Certo dia os Apóstolos pediram a Jesus, para que os ensinasse a orar (Lc 11, 1). Antes de lhes ensinar o Pai-Nosso, Jesus chamou-lhes a atenção para que a sua oração seja um diálogo familiar com Deus e não um conjunto de rezas mágicas à maneira dos pagãos. Eis as palavras de Jesus: “Nas vossas orações não sejais como os gentios que usam de vãs repetições, pois pensam que por falarem muito serão melhor atendidos. Não façais como eles, pois o vosso Pai do Céu sabe muito bem o que necessitais ainda antes de lho pedirdes” (Mt 6, 7-8).
Depois dá-nos o Pai-Nosso, não como uma fórmula mágica para eles repetirem, mas como modelo do que é falar com Deus sobre as coisas que nos dizem respeito a Deus e ao Homem (Mt 6, 9-14). A partir desse momento, o Pai-Nosso tornou-se o modelo que deve inspirar a oração dos cristãos, isto é, o modo como devemos falar com Deus, isto é como membros da Família Divina. Os cristãos aprendem o “Pai-Nosso”, a fim de o poderem usar como modelo da sua oração pessoal. As comunidades cristãs proclamam sempre o Pai-Nosso nos momentos importantes das celebrações da fé tais como Baptismo, Eucaristia, Confirmação, funerais, casamentos e em muitos outros momentos.
É importante não fazer do “Pai-Nosso” uma fórmula que se aprende de cor para ser repetida de maneira mecânica. Por outras palavras, o “Pai-Nosso” não é uma espécie de tabuada para ser repetida sem pensarmos no que dizemos. Pelo contrário, é um modelo de oração para ser meditado, a fim de aprendermos a orar à maneira de Jesus.
Na primeira invocação do “Pai-Nosso” Jesus ensinou aos discípulos que o Pai está nos Céus. O Céu não é um lugar material, mas o ponto de encontro das pessoas humanas com as divinas e todas as outras que possa haver. O Céu é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas, o qual constitui a interioridade máxima do Universo. Deus vem ao nosso encontro sempre a partir de dentro e nós encontramo-nos com entrando no nosso interior. Por outras palavras, o ponto de encontro de Deus com o Homem é o nosso coração.
No Pai-Nosso Jesus ensinou os discípulos a exprimir o desejo de santificar o nome de Deus, dizendo: “santificado seja o vosso nome”. Quando Moisés se aproximou de Deus no Monte Sinai, Deus disse-lhe: “Não te aproximes. Tira os teus sapatos, pois o lugar que estás pisando é sagrado” (Ex 3, 5). Dizer que Deus é Santo é o mesmo que dizer que Deus é relações de amor. A Primeira Carta de São João diz que Deus é amor (1 Jo 4, 7).
Deus mostrou o seu amor para connosco enviando-nos o seu Filho que se tornou nosso irmão e, como diz São Paulo, o primogénito de muitos irmãos. Eis as suas palavras: “Porque aquele que antecipadamente conheceu, também os predestinou para serem uma imagem perfeita de seu Filho, ao ponto de ele se tornar o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 29).
Tornarmo-nos imagens perfeitas do Filho de Deus cumprindo o mandamento que ele nos deu, como Jesus nos diz no evangelho de São João: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. A vós eu chamo-vos meus amigos, pois dei-vos a conhecer tudo o que aprendi do meu Pai” (Jo 15, 12-16).
Ao ensinar o “Pai Nosso” aos discípulos, Jesus quis ensinar-nos que Deus está tão perto de nós que habita no nosso coração. Podemos dizer que a mensagem do “Pai Nosso” é tão profunda como o próprio Evangelho de Jesus Cristo. Por isso Jesus ensinou os discípulos a dizerem “Pai-Nosso” e não Pai meu. Por outras palavras, seremos tanto mais filhos de Deus, quanto mais formos irmãos uns dos outros. Devemos trabalhar para construir a Família de Deus, a fim termos um lugar na Comunhão da Família de Deus.
Orar segundo os critérios do Pai-Nosso, significa que o nosso diálogo com Deus deve apoiar-se numa confiança idêntica àquela com que os filhos se aproximam do seu pai ou da sua mãe. Na oração do Pai-Nosso Jesus ensina-nos a pedir ao Pai que o seu Reino venha, isto é, que a plenitude da Vida e da felicidade venha.
O Livro do Apocalipse diz que o Reino de Deus é o encontro definitivo de Deus com os homens: “Eis a morada de Deus entre os homens. Deus habitará com eles e eles serão o seu povo. Deus está com eles e será para sempre o seu Deus. Enxugará todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte, nem luto, nem pranto, nem dor, pois as primeiras coisas passaram” (Apc 21, 3-4). Na Festa do Reino de Deus já ninguém sofre com a saudade dos que estão longe. De facto, na Comunhão da Família de Deus já não existe a lonjura, pois as pessoas estão todas presentes umas às outras.
No centro da morada de Deus, acrescenta o Apocalipse, há um rio de Água Viva que brilha como se fosse um grande espelho iluminado pelo sol. A Água Viva, diz Jesus no evangelho de São João, é o Espírito Santo (Jo 7, 37-39). As pessoas que têm sede entram no rio e bebem. Nesse momento ficam cheias do Espírito Santo e o seu rosto fica a brilhar como o rosto de Cristo Ressuscitado.
No Reino de Deus todos estão plenamente saciados e ninguém voltará a morrer. Já não são precisas as estrelas, o sol ou a lua, pois a luz do Espírito de Deus ilumina todas as pessoas. “E todos dizem ao Espírito da Vida: “Vem!” Digam também todos os que escutam a Palavra de Deus: “Vem!”. O que tem sede que se aproxime e beba gratuitamente a Água da Vida” (Apc 22, 17).
No Céu todos cumprem o mandamento do amor, tal como Jesus o explicitou: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15, 12). No Reino de Deus todas as pessoas se sentem envolvidas numa atmosfera de comunhão amorosa. É por esta razão que a alegria brota em todos de modo espontâneo. Na festa do Reino de Deus as pessoas gostam de ser assim como são, pois sentem que os outros as aceitam e gostam delas. O Reino de Deus é a garantia de que Deus não nos criou para a morte mas sim para a Vida Eterna.
Na oração do Pai-Nosso as pessoas pedem a Deus que a sua vontade se faça na terra, tal como ela é feita no Céu: “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu”. A vida de Jesus foi uma fidelidade contínua à vontade do Pai: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4, 34). E em uma outra passagem do evangelho de São João, Jesus acrescenta: “Eu não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou” (Jo 5, 30). Com seu jeito maternal de amar, o Espírito Santo inspira-nos e convida-nos a realizar a vontade do Pai tal como Jesus fez.
Na oração do Pai-Nosso, Jesus ensinou os discípulos a pedir a Deus o pão de cada dia. Como filhos de Deus, temos o direito de pedir ao Pai do Céu o alimento essencial para a vida que ele nos deu. Mas só seremos atendidos se formos capazes de partilhar com os que têm menos que nós. No entanto, o pão de cada dia não significa apenas o pão que vai para o estômago, mas também o pão que alimenta a nossa mente e o nosso coração. Eis as palavras de Jesus num dos seus ensinamentos importantes: “Jesus respondeu a Satanás: “Está escrito, nem só de pão vive o Homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4, 4).
Jesus ensina ainda os discípulos a pedir o perdão de Deus. Mas acrescenta que nos devemos dispor a perdoar também aos nossos irmãos: “Perdoa-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
E finalmente nós pedimos a Deus que “Não nos deixes cair em tentação, mas que nos livre do mal”. A vida é como uma luta que temos de enfrentar todos os dias. Em cada dia temos de saber dizer não às nossas inclinações para o mal. Quando dizemos a Deus que não nos deixe cair na tentação estamos a pedir que nos dê a força e a luz do Espírito Santo, a fim de não nos deixarmos iludir pelas tentações que pretendem fazer-nos crer que é bem para nós o que na verdade é mal.
O Pai-Nosso é, na verdade, uma síntese do Evangelho que Jesus pregou. Se fizermos o que o Pai-Nosso nos ensina o nosso coração fica cada vez mais semelhante ao coração de Jesus. Quando rezamos ao jeito de Jesus o Espírito Santo põe nos nossos lábios as palavras que pôs nos lábios de Jesus e leva-nos a dizer: “Abba,” Pai querido.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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