Pai Santo,
A grandeza da tua sabedoria revela-se de modo
admirável no conjunto das tuas obras.
Mas é na Natureza humana que tu revelas de
modo especial
a tua sabedoria e o teu amor criador.
A natureza humana é um princípio de acção
que dinamiza e coordena a estruturação do
Homem,
tanto na singularidade das pessoas,
como na totalidade da comunhão humana
universal.
A nível pessoal, a natureza rege a emergência espiritual do ser humano,
bem como a sua identidade e estruturação
pessoal.
A natureza humana apenas realiza a sua
perfeição
com a vida pessoal-espiritual.
É a este nível que atinge a plenitude em
Deus.
Na verdade, a natureza humana concretiza-se em pessoas e a divina também.
Graças à força criadora da natureza
humana,
a pessoa acontece de modo gradual e
progressivo
como ser livre, consciente, responsável e
capaz de amar.
Para isso, a natureza oferece à pessoa uma série de talentos
que lhe dá a possibilidade de se realizar de
modo único, original e irrepetível.
O ser humano começa por ser um dado
biológico,
mas está geneticamente programado para
atingir o nível espiritual.
Na verdade, recebemos a nossa identidade
genética, isto é,
o nosso ADN com o seu feixe de possibilidades
no momento da nossa concepção.
O conjunto dos nossos talentos genéticos interage
com os nossos talentos históricos,
sobretudo com o contexto em que nascemos e
nos fomos estruturando.
Nesta interacção o amor é a dinâmica fundamental da estruturação da pessoa.
Por outras palavras, o nosso ser espiritual
emerge em processo histórico
e a dinâmica que o faz emergir é a força das
relações de amor.
A configuração da nossa identidade espiritual
é o nosso jeito de amar e nos
relacionarmos.
A nossa identidade genética é mortal,
mas a nossa identidade espiritual é
imortal
e está chamada à Comunhão Universal da
Família de Deus.
Ao contrário da identidade genética,
a identidade espiritual de uma pessoa depende
dela,
pois as pessoas humanas são seres em
construção.
Isto quer dizer que a vida espiritual e a
comunhão amorosa
constituem o ponto mais alto da força
criadora da natureza humana.
Mas também é verdade que o ser humano,
através do pecado,
é capaz de matar as possibilidades mais
nobres da natureza humana.
O pecado é sempre uma oposição às propostas e
interpelações do amor.
Ao dizer não ao amor, o pecador diz não à sua
humanização
e à humanização das pessoas que marca de modo
negativo.
A natureza divina não é uma realidade estática e a humana também não.
A vertente biológica da natureza,
interagindo com a vertente social e
cultural
constituem o leque primordial dos
talentos
ou possibilidades de realização de cada
pessoa.
Como sabemos, o ser humano começa por ser
o que os outros fizeram dele,
como diz o evangelho de São Mateus na
parábola sobre os talentos:
Uns recebem cinco, outros três, dois ou um
(Mt 25, 14-30).
Ninguém é herói por receber cinco, e ninguém
é culpado por receber um.
A heroicidade radica na fidelidade a esses
talentos.
É este o modo de edificarmos a vida eterna.
A luta das ciências contra o envelhecimento e
a morte
estão a conseguir progressos dignos de
admiração.
Mas não nos devemos esquecer de que a vocação
fundamental do Homem
não é apenas prolongar indefinidamente a vida
mortal,
mas sobretudo construir a vida eterna.
A vida eterna é a vida pessoal-espiritual.
À medida que emerge e se estrutura,
o nosso ser espiritual emerge capacitado para
a comunhão universal da Família Divina.
Vale a pena no que São Paulo diz a este respeito:
“Por isso não desfalecemos. Apesar de em
nós,
o homem exterior caminhar para a ruína e a
morte,
o homem interior renova-se e robustece-se dia
a pós dia pelo Espírito Santo.
De facto, a nossa tribulação momentânea
proporciona-nos um peso eterno de
glória,
muito além do que possamos calcular.
Por isso não olhamos para as coisas visíveis,
mas para as invisíveis,
pois as coisas visíveis são
passageiras,
ao passo que as invisíveis são eternas” (2
Cor 4, 16-18).
A natureza humana e a natureza divina
concretizam-se em pessoas talhadas
para a comunhão na qual encontram a sua
plenitude.
As pessoas humanas estão a realizar-se
como seres proporcionais às pessoas divinas
e, portanto,
capazes de comungar familiarmente com as
pessoas divinas.
Por outras palavras, as pessoas humanas
não são iguais às divinas, mas são-lhe
proporcionais.
Por isso já pode acontecer comunhão amorosa
entre Deus e o Homem.
A pessoa de Deus Pai e a pessoa de Deus
Filho
formam uma interacção orgânica
ao ponto de Jesus chegar a dizer que "ele e o
Pai são um” (Jo 10, 30).
Do mesmo modo a Humanidade, graças ao mistério da Encarnação,
passou a fazer uma interacção orgânica e
dinâmica com Cristo.
No evangelho de São João, Jesus descreve de
maneira muito bonita
a união orgânica da natureza divina com a
natureza humana
através do mistério da Encarnação:
“Eu sou a videira e vós os ramos.
Quem permanece em mim e eu nele,
esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis
fazer.
Se alguém não permanece em mim, é lançado
fora como um ramo e seca.
Depois é lançado ao fogo e arde” (Jo 5, 6).
Como vemos, a plenitude da natureza humana, é a sua divinização,
a qual acontece na dinâmica da comunhão
orgânica com as pessoas divinas.
Pai Santo,
Louvado sejas por esta união orgânica
que confere plenitude divina à natureza
humana.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
É sempre bom relembrar este belissimo texto obrigada.
ResponderEliminarBelíssimo este texto obrigada
ResponderEliminar