O Bem e o Mal na História Humana



Deus Santo,
Obrigado pelo facto de sermos pessoas. 
O animal não é nem pode chegar a ser pessoa,
isto é, um ser com uma interioridade espiritual livre, 
consciente, responsável e capaz de amar.

Aristóteles definiu o Homem como um animal racional. 
Esta definição de Aristóteles chegou até ao século vinte,
mas hoje sentimos que está totalmente inadequada.
Na verdade, não basta acrescentar um adjectivo ao termo animal 
para dizer a totalidade e a verdade do Homem.

Com efeito, a diferença que existe entre o Homem e o animal
não é apenas de grau, mas implica um salto de qualidade.
É verdade que o Homem surge na marcha da vida por via evolutiva, a partir do animal.
Mas o ser humano só se torna pessoa através de um salto qualitativo.

Com efeito, a evolução chegou ao limiar da hominização, 
isto é, à estrutura natural de Homem, condição para a marcha histórica a humanização.
A hominização representa uma complexidade única no conjunto dos seres vivos, 
mas só por si não entra na dinâmica da humanização cuja lei é: 

“Emergência pessoal mediante relações de amor 
e convergência para a comunhão humana universal”.

A humanização não pode acontecer sem relações 
com a qualidade e a densidade do amor.

O animal ficou dominado pela ditadura dos instintos, 
isto é, nasce determinado, sem qualquer possibilidade
de equacionar as respostas aos estímulos.
O ser humano, pelo contrário, é capaz de estar cheio de fome, 
ter um bom manjar diante de si e entrar em greve de fome.

O animal não precisa de sentidos para viver. 
O ser humano, pelo contrário, não pode viver sem sentidos, 
pois entra em crise e pode chegar ao suicídio.
Pelo facto de ser uma pessoa em construção, 
o ser humano sente necessidade de fazer projectos para se realizar e ser feliz.

O animal gosta de brincar, sobretudo enquanto é jovem, 
mas não é capaz de celebrar a vida nem sonhar com um futuro diferente.
O animal nunca se faz perguntas. A pessoa humana, pelo contrário, 
sente uma fome enorme de criar sentidos para viver.

O ser humano tem consciência da própria morte 
e, apesar disso, não entra em greve perante a vida.
O animal não tem consciência da sua morte 
e, por isso, não se sente estimulado a criar sentidos para a viver.

A pessoa humana é capaz de chegar à conclusão 
de que o amor é a grande razão que vale para viver e também para morrer.
De facto, ninguém diz que uma pessoa que morreu 
para salvara a vida de outrem cometeu um suicídio.
Pelo contrário, normalmente dizemos que essa pessoa
levou o amor até à sua densidade máxima: dar a vida pelos que ama.

O ser humano é capaz de se elevar acima 
da satisfação imediata das necessidades, tornando-se criador.
Como ser criador, a pessoa humana é capaz de fazer surgir o novo,
dando origem às ciências, às técnicas, às artes
ou a atitudes e gestos maravilhosos de amor.

Por não estar dominado pelo mundo dos instintos,
o ser humano tem o livre arbítrio, capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal.
O livre arbítrio não é a liberdade, mas a possibilidade de uma pessoa se tornar livre.

De facto, a liberdade é a capacidade de a pessoa
se relacionar em dinâmica de amor com os outros
e interagir de modo criador com as coisas e os acontecimentos.

Isto quer dizer que o ser humano não ficou enredado
no círculo das respostas instintivas aos estímulos.
É por esta razão que a pessoa humana transcende
o nível da simples satisfação das necessidades biológicas,
dando um salto de qualidade, tornando-se um ser criador de cultura.

Mas os seres humanos também são capazes de potenciar enormemente
as possibilidades de fazer acontecer a morte e a destruição.

Somos capazes de fazer guerras monstruosas e criar máquinas diabólicas para matar.
Somos capazes de oprimir e explorar os outros para amontoar riquezas
desnecessárias, permitindo que os outros morram à fome.

Somos capazes de raptar e matar crianças
e conceber instrumentos monstruosos de tortura.
Somos capazes de destruir a natureza movidos
por interesses mesquinhos e sem objectivos humanizantes.

Mas também somos capazes de criar música, poesia
e antecipar um futuro cheio de gestos de ternura e amor.

Somos capazes de inventar máquinas brutais para fazer guerras criminosas.
Somos capazes de pilhar e destruir pessoas inocentes.

Mas também somos capazes de idealizar e criar
planos de solidariedade e fraternidade universal.

Espírito Santo,
Tu que habitas em nós e nos inspiras atitudes e actos humanizantes
ensina-nos a arte de nos criarmos como pessoas livres,
afim de fazermos da nossa terra uma morada de paz e comunhão fraterna.
Dá-nos a sabedoria necessária para evitarmos a destruição total da Humanidade.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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