I-A DINÂMICA SACRAMENTAL DO BAPTISMO
O baptismo é um sacramento, isto é, uma celebração comunitária da fé que explicita o plano salvador a acontecer na história.
Isto quer dizer que o baptismo não é um modo mágico de salvar as pessoas.
As celebrações sacramentais são espaços privilegiados para o Espírito Santo actuar no coração dos crentes, fazendo-os compreender o plano salvador de Deus a actuar na História.
O Baptismo insere os crentes na Igreja, essa parcela de Humanidade chamada a ser um sinal da fraternidade universal na qual já não há mais diferenças de raça, de língua, de classe ou de condição sexual. Eis as palavras da Carta aos Gálatas:
“Todos os que fostes baptizados em Cristo ficastes revestidos de Cristo mediante a Fé. Por isso já não há judeu nem grego, escravo ou cidadão livre. Já não há varão ou mulher, pois todos sois um só em Cristo” (Gal 3, 27-28).
Na Carta aos Colossenses, São Paulo compara o baptismo a uma nova circuncisão (Col 2, 12-15).
Mediante o rito da circuncisão os meninos judeus eram incorporados no povo de Deus e, portanto, participantes das bênçãos prometidas a Abraão.
Pelo baptismo, o crente é incorporado no Novo Povo de Deus. São Paulo diz que a nova circuncisão não é uma questão de rito, mas pelo Espírito Santo:
“Judeu é aquele que o é no seu interior. A verdadeira circuncisão é a do coração, segundo o Espírito e não segundo a letra da Lei” (Rm 2, 29).
Os ritos só por si não valem nada. Se o baptismo ficasse reduzido ao rito da água, diz São Paulo, não tinhas qualquer valor:
Os judeus também tiveram o seu baptismo em Moisés. No entanto, a maior parte deles não agradou a Deus.
E isto foi escrito, diz ele, para que não nos iludamos e pensemos que pelo facto de termos recebido o rito do baptismo já temos a salvação garantida (cf. 1 Cor 10, 1-7).
A teologia tradicional medieval afastou-se da visão do Novo Testamento quando começou a falar da celebração do baptismo como um acto mágico que opera automaticamente.
Na Primeira Carta aos Coríntios, São Paulo diz que Cristo não o enviou a baptizar, mas a pregar, pois a fé vem da pregação, não do rito (1 Cor 1, 17).
II-BAPTISMO E NOVO NASCIMENTO
O Novo Testamento insiste em que nós somos incorporados na Família de Deus graças ao Espírito Santo que nos foi comunicado por Cristo ressuscitado.
Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo conduz-nos a Deus Pai que nos acolhe como filhos e ao Filho eterno de Deus que nos acolhe como irmãos (Rm 8, 14).
Podemos dizer que é pelo Espírito Santo que experimentamos o amor paternal de Deus Pai e o amor fraternal do Filho de Deus.
Pelo mistério da Encarnação o Filho de Deus escolheu ser nosso irmão, tornando-se o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo (Rm 8, 29).
Mas para isto acontecer, diz Jesus no evangelho de São João, nós temos de nascer de novo através do Espírito Santo (Jo 3, 6).
É também este o poder que Deus nos dá de nos tornarmos filhos de Deus mediante a Encarnação, como diz o evangelho de São João (Jo 1, 12-14).
Referindo-se ao significado da Encarnação, o evangelho de São João diz que pelo mistério da Encarnação nos foi dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1,12-14).
São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Logo nos primórdios da Humanidade, Deus Pai comunicou-nos o hálito da vida através de um beijo (Gn 2, 7).
Através do beijo da Encarnação, o Filho de Deus introduziu-nos na Família Divina mediante a ternura maternal do Espírito Santo.
Eis as Palavras da Carta aos Gálatas: “Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei e, deste modo, podermos receber a adopção de filhos.
E, porque somos filhos de Deus, ele enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho que em nós clama: Abba, Pai” (Gal 4, 4-6).
Isto significa que o Espírito Santo actua em nós como princípio de gerador de vida espiritual e princípio vital que nos diviniza.
No primeiro beijo acontece a intervenção especial de Deus na criação do homem. No segundo, acontece a incorporação e assunção do Homem na Família de Deus.
A vida divina não emerge em nós por obra da letra que mata, mas sim pelo Espírito que gera vida em nós, diz São Paulo (2 Cor 3, 6).
O baptismo mas é o sacramento que proclama e explicita esta realidade maravilhosa de Deus a actuar na nossa História e a salvar do Homem.
São Paulo diz que nós conhecemos o mistério da nossa filiação divina graças à revelação do Espírito Santo que penetra até ao mais íntimo os segredos da realidade, incluindo o mistério de Deus (1 Cor 2, 10-11).
A Carta a Tito diz que “Deus nos salvou, não pelas nossas obras, mas pela regeneração operada em nós pelo Espírito Santo que Deus Pai nos concedeu por Jesus Cristo nosso Salvador” (Tit 3, 5-6).
Graças ao facto de nós fazermos uma união orgânica com Cristo que o Espírito Santo tem condições para nos incorporar na família de Deus.
Sem a acção do Espírito Santo é impossível estar organicamente unido a Cristo diz São Paulo:
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse não lhe pertence” (Rm 8, 9).
É isto que a Carta aos Efésios quer dizer quando afirma que o Espírito Santo é o penhor e a garantia da nossa salvação (Ef 1, 13-14).
No evangelho de São João, Jesus diz que a nossa união com ele é semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. Jesus é a cepa e nós os ramos.
Os ramos são fecundos na medida que permanecem unidos à videira. E Jesus acrescenta: “Sem mim nada podeis fazer” (cf. Jo 15, 4-5).
Os cristãos que vivem o baptismo no Espírito Santo são estes ramos fecundos, capazes de transformar o mundo.
O Baptismo explicita e proclama este mistério da filiação divina a acontecer na História da Humanidade.
A filiação divina é para todos os seres humanos, não apenas para os baptizados. As comunidades cristãs são o sacramento da comunhão universal da Família de Deus.
Por outras palavras, a Igreja não é o Reino de Deus mas o Sacramento da salvação universal de Deus.
A Carta aos Filipenses diz que nós já possuímos uma vida nova, pois já somos filhos de Deus (Flp 2, 15-16).
A adopção filial, realizada pelo dom do Espírito Santo, é mais que um simples acto jurídico, mas uma nova geração graças à acção do Espírito Santo em nós (Jo 3, 6).
E a Carta aos Efésios diz que os pagãos não são apenas hóspedes, mas membros da Família Deus (Ef 2, 18-19).
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