a) A Visão do Antigo Testamento
1 – Antes do Exílio
2 - Depois do Exílio
3 - Demónio e Sofrimento
4 – Influências do Judaísmo no Novo Testamento
4.1. – Influência dos Apocalipses Judaicos no Novo Testamento
4.2. - As Curas de Cristo Interpretadas Como Exorcismos
b) O Sofrimento no Novo Testamento
c) Sofrimento e Sentido cristão da Vida
1 – O Cristão e a Luta Contra o Sofrimento
2 - Sofrimento e Sentido da Vida
a) A Visão do Antigo Testamento
1 – Antes do Exílio
O sofrimento e o mal, no período anterior ao Exílio, século sexto antes de Cristo, era visto como uma realidade provocada por Deus para punir o pecador. A questão do sofrimento e da felicidade eram vistos dentro de um esquema simplista de justiça-retribuição e pecado-castigo. Os amigos de Deus serão felizes e terão uma vida longa (Dt 5, 3; 30, 15; Sal 41, 3; Prov 13, 21).
O prémio e o castigo de Deus acontecem na Terra. Após o falecimento da pessoa, o corpo torna-se pó e a interioridade pessoal fica em estado de morte, apesar de subsistir. Na morada dos mortos, a pessoa não convive nem comunga. O shéol é o lugar das sombras.
Para o pensamento bíblico, a pessoa está viva enquanto convive. Pelo acontecimento da morte deixa de conviver, por isso fica em estado de morte, apesar de a sua interioridade subsistir. Fica como um fantasma a movimentar-se sem qualquer consciência de existir e estar junto dos seus antepassados.
Uma vez que esta é a condição humana, o prémio do justo acontece sobre a Terra, tal como o castigo do pecador: o justo terá uma vida longa, muitos filhos, muitas terras e rebanhos. Tudo lhe correrá bem. Por outro lado, Deus provocará o mal, a fim de castigar o pecador. Este terá uma vida atribulada. Os seus filhos não sobreviverão ou serão atormentados com doenças. As suas terras e rebanhos não produzirão. Após a morte, a sorte do pecador e a do justo é exactamente igual: habitar no lugar das sombras que é a morada dos mortos (cf. Gn 37, 35; Nm 16, 30; Is 5, 14; 38, 18; Ez 26, 20; 31, 14-17; Sal 22, 30; 28, 1; 30, 4; 30, 10; 55, 16; Prv 1, 12; 5, 5).
Nessa morada sem esperança, a interioridade humana assemelha-se a uma bateria descarregada. Não tem energia para a dinâmica das relações. No momento da morte, Deus retira do interior do homem o sopro vital, que lhe fora insuflado no momento da sua criação (Gn 2, 7). No entanto, esta bateria é “recarregável”. Se o Espírito de Deus fosse à morada dos mortos dava-se a ressurreição da carne. O homem voltava a encontrar-se na festa da vida e da comunhão.
Em hebraico, o termo “awon” significa pecado e castigo. O pecado é uma transgressão à Aliança ou à lei mosaica, a qual implica sempre um castigo. O sofrimento é a sorte dos pecadores. Os justos não sofrem. O pecado leva sempre consigo o castigo. Este implica sofrimento (cf. Ez 18, 30; 44, 12; Is 30, 13; Os 5, 5; Job 31, 11; 44, 28). As crianças sofrem, não pelo seu pecado mas pelo pecado dos pais (cf. Is 14, 21; 53, 11; Jer 11, 10; Ez 18, 17; 18, 19-20). O justo, pelo contrário, será poupado ao sofrimento e terá vida longa (cf. Prov 10, 27).
A experiência do exílio em Babilónia demonstrou que as coisas não eram assim. O esquema pecado-castigo, justiça-retribuição, começa a chocar a sensibilidade. Em primeiro lugar torna-se chocante a ideia de Deus provocar o sofrimento das crianças por causa do pecado dos pais. O profeta Ezequiel denuncia esta visão, dizendo que, no futuro, as coisas não vão passar-se deste modo: cada qual sofrerá pelos seus pecados. Os filhos não vão mais sofrer pelos pecados dos pais. Cada pessoa sofrerá pelos seus pecados (cf. Ez 18, 19-20).
O sofrimento era visto como realidade querida expressamente por Deus. Mesmo que se trate do sofrimento das crianças ou do justo: “Nós o reputávamos como um leproso ferido por Deus e humilhado” (Is 53, 4); “Mas aprouve a Deus esmagá-lo com sofrimento, a fim de a sua vida ser um sacrifício de reparação” (Is 53, 10). O sofrimento acontece sempre por vontade de Deus (cf. Sal 44, 18-19). O pecador ofende a Deus. Por isso a ira divina pune o pecador com sofrimentos (cf. Jz 2, 11-23; 3, 7-9). Deus provoca o sofrimento para punir o povo pecador (cf. Num 25, 3; 11, 1; 13, 25; Jos 22, 20; Ex 32).
Segundo este esquema, tudo o que acontece é directamente querido e provocado por Deus. Suscita o bem para premiar e o mal para castigar (cf. Jz 2, 11-15; Dt 28; Job 11, 14; 15, 15; 18, 21-22;Prov 3, 2s; 3, 10; 3, 23; 3, 26; 4, 10-22). Por detrás do sofrimento humano está sempre a ira de Deus.
2- Depois do Exílio
A experiência dolorosa do exílio questiona o esquema pecado-sofrimento, justiça-felicidade. Os justos, ao pretenderem ser fiéis a Deus sofrem mais que os pecadores que se adaptam aos modelos de vida dos pagãos. Os justos são humilhados e torturados, enquanto os pecadores passam bem. Jeremias, apercebendo-se desta aparente contradição, interroga-se e interroga o próprio Deus: como é possível os justos estarem a sofrer tanto, enquanto os pecadores passam bem? Acredita que Deus é justo, mas não entende esta contradição (Jer 12, 1-3). O justo parece um cordeiro destinado ao matadouro (Jer 11, 19).
Após o Exílio vão surgir várias tentativas de reformular a interpretação tradicional do sofrimento: o Deutero Isaías, (cf. Is 52, 13-53, 12; 42, 1-4; 49, 1-6) o relato da queda original (Gn 3, 1-20) e o livro de Job. A solução encontrada pelo relato da queda original bem como pelo livro de Job coincidem. Influenciados pelo pensamento persa concluem que Deus não é o autor do mal e do sofrimento.
Com efeito, o masdeismo ou religião de Zaratustra reconhecia a existência de um Deus bom do qual emanaram dois princípios: um bom, chamado Ormuz. Este é o autor do bem que nos acontece. O outro princípio, Ahriman, é o causador dos males e sofrimentos que acontecem à Humanidade. Job e o relato do Génesis vão afirmar que Deus é bom e, portanto, não é o autor do mal.
Segundo esta reformulação, o sofrimento humano é provocado por um sujeito sobre-humano, invejoso da amizade que reina entre Deus e o Homem (cf. Job 1, 6s; 2, 1s; Gn 3, 1-5. Segundo o relato de Job, Satanás, conselheiro da corte divina, fica cheio de ciúmes quando se apercebe de que Deus é amigo do justo Job. Elabora uma série de argumentos e artimanhas que trazem grande sofrimento a Job.
O Deutero Isaías situa-se na linha clássica: a causa do sofrimento é o pecado. O justo sofre, não por causa dos seus pecados, pois é justo, mas por causa do pecado dos outros. O sofrimento do justo assume, deste modo, um sentido redentor: resgate pelo pecado dos outros:
“Desprezado e abandonado, homem cheio de dores, treinado no sofrimento. Diante dele tapa-se o rosto. Menosprezado e desconsiderado. Na verdade ele tomou sobre si as nossas doenças. Carregou as nossas dores (...). Foi ferido pelos nossos pecados, esmagado por causa das nossas iniquidades. Pesou sobre ele o castigo que nos salva. Fomos curados nas suas chagas” (Is 53, 3-5).
E ainda: “Foi suprimido da terra dos vivos. Foi ferido por causa dos pecados do meu povo. Foi-lhe dada sepultura entre os ímpios e uma tumba entre os malfeitores, apesar de não ter cometido qualquer crime, nem ter agido fraudulentamente. Aprouve ao Senhor esmagá-lo com sofrimentos, para que a sua vida fosse um sacrifício de reparação” (Is 53, 8 a-10 a).
Deus provoca o sofrimento do justo, a fim de conceder o perdão dos pecadores. Parece estar subjacente a esta leitura a ideia de que Deus, para perdoar, precisa do sofrimento de alguém. De facto não é o caso. A ideia subjacente ao texto é interpretar e justificar o sofrimento do justo sem fazer de Deus um ser injusto. Existe aqui um aspecto muito bonito e verdadeiro: afastar-se de Deus é muito mau para o homem. Não porque Deus se vingue, mas porque o homem está a entrar no caminho do malogro e do fracasso. Esta opção é geradora de sofrimento e auto destruição. São muitas as passagens bíblicas onde Deus perdoa sem exigir sofrimento (cf. Is 49, 14-15; 54, 4-7;Jer 31, 3 s; 33, 8-9; Ez 34, 11-16; Os 6, 1-2; Jl 2, 18-19, etc.)
O tema do Salmo vinte e um é também o sofrimento do justo. Este é maltratado e humilhado: “Eu, porém, sou um verme e não um homem. Sou o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe. Todos os que me vêem escarnecem de mim. Estendem os lábios e meneiam a cabeça. Confiou no Senhor. Ele que o livre e salve se é seu amigo” (Sal 21, 7-9). No final do salmo surge a glorificação do justo.
Aqui, o sofrimento do justo não é provocado por Deus, para obter o resgate dos pecadores. É consequência da maldade dos pecadores que o odeiam e desejam perder. A sua justiça e rectidão incomoda os injustos que, por esta razão, tentam destruí-lo. Mas o Senhor toma partido em favor do justo perseguido. Com efeito, Deus não é indiferente à causa do bem, da verdade e da justiça.
Tal como o salmo vinte e um, também o livro da Sabedoria descobre outra fonte de sofrimento para o justo: a maldade e a inveja dos pecadores e dos que praticam a injustiça. Agora a recompensa de Deus acontece após a morte. Há justos que morrem novos e pecadores que morrem velhos. Mas isso não significa qualquer tipo de castigo da parte de Deus, pois a recompensa ou castigo acontece após a morte: “O justo, ainda que morra novo, gozará de repouso. Uma velhice venerável não consiste numa vida longa. Não se mede pelo número dos anos. Os verdadeiros cabelos brancos são a prudência. Uma velhice sábia consiste numa vida imaculada” (Sb 4, 7-9).
Os ímpios são uma fonte de sofrimento para o que ama a justiça e o bem: “Armemos laços ao justo, pois este incomoda-nos e não aprova a nossa maneira de actuar. Censura as nossas transgressões à lei, acusa-nos de sermos infiéis às tradições. Afirma ter o conhecimento de Deus e chama-se a si mesmo filho do Altíssimo. Tornou-se uma censura para os nossos comportamentos. Só o facto de o vermos nos incomoda, pois a sua vida não é semelhante à das outras pessoas e os seus caminhos são muito diferentes dos nossos. Considera-nos maus e afasta-se dos nossos caminhos. Declara feliz o prémio eterno do justo e gloria-se de ter Deus por Pai (...). Se o justo é filho de Deus, Deus há-de ampará-lo e tirá-lo das mãos dos seus adversários. Provemo-lo com ultrajes e torturas, a fim de vermos a sua paciência e comprovarmos a sua resistência. Condenemo-lo a uma morte infame, pois segundo diz, Deus o protegerá” (Sb 2, 12-20).
Também o profeta Jeremias experimentou esta situação de sofrimento: “Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir. Tu me dominaste e venceste. Sou objecto de contínua irrisão e todos escarnecem de mim(...). Ouvia invectivas da multidão: ‘Vamos denunciá-lo’. Os que eram meus amigos espiam agora os meus passos” (Jer 20, 7-10).
O livro da Sabedoria proclama a vitória final do justo. Deus vai tomar partido por ele, concedendo-lhe uma vida plena após a morte. Os ímpios enganam-se e terão como castigo final o shéol ou a morada das sombras: “Estes são os pensamentos errados dos ímpios. A sua malícia cega-os. Ignoram os desígnios secretos de Deus e por isso não esperam a recompensa eterna de uma vida de piedade. Não acreditam no prémio reservado às pessoas simples. Com efeito, Deus criou o Homem para uma vida eterna, incorruptível, fazendo-o à sua imagem e semelhança. A morte entrou no mundo devido à inveja do Diabo e os que pertencem ao Diabo hão-de ficar sujeitos à morte” (Sb 2, 21-24).
O primeiro e o segundo livro dos Macabeus também vão nesta mesma linha. O sofrimento dos justos não é provocado por Deus. É consequência da maldade dos pecadores que o atormentam e esmagam, provocando-lhe uma morte dolorosa. Mas Deus virá em seu apoio, ressuscitando-o (1Mac 1, 54; 6, 7; 2 Mac 6, 1-7; 6, 42; 7, 9; 7, 28—41). O sofrimento do justo deriva do próprio facto de existir a injustiça. O justo é uma pessoa cheia de fome e sede de justiça. Por isso será saciado, dizem as bem aventuranças (Mt 5, 6).
Tanto o Deutero Isaías como o Salmo vinte e um são portadores de uma novidade importante: o prémio do justo após a morte: “Por causa dos seus sofrimentos verá a luz. O meu servo será glorificado e ficará feliz. O justo justificará a muitos, pois carregou com o crime deles. Por isso terá uma multidão em herança. Receberá muita gente como despojo, pois, pois entregou a sua vida à morte, sendo contado entre os malfeitores. Sofreu pelos culpados e tomou sobre si o pecado de muitos” (Is 53, 11-12). Agora o prémio e o castigo serão eternos.
A aquisição teologal do livro de Job e do relato da queda original são igualmente importantes: Deus não é o autor do mal. O sofrimento não é obra de Deus. O Senhor não tem prazer em ver-nos sofrer. Por isso Deus o acolherá justo após a morte, com já via, também, o texto de Isaías: “Uma vez liberto dos tormentos, o justo verá a luz e será saciado de contentamento” (Is 53, 11).
3 – Demónio e Sofrimento
O judaísmo esqueceu a teologia do servo sofredor. Através dos escritos apócrifos, isto é, de textos não inspirados, começa a difundir-se a ideia de um inimigo de Deus e do Homem, chamado Satanás, com as características que este personagem tem no livro de Job e no relato da queda original. Os escritos apocalípticos dos apócrifos vão ampliar a figura de Satanás. Este deixa de ser um conselheiro de Deus como acontecia em Job, (Job 1, 6s; 2, 1s) torna-se o chefe de uma multidão de diabos.
Baseando-se num texto mítico do livro do Génesis, os apócrifos vão dizer que os demónios são anjos que se afastaram de Deus para manterem relações sexuais com as filhas dos homens. Destas relações nasceram os gigantes que nasceram antigamente (cf. Gn 6, 2-4).
Naturalmente que o relato pretende enaltecer a figura de David. Os gigantes são os inimigos de David aos inimigos de David. Os soldados de David matam um grupo de gigantes, guerreiros descendentes dos antigos gigantes (2Sam 21, 20-22). Estes textos pretendiam apenas afirmar que David fora escolhido por Deus e, por esta razão, nenhuma força humana o podia vencer. O Senhor destruirá todos os seus inimigos (Sal 110, 1; 2, 1-6). O próprio Davi mata Golias, um destes antigos gigantes (1 Sam 17, 4-51).
Foi destes anjos impuros que nasceram estes gigantes, inimigos de Deus e da casa de David. Os apócrifos vão convertê-los numa multidão de anjos maus, expulsos do céu. Agora vagueiam pelos ares sem morada própria. São eles a causa dos males que acontecem às pessoas humanas (1Hen 18, 13s; 21, 6s; 90, 21). Era esta a visão do judaísmo no tempo de Jesus. As doenças eram obra dos demónios. Eis a razão pela qual as curas que Jesus realizava nos foram relatadas em forma de exorcismos.
Satanás, inimigo de Deus e do Homem, induz as pessoas a pecar (1Hen 54, 6). São os demónios que provocam as guerras entre os homens (Jub 11, 2-4). Despertam inveja e ciúme no coração das pessoas (Test Sim 4, 9). Apenas os que cumprem rigorosamente as normas e preceitos da Lei Mosaica escapam ao domínio dos demónios (Test Dan 5, 1;Test Neft 8, 4). O rei dos demónios queria ser o rei do Criação. Como este lugar de honra foi dado por Deus ao Homem, Satanás tudo faz para que este seja destruído (1Hen 31, 7-8).
Havia ainda a visão dos Essénios, monges aos quais pertenceu João Baptista antes de ter sido chamado para realizar a sua missão de profeta. Segundo a teologia destes monges, o anjo Gabriel está em luta permanente contra Satanás. Gabriel é o príncipe da Luz. Satanás é o príncipe das trevas. Esta luta acontece no interior das pessoas. É esta a razão pela qual os homens se sentem interiormente divididos entre o bem e o mal. Esta divisão interior é a causa do sofrimento (1Qs 4, 24-26). O sofrimento dos justos é obra de um demónio chamado Beliar (1Qs 3, 21-24). Quando chegar o Messias vai amarrar Satanás, acabando assim com o sofrimento das pessoas (Test Lev 18, 12).
4 – Influências do Judaísmo no Novo Testamento
4.1.- Influência dos Apocalipses Judaicos no Novo Testamento
A visão apocalíptica dos apócrifos judaicos dominava o contexto cultural da Palestina, no tempo de Jesus. Deste modo, também os discípulos de Jesus estavam profundamente marcados por esta visão apocalíptica. Paulo imagina os ares repletos de espíritos impuros. Quando Cristo vier, na segunda vinda, destruirá os espíritos maus que vagueiam pelos ares (1Cor 15, 24-25). Os crentes não têm de lutar contra a carne mas contra os espíritos maus espalhados pelos ares.
O livro do Apocalipse anseia pela segunda vinda de Cristo, a fim de que Satanás e a besta sejam encerrados no shéol. A besta que serve Satanás é o imperador romano; obedecendo ao seu chefe, o imperador está a perseguir os fiéis (Apc 13, 4-7). A besta é a causa da prostituição, isto é, do culto idolátrico do imperador (Apc 2, 20). Os que não caem nesta prostituição possuirão a vida eterna com Cristo (Apc 3, 36). A besta, trabalhada por Satanás, tem o poder de enganar a muitos (Apc 13, 3).
Miguel virá e travar-se-à uma batalha feroz contra os anjos maus (Apc 12, 7-9). Satanás e a besta enviam falsos profetas para enganar os eleitos (Apc 16, 13-19). Cristo, ao chegar, prenderá Satanás, a besta e os anjos maus no shéol durante mil anos. Os justos reinarão, com Cristo, em paz (Apc 20, 1-6). Ao fim, Satanás, a besta e os anjos maus, são soltos e dá-se a batalha final. Satanás e os seus seguidores serão destruídos e lançados no fogo eterno (Apc 20, 7-10).
4.2.- As curas de Cristo Interpretadas Como Exorcismos
A acção curativa de Jesus é vista, pelo Novo Testamento, como expulsão de demónios ou espíritos impuros (Mt 9, 34; 10, 8; 11, 18; 12, 24; 17, 18; Mc 9, 14-27). Marcos e Lucas acentuam mais a acção curativa como milagre, isto é, manifestação da força libertadora de Deus a actuar por meio de Cristo. Em qualquer dos casos, o Novo Testamento acentua que Jesus é o vencedor do mal e da morte. Deus ungiu Cristo com o Espírito Santo para dar saúde aos enfermos, libertar os oprimidos, dar vista aos cegos, fazer andar os coxos e enviar em liberdade os cativos (Lc 4, 18-21). O espírito do mal é aquele que faz exactamente o contrário do Espírito Santo.
Os discípulos de Jesus eram judeus. Partilhavam plenamente da cultura da sua época. A sua fé estava profundamente marcada pelos condicionamentos culturais do judaísmo reinante. Os escritos do Novo Testamento são um testemunho da vida de Cristo, da sua morte-ressurreição, bem como do nascimento da Igreja. Mas são também um testemunho claríssimo da cultura judaica reinante no tempo de Jesus: Satanás é o chefe dos demónios e o tentador (1Tes 3, 5). É a causa do mal que acontece no mundo (1 Cor 7, 5; 2 Cor 2, 11;Ef 26, 27; 1 Tm 3, 6-7; Jo 3, 19; 7, 7). É mentiroso e assassino desde o princípio (Jo 8, 44; 1Jo 3, 8). É a causa do sofrimento humano (Mc 3, 23-30; Lc 13, 16; Act 10, 38; Heb 2, 14). Jesus aparece no Novo Testamento como o vencedor de Satanás. Destrona os poderes demoníacos que oprimem o Homem (Mc 1, 23-25;1, 39; Lc 13, 16). Satanás tentou desviar Jesus da sua missão, mas as suas ciladas foram desmascaradas (Mt 4, 1-11; Lc 4, 1-13; Mc 3, 22-30).
b) O Sofrimento no Novo Testamento
Para o Novo Testamento, Jesus é o Messias, o Filho prometido a David. Veio para vencer as forças do mal realizando, deste modo, a vontade de Deus: a salvação da Humanidade. Deus não quer o sofrimento do homem. Consagrou Jesus para anunciar a Boa Nova aos pobres, conceder aos coxos a faculdade de andar, o dom da vista aos cegos e a libertação aos oprimidos (Lc 4, 18-20).
A obra libertadora de Jesus é a execução rigorosa da vontade de Deus. As coisas que Jesus faz não as faz por si, mas porque essa é a vontade do Pai. Jesus faz apenas o que o Pai deseja. Cristo está no Pai e o Pai está nele. As obras de Jesus em favor da libertação humana são a expressão do amor de Deus pela Humanidade (Jo 14, 10, 11). O Pai e o Filho estão unidos no Espírito Santo que é o vínculo orgânico-relacional que une o Pai e o Filho. Por isso o Filho e o Pai fazem um (Jo 10, 30).
Jesus declara aos mensageiros enviados por João que a vontade de Deus se está a realizar: Os coxos andam, os cegos vêem, os leprosos são curados, os surdos ouvem e os mortos ressuscitam (Mt 11, 4-5).
A paixão de Deus é o Homem feliz. Jesus veio inaugurar o Reino de Deus em cuja plenitude não terá lugar o sofrimento, a morte, a dor, a tristeza ou a solidão. No Reino de Deus o sofrimento e a morte serão totalmente banidos (Heb 2, 43-3, 10; Apc 21, 3-4). Os discípulos marcados pelo velho esquema do pecado-castigo, justiça-felicidade, perguntam a Jesus a propósito do cego de nascença: “Quem pecou ele ou o pai dele?” (Jo 9, 2).
Nem ele nem o pai. As situações de sofrimento são um apelo de Deus a solidarizarmo-nos e comprometermo-nos com os que sofrem. É preciso realizar a vontade de Deus, como pedimos no Pai Nosso (Mt 6, 10). As atitudes de Jesus demonstraram de modo bem claro que a vontade de Deus é trabalhar para debelar o sofrimento dos irmãos. Ainda que seja proporcionar vinha para as bodas de Caná (Jo 2, 1-8), ou fazer lodo para curar o cego de nascença (Jo 9, 4-7).
Deus não é o autor do sofrimento. Existe um sofrimento que deriva do próprio facto de a pessoa humana estar em processo de realização. Os seres humanos não nascem perfeitos nem acabados. A humanização é tarefa de cada pessoa. Ninguém pode ser substituído nesta tarefa. O processo de humanização pressupõe morte ao homem velho, exterior ou individual, a fim de que possa nascer o homem novo, pessoal-espiritual.
O homem novo só pode nascer mediante o amor. Mas nós não estamos plenamente capacitados para amar. A amorisação só pode acontecer mediante a morte do egoísmo. Esta morte provoca sofrimento. Mas tal sofrimento é tolerável e vantajoso. É o sofrimento dos partos mediante os quais nasce o homem novo. Há também um sofrimento que resulta das limitações da natureza, a qual é frágil e inacabada. Também este sofrimento é tolerável quando vivido numa dinâmica de solidariedade e partilha.
No entanto, existe um sofrimento que é intolerável e chocante para a razão humana: pessoas oprimidas; crianças maltratadas; seres humanos a morrer de fome perante a indiferença de povos que vivem em excessos de abundância; Seres humanos que asfixiam de solidão; pessoas idosas abandonadas e sós; pobres explorados; sistemas sociais injustos que marginalizam pessoas; doenças provocadas pela egoísmo humano que está a destruir a natureza; guerras ridículas que destroem pessoas e cidades; seres humanos privados da sua dignidade e reduzidos a objectos de compra, venda ou simples objecto de prazer sexual. Há tantas fronteiras que impedem a circulação dos bens que esta Terra generosa e fecunda produz para todos.
Há famílias que não têm condições para se realizar como alfobres de amor, pois as condições sociais e laborais não lho permitem; casais que não podem ter filhos por não terem condições habitacionais. Além destas há tantas outras situações de sofrimento intolerável e revoltante. Este sofrimento é obra do egoísmo e das nossas recusas de amor.
Deus vai suscitando profetas que denunciam estas situações de sofrimento e convidam os homens a caminhar segundo o plano de Deus: fazer da Humanidade uma só família cujo coração é o próprio mistério da Santíssima Trindade. Os cristãos estão chamados a ser no mundo uma consciência teologal. Isto quer dizer que estão chamados a ler os acontecimentos com os olhos da revelação de Deus.
O seu empenhamento, portanto, tem de ser semelhante ao de Cristo: lutar contra todas as formas de sofrimento que impedem o ser humano de desabrochar com a sua dignidade de pessoa humana e membro da família de Deus. O Novo Testamento reconhece que há um sofrimento que faz parte do próprio processo da humanização do Homem. De facto, não há crescimento sem crises e estas fazem sofrer. Mas é totalmente contra formas de sofrimento que não resultem deste parto do homem a nascer. Tal sofrimento tem como origem o egoísmo e a iniquidade humana.
É falsa a ideia segundo a qual Deus precisa do sofrimento humano para perdoar ao homem. Já vimos como os textos do justo sofredor tinham outro tipo de preocupações: Deus não é injusto apesar de existir o sofrimento dos justos. A fidelidade a Deus passa pela luta contra o sofrimento dos doentes, dos nus, dos presos, dos doentes e dos oprimidos. Seremos julgados pelo nosso compromisso neste sentido (Mt 25, 31—46).
Segundo o Novo Testamento, Deus não criou o Homem para o sofrimento nem tem necessidade do sofrimento humano. O sofrimento pertence à fase da gestação histórica: ”Ainda que em nós se vá destruindo o homem exterior, o interior renova-se diariamente. A nossa tribulação passageira prepara-nos uma densidade de glória para além de qualquer medida.” (2 Cor 4, 16-17) O Espírito Santo vai-nos preparando gradual e progressivamente para tomarmos parte na plenitude da glória de Deus (2 Cor 3, 18). É este o modo como o sopro de Deus no barro primordial actua: ajudando-nos processo da humanização. É esta a intervenção especial de Deus na criação do Homem (Gn 2, 7). Eis a presença de Deus no processo do nascimento do Homem Novo identificado com Cristo (2 Cor 5, 17).
c) Sofrimento e Sentido Cristão da Vida
1 – O Cristão e a Luta Contra o Sofrimento
No evangelho de Mateus, Jesus diz aos discípulos que devem ser sal, luz e fermento no mundo (Mt 5, 13-16). Isto significa que os cristãos estão chamados a ser no mundo uma dinâmico de humanização. Tal como Cristo, os discípulos estão no mundo mas não são do mundo, isto é, apesar de estarem no mundo têm os critérios de Deus: o sentido teologal da vida (Jo 17, 14-16).
O que capacita o cristão para ser no mundo um fermento que leveda, um sal que dá à vida e uma luz que confere sentido à realidade é a vida teologal. Esta emerge no íntimo da pessoa e exprime-se no seu agir em atitudes de fé, de esperança e caridade. É a sabedoria que vem do alto e nos confere os critérios de Deus. A vida teologal capacita-nos para testemunhar a Verdade de Deus e do Homem. A Palavra de Deus é a Verdade (Jo 17, 17). Cristo pede ao Pai para nos consagrar na Verdade. Não pede para nos tirar do mundo, mas para nos livrar do mal (Jo 17, 15). O que nos limpa do pecado é a Palavra de Deus (Jo 15, 3).
Os cristãos são a consciência teologal da Humanidade. A sua tarefa é fecundar as consciências humanas com os valores do Evangelho. Não importa que os adeptos do induísmo, do islamismo ou do budismo continuem ligados às suas religiões. O Importante para o Reino de Deus é que as suas consciências sejam fecundadas com os valores do Evangelho. A Igreja não é o Reino, mas existe em função deste.
A tarefa dos cristãos é enorme. À medida que facilitam e dinamizam o processo de humanização, estão a tornar-se uma frente de luta contra o sofrimento no mundo. É para isto que Deus os consagra. É enorme a sua tarefa:
Quantas pessoas impedidas de se realizarem de modo livre, consciente e responsável;
Quantas pessoas utilizadas como escravos, sem voz nem meios para se afirmarem e defenderem;
Quantas pessoas perseguidas pelas suas ideias e impiedosamente torturadas sem encontrarem uma protecção jurídica eficaz;
Quantas pessoas privadas de uma vida familiar digna porque lhes são negados os meios necessários para isso.
Quantas pessoas impedidas de exprimirem livremente o seu pensamento;
Quantas pessoas impedidas de se realizarem socialmente por estarem impedidas de exercer o direito de associação e reunião;
Quantas pessoas perseguidas devido às suas crenças religiosas;
Quantas pessoas privadas de uma segurança social adequada às suas necessidades básicas de saúde;
Quantas pessoas marginalizadas e privadas do trabalho só por pensarem de modo diferente;
Quantas crianças não se poderão realizar satisfatoriamente como homens por não terem acesso à cultura e a uma educação adequada;
Quantos pais impedidos de escolher o estilo de educação que desejam para os seus filhos.
2 – Sofrimento e Sentido da Vida
É importante não confundir dor com sofrimento. A dor, em geral, gera sofrimento, mas nem todo o sofrimento deriva da dor. A dor é um fenómeno fisiológico que funciona como sinal de alarme. Alerta para o facto de algo não estar a funcionar bem. A possibilidade da dor representa uma perfeição enorme dos organismos com esta capacidade. Se a possibilidade da dor é um bem, mas as causas que a provocam são um mal e devem ser combatidas. O sofrimento é algo diferente da dor. Atinge-nos no mais íntimo.
O sofrimento é sobretudo um fenómeno de ordem psíquica, embora as suas raízes profundas possam ir até ao nível do neuro-psiquismo. O sofrimento atinge a pessoa de modo mais profundo que a dor. O crente deve ser solícito no combate das causas que provocam tanto a dor como o sofrimento dos irmãos. Para atenuar ou eliminar a dor existe a medicação. Mas o sofrimento só pode ser eficazmente combatido mediante atitudes de doação fraternal. O amor é o grande “medicamento” para extinguir o sofrimento.
A pessoa deve procurar viver as situações de sofrimento com sentido. Quando isto acontece, o sofrimento torna-se uma causa importante de amadurecimento humano. Vivido como acontecimento intolerável e sem sentido conduz a situações de desespero. Mesmo em situações de grande sofrimento a vida continua a ter sentido: levamos dentro de nós uma pessoa em construção e chamada a uma vida em plenitude.
Só o amor dos outros pode ajudar a pessoa a encontrar os sentidos capazes de a iluminar e ajudar a compreender e suavizar o sofrimento. A pessoa precisa de viver relações de bem-querer para se encontrar e encontrar o sentido da vida. Para nos possuirmos e compreendermos plenamente, precisamos dos outros.
A pessoa que sofre interroga-se sobre o sentido de tal sofrimento. Não conseguimos viver satisfatoriamente sem sentidos. Mas a resposta a esta fome de sentidos não é apenas uma questão teórica. É fundamental a calda das relações com a densidade do amor. O sofrimento inerente à realização da pessoa é tolerável e não é difícil integrá-lo no sentido da própria vida. O mais difícil é integrar o sofrimento causado pelo egoísmo e as recusas de amor estruturadas e activas no tecido social.
Os porquês insistentes que o sofrimento levanta às pessoas é um apelo a criar e aprofundarmos o sentido da vida. Mas apenas em contexto relacional de fraternidade e amor a pessoa pode encontrar a resposta capaz de dar sentido satisfatório à vida. As raízes mais profundas do sofrimento estão em grande parte na indiferença, desinteresse, esquecimento ou egoísmo das pessoas. Somos para os outros e estes são para nós a mediação necessária para podermos encontrar a calda afectiva capaz de atenuar o sofrimento.
A possibilidade da dor, como víamos acima, é um bem. Mas as causas que provocam a dor são um mal que deve ser combatido. Do mesmo modo podemos dizer que a possibilidade do sofrimento é um bem, pois está inerente ao próprio processo da humanização. Mas as causas que o provocam devem ser combatidas através de contextos humanizantes.
Não podemos partilhar a dor. Mas o sofrimento pode ser sempre partilhado. A pessoa que sofre precisa de alguém capaz de facilitar a verbalização dos seus sentimentos mediante uma escuta atenta. Precisa ainda de ser aceite, apesar de diferente. Não julgada, a fim de poder dizer-se sem bloqueios e valorizada, apesar da história dos seus sofrimentos.
Na partilha da companhia fraterna o sofrimento é vencido ou atenuado. Não é raro encontrarmos pessoas para quem os dias e as dores das suas artroses são insuportáveis. Estas mesmas pessoas são capazes de passar um dia, felizes e sem darem por isso, graças a uma simples presença fraterna e amorosa. As dores foram rigorosamente as mesmas, mas o sofrimento não.
As situações de sofrimento tolerável (inerente ao processo da humanização) são importantes para o amadurecimento do homem interior. Lavado com as lágrimas do sofrimento o coração humano fica dilatado para acolher e compreender as situações de sofrimento dos irmãos. Este sofrimento confere sabedoria e maturidade à pessoa. Mas se for um sofrimento injusto e intolerável gera revolta.
O sofrimento da Humanidade é muito mais vasto do que a dor física. Deus não ama o sofrimento por si. Inscreveu a sua possibilidade no projecto humano como condição para poder acontecer a humanização do Homem. A lei da humanização é: emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a comunhão universal.
Por emergência pessoal devemos entender o crescimento pessoal-espiritual. No interior do eu individual ou exterior levamos um eu pessoal-espiritual e interior em construção. É como o pintainho a emergir no interior do ovo. Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e interacção relacional.
A convergência para a comunhão universal significa que a pessoa, à medida que emerge, entra mais profundamente no tecido orgânico da Humanidade. A Divindade é uma comunhão orgânica e infinitamente perfeita de três pessoas. A Humanidade está a humanizar-se, isto é, a constituir-se como comunhão orgânica de biliões de pessoas. Somos verdadeiramente criados à imagem e semelhança de Deus.
Graças ao mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano e este foi organicamente incorporado no divino. Já somos membros da Família Divina (Rm 8, 14-16; Ga 4, 4-7). Eis o sentido máximo da vida humana. Só à luz da revelação de Deus podemos olhar a vida e a história com este alcance. O sofrimento não é nunca provocado arbitrariamente por Deus para punir o pecador ou fazer sofrer os inocentes, a fim de tirar proveito desse facto. Pensar assim é desfigurar o rosto do nosso Deus e deformar o seu plano de Salvação.
A glória de Deus revela-se na vitória sobre tudo o que faz sofrer o homem (Jo 9, 3; Lc 4, 18-21). Jesus veio para fazer a vontade do Pai. A sua paixão era libertar as pessoas de tudo o que as fazia sofrer. Isto significa que era esta a vontade do Pai: “Muitas pessoas seguiram Jesus. Ele curava-as a todas, recomendando-lhes que não o dissessem a ninguém. Deste modo cumpria o que fora anunciado pelo profeta Isaías: Eis o meu servo, o amado que escolhi e no qual pus o meu enlevo. Derramarei sobre ele o meu Espírito e ele anunciará a verdadeira Fé às nações” (Mt 12, 15b-18).
Empenhar-se na luta contra o sofrimento humano é uma das maneiras mais nobres de se realizar como pessoa humana. É certamente o caminho certo para entrar no Reino de Deus: “O Rei dirá então aos da sua direita: ‘vinde benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes-me, estive na prisão e fostes ter comigo’(...). Em verdade vos digo: sempre que o fizestes a um destes pequeninos a mim o fizestes” (Mt 25, 34-40).
Enquanto a Humanidade está em processo histórico de realização o sofrimento não poderá ser totalmente banido, pois é inerente ao processo de humanização. Mas o sofrimento intolerável, aquele que é provocado pelo egoísmo e as recusas de fraternidade e comunhão entre os homens pode ser profundamente debelado.
No Reino de Deus o sofrimento e a morte serão totalmente vencidos: “Vi então um novo céu e uma nova terra. O primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido e o mar já não existia. E vi descer do céu, de junto de Deus, a nova Jerusalém, já preparada, qual noiva adornada para o seu esposo. E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: ’Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles. Eles serão o seu povo e Deus, junto deles, será o seu Deus, enxugando as lágrimas dos seus olhos. Não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram” (Apc 21, 1-4).
A fase da gestação histórica do Homem corresponde às primeiras coisas. O Reino de Deus é a comunhão universal de todas as pessoas humanas com as três pessoas divinas. É o nível da plenitude. Não fomos criados para o sofrimento. Na plenitude da vida este será totalmente vencido. De facto, a possibilidade do sofrimento é inerente à fase da realização histórica da Humanidade.
A felicidade sem sombras e ameaças é o estado do ser humano na fase de pessoa acabada. São estas as coordenadas da plenitude onde os homens transcendem definitivamente os condicionamentos individuais e são assumidos na comunhão da Família Divina.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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