O Deus da Criação e da Aliança



a)As Impressões digitais de Deus na Criação
1-O Selo de Deus na Obra da Criação
2-O Limiar da Vida Espiritual
3-O Homem e a Terra Que Deus nos Deu
4-O Amor a Deus, ao Homem e à Criação

b)A Ternura de Deus ao Criar o Homem
1-O Homem Como Ser Terreno e Histórico
2-Deus Cria o Homem Com Muito Carinho
3-A Acção das Pessoas Divinas
4-O Papel do Espírito Santo

c)O Deus Que Faz Comunidade Connosco
1-O Deus Que se Revela Como Emanuel
2-O Homem e a Comunidade Divina
3-O Homem na Plenitude Familiar de Deus

d)O Dom da Nova aliança
1-A Nova aliança Supera a Antiga
2-Nova Aliança e Fraternidade Universal
3-Nova Aliança e a Revelação de Deus

e)Espírito Santo e a Árvore da Vida
1-A Infidelidade de Adão
2-O Messias e a Plenitude do Espírito Santo
3-Conduzidos Por Jesus à Comunhão com Deus
4-O Paraíso é Uma Realidade a Emergir
5-Salvação e Comunhão Com Cristo
6-Espírito Santo e a Nova Criação
7-Espírito Santo e Vida Fecunda



a)As Impressões Digitais de Deus na Criação

1-O Selo de Deus na Obra da Criação

Deus é um mistério de relações. A Divindade é comunhão trinitária. Ao iniciar a génese do Universo, Deus imprimiu as suas impressões digitais na Criação. É por esta razão que todo o Universo está marcado com o selo das relações: Relações na estrutura dos átomos, das moléculas, dos organismos vivos, da gravitação entre estrelas, planetas, e galáxias.

Mas apenas no interior da Humanidade surgem relações semelhantes às relações que acontecem no coração da Santíssima Trindade. Na verdade, no interior da Humanidade já acontecem relações de amor e comunhão, tal como acontecem no interior da Divindade. Com o aparecimento do Homem na marcha da criação, a terra deu um salto de qualidade, pois tornou-se a morada da vida espiritual e da comunhão amorosa.

Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo é uma pessoa perita em dinamizar relações e fortalecer vínculos de interacção amorosa e comunhão orgânica. Com este seu jeito de actuar no nosso íntimo, o Espírito Santo faz-nos emergir e crescer como pessoas, seres que apenas se realizam em relações. O Espírito Santo é o hálito da vida que Deus insuflou no barro primordial do qual surgiu Adão. Graças a este sopro da vida divina, o barro original tornou-se barro com coração, isto é, atinge o limiar da vida pessoal que nenhum outro amima chegou.


2-O Limiar da Vida Espiritual

A vida pessoal transcende a vida biológica. Por outras palavras, não há vida pessoal sem densidade espiritual. Na verdade, Deus é três pessoas e não têm o nível da vida biológica. É por esta razão que Jesus diz que é preciso nascer de novo pelo Espírito: Tendes de nascer de novo pela Água e pelo Espírito. A Água é a Viva que faz brotar uma nascente de vida espiritual no nosso coração, isto é, o Espírito Santo (Jo 7, 37-39).

O Espírito Santo é a fonte da vida espiritual. Tendes de nascer de novo, pois o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito (Jo 6, 3). Deus é a meta deste Homem a renascer e da Criação a emergir: Do átomo à molécula, do sistema solar à galáxia, tudo aponta para Vós, Trindade Santa!

Na verdade, a Criação leva em si as impressões digitais de Deus. Por outras palavras, a Criação é um testemunho vivo da Bondade e da Sabedoria do Criador. Por estar em evolução, o Universo é uma epopeia que Deus vai escrevendo todos os dias. Leva inscrito na sua marcha evolutiva o sentido que Deus lhe possibilitou. Na cúpula desta marcha surge a Humanidade cuja cabeça é Jesus Cristo, ponto de encontro do melhor de Deus com o melhor do Homem. Para além das ondas, partículas, átomos, células e tecidos, a evolução caminhou na direcção da vida espiritual, capaz de comungar com o próprio Deus. É lógico o Universo em que habitamos. É por esta razão que nós o podemos compreender e descobrir muitas das suas leis.


3-O Homem e a Terra Que Deus nos Deu

Ao criar o Homem, Deus deu-lhe a terra como morada e confiou-lhe a tarefa de a cuidar com amor e carinho, diz o Livro do Génesis: “O Senhor Deus levou o Homem e colocou-o no Jardim do Éden, a fim de o guardar e o cultivar” (Gn 2, 15). O Homem recebeu esta missão devido ao facto de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus.

Isto quer dizer que o Homem, por ser semelhante a Deus, está capacitado para compreender a obra da Criação e orientá-la segundo o plano de Deus: “Deus criou o Homem à sua imagem. Criou à imagem de Deus como varão e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: “Crescei e multiplicai-vos. Enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem na terra. Depois, Deus acrescentou: “Também vos dou todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente. Para que vos sirvam de alimento” (Gn 1, 27-30).


4-O Amor a Deus, ao Homem e à Criação

Ao dar-nos a terra como morada, Deus mandou-nos respeitar e cuidar deste presente com amor. Portanto, a nossa fé convida-nos a defender a natureza e a denunciar os abusos que são cometidos contra a mesma. Por outras palavras, a terra é um dom do amor de Deus. Ao entregar-nos esse dom, Deus confiou-nos a missão de sermos seus colaboradores cultivando e defendo o equilíbrio do ecossistema.

Fazendo isto, a terra será um lugar de paz e felicidade para a Humanidade. Isto quer dizer que Deus nos chama a pôr a terra ao serviço da vida e da dignidade humana. Destruir a natureza é agir contra Deus e o Homem. A terra é um dom de Deus para todos os homens e para todas as gerações. Isto significa que cada geração tem o direito de usufruir dos bens da terra e o dever de a cuidar e proteger, a fim de a entregar às gerações seguintes como morada para o bem-estar de todos.

Isto quer dizer que os homens de uma geração determinada não são os donos absolutos da terra. Esta é também um dom de Deus para as gerações futuras. Pôr em perigo o equilíbrio ecológico é pôr em perigo a vida das gerações futuras. É impedir a Humanidade de continuar a emergir.

Deus convida-nos a ser defensores de construir um equilíbrio constante entre respeito pela natureza, utilização dos recursos da terra. O Criador pede-nos para sermos solidários com as gerações vindouras e atentos ao seu plano criador. Os homens de cada geração têm o direito de utilizar os bens da terra, a fim de se poderem humanizar. Mas têm igualmente o dever de aperfeiçoar as condições de vida nesta morada que Deus lhes confiou, a fim de a transmitirem como gesto de amor fraterno às gerações futuras. Por outras palavras, amar a Humanidade leva consigo um profundo respeito pela conservação e protecção da natureza.


b)A Ternura de Deus ao Criar o Homem

1-O Homem Como Ser Terreno e Histórico

“O Senhor Deus formou o Homem do barro e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida”. (Gn 2, 7). Esta afirmação bíblica significa que o Homem não é um ser caído das nuvens. De facto, o Homem emergiu do mundo animal através de um longo processo de evolução. Quando a bíblia diz que o Homem foi tirado de um barro que Deus moldou, quer simplesmente afirmar que a Humanidade emergiu desta terra bonita generosa e fecunda.

Deus não criou o Homem acabado. A História Humana é o tempo que demora a Criação da Humanidade. Do mesmo modo, a história de uma pessoa é o tempo que demora a realização dessa pessoa. Se a marcha criadora do Homem tem milhões de anos, então temos de dizer que a História humana tem milhões de anos. É por esta razão que nós podemos afirmar que a criação do Homem já está muito avançada. É tudo isto que o livro do Génesis quer dizer quando afirma que o Senhor Deus formou o Homem do barro e lhe insuflou pelas narinas o sopro da vida. (Gn 2, 7). O sopro da vida é o Espírito Santo que, no nosso interior, nos vai moldando à imagem e semelhança de Deus.


2-Deus Cria o Homem Com Muito Carinho

Mas o Espírito Santo, no interior do nosso coração, está presente e activo para aperfeiçoar e acabar a obra da nossa criação. A meta é sermos em tudo iguais a Cristo, até ao ponto de já não sermos pecadores. O Senhor criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. Ele os criou homem e mulher” (Gn 1, 26-27).

A criação do Homem acontece de modo muito diferente da criação dos animais. É verdade que o Homem veio do mundo animal, mas já não é um simples animal. De facto, o ser humano está-se a realizar como pessoa criada à imagem de Deus cuja meta é fazer parte da Família Divina. Foi esta a razão pela qual Deus, ao criar o Homem, agiu de modo especial.

Antes de iniciar a marcha criadora da Humanidade, A Santíssima Trindade concebeu um projecto para o Homem: Deus Pai, o Filho de Deus, e o Deus Espírito Santo, dialogando sobre a possibilidade de criar o Homem sonharam-no à imagem e semelhança da Divindade. Nós somos imagens de Deus porque somos seres pessoais. Os animais não são pessoas, pois o barro do qual emergiram não atingiu a complexidade para isso poder acontecer. Por outras palavras, o cérebro dos animais não tem uma estrutura bastante complexa para poder emergir uma interioridade pessoal moldada pelo Espírito Santo.


3-A Acção das Pessoas Divinas

Quando as pessoas divinas confiaram ao Espírito Santo a missão de nos moldar à imagem de Deus, confiaram também ao Filho de Deus a missão de se fazer nosso irmão mediante o mistério da Encarnação. Deste modo, Deus já tem condições para nos incorporar na própria comunhão familiar de Deus.

Deste modo, o Espírito Santo tornou-se o artista que molda o coração das pessoas e o Filho de Deus se tornou nosso irmão pelo mistério da Encarnação. Movido pelo Espírito Santo, o Filho de Deus fez muitos milagres para corrigir defeitos e limitações, a fim de ajudar os seres humanos a serem mais perfeitos e, deste modo se parecerem mais com Deus.

Eis como Deus procedeu, para realizar esta obra-prima de barro, que leva no seu interior outra obra-prima de espírito: Pegando na imagem bíblica podemos dizer que o Homem veio da terra como os outros seres vivos. Através da marcha da evolução o barro foi-se amassando ao longo de milhões de anos.

Depois de o barro estar amassado vem o interior que é o nosso ser espiritual, o qual resulta de um beijo que Deus deu ao barro primordial do qual saiu Adão. Ao beijar este barro primordial, o hálito da vida de Deus passou para o interior do Homem, dando assim origem ao nosso ser espiritual.


4-O Papel do Espírito Santo

O barro amassado significa o momento em que a evolução criou condições para o Espírito Santo iniciar a sua tarefa de moldar o homem espiritual à imagem e semelhança de Deus. Como o Homem ainda não está acabado, o Espírito Santo continua a moldar-nos por dentro. Com a sua ternura maternal, o Espírito Santo vai-nos ensinando no dia-a-dia a fazer o bem e a evitar o mal, a fim de sermos imagens perfeitas de Deus. Na verdade, quando fazemos o bem estamos a responder a um apelo do Espírito Santo no íntimo da nossa consciência.

Graças ao hálito da vida divina, nós tornamo-nos barro com coração, isto é, pessoas com capacidade de fazer bem, criando fraternidade e amando os nossos irmãos. Ao nascermos ainda não somos conscientes. À medida que vamos crescendo, a nossa consciência vai-se estruturando, tornando-se o altifalante do Espírito Santo. Sempre que nos interrogamos no nosso íntimo sobre o modo mais certo de decidir e actuar, estamos a dialogar com Deus no nosso coração.

Podemos dizer que as pessoas honestas, quando prestam atenção aos apelos de sua consciência estão a dialogar com Deus no seu interior. É este o modo de crescermos como pessoas livres, conscientes e responsáveis. Um dia, Jesus disse a Nicodemos que o ser humano tem de nascer de novo pela acção do Espírito Santo, pois o que nasce da carne é carne e o que nasce do Espírito é espírito (Jo 3, 6).

O nosso corpo nasce dos pais, o nosso espírito, pelo contrário, vai-se formando em relações com Deus e os irmãos. O Espírito Santo habita em nós como num templo, diz São Paulo (1 Cor 3, 16) A Carta aos Romanos diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). E foi assim que ao chegar a plenitude dos tempos, diz a Carta aos Gálatas, Deu enviou o seu Filho, para fazer de nós membros da Família Divina (Gal 4, 4-7).


c)O Deus Que Faz Comunidade Connosco

1-O Deus Que se Revela Como Emanuel

O nosso Deus não é um sujeito infinito omnipotente e sozinho. O Deus de Jesus Cristo é uma comunidade familiar de três pessoas. O Espírito Santo ocupa um lugar central nesta comunhão familiar. Com seu jeito maternal de amar o Espírito Santo é animador das relações de amor entre o Pai e o Filho, inspirando gestos novos de reciprocidade amorosa. É também o Espírito Santo que nos introduz na comunidade familiar divina, como diz São Paulo: “Todos os que são movidos pelo Espírito Santo São filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14).

O Espírito Santo vai-nos fazendo experimentar o jeito de Deus Pai ser para nós um Pai atento, fiel, verdadeiro, protector e amigo. É também o Espírito Santo que nos ajuda a saborear que o Filho Eterno de Deus, ao encarnar, se tornou o primogénito de muitos irmãos (Rm 8,29). São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). Na Primeira Carta aos Coríntios ele diz que o Espírito Santo habita nos nossos corações como num templo (1 Cor 3, 16).

A presença do Espírito Santo em nós é dedicada, inspiradora, compreensiva, atenta e gratuita. Com o seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo optimiza a nossa capacidade de comungar com Deus e irmãos. É ele que nos faz exultar de alegria sempre que verificamos os efeitos transformadores da Palavra de Deus em nós e nas pessoas a quem essa Palavra é anunciada.

Eis as Palavras São Lucas: “Naquele mesmo instante, Jesus exultou de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra. Tu escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes, mas revelaste-as aos simples e pequeninos. Sim, Pai, foi este o teu agrado” (Lc 10, 21).

É o Consolador que nos inspira e assiste nos momentos de dificuldade e nas perseguições (Mt 10, 20). Ele é o mestre que torna claro o sentido da Palavra de Deus no íntimo do nosso coração e o plano salvador de Deus (Ef 3, 3-5). É o Espírito Santo que faz cair dos nossos olhos essa espécie de escamas que obscurecem a mente e não nos deixam ver em profundidade o amor de Deus Act 9, 18).


2-O Homem e a Comunidade Divina

Jesus veio revelar o amor em densidade teologal, isto é o amor ao jeito de Deus: “Ouvistes que foi dito: “Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo”. Eu, porém, digo-vos: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. Fazendo assim tornar-vos-eis filhos do vosso pai que está nos Céus, o qual faz com que o sol se levante todos os dias sobre bons e maus e faz cair a chuva sobre justos e pecadores (…). Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 43-48).

Jesus tinha consciência de que o seu jeito de amar era uma expressão do jeito de amar de Deus Pai. Foi esta consciência que o levou Jesus a fazer esta afirmação espantosa: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me conheceis, Filipe? Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Isto fazia que Jesus vivesse a sua união com o Pai em forma de uma perfeita reciprocidade amorosa. Jesus tinha consciência de viver uma perfeita união orgânica com o Pai, e por isso afirmou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30).

Quando o ser humano atinge a densidade do amor caridade, isto é, ao jeito de Deus, começa a viver uma união orgânica com Deus através de Cristo (Jo 15, 1-7). Eis o que São Paulo diz na Carta aos Romanos: “Amar o próximo como a si mesmo resume toda a Lei de Moisés” (Rm 13, 8). Depois acrescenta que o amor é a plenitude da Lei (Rm 13, 10). No evangelho de Mateus Jesus declara que o amor ao próximo é sentido por ele como amor a si mesmo (Mt 25, 40).

3-O Homem na Plenitude Familiar de Deus

Podemos dizer que o Reino de Deus é uma comunhão de grandeza humano-divina cuja dinâmica é o amor. Quando a lei de um reino é o amor, todos reinam, pois as relações são de comunhão amorosa. Pelo mistério da Encarnação o Filho de Deus revelou-se como um rei que fez de nós seus irmãos e amigos: Movido pelo desejo de comungar connosco a sua realeza, Jesus insere-nos de moo orgânico no próprio mistério da Santíssima Trindade: “Se alguém me tem amor guardará a minha palavra e meu Pai o amará. Então nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14, 23).

Estas palavras de Jesus querem dizer que o Reino de Deus é uma realidade interior a cada um de nós. A nossa participação na plenitude do Reino de Deus é apenas delimitada pela nossa capacidade de comungar com o próprio Deus. Uma vez inseridos na Comunhão do Reino de Deus, todos nós dançaremos o ritmo do amor, mas cada qual com o jeito que tiver adquirido enquanto treinou na terra.


d)O Dom Da Nova Aliança

1-A Nova aliança Supera a Antiga

O termo aliança, n bíblia, significa um acordo amistoso que compromete as partes interessadas (1 Sam 18, 3; Gn 26, 28). A aliança implica fidelidade mútua ao que foi acordado. Yahvé é o Deus da Aliança precisamente por ser o Deus sempre fiel.Por parte do Homem, a Aliança implica escolher Deus como razão primeira de viver e ser fiel ao seu plano criador e salvador.

A Nova Aliança surge como cúpula de muitas alianças anteriores. Por outras palavras, a Nova Aliança é a garantia de que a plenitude do plano salvador de Deus foi inaugurada. Esta plenitude significa a reconciliação e a comunhão entre Deus e o Homem. “Deus escolheu-nos em Cristo antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e irrepreensíveis na sua presença e vivermos em comunhão amorosa. Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com a sua vontade” (Ef 1, 4-5).

Este plano esteve oculto durante milénios, mas foi dado a conhecer quando chegou a plenitude dos tempos: “Agora podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas pelo Espírito Santo” (Ef 3, 4-5). Podemos dizer que a Nova Aliança representa a plenitude de um projecto sonhado por Deus desde toda a eternidade. A Antiga Aliança foi um passo fundamental para se chegar à Nova aliança.

2-Nova Aliança e Fraternidade Universal

A Antiga aliança é o tempo em que o grande pedagogo, isto é, o Espírito Santo, foi preparando o Homem para a plenitude dos tempos. A plenitude dos tempos representa o período em que a Humanidade dá um salto de qualidade ao ser incorporada na comunhão universal da Família de Deus. Eis as palavras da Carta aos Efésios: “Cristo é a nossa paz. De dois povos (judeus e pagãos) fez um só, anulando o muro da separação que os dividia, isto é, a Lei mosaica com suas normas e preceitos, a fim de criar um só Homem Novo com judeus e pagãos. Portanto, os pagãos já não são estrangeiros nem imigrantes, mas concidadãos dos santos e membros da Família de Deus” (Ef 2, 14.19).

A Carta aos Gálatas interpreta de modo muito bonito a grande mudança operada pelo salto de qualidade da Nova Aliança: “Antes de chegar a plenitude da fé estávamos prisioneiros da Lei de Moisés. Era necessário, portanto, que a fé se revelasse. A Lei de Moisés foi o pedagogo que nos conduziu até Cristo, a fim de entrarmos no domínio da fé e sermos justificados.

Isto quer dizer que a Lei de Moisés se tornou o pedagogo até Cristo, a fim de sermos justificados pela fé. Agora já sois filhos de Deus, por isso não estais sob o domínio do pedagogo (…).Já não há judeu ou grego. Não há escravo ou homem livre. Não há homem ou mulher, pois todos sois um só em Cristo Jesus” (Gal 3, 23-29).

A Antiga Aliança assentava na Lei de Moisés, a qual se multiplicava em normas, preceitos, mandamentos e ritos que não levavam à salvação. A Antiga Aliança criava um divisão entre os povos e as raças: circuncisos e incircuncisos, filhos de Abraão e pagãos. A Nova Aliança, pelo contrário, assenta na acção do espírito Santo que, no nosso interior, nos incorpora na Família de Deus: filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8,15-17).

Esta incorporação dá-se pela ternura maternal de Deus, isto é, o Espírito Santo (Rm 8, 14). Viver a dinâmica da Nova aliança, portanto, significa deixar-se conduzir pelo Espírito Santo, os quais superam a Lei de Moisés: “Eis os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto-domínio. Contra tais coisas não há lei” (Ga 5, 22). A Nova Aliança supõe, não propriamente uma rotura com a Antiga, pois a Antiga era um degrau para chegar à Nova. A Antiga Aliança foi superada da mesma maneira que as metas para atingir um objectivo determinado são superadas quando o objectivo é atingido.

3-Nova Aliança e a Revelação de Deus

A Nova Aliança não é uma simples continuidade em relação à Antiga, tal como Cristo não está apenas numa linha de continuidade em relação a Moisés. Por outras palavras, a Nova Aliança representa um salto de qualidade em relação à Antiga. Na verdade, a libertação e a divinização do Homem realizada pela Encarnação, não está numa simples continuidade em relação à libertação da escravidão do Egipto. Entre estes dois acontecimentos existe, pois, uma diferença qualitativa.

A libertação realizada pela Nova aliança tem o alcance de uma salvação definitiva cuja meta consiste na assunção e incorporação da humanidade na Família Divina. Pela Encarnação, diz o evangelho de São João foi-nos dado o poder de nos tornarmos filhos de Deus (Jo 1, 12-14).

A Carta aos Efésios diz tratar-se de um plano sonhado por Deus desde toda a eternidade e que se concretizou na História através de Jesus Cristo (Ef 3, 11). De facto, continua a Carta aos Efésios, Deus planeou a salvação da Humanidade ainda antes da criação do Mundo (Ef 1, 4).

São Mateus diz que o Reino que havemos de partilhar com Jesus Cristo foi preparado para nós desde a Criação do Mundo (Mt 25, 34). Este plano de salvação, esteve oculto e inacessível para muitos profetas e reis, mas foi revelado pelo Espírito Santo quando chegou a plenitude dos tempos diz o evangelho de São Lucas: “Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho houver por bem revelar-lho”. Voltando-se depois para os discípulos disse-lhes: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. De facto, digo-vos eu, muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 21-24).

O projecto da Nova Aliança é anterior ao plano da Antiga, pois esta foi concebida como meio para conduzir até à plenitude da Nova Aliança. A Carta aos hebreus diz que Deus ao falar de uma Nova Aliança declarou obsoleta a Antiga. Como o que se torna obsoleto está prestes a desaparecer, assim acontece com a Antiga Aliança (Heb 8, 13).

No livro do profeta Ezequiel aparece Deus a prometer ao povo uma Nova aliança: “Lembrar-me-ei da Aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma aliança Eterna (…). Estabelecerei contigo a minha Aliança e então saberás que eu sou o Senhor, a fim de que te lembres de mim e sintas vergonha e não abras mais a boca no Meio da tua confusão. Isto acontecerá no dia em que eu te perdoar tudo o que fizestes, oráculo do Senhor” (Ez 16. 60-63).

Segundo o profeta Jeremias, a Nova aliança assenta em novos alicerces: num coração renovado e no dom do Espírito Santo: “Dias virão em que estabelecerei uma Nova aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, oráculo do Senhor.Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terá do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora eu fosse o seu Deus, oráculo do Senhor. Esta será a aliança que estabelecerei depois desses dias com a casa de Israel, oráculo do Senhor: Imprimirei a minha Lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” (Jer 31, 31-33).

A Nova Aliança, portanto, não é escrita em tábuas de pedra, como a Antiga, mas sim no coração das pessoas. São Paulo diz aos membros a comunidade de Corinto que eles são uma carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo, pois pertencem à Nova Aliança: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. Sois uma carta de Cristo confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo. Escrita, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações (…). É Deus que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, enquanto o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 2-6). Cristo é o medianeiro da Nova Aliança. Nele, Deus realiza em favor de todos nós o seu plano de salvação pela graça.


e)Espírito Santo e a Árvore da Vida

1-A Infidelidade de Adão

“O Senhor Deus disse: ‘eis que o Homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Árvore da Vida e, comendo dele, viva para sempre. Então, o Senhor Deus expulsou Adão do Jardim do Éden (…). Depois de ter expulsado o Homem colocou a oriente do jardim uns Querubins com uma espada flamejante, a fim de guardarem o caminho da Árvore da Vida” (Gn 3, 22-24).

De acordo com a linguagem simbólica do livro do Génesis, havia no centro do Paraíso duas árvores importantes: a árvore do conhecimento do bem e do mal e a Árvore da Vida. Os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal, nas mãos do Homem, têm efeitos ambíguos, caindo facilmente na arbitrariedade e no caprichoso.

Na verdade, ao comerem o fruto desta árvore, Adão e Eva descobrem que estão nus, isto é, apercebem-se de que estão enredados na incapacidade de sucesso. Na verdade, as pessoas que se alimentam do capricho e da arbitrariedade, não chegam a atingir uma consciência amadurecida, livre e geradora de fraternidade e comunhão.

Por seu lado, a Árvore da Vida faz germinar a Vida Eterna no coração dos que comem os seus frutos. O fruto da Árvore da Vida é o Espírito Santo. As pessoas que comem o fruto da Árvore da Vida descobrem que estão revestidos com a veste da Salvação, diz o Livro do Apocalipse: “E vi descer do Céu, a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, preparada, qual noiva vestida e adornada para o seu esposo” (Apc 21, 2).


2-O Messias e a Plenitude do Espírito Santo

O profeta Isaías vê o Messias como um rebento cheio de vida a emergir. Este rebento tem a plenitude do Espírito Santo. Isto quer dizer que ele tem a plenitude da fecundidade: “Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre Ele repousará o Espírito do Senhor: Espírito de Sabedoria e Entendimento, Espírito de Conselho e Fortaleza. Espírito de Ciência e Temor de Deus” (Is 11, 1-2).

O Livro do Génesis diz que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança (Gn 1,26-27). Por isso o ser humano tem um coração faminto de vida e amor. Mas como só podia ser livre optando, tinha de haver uma alternativa no Paraíso. Por isso, ao lado da Árvore da Vida, Deus colocou a Árvore do conhecimento do bem e do mal. Qualquer das árvores estava ao alcance do homem.

A simbologia do livro do Génesis exprime de modo magnífico o que significa o livre arbítrio, ou seja, a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal. Deus confia no coração do Homem criado à sua imagem e semelhança. Mas o Homem cedeu à tentação e comeu o fruto errado. A tentação é sempre uma insinuação mental convidando o Homem a agir em sentido oposto à proposta de Deus. E eis que o Homem logo nos primeiros ensaios da humanização opta no sentido errado, desprezando a Palavra de Deus. Como consequência deste pecado, o Paraíso foi fechado, ficando fora do alcance de Adão.


3-Conduzidos Por Jesus à Comunhão com Deus

A Humanidade é introduzida por Adão no caminho do Malogro e do fracasso. Como Deus é Amor infinito, não podia deixar de nos amar infinitamente. Por isso, através do mistério da Encarnação, Deus orientou de novo o Homem no sentido da salvação. E a salvação ficou ao nosso alcance. Na Sexta-feira Santa Jesus Cristo abriu o Paraíso e introduziu nele a Humanidade que o tinha precedido na história. Eis as palavras que Jesus dirige ao Bom Ladrão, no momento de morrer e ressuscitar sobre a cruz: “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43).

Cristo é o rebento do tronco de Jessé e o renovo que brota da raiz deste tronco, isto é, a comunidade da Santíssima Trindade. De facto, a realidade de Jesus Cristo não se esgota na sua grandeza humana. Por outras palavras, a grandeza de Jesus Cristo é humana e divina. Isto quer dizer que a raiz mais profunda do mistério de Cristo é a própria comunhão da Trindade Divina (Jo 1, 12-14).

Por isso, mediante o mistério da Ascensão ele é incorporado na Família Divina, inserindo os homens na comunhão humano-divina. Em Jesus ressuscitado a humanidade passou a fazer parte da Árvore da Vida. Todos nós, diz Jesus no evangelho de São João, somo ramos de uma videira cuja cepa é o próprio Jesus Cristo (Jo 15, 1-7). Jesus reabriu-nos as portas do Paraíso e nós fomos divinizados.


4-O Paraíso é Uma Realidade a Emergir

Isto quer dizer que o relato do Livro do Génesis sobre o Paraíso é o plano de Deus sonhado para a plenitude dos tempos e não uma realidade existente num princípio mítico: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos” (Gal 4, 4-6).

São Paulo diz que Jesus Cristo é o Novo Adão (Rm 5,17). Ele é a cabeça da Nova Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19). Ele é, na verdade, a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Na verdade a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é uma verdadeira bebida. Quem come a minha carne a bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).

Mas São João tem o cuidado de acentuar que este mistério da comunhão orgânica com Cristo ressuscitado nada tem de antropofagia: “E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não presta para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63).

A carne de Jesus ressuscitado é a sua realidade humana glorificada e formando um todo orgânico com a Humanidade inteira. O sangue do Cristo glorioso é a seiva da Árvore da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo. Com Jesus ressuscitado, a Humanidade é assumida no paraíso e assumida na família de Deus. Deste modo, o Paraíso, sonhado pelo livro do Génesis, torna-se finalmente realidade.

Os que são alimentados pelo fruto da Árvore da Vida, isto é, o Espírito Santo, tomam parte na Vida Eterna, sendo organicamente incorporados na Família de Deus, como diz São Paulo (Gal 4, 4-7). O Livro do Apocalipse diz que, no Reino de Deus, os eleitos são todos alimentados pelo do fruto da Árvore da Vida: “Felizes os que lavam as suas vestes, para poderem entrar pelas portas da Cidade e terem acesso à Árvore da Vida” (Apc 22, 14).


5-Salvação e Comunhão Com Cristo

A vida nova em Cristo não é uma questão de simples sujeição a um código ético com normas bem estruturadas. Viver em comunhão com Cristo significa estar organicamente unido a Jesus ressuscitado. O princípio animador desta relação e comunhão com o Senhor ressuscitado é o Espírito Santo. A comunhão orgânica com Cristo é um dom gratuito de Deus.

Ponhamos um exemplo: comparemos a Humanidade ferida pelo pecado a um limoeiro doente e envelhecido pela ferrugem. Apesar de ser um limoeiro de alta qualidade, agora, carcomido pela ferrugem, dá frutos de péssima qualidade. O proprietário do limoeiro tinha um gostava muito desta espécie de limoeiro. Por isso pensou nas várias hipóteses de salvar o limoeiro.

Foi então que lhe surgiu a ideia de enxertar um raminho do limoeiro numa laranjeira jovem e robusta. Uma vez enxertado, o rebento do limoeiro, sem deixar de ser limoeiro, recebe a seiva da laranjeira sadia e forte começa a ficar robusto. Num curto espaço de pouco tempo, começa a dar limões de excelente qualidade.

O enxerto não destruiu a natureza do limoeiro, pois ele dá limões de alta qualidade. A seiva da laranjeira, portanto, optimizou o limoeiro e a qualidade dos seus frutos. Foi isto que aconteceu à Humanidade pelo mistério da Encarnação, como diz Jesus com o exemplo da videira:

“Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá também convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

Podemos dizer que a Encarnação é o enxerto do divino no humano, a fim de optimizar a natureza humana, capacitando-a para dar frutos de vida eterna. Isto significa que a Humanidade ficou enxertada na Árvore da Vida cujo tronco é Jesus Cristo e cuja raiz é a comunhão da Santíssima Trindade.


6-Espírito Santo e a Nova Criação

Os que são animados pelo Espírito Santo formam uma realidade nova a que São Paulo chama uma nova criação: “Por isso, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. O que era velho passou. Eis que tudo se fez novo! Tudo isto vem de Deus que, em Cristo, nos reconciliou consigo, e nos confiou o ministério da reconciliação. De facto, foi Deus quem reconciliou o mundo consigo, em Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação” (2 Cor 5, 17-19).

Neste mistério da incorporação do Homem na comunhão divina, o Espírito Santo é o sangue de Cristo a circular nas artérias do nosso coração, alimentando a vida divina em nós. Além disso revela-nos o plano salvador de Deus, como diz São Paulo: “Com efeito, quem, entre os homens, conhece o que vai no coração da pessoa, a não ser o próprio espírito do homem. Assim, também, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não o Espírito de Deus que nos faz compreender o dom que Deus amorosamente nos concedeu” (1 Cor 2, 11-12).

O evangelho de São João vai nesta mesma linha quando falada vinda do Espírito Santo após a ressurreição de Cristo: “Mas quando vier o Espírito de Verdade, Ele vos guiará para a verdade total. Ele não fala de si mesmo, pois apenas diz o que ouve e dir-vos-á o que está para vir” (Jo 16, 13).

É o Espírito que, no nosso interior, nos revela a nossa condição de filhos de Deus Pai e irmãos do filho de Deus (Rm 8, 14-17). É pelo Espírito Santo que se vai robustecendo o homem espiritual que levamos em gestação dentro de nós.


7-Espírito Santo e Vida Fecunda

O evangelho de São João diz que o homem interior, isto é, a dimensão espiritual da pessoa vai renascendo pela acção do Espírito Santo (Jo 3, 6). Trata-se, portanto, de uma realidade a emergir no interior do homem. Por outras palavras, o interior da pessoa é espiritual e forma-se dentro do seu ser exterior como o pintainho se forma dentro do ovo.

O homem interior vai-se robustecendo, graças a acção do Espírito Santo, diz a segunda carta aos Coríntios: “Por isso não desfalecemos. Mesmo que em nós o homem exterior vá caminhando para a ruína, o homem interior renova-se dia após dia” (2 Cor 4, 16).

É assim a dinâmica da vida nova em Cristo a nascer e a fortalecer-se de modo gradual e progressivo. O Espírito Santo vai-nos configurando de modo progressivo com Cristo. Ele é, na verdade, o princípio fecundo que faz emergir ávida nova no nosso coração. A Carta aos Gálatas menciona alguns dos frutos que a nossa vida vai produzindo quando está unida a Cristo e animada pelo Espírito Santo: “Mas os frutos do Espírito Santo são amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, gentileza e auto controle. Contra estas coisas não há lei” (Ga 5, 22-23).

Mas a nossa vida será fecunda na medida em que permaneçamos unidos a Cristo, como os ramos da videira estão unidos à cepa. “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Os ramos não podem dar fruto por si. Serão fecundos na medida em que estiverem unidos à videira. Do mesmo modo vós não podeis dar fruto se não estiverdes unidos a mim” (Jo 15, 4-5). O Espírito Santo é a seiva que nos alimenta e robustece, capacitando-nos para sermos testemunhas do Evangelho no meio do mundo: “Mas vós recebereis o poder do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria e até aos confins da Terra” (Act 1, 8).

A Carta aos Efésios recomenda aos cristãos para não se embriagarem, mas abrir o coração à acção do Espírito Santo: “Não vos embriagueis com vinho, pois isso conduz à luxúria. Pelo contrário, deixai que o Espírito Santo encha os vossos corações” (Ef 5, 18).

Sem comentários:

Enviar um comentário