Saboreando o Mistério de Deus




a) O Amor de Deus Pela Humanidade

b) O Jeito Amoroso de Deus Ser Criador

c) A Eucaristia Como Sinal do Amor de Deus

d) Jesus Confirma a Fidelidade de Deus
1-Jesus Realiza Todas as Profecias
2-A Profecia de Natã Perdurou Até Cristo
3-Foi Anunciado Durante Séculos
4-Jesus Supera o Anunciado Pelos Profetas



a) O Amor de Deus Pela Humanidade

Pela Encarnação do Filho Eterno de Deus, o divino enxertou-se no humano e nós fomos acolhidos na Família de Deus Pai, Filho e Espírito Santo. O ser de Deus é uma comunhão familiar de três pessoas. Nesta comunhão divina cada pessoa tem a sua própria identidade pessoal. Na verdade, cada pessoa divina é única, original e irrepetível e com o seu jeito próprio de amar.

A identidade de Deus Pai é o seu próprio jeito paternal de amar. É este o modo de ele estabelecer constantemente uma relação amorosa com o Filho, iniciando assim uma dinâmica geradora mediante um feixe de relações. É verdade que Deus Pai nunca procriou mas com seu jeito paternal de amar estabelece uma reciprocidade amorosa com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Deus Filho é Filho pelo seu jeito de amar e não por ter sido concebido ou gerado à maneira humana. O Filho Eterno de Deus ama o Pai de modo infinitamente agradecido. No evangelho de São João, Jesus diz que o seu alimento é fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra (Jo 4, 34). O Filho Eterno de Deus encarnou, a fim de nós sermos incorporados na Família Divina como Filhos em relação a Deus Pai. Por outras palavras, o Filho de Deus tornou-se nosso irmão para dar ao Pai muitos outros filhos. O seu jeito filial de amar em relação a Deus Pai tem como complemento o amor fraternal em relação a nós.

Na verdade, pelo mistério da Encarnação os seres humanos tornam-se um dom filial em relação a Deus Pai. Deste modo, o Filho Unigénito de Deus, pela Encarnação, tornou-se o primogénito de muitos irmãos, como diz São Paulo: “Porque àqueles que conheceu desde sempre moldou-os para serem uma imagem perfeita de seu Filho e, deste modo, se tornar o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29). Por isso o evangelho de São João diz que Jesus não procurava a sua vontade, mas a vontade do Pai que o enviou (Jo 5, 30).

Espírito Santo é uma pessoa divina cujo jeito de amar á maternal. Ele é a ternura maternal de Deus e ocupa um lugar central tanto na comunhão orgânica da Santíssima Trindade, como no mistério da Encarnação. Na verdade, o Espírito Santo é o princípio que anima a interacção directa entre a interioridade espiritual da Segunda pessoa da Santíssima Trindade e a interioridade espiritual de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

É este o sentido profundo da proclamação da fé cristã que afirma que o Filho de Deus encarnou pelo Espírito Santo. É pelo Espírito Santo que o Filho e o Pai fazem um, como Jesus afirma no evangelho de São João (Jo 10, 30). Do mesmo modo, o Filho Eterno de Deus e o Filho de Maria fazem um pelo mesmo Espírito Santo.

A identidade pessoal do Espírito Santo é ser vínculo maternal de comunhão orgânica e princípio animador de relações amorosas. O seu jeito de agir é animar e suscitar novidade na interacção amorosa do Pai com o Filho e vice-versa. É também animar e suscitar novidade na interacção directa do Filho de Deus com Jesus de Nazaré e vice-versa. O Espírito Santo é também o vínculo maternal da comunhão orgânica universal da Humanidade com Jesus Cristo e, através dele, com a Santíssima Trindade. É ele que anima as relações amorosas da Comunhão humano-divina do Reino de Deus.

Na verdade, o Espírito Santo é a ternura maternal de Deus presente e actuante sempre que acontecem relações de amor e comunhão. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). É ele que capacita o nosso coração para amarmos com o mesmo jeito de Jesus, o qual, apesar de ser homem como nós, amava ao jeito de Deus.

Por si só, a pessoa humana não é capaz de amar com a medida do amor de Deus. Na verdade, Deus ama com amor incondicional. Mas a pessoa humana, conduzida pelo Espírito Santo, pode amar ao jeito do próprio Deus como o próprio Jesus diz no evangelho de São Mateus: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Procedendo assim tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois ele faz com que o sol se levante sobre bons e maus e faz cair a chuva sobre justos e injustos (…). Sede, pois, perfeitos, como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt 5, 44-48).

É o Espírito Santo, diz São Paulo, quem nos introduz na Família Divina (Rm 8, 14; Ga 4, 4-7). Na verdade, é ele quem nos ensina a fazer da oração um diálogo com o Pai e o Filho. Ensina-nos a falar com o Pai como filhos e com o Filho como irmãos, a fim de não sermos como os pagãos que julgam que orar é dizer palavras mágicas para influenciar a Deus (Mt 6, 6-8). No nosso coração tu és, Espírito Santo, a presença de Deus que nos dá a garantia de que estamos marcados para o dia da salvação, como diz São Paulo (2 Cor 1, 22-23).

Podemos dizer que este foi o plano que o Pai, em diálogo com o seu Filho e por sugestão do Espírito Santo, sonhou para a Humanidade. Por isso recordamos com gratidão o relato da Criação, o qual nos garante que Deus nos amou ainda antes de nos ter criado. Eis a razão pela qual nós fomos criados à imagem e semelhança da Trindade Divina (Gn 1, 26-27).

Através do profeta Jeremias, o Espírito Santo diz-nos que Deus nos ama com um amor eterno (Jer 31, 3). O evangelho de São João diz-nos que a maior prova de que Deus nos amou antecipadamente foi o facto de nos enviar o seu próprio Filho (Jo 3, 1). Depois acrescenta que pela Encarnação o Filho de Deus nos deu o poder de nos tornarmos filhos de Deus. Não pelos impulsos da carne ou a vontade do Homem, mas sim pela vontade de Deus (Jo 1, 12-14).

Pela ressurreição de Jesus Cristo o Espírito Santo recebe a missão de nos reconciliar com Deus, pelo que os nossos pecados não são mais tidos em consideração (2 Cor 5, 19). Eis a razão pela qual nós já formamos a Nova Criação, pois as coisas velhas passaram como diz São Paulo (2 Cor 5, 17-18).

Deus é amor a renovar-se todos os dias e desde sempre. O amor gera-se a si mesmo. Por isso é eterno. É isto que queremos dizer ao afirmar que Deus é amor. Com efeito, ainda antes de existirem as estrelas, os planetas ou o sistema solar, Deus já existia como uma comunhão de amor. Ainda antes de o Universo iniciar a sua génese criadora, já existia o Céu como comunhão de amor familiar.

Depois de Deus ter criado a Humanidade, o Céu passou a ser uma comunhão de milhões de pessoas, pois as pessoas humanas passaram a fazer parte da própria Família da Santíssima Trindade. São Lucas disse que, certo dia, Jesus exultou no Espírito Santo ao dar-se conta que os pobres e os simples começavam a entender o mistério de Deus e o seu amor por nós: “Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e doutores e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai. Do mesmo modo ninguém conhece quem é o Pai a não ser i filho e aquele a quem o filho houver por bem revelar-lho” (Lc 10, 21-22).

Jesus Cristo veio para nos revelar o rosto de Deus. Ao verificar que a sua Palavra começava a encontrar eco no coração das pessoas simples, exulta de alegria no Espírito Santo, pois é ele que revela o sentido da Palavra no coração das pessoas. O Deus da fé cristã é comunidade. De facto, se fosse uma só pessoa não podia saborear o gosto da amizade e da comunhão. Por outras palavras, se Deus fosse uma só pessoa não nos podia ter criado como pessoas talhadas para as relações e a comunhão amorosa.


b) O Jeito Amoroso de Deus Ser Criador

A bíblia diz que Deus é Amor (1 Jo, 4, 7; 16). A nossa fé proclama também que Deus é relações de amor criador. Por ser amor, Deus é por natureza uma constante novidade relacional. A divindade é uma emergência permanente de três pessoas cuja perfeição é infinita. Ao mesmo tempo em que emergem, as pessoas divinas convergem para uma comunhão trinitária de amor familiar: Pai, Filho e Espírito Santo.

Onde acontece o amor, emerge a liberdade. Com efeito, a liberdade é a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente e interagir criativamente com as coisas e os acontecimentos. Podemos dizer que a Divindade tem coração, pois entende de ternura, amor e comunhão. Por terem sido criados à imagem de Deus, também os seres humanos são capazes de diálogo, doação e comunhão amorosa.

Por ser três pessoas em relações, Deus marcou a estrutura do Universo com o selo das relações: Relações nucleares, gravitacionais, sociais, políticas ou interpessoais. Na verdade, Deus imprimiu na Criação as suas impressões digitais. O Universo é um poema Vivo e dinâmico. Cada estrela é uma estrofe e cada planeta um refrão. A Criação tem sentido e leva em si a marca da finalidade. Ao iniciar a génese da Criação, Deus realiza uma epopeia cheia de ritmo e harmonia.

O Cosmos é um testemunho vivo da Divina Sabedoria e um apelo a abrir o coração à transcendência divina. À medida que avança o processo criador do Universo, vão emergindo os versos do poema criador de Deus. Por se tratar de uma génese, o poema de Deus está em permanente crescimento cuja cúpula começa a configurar-se com o aparecimento do Homem. Na verdade, com o aparecimento da Humanidade o sentido da Criação aponta para uma plenitude de vida em comunhão. A lógica da Criação revela a Sabedoria que está na origem da génese histórica do Universo.

Os poemas humanos cantam a dor, as paixões e o Amor. O poema de Deus é um hino cósmico cujo princípio e fim é a bondade do Criador. O poema de Deus fala de ondas, partículas, células e vida cuja cúpula são as pessoas humanas, imagens perfeitas das pessoas divinas. Com efeito, a vida pessoas afirma-se como interioridade livre, consciente, responsável e capaz de amar.

Por ser para nós, o Universo foi concebido como habitação onde é possível acvontecer a paz e a fraternidade. Na verdade, quando Deus nos deu esta Terra bonita, generosa e fecunda pensou em nós, pondo nas nossas mãos um espaço cheio harmonia e possibilidades para acontecer a fraternidade de a alegria. A nossa Terra faz parte deste Universo do qual fazemos parte.

Por ser lógico, o Universo está de acordo com as leis da inteligência humana. Eis a razão pela qual o vamos compreendendo cada vez mais plena e profundamente. Podemos dizer que o nosso Universo, por estar marcado com o selo das relações, é um convite a sermos criadores de paz, música e poesia. A Criação é, na verdade, o poema musicado de Deus. Por não estar acabado é um álbum dinâmico e evolutivo.

O Universo é uma obra-prima a brotar do coração criador do nosso Deus, o qual exprime a perfeição da força criadora do amor. São diversos os temas do poema cósmico: Átomo, Planeta, Galáxia, Sistema solar, Asteróide, Estrela Polar. São ainda: Planta, réptil, mamífero ou Ave do Céu a voar.

Mas a dominante desta sinfonia universal é a Humanidade. Podemos dizer que o Homem é o tema central deste poema cheio de emoções de ternura, alegria, dor ou sofrimento gerado pela violência organizada. Na verdade, o Homem é um ser em construção. Está a realizar uma História onde há pessoas a amar, a sorrir, a chorar, a odiar e a sofrer. Apesar de incompleto e imperfeito, este Homem é a cúpula personalizada da Criação. Apesar do seu pecado, a Humanidade está a emergir no concreto de pessoas capazes de comungar com o seu Criador.

Graças a Jesus Cristo, a Humanidade deu um salto de qualidade e já tem sabor a divino. Pela Encarnação foi-nos dada a possibilidade de sermos incorporados na Família Divina (Jo 1, 12-14). A Humanidade está a emergir de modo concreto em cada pessoa. Emerge de modo livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa. Na verdade, a Humanidade emerge em cada pessoa de modo único, original e irrepetível.

No centro do poema criador de Deus está Jesus Cristo, o fundamento da nossa divinização. Foi anunciado ao longo de muitos séculos antes de nascer e ser um homem connosco. Na verdade ele é o ponto de encontro do humano com o divino. Nele, a Divindade enxertou-se na Humanidade, sem a anular ou mutilar. Em Cristo, o amor criador de Deus conduziu-nos até à divinização. Por Cristo fomos incorporados de modo orgânico e dinâmico na comunhão da Santíssima Trindade, proporcionando-nos, deste modo a nossa plenitude.


c) A Eucaristia Como Sinal do Amor de Deus

Na véspera da sua morte, Jesus celebrou a ceia da Páscoa para se despedir dos discípulos. Para significar a sua missão de portador da salvação de Deus para a Humanidade, Jesus entregou aos discípulos a Eucaristia, a qual é a proclamação da incorporação da Humanidade na comunhão da Família Divina. A Eucaristia celebra o mistério da nossa união com Jesus Cristo que é, como ele mesmo disse, semelhante à união que existe entre a cepa e os seus ramos da videira (Jo 15, 1-8).
Durante a Ceia Pascal, Jesus demonstrou estar consciente do plano dos judeus, os quais tinham tudo programado para o matar. Ao mesmo tempo, também quis transmitir aos discípulos a certeza de que Deus o ia ressuscitar, a fim de o constituir fonte de vida eterna para todos os seres humanos.

Após a ressurreição, os discípulos de Jesus, fizeram da Eucaristia o grande sinal da refeição da Nova e Eterna aliança realizada em Cristo ressuscitado. Através do pão e do vinho partilhado, Jesus quis dar a garantia aos discípulos de que ele continuaria a actuar pelo Espírito Santo no coração das pessoas. Eis a razão pela qual é preciso comer o pão da Eucaristia, pois o encontro com o Senhor ressuscitado dá-se no interior de cada pessoa pela acção do Espírito Santo.

São Paulo diz que as pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito Santo são filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14-16). Durante a celebração da Eucaristia, Jesus mandou aos discípulos que, após a sua ressurreição, fizessem isto em sua memória, e para recordarem que o Espírito Santo, a força vital de Cristo ressuscitado, está presente no nosso coração. Deste modo, os discípulos ficam tão unidos a Jesus, diz a Primeira Carta aos Coríntios, que formam um só corpo com o Senhor (1 Cor 10, 17; 12, 27).

Graças a esta união com Cristo, os discípulos de Jesus, animados pelo Espírito Santo, são capazes de fazer maravilhas e oferecer resistência às forças do mal que actuam no mundo. Eis o que Jesus disse sobre a importância da nossa união com ele: “Permanecei em mim, que eu permanecerei em vós. Assim como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo unido à videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes unidos a mim. Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

É esta a razão pela qual os cristãos celebram muitas vezes a Eucaristia e sempre em memória da morte e ressurreição de Jesus, a fim de se conservarem unidos a Cristo e, deste modo, poderem dar muito fruto. Jesus deu-nos a garantia de que, após a sua ressurreição, ficaria connosco até ao fim do mundo.

Além disso, os cristãos sabem que, ao celebrar a Eucaristia, Jesus Ressuscitado se torna presente no meio da comunidade. É por esta razão pela qual a comunhão na Eucaristia é tão importante para os cristãos. É através do rito da comunhão que os crentes exprimem a sua fé na união que existe entre o seu coração e o coração de Jesus. Na verdade, o rito da comunhão é o sinal através do qual o cristão dá um abraço a Jesus ressuscitado no seu coração.

Celebrar a Eucaristia e não comungar é celebrar este mistério de modo incompleto. Celebrar a Eucaristia é celebrar o mistério da vida eterna, disse Jesus: No tempo de Adão havia duas árvores muito importantes no Paraíso: a árvore proibida, também chamada do conhecimento do bem e do mal e a árvore da vida. As pessoas que comessem do fruto da árvore proibida afastavam-se de Deus e entravam no caminho do fracasso. A sua vida ia terminar num, malogro final. As pessoas que comessem o fruto da árvore da vida, pelo contrário, passavam a viver em comunhão profunda com Deus, tendo uma vida plena e eterna.

Ao ressuscitar, Jesus tornou-se a árvore da vida que nos dá o fruto da vida eterna. Este fruto diz Jesus, é como uma Água Viva que, no nosso interior, gera Vida Eterna. Esta Água, diz o evangelho de São João, é o Espírito Santo que Jesus, ao ressuscitar, pôs ao alcance de todos os seres humanos. Estar em comunhão com Jesus, portanto, é ser alimentado por este fruto da Árvore da Vida eterna.

Adão, enquanto esteve no Paraíso, não teve oportunidade de comer o fruto da Árvore da Vida, pois decidiu comer o fruto da árvore proibida. Eis a razão pela qual ele foi expulso do Paraíso e não pode entrar lá mais, pois o Paraíso ficou fechado. Como comeu o fruto proibido, Adão e seus filhos começaram logo a caminhar para o fracasso. Caim, um dos filhos de Adão, matou logo Abel, seu irmão. E foi assim que os filhos de Adão se começaram a afastar cada vez mais de Deus.

Deus resolveu então salvar os seres humanos, enviando-lhes Cristo o qual, pela sua ressurreição, nos abriu as portas do Paraíso. Por isso São Paulo diz que Cristo é o Novo Adão (Rm 5, 17-18). O primeiro Adão fechou o Paraíso à Humanidade. Jesus Cristo, o Novo Adão, abriu o Paraíso no momento da sua morte e ressurreição, introduzindo na plenitude da vida os milhões de seres humanos que tinham vivido desde o princípio do Mundo. Eis o que Jesus disse ao Bom Ladrão no momento da sua morte sobre a cruz: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. E o Paraíso ficou aberto para a Humanidade.

E foi assim que os apóstolos descobriram que a Árvore da Vida é o próprio Cristo ressuscitado que nos dá o Espírito Santo que é o alimento da Vida Eterna. Eis o que Jesus disse sobre aos Apóstolos: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu vou ressuscit6á-lo no último dia, pois a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue uma verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).

Como vemos, a nossas comunhão com Cristo é alimentada pelo Espírito Santo, como acontece com a união que existe entre Deus Pai e Jesus Cristo. Assim como pelo primeiro Adão veio a morte, diz São Paulo, por Jesus, o segundo Adão, veio a vitória sobre a morte (Rm 5, 17-19). A comunhão na Eucaristia é um sinal que explicita a comunhão da Família de Deus no Céu.

É por esta razão que a Eucaristia é uma celebração comunitária da Fé. O pão consagrado é corpo de Cristo, isto é, mediação de encontro com o Jesus ressuscitado. Mas este encontro acontece no nosso coração. Do mesmo modo, o vinho é sangue de Cristo, isto é, vida divina a circular nas “veias” no nosso interior. A Eucaristia é o novo culto em Espírito e verdade, diz o evangelho de São João (Jo 4, 21-24). Comungar é aceitar a Salvação, unindo-se a Cristo e recebendo a seiva da Vida Eterna que é o Espírito Santo.


d)Jesus Confirma a Fidelidade de Deus

1-Jesus Realiza Todas as Profecias

Os escritores do Novo Testamento têm a preocupação de acentuar constantemente que Jesus de Nazaré é o Cristo, isto é, o Messias anunciado pelos antigos profetas. Sem Jesus Cristo, o antigo Testamento ficava um projecto falhado. Com efeito, ao longo do Antigo Testamento, Deus está constantemente a prometer vinda do Messias, o qual viria realizar a salvação, conduzindo a Humanidade à sua plena realização.

O acontecimento de Cristo confirmou a fidelidade de Deus, demonstrando que ele realiza aquilo que promete. Sem o acontecimento de Cristo, o Antigo Testamento ficaria como um projecto inacabado. Na verdade, se Cristo não tivesse vindo, Deus não seria verdadeiro, pois não tinha realizado o que durante séculos anunciou pelos profetas.

A primeira profecia messiânica foi pronunciada pelo profeta Natã cerca de mil anos antes de Cristo. O rei David acabava de conquistar a cidade de Jerusalém e estava a planear construir um templo para Yahvé. O profeta Natã dirige-se ao rei dizendo-lhe que não é esse o plano de Deus. Quando morreres, diz o profeta ao rei David, Deus vai suscitar um filho teu, o qual irá construir um templo para Deus. Deus será um pai para esse teu filho. Através dele a tua casa real permanecerá para sempre (2 Sam 7, 12-16).


2-A Profecia de Natã Perdurou Até Cristo

Esta profecia marcou toda a tradição bíblica sobre a vinda do Messias. De tal modo as pessoas tomaram esta profecia a sério que o evangelho de São Lucas a coloca na boca do anjo que anuncia o nascimento de Jesus a Maria. Eis as palavras do evangelho de São Lucas: “Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, pois vai herdar o trono de seu pai David. Reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim” (Lc 1, 32-33).

Ao falar da Criação, o Livro do Génesis, diz que a serpente venceu a mulher, enganando-a e levando-a a comer o fruto proibido (Gn 3, 4-6). Logo a seguir, Deus anuncia o castigo que a serpente vai sofrer devido à sua astúcia, dizendo-lhe que ela venceu a mulher, mas o descendente da mulher, vai esmagar-lhe a cabeça e destruir a sua força maléfica: “Então o Senhor Deus disse à serpente: “Por teres feito isto és maldita entre todos os animais domésticos e entre os animais selvagens. Rastejarás sobre o teu ventre, alimentar-te-ás de terra, todos os dias da tua vida. Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça e tu tentarás mordê-la no calcanhar” (Gn 3, 14-15).

São Paulo, pensando nesta vitória do descendente da mulher, diz que Cristo nasceu de uma mulher a fim de nos libertar e fazer de nós membros da Família Divina: “Mas, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, a fim de resgatar os que se encontram sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adopção de filhos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: “Abba” ó Pai! Deste modo já não és escravo mas filho. E se és filho és também herdeiro pela graça de Deus” (Gal 4, 4-7). O descendente da mulher obteve-nos, pois, não apenas a vitória sobre a serpente, como também a graça de sermos membros da Família divina.


3-Foi Anunciado Durante Séculos

Para São Paulo, Jesus Cristo é o restaurador das distorções operadas por Adão (Rm 5, 17-19). Jesus Cristo é o Novo Adão, a Cabeça da Nova Criação (Rm 5, 17-18). Graças a Jesus Cristo, o Novo Adão, a Humanidade já está reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19). O Novo Testamento vê em Jesus Cristo o Messias anunciado pelos profetas. Jesus de Nazaré realiza as antigas promessas e, portanto, ele é o coração das Escrituras.

São Mateus leva a genealogia de Jesus até Abraão, a fim de fazer dele o centro e a cúpula do Povo de Deus. Eis como ele inicia a genealogia de Jesus: “Genealogia de Jesus Cristo, Filho de David, Filho de Abraão” (Mt 1,1). São Lucas, por seu lado, leva a genealogia de Jesus até Adão. Com este procedimento, São Lucas quer dizer que, graças ao facto de Jesus formar uma unidade orgânica com a Humanidade inteira, Adão também é incorporado na família de Deus.

Jesus não é filho de Deus por estar unido a Adão, mas Adão é que é filho de Deus por estar unido a Cristo. Eis as Palavras do evangelho de São Lucas: “Quando Jesus começou o seu ministério tinha cerca de trinta anos. Filho de David, Filho de Jacob, Filho de Isaac, Filho de Abraão, Filho de Noé, Filho de Adão, o qual foi filho de Deus (cf. Lc 3, 23-38).

Segundo o livro do Génesis, Abraão é a raiz de uma grande nação através da qual serão abençoadas todas as outras nações da terra (Gn 18, 18). Noutra passagem diz ainda que todas as famílias da terra serão abençoadas na descendência de Abraão (Gn 12, 3). O profeta Isaías diz que o Messias será um rebento de Jessé, modo poético para dizer que será filho de David (Is 9, 7).

O anjo da anunciação, segundo o evangelho de São Lucas, diz que Jesus é o filho de David que reinará eternamente sobre o trono de Jacob (Lc 1, 32-33). O profeta Miqueias, para dizer que o Messias é filho de David, afirma que o Messias nascerá em Belém, pois esta foi terra natal de David: “Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que vai surgir para mim, aquele que há-de reger Israel” (Miq 5, 1).

São Mateus e São Lucas ao falarem do Menino Jesus dizem que Jesus nasceu em Belém (Mt 2,1; Lc 2, 3-7). São Mateus sublinha que Jesus nasceu em Belém, a fim de se cumprir a profecia Miqueias: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, chegaram a Jerusalém uns magos (…). Herodes, reunindo os sumo-sacerdotes e os escribas do povo, perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. Eles responderam: “Em Belém da Judeia, pois assim foi escrito pelos profeta” (Mt 2, 1-5).

O profeta Zacarias, para significar a simplicidade do Messias, diz que ele fará a entrada solene na cidade, não montado num cavalo real, mas montado num jumento. Com este oráculo, Zacarias queria dizer que o Messias não porá a sua confiança na força e agilidade dos cavalos, mas sim no Espírito de Deus (Zac 9, 9).

Foi esta a razão pela qual os evangelhos vão dizer que Jesus fez a sua entrada triunfal em Jerusalém montado num jumento, a fim de realizar a profecia de Zacarias: “No dia seguinte, as multidões que tinham chegado para a Festa, ao ouvirem que Jesus vinha a Jerusalém, pegaram em ramos de palmeiras e saíram-lhe ao encontro, clamando: “Hossana, bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel”. Então, Jesus viu um jumentinho e montou nele, conforme está escrito: “Não temas, Filha de Sião! Vê o teu rei que chega sentado na cria de uma jumenta”. A princípio, os seus discípulos não compreenderam isto. Mas quando se manifestou a glória de Jesus eles lembraram-se de que estas coisas estavam escritas acerca dele” (Jo 12, 12-16).

São João diz ainda que João Baptista, ao vir para o deserto a preparar a vida do Messias, realizou a profecia de Isaías, segundo a qual um mensageiro de Deus viria para o deserto preparar a vinda do Messias. Eis o modo como São João descreve a realização desta profecia do profeta Isaías: “João Baptista respondeu: “Eu sou a voz do que clama no deserto. Endireitai os caminhos do Senhor, como disse o profeta Isaías” (Jo 1, 23).

O profeta Isaías falando dos tempos messiânicos, diz que o nascimento do Messias será o sinal visível da bondade e da presença de Deus no meio do povo: “Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado. Sobre os seus ombros recairá o ceptro do poder. Será chamado Conselheiro Maravilhoso, Deus Altíssimo, Pai eterno, Príncipe da paz” (Is 9, 6).

Os evangelhos dizem que o nascimento de Jesus é a realização, não apenas desta, mas de todas as profecias que anunciaram o Messias. O profeta Isaías diz que o Messias estará cheio da força e da sabedoria do Espírito Santo. Graças à plenitude do Espírito que o habita, ele vai suscitar uma Nova Criação. A terra será, finalmente um lugar de paz e a prosperidade (Is 11, 1-9).

4-Jesus Supera o Anunciado Pelos Profetas

O Novo Testamento tenta demonstrar como em Jesus se realizam plenamente todas as profecias do Antigo Testamento. Isto quer dizer que, do mesmo modo como o Antigo Testamento ficava incompleto sem Jesus Cristo, o Novo sem o Antigo ficava privado base histórica. Seria como uma casa sem alicerce. Não há dúvida de que esta é a razão pela qual os discípulos de Jesus mostram uma tão grande preocupação por fazer coincidir o acontecimento histórico de Jesus com os textos proféticos do Antigo Testamento. Deus é fiel e verdadeiro, pois realiza sempre o que promete.

Além disso, a realidade de Jesus Cristo supera em muito sempre o que os profetas anunciaram e o povo bíblico esperava. Na sua dimensão humana, Jesus é um homem em tudo igual a nós, excepto no pecado. Mas nenhum profeta intuiu nele a dimensão divina mediante a qual ele é o Filho Eterno de Deus Pai. Por outras palavras, Jesus Cristo é homem como todos os homens que nasceram de Adão.

Mas além disso é Deus com o Pai e o Espírito Santo. No seu interior encontram-se unidos de modo orgânico o melhor de Deus e o melhor da Humanidade. O Espírito Santo é a seiva que alimenta esta união misteriosa em que o divino e o humano fazem um sem se misturarem ou fundirem.

O evangelho de São João diz que a união do humano com o divino, em Jesus de Nazaré é algo semelhante à união que existe entre a cepa da videira e os seus ramos. No evangelho de São João, o próprio Jesus diz que esta união se difunde, através dele, para todos nós (Jo 15, 1-7). Eis as das palavras de Jesus: “Permanecei em mim, que eu permaneço em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas apenas permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

Eis o mistério sublime que habita no íntimo de Jesus Cristo e que nenhum profeta suspeitou. Foi com Jesus Cristo que início a plenitude dos tempos, isto é, o salto qualitativo da nossa divinização.

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