Kyrgyz Yurt, Afeganistão (fonte: National Geographic) |
Oração e Sintonia com a Acção de Deus
Procura sentar-te num sítio
silencioso durante uns quinze minutos pelo menos. Começa por fazer
silêncio antes de começares a dialogar com Deus. Começa por pensar que,
no mais íntimo do teu coração, Deus está em ti e por ti. Procedendo
assim, a tua mente começa a ficar predisposta para acolher a presença e a
acção transformadora do Espírito Santo.
Depois podes iniciar o diálogo
com Deus. Tomemos a Divindade a sério. Para nós, cristãos, a Divindade é
uma comunhão de três pessoas. Podemos iniciar o nosso diálogo ou com o
Pai, de quem somos filhos, ou com o Filho de quem somos irmãos. Também
nos podemos dirigir ao Espírito Santo que é, no nosso interior, o amor
maternal de Deus. É ele que nos põe em sintonia com o Pai e o filho.
O nosso diálogo com Deus deve
ser simples, sem palavras rebuscadas. Devemos usar as palavras mais
naturais como fazemos com as pessoas que amamos. Falemos a Deus da nossa
vida, sabendo que Deus a conhece e entende muito bem. Digamos a Deus
como vão as nossas actividades e as dificuldades que, por vezes nos
surgem. Não nos ponhamos a pedir muitas coisas ou a insistir muito num
aspecto concreto. Este modo de orar cria em nós uma consciência
miserabilista. É verdade que somos pobres e frágeis, mas com Deus
podemos tudo.
A nossa atitude,
portanto, deve ser de consciencializar a presença de Deus em nós e
dar-lhe muitas graças por nos capacitar para podermos fazer maravilhas.
Segundo o evangelho de Lucas, Maria tinha uma plena consciência disso:
“A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu
salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em
diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada. O Todo-Poderoso fez
em mim maravilhas” (Lc 1, 46-49).
Oremos e tenhamos a certeza de que a oração é sempre eficaz. Não no sentido de mudar o coração de Deus, mas no
sentido de modificar o nosso coração e a nossa mente e capacitando-nos
para fazer coisas que nunca seríamos capazes de imaginar. Na
medida em que nos transformamos e somos invadidos pela força amorosa e
criadora de Deus tornamo-nos mediações de libertação e felicidade para
os irmãos.
Na oração não devemos utilizar
palavras ou pensamentos negativos. Esse procedimento não altera nem
influencia Deus. Além disso devemos ter presente que os pensamentos e as
palavras negativas moldam padrões negativistas na nossa mente. Apenas
as palavras positivas que exprimem fé na presença de Deus e de gratidão
pela sua acção em nós são dignas de Deus.
Ao pedirmos qualquer coisa não
deixemos de insistir que se faça a vontade de Deus. Deste modo estamos a
reforçar a certeza de que a vontade de Deus, a nosso respeito, é muito
melhor para nós do que a nossa própria. Por outras palavras, normalmente
o que Deus nos quer dar é muito melhor do que aquilo que nós lhe
pedimos. O querer de Deus é muito melhor do que o nosso no que se refere
ao nosso bem e felicidade.
Tenhamos a coragem de dizer a
Deus com fé: “ponho-me nas tuas mãos, pois sei que o teu querer a meu
respeito coincide com o que é melhor para mim”. Procedendo assim estamos
a abrir o coração a Deus, permitindo que o manancial infinito a força
criadora e salvadora de Deus circule em nós.
São Paulo dá-nos o suporte
perfeito para esta confiança em Deus: “Sabemos que tudo contribui para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com o
seu desígnio. De facto, àqueles que Deus conheceu antecipadamente
também os predestinou, a fim de serem uma imagem idêntica à do seu
Filho, o qual se tornou o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 28-29).
Depois, passemos da
oração para a vida, procurando dar o melhor de nós com a certeza de que,
graças à força de Deus em nós, as nossas actividades terão os melhores
resultados. Não nos esqueçamos de pedir a Deus pelas pessoas
que nos querem prejudicar ou nos maltrataram. O ressentimento, a raiva e
o ódio são forças negativas que bloqueiam os circuitos através dos
quais circulam as energias activadas em nós pela acção do Espírito Santo
e da Palavra de Deus.
Quando surge um problema devemos
falar a Deus sobre ele de modo simples e directo e com uma atitude de
humildade, como por exemplo: “Eu sei que eu e tu, Espírito Santo, os
dois em conjunto, podemos resolver de modo satisfatório todos os meus
problemas e dificuldades". Podemos fazer como um filho faz com o pai, a
mãe ou um irmão mais velho perguntando a Deus sobre o melhor modo de
resolver determinado problema.
A nossa vida corporal, psíquica
ou espiritual é em grande parte condicionada pelas nossas emoções. Por
outro lado, a nossa vida emocional é profundamente condicionada pelos
nossos pensamentos. A oração ajuda-nos a configurar a nossa mente com a
Palavra de Deus. Como sabemos, a originalidade do cristão é a vida
teologal de Fé, Esperança e Caridade. A vida teologal põe a
nossa mente e o nosso coração ao ritmo da revelação de Deus. Quanto mais
cresce em nós a vida teologal mais circulam, no nosso íntimo, as
energias que nos capacitam para agir com acerto e sucesso no dia a dia.
No evangelho de João Jesus garante-nos que veio para que tenhamos vida
em abundância (Jo.10,10). O cultivo da vida teologal é o modo mais
eficaz de viver em sintonia com as energias de Deus.
Há muitas pessoas vivem
habitualmente cansadas, fazendo esforços enormes para obter resultados
minúsculos. Isto significa que as suas energias criadoras não flúem
normalmente. Além disso, essas pessoas bloqueiam a força criadora de
Deus, impedindo-a de circular espontaneamente nem em grande abundância.
Estas pessoas não se sentem motivadas para criar, pois sentem-se sem
forças para o fazer. Estas pessoas sentem-se tristes. E têm razão, pois o
seu estado significa que estão psíquica e espiritualmente e doentes.
O caminho para sair deste
sofrimento é desbloquear as vias pelas quais circulam as energias e
deixar-se habitar pela força criadora de Deus. Um primeiro passo para
superar estas situações é tentar cultivar pensamentos positivos como,
por exemplo: “Estar cansado e triste não é uma fatalidade”; “podes mudar
esta situação”; “sentes-te permanentemente cansado e triste porque não
emergem pensamentos positivos na tua mente. Além disso não deixas que,
no teu coração, circule a força do amor de Deus a optimizar as tuas
capacidades de amar a Deus e aos irmãos”.
É muito importante que façamos
momentos de silêncio, visualizando a presença e acção de Deus no nosso
interior. É importante não admitir pensamentos negativos na nossa mente,
expulsando-os, cinco, dez, vinte ou cinquenta vezes por dia. Eis ainda
outro aspecto importante: Quanto mais cultivarmos atitudes de não
julgamento, de perdão, de amor a Deus e aos irmãos, mais os bloqueios
vão sendo destruídos e mais circulará a seiva da alegria e felicidade.
As pessoas que carecem de
energia estão emocional e psicologicamente desorganizadas. Isto tem um
impacto enorme na saúde do seu corpo. Estas pessoas sentem-se
constantemente envolvidas em conflitos interiores e problemas de saúde,
seja de ordem corporal, psíquica ou espiritual. Precisamos de cultivar
uma Fé sólida e uma grande harmonia interior, a fim de o nosso diálogo e
encontro com Deus atingir profundidade e dinâmica libertadora. Como
sabemos, a Palavra de Deus é o alimento fundamental para crescermos na
Fé. As energias espirituais que nos habitam, tanto as de Deus como as
nossas são, no nosso íntimo, a fonte do milagre. Deus está em nós e quer
o nosso equilíbrio corporal, psíquico e espiritual. A oração no
Espírito Santo, fundamentada numa Fé forte é condição fundamental para
acontecer, em nós, o milagre.
Com Deus podemos caminhar para
uma crescente harmonia da nossa personalidade. Mas não pensemos que Deus
actua sem a nossa colaboração. A Fé, a harmonia interior e a
paz que dela resulta são mediações excelentes para que as nossas
energias interiores se encontrem com as energias de Deus e sejam
activadas por elas.
O diálogo com Deus é sempre
criador, pois estamos interagindo com a fonte das energias espirituais e
criadoras do mesmo Deus. É isto que o evangelho de Lucas quer dizer ao
afirmar que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc.17,21). Quando
sintonizamos com o Espírito Santo que nos habita sentimo-nos melhor,
trabalhamos melhor, fazemos melhor, dormimos melhor e facilitamos melhor
a realização e felicidade dos que vivem a nosso lado.
Como diálogo com Deus, a oração
muda a nossa mente e o nosso coração, alterando profundamente a nossa
vida e as relações com os outros. Mas não devemos confundir a oração
enquanto diálogo amoroso e familiar com as pessoas divinas com rezas
ditas de modo mecânico e segundo um número determinado para obter a
devida eficácia. É importante não fazer da oração uma questão de um
número determinado de palavras mágicas. Este tipo de rezas não conduz à
experiência da acção libertadora de Deus no nosso íntimo.
O próprio Jesus nos previne do
perigo de distorcermos a oração, fazendo dela uma questão de formular
mágicas: “Nas vossas orações não sejais como os gentios que usam de vãs
repetições, pois pensam que, por falarem muito, são mais atendidos. Não
façais como eles, pois o vosso Pai do Céu bem sabe do que precisais,
antes de lho pedirdes”.
Orar é encontrar-se e comunicar
com Deus no nosso íntimo. O Espírito Santo conduz-nos ao diálogo com
Deus em termos familiares. Conduz-nos a Deus Pai com sentimentos de
filhos e a Deus Filho com sentimentos de irmãos. Como já vimos, é o
Espírito Santo que nos introduz na comunhão com as pessoas divinas a
qual nos leva depois à comunhão com as pessoas humanas: “O primeiro
mandamento é: Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com todo o teu espírito, com
todo o teu entendimento e com todas as tuas forças” (Mc.12,29-30;
Mt.22,37-38; Lc.10,27).
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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