. Não me deis sempre ordens. Isso cria em mim uma consciência de escravo. Pedi-me coisas, a fim de eu ter ocasião de aprender a exercer a gratuidade do dom. Cumpri as vossas promessas, sejam agradáveis ou não. Se for um prémio dai-mo. Se for um castigo, procurai ser justos. Não me deis castigos injustos, pois isso marcar-me-à para toda a vida.

Por favor não me compareis com os outros. Se me fazeis sentir melhor, alguém virá a ser humilhado por causa disso. Se me fazeis sentir pior ficarei complexado para o resto da minha vida. Não estejais sempre a mudar de opinião sobre o que devo ou não fazer. Este modo de proceder desorienta-me e faz-me sentir inseguro.

Decidi-vos e mantende as vossas decisões. Deste modo eu vou compreendendo que os valores são fundamentais para a realização da pessoa. Se vos mantiverdes firmes e fieis à vossa palavra ajudais-me a compreender que a realização pessoal não é uma tarefa arbitrária. Ajudai-me a compreender que a maturidade humana e a realização pessoal não podem acontecer sem fidelidade aos valores fundamentais.

Não me substituais. Agi de maneira a que eu aprenda a valer-me por mim. Não façais as coisas que eu já posso fazer e não me obrigueis a fazer aquelas para as quais ainda não estou preparado. Se me substituis estais a retardar a chegada da minha maturidade. Não digais mentiras na minha frente e nunca me peçais para mentir em vosso nome. Mesmo que seja para vos libertardes de uma dificuldade. Procedendo assim, estais a fazer com que eu perca a fé e a confiança em vós. Além disso, estais a ensinar-me a ser mentiroso.

Quando eu fizer algo de errado, não mencioneis esse facto muitas vezes, nem insistais demasiado para que eu diga as razões de tal procedimento. Por vezes nem eu próprio conheço as razões que me levaram a realizar certas coisas erradas. Além disso tenho muita vergonha de confessar os meus erros.

Quando te tiveres enganado em algo, reconhece-o. Podes ter a certeza de que, deste modo, crescerá muito a minha admiração e apreço por ti. Além disso, procedendo deste modo, estais a ensinar-me a reconhecer e admitir os meus erros.

Tratai-me pelo menos com a mesma cordialidade e ternura com que tratais os vossos amigos. Pelo facto de sermos membros de uma família não quer dizer que não devamos ser amigos. Não me peçais para fazer coisas que vós não fazeis. Eu aprendo a fazer o que vós fazeis, mesmo que não mo digais. Mas nunca aprenderei a fazer o que dizeis se vós mesmo o não fizerdes.

Quando vos aperceberdes de que tenho necessidade de te contar um problema nunca me digais que não tendes tempo para tolices. Mesmo que os meus problemas vos pareçam insignificantes, deveis compreender que, para mim, são muito importantes, pois ainda não tive tempo para aprender a gerir a vida como um adulto. Eu sei que, por vezes, estais cansados, mas eu preciso muito de vós.

Podeis ter a certeza de que sois muito importantes para mim. Por favor dizei-me que gostais de mim, embora isso mesmo que isso vos pareça desnecessário. Usai de paciência para comigo. As vossas decisões e atitudes têm como base um conjunto de experiências que eu ainda não tenho. Dai-me atenção. É fundamental para mim sentir-me tomado a sério. Na medida em que possas gasta tempo comigo em casa.

O aspecto mais nobre da vossa missão maternal ou paternal é possibilitar-me uma estruturação equilibrada. É este o caminho para eu poder realizar-me e ser válido para Humanidade. Se quereis que eu venha a ser um bom cristão convida-me a ler e partilhar alguns textos da Bíblia, a fim de eu começar a familiarizar-me com a Palavra de Deus. Também me podíeis ensinar a falar com Deus com a mesma confiança com que um amigo fala com outro amigo. Não me obrigueis a fazer muitas rezas repetitivas, pois essas coisas aborrecem-me, ao ponto de me afastarem mais de Deus. Se me ensinais a falar familiarmente com Deus estais a abrir a minha mente e o meu coração para os valores do espírito e para os horizontes da Fé.

Elogiai-me quando faço algo de bom. Os vossos elogios estimulam-me e dão-me força para fazer bem as coisas. Esforçai-vos para que a nossa casa seja um lar onde habita há alegria e amor. Num lar assim os filhos não sentem tanta necessidade de sair. Ensinai-me a olhar as coisas pelo lado positivo. O negativismo gera opressão e tristeza no meu coração, coisas que me tiram vontade de me esforçar. Procurai conhecer-me bem, a fim de melhor me ajudardes a corrigir as minhas tendências negativas e destrutivas.

Queria dizer-vos, queridos pais, que a maneira mais perfeita de me amardes é amar-vos muito como casal. Os vossos comportamentos negativos reflectem-se em mim, estruturando-me de modo distorcido. Eu sei que, devido à minha pouca experiência, faço muitas coisas erradas. Por isso vos peço para serdes compreensivos e tolerantes para comigo. Quando sois compreensivos para comigo, estais a ensinar-me a ser compreensivo para vós e para as outras pessoas. Quando me perdoais eu aprendo o grande valor do perdão.


2) A Resposta dos Pais

É normal que os pais tenham muito medo de que os seus filhos enveredem por caminhos errados. Isto não só faz dos filhos seres desencaminhados, como também faz que os pais se sintam pessoas fracassadas na sua missão. Esta insegurança e estes receios aparecem na confissão dos pais:

Tens razão. Por vezes dou-te coisas para ver se te portas bem. De facto tenho muito medo de que te aconteça algo de mal. Eis a razão de, por vezes, ser pouco tolerante e compreensivo. Começo a compreender que é mais importante dar-me a ti do que dar-te coisas. Também começo a compreender a importância de depositar confiança em ti.

Eu pensava que dar-te ordens e proibições era o melhor caminho para te tornares uma pessoa competente e realizada. Agora compreendo que o diálogo e o amor são mais importantes que tudo o resto. Reconheço que não fiz bem quando te gritei em vez de dialogar contigo e explicar serenamente as razões de determinada proibição. No fundo, muitos dos meus gritos eram expressão da minha própria insegurança. Entro em pânico quando penso que te pode acontecer o pior.

Não me apercebi bem da importância de disponibilizar mais tempo para ti, a fim de te poderes dizer. Também é verdade que, por vezes, fui demasiado autoritário. No fundo, era uma tentativa de disfarçar o medo de me enganar. Agora compreendo que a missão paternal não é uma questão de força e autoritarismo, mas antes de amor e diálogo. Quando me apercebo de que estás a ter dificuldade em gerir os teus próprios problemas sinto-me muito assustado, pois tenho medo que te desorientes.

Não imaginas como sou feliz quando vejo que tens sucesso e te sinto identificado com os grandes valores. Nesses momentos considero-me a pessoa mais feliz do mundo! Quando isto acontece, tu tornas-te um ídolo para mim. Só me apetece falar de ti a toda a gente. Como vês, tu és um suporte para a minha felicidade paternal. Preciso de te sentir forte para me sentir seguro na minha missão paternal. Os teus sucessos são para mim a coisa mais importante da vida. Quando vejo que és verdadeiro, leal e sincero, agradeço muito a Deus e desaparecem muitos dos meus receios.

Tenho a certeza de que quero sinceramente a tua felicidade. Mas por vezes penso que sou eu a medida dessa felicidade. Por isso a tentação de pretender ser a tua medida, esquecendo-me de que és uma pessoa única, original e irrepetível. Agora começo a compreender que a grandeza da minha missão paternal está no facto de ser uma mediação para que possas sentir-te apoiado e amado, condição para te sentires capaz de optar pelo melhor.

Muitas vezes pensei que o modo de fazer de ti uma pessoa a sério era dar-te ordens. Agora começo a entender que o essencial da missão paternal é o amor. Às vezes não cumpri o que dizia. Mas agora penso que é fundamental cultivar a fidelidade à palavra. Peço-te para compreenderes que também eu sou uma pessoa falível.

Hoje compreendo que foi um erro comparar-te com outras crianças. Eu queria apenas estimular as tuas capacidades e dar-te razões para avançar, mas acabei por te prejudicar. Tenho dificuldade em aperceber-me do teu crescimento. A minha tendência é ver sempre em ti a criança frágil e sem possibilidades de se defender. Eis a razão pela qual tinha tendência a substituir-te.

Hoje compreendo que não havia razão para o meu azedume no período da tua adolescência. Quando começaste a querer agir por ti eu assustei-me e pensei que já não gostavas de mim ou então, o que seria muito pior, estavas a desprezar-me e a troçar de mim. Tomei as tuas tentativas de conquistar autonomia como faltas de amor. Agora sei que não é assim. Pelo contrário, compreendo que essa vontade de autonomia é um passo fundamental para o teu amadurecimento como pessoa humana.

Estou convencido de que a melhor maneira de aceitares o que fiz por ti é começares a agir e a tentar construir uma história própria e com sucesso. Já sei que não estás a crescer para seres meu filho ou filha, mas para seres pai ou mãe dos meus netos. Este passo é difícil e doloroso para os pais, mas é fundamental para a felicidade dos filhos. Tu sabes bem que, se falhares como filho, a sociedade passará a olhar-me como uma pessoa que falhou na sua missão paternal. Tudo isto condicionou muito a minha maneira de me relacionar contigo.

Arrependo-me de ter sublinhado tanto os erros que cometias e exigindo muitas justificações. Agora compreendo que a melhor maneira de corrigir os filhos é dialogar, compreender e perdoar. Por vezes assustei-me com a novidade e a diferença que começou a emergir em ti à medida em que ias crescendo. Agora vejo essa diferença com admiração e carinho e compreendo que ela deriva do facto de seres uma pessoa única, original e irrepetível.

Hoje sinto que é injusto exigir que os filhos façam aquilo que nós não fazemos. Tem mais autoridade a pessoa que age de acordo com o que diz e apenas exige que os outros façam na medida em que ela faz. É bem verdadeiro o ditado popular que afirma: “As palavras movem, mas os exemplos arrastam”.

Hoje entendo bem a importância de ter sido teu confidente. Por vezes o cansaço de um dia de trabalho era a desculpa para não te escutar. Desculpa por não te ter dado o tempo de que precisavas para me falar das tuas coisas. Queria pedir-te para não te tornares demasiado exigente quando me julgas. Sou uma pessoa humana e, como sabes, as pessoas humanas têm limitações.

Gostava de pedir-te para procederes de forma a eu entender que, de facto, gostas de mim. De uma coisa estou certo e queria que ficasses seguro dela: Se fosse necessário, estava disposto a dar a minha vida por ti. Podes ter a certeza do que acabei de afirmar.


3) Critérios a Ter Presente nas Relações Pais Filhos

A pessoa humana apenas se realiza em relações. Isto quer dizer que as relações pais filhos com grande qualidade humana possibilitam uma boa estruturação dos filhos e humanizam os pais. Eis algumas atitudes que ajudam a criar qualidade nas relações pais filhos:

* Partilhar os melhores momentos de alegria e felicidade com os filhos;
* Procurar transmitir paz e alegria nos convívios com os filhos.
* Não deixar passar em branco os erros graves dos filhos.
* Não pode haver harmonia nas relações pais filhos sem haver momentos de diálogo.

* Entre no mundo dos seus filhos adolescentes através da ternura, do apoio e da amizade. Mas não invada o seu território, isto é, a sua autonomia, sob pena de causar grandes perturbações.
* Não se esqueça de que os seus filhos precisam muito do seu amor, do seu tempo e de momentos de diálogo.
* É bom ajudar os adolescentes a compreender e a superar as tempestades próprias da adolescência.
* Responda com clareza aos seus filhos quando eles lhe puserem questões sobre sexualidade. Mas não se esqueça que as suas respostas devem ser adequadas ao teor das perguntas e à capacidade de compreensão que eles possam ter.

* Dê provas aos filhos de que agradece a Deus por ter os filhos que tem e não outros. Quando não se sentem acolhidas e valorizadas, as crianças julgam-se um peso e sentem-se culpadas.
* Nos momentos de tensão e conflito, tente compreender as motivações da agressividade e da ira dos filhos, a fim de melhor os poder ajudar.
* Ensine os seus filhos a ser amáveis, prestáveis e atenciosos. Procedendo assim está a prepará-los para uma boa integração social e, portanto, a prepará-los para serem pessoas de sucesso.
* Eduque os seus filhos no sentido de serem fieis à Palavra.

* Não humilhe os seus filhos adolescentes em público e muito menos diante de colegas dele. A humilhação dos adolescentes em público pode provocar danos muito profundos.
* Procure conquistar a confiança dos seus filhos adolescentes e prepare-os gradual e progressivamente para a vivência responsável da independência. Não se esqueça de que ele está a preparar-se para voar do ninho!
* Lembre-se de que os filhos não crescem para ser filhos, mas para serem pais dos seus netos.

* Ensine aos seus filhos a prática da reconciliação e treine-os no sentido de serem construtores da paz.
* Não se esqueça de que os filhos aprendem com o que os pais fazem e não com o que os pais dizem. O ditado popular segundo o qual as palavras movem, mas os exemplos arrastam é sobretudo verdadeiro nas relações pais filhos.
* Tenha o cuidado de comunicar muita ternura, afectos e carinhos aos seus filhos. A criança que é acariciada e recebe muita ternura dos pais tem muito melhores resultados na escola do que as crianças carentes de ternura e carícias.

* Lembre-se de que os seus filhos, apesar de serem crianças ou adolescentes devem ser tratados com muito respeito. É esta a maneira de eles aprenderem a relacionar-se com correcção e respeito.
* Não discuta as modas preferidas dos seus filhos adolescentes, nem se ponha a dizer mal dos seus gostos ou preferências musicais. Escute-o quando ele lhe quiser falar do seu ídolo ou quiser fazer elogios à sua banda musical preferida.

* Nos momentos de maior dificuldade e tensão evite descontrolar-se. O descontrolo dos pais pode provocar feridas difíceis de cicatrizar.
* Nos dias em que o seu filho mostre especial relutância em relação a ir à escola procura averiguar as razões. Não se esqueça de que uma criança pode estar a sofrer em silêncio.
* Deixe que os amigos dos seus filhos possam ir lá a casa. É uma maneira de conhecer melhor os colegas dos seus filhos e também um modo de os ter mais perto.
* É importante manter o ritual do deitar os filhos enquanto são crianças: um beijo, uma carícia, dizer-lhe que gosta muito dele ou dela, cantar uma canção ou contar uma história ajudam a criança a adormecer mais serena e seguramente.
* Jogar ou brincar com os filhos é uma prática muito saudável para reforçar a qualidade das relações pais filhos.
* É muito importante haver refeições em conjunto.
*Não se esqueça de que os filhos, para se sentirem seguros e bem amados precisam de sentir que os pais gostam um do outro.
* Mantenha-se em ligação com a escola, a fim de melhor poder ajudar os seus filhos no aproveitamento escolar.

Educar uma criança é lançar os alicerces do homem ou da mulher que ela vai ser. É frequente ouvirmos dizer que levamos connosco a criança que fomos e que não mais se apagará em nós. Isto é tão verdade que à medida em que os anos passam, as pessoas começam a dar-se conta de que a criança que foram vem cada vez mais ao de cima através de recordações associadas ao passado. Na verdade, as experiências e os ensinamentos recebidos em criança são o fundamento de tudo o que vem a seguir. De facto, todas as nossas experiências significativas vão ficando registadas no nosso cérebro.

As nossas experiências modificam o nosso cérebro. Ao modificar-se o nosso cérebro, modifica-se a nossa estrutura psíquica e, portanto, as nossas reacções aos acontecimentos. Isto quer dizer que o modo de nos comportarmos é, em grande parte, fruto da infância que tivemos. Agora já podemos compreender a grandeza da missão das pessoas que têm a tarefa de moldar a personalidade das crianças através da educação.

O amor é a dinâmica indispensável para que a missão educativa tenha sucesso. Na verdade, ninguém é capaz de amar antes de ser amado e a pessoa que foi mal amada ficará a amar mal, isto é, com bloqueios, distorções e tropeções. O modo como o educador se relaciona com a criança decide em grande parte o tipo de pessoa que ela vai ser no futuro. Quanto mais tivermos consciência das feridas que habitam a criança que levamos connosco, mais preparados estamos para compreender e amar as crianças com as quais lidamos. As feridas da criança mal amada são um fardo pesado que a pessoa vai ter de transportar ao longo da vida e das quais só com dificuldade se vai libertar.

Dando amor às crianças estamos alimentando o seu espírito e a ajudá-las a estruturar-se num sentido não egoísta. Agora já podemos dar-nos conta de que a identidade da criança não é uma realidade totalmente limitada à sua dimensão biológica. Modelar a personalidade da criança é, de facto, uma arte que exige muita criatividade e carinho. Não há muitas receitas, mas é possível ter presentes alguns princípios, a fim de formarmos alguns critérios mais ou menos seguros:

*Assim, para começar, é importante estimular e fortalecer a confiança e a auto estima da criança, elogiando as suas realizações.
*Mas não é bom exagerar nos elogios, pois o excesso de elogios cria nas crianças demasiadas expectativas.
*Isto pode dar lugar a frustrações e perda de auto estima, caso não consigam atingir os valores e metas que nós sugerimos.
*Não é bom empregar expressões que não correspondam à verdade dos factos ou à realidade.

*Não é bom discutir os problemas e desajustes comportamentais das crianças em sítios onde elas estejam a ouvir. Quando elas ouvem as discussões dos adultos sobre os seus problemas ficam dominadas por medos e ansiedades.
*Lembremo-nos de que as crianças não sabem defender-se, tomando como verdade absoluta as afirmações que possam ter ouvido sobre elas. Além disso, pensam que aquilo que ouviram são realidades que não podem ser alteradas, passando a agir como em conformidade com aquilo que ouviram.

*Não entreguemos demasiadas responsabilidades e poderes às crianças.
* As crianças necessitam de ser orientadas e conduzidas, a fim de se sentirem seguras. Enquanto é criança, a pessoa humana tem pouca capacidade de escolha, é pouco livre e pouco responsável.
*Mas é muito importante ir dando pouco a pouco novas possibilidades de escolha às crianças, a fim de poderem crescer como pessoas livres e responsáveis. *Quando sobrecarregamos a criança com responsabilidades acima das suas capacidades, estamos a roubar-lhes a possibilidade de serem crianças.

*Não roubemos o mundo das fantasias, dos sonhos e devaneios próprios da criança, coisas essenciais para ela desenvolver a sua sensibilidade e capacidade criadora. Como sabemos, não há criatividade sem sonho e fantasia.
*Não esqueçamos que a super protecção aumenta a dependência da criança e torna-a super sensível.
*A criança deve aprender que uma vida de sucesso também se edifica sobre falhas e fracassos.
*É bom ensinar-lhe que, ao longo da vida, terão de enfrentar dificuldades e obstáculos, ajudando-as a contornar os obstáculos.

*Sejamos leais para com as crianças. Cumpramos as nossas promessas. Sejamos justos nos castigos.
*Os pais ponham-se de acordo sobre o modo como educar e agir. Se actuam em direcções opostas, as crianças sentem-se confusas e perdidas.
*Não se esqueçam que os filhos não respeitam os pais que não se respeitam mutuamente.
*Se um dos progenitores põe a criança contra o outro, por um certo tempo, a crianças considerará este seu progenitor como o melhor, ou como aquele que tem razão. Mas em breve sentirá raiva e desprezo por este lhe ter roubado um dos pilares fundamentais para a sua estruturação afectiva, isto é, o outro progenitor. É preferível deixar que seja a criança a descobrir a verdade dos factos.

*Procure não dizer mal dos professores e da escola, a fim de a criança manter a aprendizagem em alta estima.
*A educação e a cultura serão melhor aceites se os pais falarem desses valores com estima e apreço.
*Seja positivo nas conversas sobre o seu trabalho. Se falar mal do seu trabalho, a criança em breve começará a imitar essas queixas em relação à escola, aos trabalhos de casa, e às tarefas que lhe são pedidas em casa.
*É importante não esquecer que as crianças copiam o que os pais fazem, não o que dizem.

*Arranje tempo para aprender com os seus filhos e eles ficarão bons aprendizes e pedagogos para sempre.
*Procure viver os seus tempos livres e as suas diversões de adulto em separado. Não pretenda que as crianças usufruam as suas diversões de adulto.
*O modo como nos dispomos a acolher e a pedir às crianças que nos escutem condiciona muito a resposta delas para connosco.
*Não nos devemos sentir culpados pelos condicionamentos que lhes transmitimos, desde que não tenha sido por falta de amor.
*Não há educadores perfeitos como não há crianças perfeitas.

*É importante que tentemos dar o melhor às crianças, sabendo que, mesmo assim, não deixaremos de as condicionar.
*Não existe uma fórmula mágica que possibilite uma educação totalmente perfeita ao ponto de não transmitir quaisquer condicionamentos.
*Quando a criança não presta atenção a qualquer dos progenitores, não se deve ver nisto um ataque, mas uma chamada de atenção no sentido de pedir mais tempo para si e mais espaços de comunicação com os pais.
*A sabedoria paternal deve saber distinguir o que é para tolerar e os valores que não podem ser postos em causa.


4) A Criança é Moldada Pelo Contexto Familiar

A Criança é um feixe enorme de possibilidades de realização humana. Mas estas possibilidades, para poderem emergir, precisam de um contexto de relações amorosas. Cada vez que manifestamos apreço pelas realizações de uma criança estamos a facilitar a emergência do melhor que há nela. Não nos esqueçamos de que a pessoa faz-se, fazendo. De facto, é realizando, que nos realizamos.

À medida que as crianças fazem emergir o melhor que há nelas, vão-se estruturando e solidificando como pessoas: temperamento, carácter, personalidade. A pessoa humana é um ser em processo de humanização. A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal. A emergência pessoal significa não apenas o crescimento físico, psíquico e social, mas igualmente o seu crescimento pessoal-espiritual. Assim como a pessoa só pode emergir e realizar-se em relações interpessoais de amor, do mesmo modo só pode atingir a plenitude na comunhão com os outros.

O melhor critério para avaliarmos o grau de humanização de uma família ou de uma sociedade é repararmos no que fazem pelas crianças. Felizes das crianças que crescem em contexto familiar, escolar, social e cultural marcado pelo amor e a abertura à criatividade. As coisas que a criança consegue fazer de modo mais sério é brincar e ouvir histórias. Qualquer destas actividades treinam-na para enfrentar situações e discernir em momentos de dificuldade.

Quando contamos histórias às crianças estamos a ajudá-las a sonhar com os olhos abertos. É um modo excelente de as ajudar a ser adultos criativos. Além das histórias que as fazem sonhar, as crianças precisam de modelos com os quais se possam identificar. É bem conhecido o papel fundamental da imitação no desenvolvimento da personalidade da criança. As crianças dão-se conta do que somos, não pelo que dizemos mas sim pelo que fazemos.

Os melhores presentes que os pais podem preparar para os seus filhos é um modelo de realização pessoal feliz e dispensar-lhes todos os dias alguns minutos de atenção. Os pais que ensinam os filhos a programar, decidir e executar planos de acção e projectos de vida estão a comunicar-lhes sabedoria. Esta sabedoria é mais importante para a sua felicidade do que a ciência que vão adquirir nas escolas.

Lembremo-nos de que as crianças precisam mais de modelos do que de pessoas sempre dispostas a corrigir. Não é bom pedagogo, isto é, educador, o adulto que impede a espontaneidade e a emergência da originalidade de uma criança. Os nossos comportamentos bem como aquilo que fazemos despertam nas crianças o desejo de se realizarem de acordo com o modelo que observam em nós. É assim que elas começam a sonhar e a idealizar o seu futuro. Na verdade, o futuro para a criança é ser como o pai, o irmão mais velho ou a mãe.

Assim como precisam de modelos, as crianças precisam de muitas ternura e amor, sobretudo quando se portam mal. Os pais são a grande mediação de Deus para as crianças crescerem seguras e felizes. Mas também é verdade que os filhos são um grande dom de Deus para os pais. Não nos esqueçamos de que as crianças têm tendência a viver e agir de acordo com a fé e confiança que os pais e educadores depositam nelas. Há dois modos de destruir a felicidade de uma criança: dar-lhe castigos injustos e iniciá-la na prática do erro e da mentira.

Os pais não devem desanimar quando lhes parece que os filhos desprezam os seus conselhos. Podem ter a certeza de que esses conselhos ficam registados para toda a vida como pontos de referência na mente dos filhos. Os valores e o amor semeados no coração das crianças nunca mais desaparecerão. Estes dados vão funcionar como ponto de referência nos momentos em que têm de discernir e ter critérios para programar, decidir e agir de acordo com o bem.

O amor dos pais actua no interior dos filhos como força estruturante que os capacita para amar e se realizarem de modo satisfatório e feliz. É importante que os pais tenham presente que os seus filhos crescem depressa. Em geral, os pais são as últimas pessoas a aperceberem-se de que eles já não são crianças.

É importante que os pais tenham consciência de que os seus filhos estão a crescer, não para serem filhos, mas sim para serem pais e mães dos seus netos. Tendo presente esta verdade fundamental, mais fácil lhes será deixá-los desabrochar e, mais tarde, cortar o cordão umbilical, quando os filhos despertarem para outro amor.

É importante que os pais não tentem encerrar os filhos nos moldes que aprenderam dos seus pais. Compreendam que eles, pais, viveram noutros tempos e foram moldados com padrões culturais e dados científicos diferentes. Não mintam às crianças, pois a mentira acaba sempre por se descobrir, dando origem a desilusões nas crianças.

Os pais e educadores devem ter cuidado, a fim de não tratarem as crianças como seres inferiores. São seres com toda a dignidade de pessoas humanas. Apenas lhes falta a maturidade física e as experiências para agirem como pessoas amadurecidas. Os pais não podem esquecer-se de que o maior sucesso da sua missão é dar aos filhos a possibilidade de se realizarem como pessoas livres, conscientes, responsável e capazes de comunhão amorosa.

A criança é um barro que está a ser modelado pelos outros: pais, escola, meio ambiente e outras mediações. Mas os educadores não podem concluir a tarefa, pois o decisivo é o que os filhos decidem fazer com o que receberam deles. É verdade que a pessoa humana começa por ser o que os outros fizeram dela. Mas o mais importante é o que a pessoa faz com o que os outros fizeram dela.

Não nos esqueçamos de que a criança é um feixe de possibilidades ou talentos que ainda tem de realizar. Os pais são os primeiros a inscrever esses talentos ou possibilidades nos seus filhos. Ela vai viver a sua história com os padrões que os pais tenham inscrito nela. Isto demonstra que o jeito de os pais se relacionarem com os seus filhos possibilita ou condiciona a sua realização futura. A tarefa da educação e o modo de os pais se relacionarem com os filhos é uma arte parecida à do escultor que, pouco a pouco, vai fazendo emergir uma obra de arte cujo resultado final nem ele próprio adivinhava.

O facto de a criança estar constantemente a imitar os adultos não é obstáculo à sua originalidade pessoal. Tudo isto nos faz compreender a razão pela qual os pais devem estar conscientes da importância do seu modo de agir na estruturação da personalidade da criança. Assim, por exemplo:

*Se as crianças crescem em contexto de fé, aprendem a ser crentes.
*Se crescem em ambientes onde as pessoas tomam a vida a sério, aprendem a comprometer-se com os valores.
*Se crescem em ambientes muito críticos aprendem a criticar e a ser intolerantes.
*Se vivem em ambientes sem ternura e amor, tornam-se inseguras, agressivas e ciumentas.
*Se vivem em ambientes demasiado marcados pela inveja tornam-se invejosas e doentiamente competitivas.
*Se vivem em ambientes onde são valorizadas e encorajadas tornam-se confiantes e portadores de uma forte auto estima.

Utilizando a imagem bíblica do barro, podemos dizer que a argila humana se vai modelando através das relações. Ao nível da criança, as relações são, sobretudo, estruturantes, isto é, moldam-na e conferem-lhe uma configuração cujos traços perdurarão para o resto da sua vida. A sabedoria popular sintetiza isto de modo sugestivo quando diz: “O que o berço dá a tumba o leva”. Isto é em grande parte verdade, tanto para o bem como para o mal. Daqui a importância de estabelecermos com ela relações de amor, ternura, mas também ternura. O entretecido de relações familiares em que a criança vai crescendo, capacitam-na para se relacionar bem ou mal ao longo da vida. Como sabemos, os seres humanos não são ilhas. Na verdade, ninguém se pode realizar sozinho e muito menos as crianças.

A felicidade das crianças faz-se de pequenas coisas. Os pais sabem a importância de um passeio ao supermercado, a compra de um gelado ou biscoito, um caderno para pintar ou um pequeno livro de histórias. Mas por vezes as coisas agravam-se quando a criança começa a pedir brinquedos caros. Todos sabemos como, por vezes, não é fácil ir ao encontro dos desejos dos filhos. Ninguém ignora os enormes sacrifícios que certos pais fazem para que o filho possa ter aquele cereal muito bom para a sua alimentação, mas que é muito caro. Quando os pais não podem oferecer certos brinquedos electrónicos caros devem explicar isso com muita clareza e verdade aos seus filhos.

Temos de ter consciência de que as crianças de hoje são bombardeadas com uma publicidade agressiva.  Elas conhecem o nome de produtos caros e os encantos que a publicidade lhes atribui. É muito provável que as crianças, depois de algum tempo, comecem a pedir esses produtos. Todos sabemos como nestes casos não é fácil dizer não. Sobretudo custa dizer-lhes que não podem ter os brinquedos que os pais dos seus colegas já ofereceram aos filhos deles.

Outro aspecto importante a ter presente na educação das crianças é a questão do dinheiro. É importante ajudar as crianças a compreender o valor do dinheiro e o papel que este joga nas nossas vidas. É fundamental ajudar as crianças a gerir o seu dinheiro e a ensiná-las a poupar logo de pequeninas.

Os pais não devem esquecer-se de que as crianças que são bem acompanhadas correm menos riscos de cair em comportamentos destrutivos e socialmente perturbadores. Quanto mais envolvidos estiverem os pais na vida dos filhos, mais seguros estes se sentem e mais tentarão responder à fé que os pais depositam neles. Eis alguns pontos importantes a ter em consideração neste acompanhamento:

*Estabeleça tempos para estarem juntos. Decida um tempo semanal para fazerem qualquer coisa em conjunto fora da rotina do dia a dia. Mesmo que não seja mais que ir tomar um gelado fora.
*Mais que tentar constantemente saber onde os filhos foram, procure conhecer os seus amigos e os pais destes.
*Sempre que possível esteja em casa quando os seus filhos voltarem da escola. A zona de perigo para o uso das drogas é a saída da escola, pela tarde, quando nenhum dos pais está presente.
*Estudos recentes demonstraram que crianças e adolescentes que comem pelo menos cinco vezes por semana com os pais têm muito menos probabilidades de se envolverem em problemas de droga e álcool.

*É importante que os pais desenvolvam um clima de diálogo com os filhos. Procure saber como vão as coisas na escola. Seja claro sobre os valores a ter em conta: seja totalmente claro, fazendo-os compreender que não quer que eles consumam droga. Explique-lhes com clareza que droga nunca e em lugar nenhum.

*Seja um bom ouvidor. Não se ponha logo a dar receitas morais quando o filho ou a filha lhe fazem um desabafo. Pelo contrário, faça-lhes perguntas e comunique-lhes força e coragem. Resuma e sublinhe o que o filho lhe comunicou, a fim de lhe demonstrar que entendeu bem a comunicação.

*Dê respostas honestas. Não afirme o que não conhece. Em caso de dúvida e incerteza prometa encontrar a resposta certa e verdadeira.
*Não se descontrole para não ter de acabar com o diálogo. Tente aprofundar as questões, mesmo que o filho tenha feito declarações chocantes.
*No dia a dia procure ser um exemplo para os filhos. Não queira que eles façam aquilo que lhes diz, mas antes actue como quer que eles actuem.

*Crie regras em diálogo com os filhos. Depois acentue que há consequências para a infracção a essas regras.
*Não faça ameaças vazias ou sem efeito. Cumpra os castigos previstos e não acrescente outros arbitrariamente. Sobretudo nunca seja injusto.
*Estabeleça a hora do toque de recolher e seja rigoroso. Mas esteja preparado para renegociar, sobretudo em ocasiões especiais.
*Escute os seus instintos. Não tenha medo de intervir se o seu sexto sentido lhe indicar que algo está errado.

*Encoraje o seu filho e felicite-o quando acontece uma coisa boa. Este encorajamento dá-lhe força para não cair em experiências destrutivas. Recompense o bom comportamento dos seus filhos. Se puder ser, a recompensa deve acontecer logo a seguir ao acto. Nestes momentos manifeste-lhe muito carinho e apreço.

*Acentue as coisas positivas que observar nos comportamentos dos seus filhos. Este procedimento tem mais impacto e mais força para levar o seu filho a fazer o bem do que uma multidão de proibições.

O “não” também faz parte da arte de educar. Mas para dizer um não construtivo é preciso amar de verdade. Na arte de educar, o “não” é tão importante como o “sim”. É verdade que só mais tarde as crianças e os adolescentes poderão compreender a importância e o alcance de certos “nãos” que os irritaram e deixaram cheios de raiva. Só o amor é razão válida para dizer de modo construtivo um “sim” ou um “não”.

É preciso um grande amor para ser capaz perguntar ao filho adolescente: “Onde vais?” Ou então: “Com quem vais?” Também é preciso muito amor para dizer ao filho adolescente: “Deves estar em casa à hora determinada.” É preciso ter um grande amor para ter a coragem de dizer ao filho ou à filha adolescente: “Aquele amigo com quem andas agora não é boa companhia.”

É preciso ter um amor grande para obrigar a criança a ir ao supermercado no dia seguinte a pagar os bombons que tirou na véspera e não pagou. Mas também é preciso ter muito amor para não substituir um filho, apesar de saber que pode haver tropeções e cabeçadas pelo caminho. É preciso querer muito aos filhos para os obrigar a comer cereais, frutas, ovos e leite, enquanto muitos dos seus amiguinhos bebem refrigerantes, comem batatas fritas ou gelados.

É preciso amar muito para obrigar as crianças e adolescentes a comer à mesa, apesar de eles dizerem que os seus amigos comem no sofá, enquanto vêem televisão. É preciso amar muito para obrigar os adolescentes a levantar a loiça da mesa. Também supõe muito amor ser capaz de esperar uma hora e meia até eles limparem o quarto, tarefa que a mãe teria feita em vinte minutos.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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