A Morte da Teresa



O seu nome era Teresa. Tive a sorte de assistir à sua partida para a festa da vida em plenitude. Fiquei espiritualmente mais robusto depois de ter assistido àquela partida de uma pessoa de bem.

Partiu com a expressão de alguém que está a subir o último degrau da escada que conduz à sala da festa. O sorriso foi a última expressão daquele rosto enrugado e sereno do qual irradiava a beleza da bondade. Tinha a bonita idade de oitenta e muitos anos. Foram mais de oitenta anos de decisões, opções, escolhas e projectos de vida marcados com o selo do amor.

A sensatez foi a dominante daquela história bonita. De entre as muitas pessoas que se cruzaram com ela durante a vida, nenhuma ficou mais triste ou mais só pelo facto de a terem encontrado. Tinha um jeito muito sereno de se relacionar com os outros. Muitos reconheciam o bem que lhes adviera do facto de se terem encontrado com aquele coração bondoso.

Era uma pessoa de bem. Chegou ao fim da sua construção na história com a alegria de ter dado o melhor de si. Por isso aquela partida foi vivida como um acontecimento jubiloso. Com a sua linguagem simples e sem pretensões dizia coisas sublimes. Mas, mais que dizer, via-se que as suas palavras exprimiam a verdade profunda do seu ser.

Ouvi-lhe dizer muitas vezes que tinha saudades de Deus. Naquele projecto de vida, dei-me conta de que, com aquela mulher, acontecia uma coisa muito rara entre os seres humanos: Deus era realmente a questão primeira. Não admira que o momento de entrar na plenitude tivesse sido algo tão desejado.

Durante a sua história assaz longa foi construindo uma infinidade de laços de amor fraterno. O momento de entrar na Comunhão do Reino de Deus foi para a Teresa um encontro com a plenitude do que construiu na história. O seu jeito de comunicar motivava as pessoas para fazer o bem. E agora, leva para a comunhão universal o seu jeito peculiar de sorrir e dar a mão aos irmãos.

Ao contemplar aquela partida cheia de certezas de vida eterna, meditei um pouco e disse de mim para comigo: vai dançar eternamente o ritmo do encontro e do amor, que é a dinâmica da felicidade do Reino de Deus. Nessa festa da plenitude, cada pessoa interage e comunga com Deus e os irmãos com o jeito que tiver treinado sobre a Terra. Eis a razão pela qual, nesse momento, foi tão claro para mim que a Teresa ia dançar o ritmo do amor com aquele jeito bonito que treinou durante vida. Imaginei-a a sorrir alegremente às crianças e, de modo particular, a esses de quem ela gostava tanto: os que foram pobres na terra.

A morte, para os que souberam moldar um coração aberto ao amor, é o momento solene de a pessoa ser introduzida na festa da Comunhão universal. Cada qual participa nessa festa com a capacidade de amar e comungar que treinou ao longo da sua história. É com esta capacidade de comungar que vai saborear o amor infinito de Deus.

A maneira de crescermos na capacidade de saborear a felicidade no Céu, é treinar, agora na terra, o nosso coração para o encontro, o diálogo fraterno e a comunhão com os irmãos. A felicidade, no Reino de Deus, só se possui em interacção amorosa. Por outras palavras, a plenitude da pessoa não está em si, mas na reciprocidade da comunhão.

A Teresa entrou na plenitude da vida: a família universal de Deus. No momento da nossa morte somos introduzidos na comunhão universal da Família de Deus. Nesse momento, o Espírito Santo com seu jeito maternal de amar conduz-nos a Jesus Cristo ressuscitado que nos acolhe como irmãos.

Nesse momento, Jesus optimiza a nossa vida, assumindo-nos de modo orgânico na comunhão Universal dos Ressuscitados, os quais formam, em Cristo, a multidão dos filhos de Deus. Esta comunhão orgânica é alimentada pelo Espírito Santo, “O amor de Deus derramado nos nossos corações” (Rm 5, 5). Do mesmo que nos conduziu a Cristo, o Espírito santo conduz-nos a Deus Pai, o qual, com seu jeito paternal de amor, nos acolhe incondicionalmente como filhos (Rm 8, 14- 16; Ga 4, 4-7).

Era isto que Jesus queria dizer quando afirmou: “A ninguém na Terra chameis pai, pois um só é o vosso Pai, o do Céu (Mt 23, 9). Com este modo simbólico, Jesus queria dizer-nos que a Humanidade, uma vez incorporada e assumida na comunhão dos ressuscitados em Cristo, passa a fazer parte da Família divina cuja paternidade universal pertence a Deus Pai.

Como amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5), o Espírito Santo é a ternura maternal de Deus a dinamizar-nos e vivificar-nos por dentro. É como uma água viva que, no nosso íntimo, faz jorrar a Vida Eterna (Jo 7, 37-39; 4, 14).

A morte da Teresa conduziu-me a esta meditação. Nesse momento louvei a Deus pela vida da Teresa e pelo seu plano de salvação em favor de todos os homens. Compreendi mais plenamente como o Senhor ressuscitado é o princípio e a plenitude da Nova Humanidade. Quando Deus ocupa o primeiro lugar, a vida está cheia de sentido humano e divino.

Aleluia!

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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