Colaborar com o Deus Vivo: b) Oração e Sintonia com a Acção de Deus



Procura, sentar-te num sítio silencioso durante uns quinze minutos pelo menos. Começa por fazer silêncio antes de começares a dialogar com Deus. Começa por pensar que, no mais íntimo do teu coração, Deus está em ti e por ti. Procedendo assim, a tua mente começa a ficar predisposta para acolher a presença e a acção transformadora do Espírito Santo.

Depois podes iniciar o diálogo com Deus. Tomemos a Divindade a sério. Para nós, cristãos, a Divindade é uma comunhão de três pessoas. Podemos iniciar o nosso diálogo ou com o Pai, de quem somos filhos, ou com o Filho de quem somos irmãos. Também nos podemos dirigir ao Espírito Santo que é, no nosso interior, o amor maternal de Deus. É ele que nos põe em sintonia com o Pai e o filho.

O nosso diálogo com Deus deve ser simples, sem palavras rebuscadas. Devemos usar as palavras mais naturais como fazemos com as pessoas que amamos. Falemos a Deus da nossa vida, sabendo que Deus a conhece e entende muito bem. Digamos a Deus como vão as nossas actividades e as dificuldades que, por vezes nos surgem. Não nos ponhamos a pedir muitas coisas ou a insistir muito num aspecto concreto. Este modo de orar cria em nós uma consciência miserabilista. É verdade que somos pobres e frágeis, mas com deus podemos tudo.

A nossa atitude, portanto, deve ser de consciencializar a presença de Deus em nós e dar-lhe muitas graças por nos capacitar para podermos fazer maravilhas. Segundo o evangelho de Lucas, Maria tinha uma plena consciência disso: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 46-49).

Oremos e tenhamos a certeza de que a oração é sempre eficaz. Não no sentido de mudar o coração de Deus, mas no sentido de modificar o nosso coração e a nossa mente e capacitando-nos para fazer coisas que nunca seríamos capazes de imaginar. Na medida em que nos transformamos e somos invadidos pela força amorosa e criadora de Deus tornamo-nos mediações de libertação e felicidade para os irmãos.

Na oração não devemos utilizar palavras ou pensamentos negativos. Esse procedimento não altera nem influencia Deus. Além disso devemos ter presente que os pensamentos e as palavras negativas moldam padrões negativistas na nossa mente. Apenas as palavras positivas que exprimem fé na presença de Deus e de gratidão pela sua acção em nós são dignas de Deus.

Ao pedirmos qualquer coisa não deixemos de insistir que se faça a vontade de Deus. Deste modo estamos a reforçar a certeza de que a vontade de Deus, a nosso respeito, é muito melhor para nós do que a nossa própria. Por outras palavras, normalmente o que Deus nos quer dar é muito melhor do que aquilo que nós lhe pedimos. O querer de Deus é muito melhor do que o nosso no que se refere ao nosso bem e felicidade.

Tenhamos a coragem de dizer a Deus com fé: “ponho-me nas tuas mãos, pois sei que o teu querer a meu respeito coincide com o que é melhor para mim”. Procedendo assim estamos a abrir o coração a Deus, permitindo que o manancial infinito a força criadora e salvadora de Deus circule em nós.

São Paulo dá-nos o suporte perfeito para esta confiança em Deus: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com o seu desígnio. De facto, àqueles que Deus conheceu antecipadamente também os predestinou, a fim de serem uma imagem idêntica à do seu Filho, o qual se tornou o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 28-29).

Depois, passemos da oração para a vida, procurando dar o melhor de nós com a certeza de que, graças à força de Deus em nós, as nossas actividades terão os melhores resultados. Não nos esqueçamos de pedir a Deus pelas pessoas que nos querem prejudicar ou nos maltrataram. O ressentimento, a raiva e o ódio são forças negativas que bloqueiam os circuitos através dos quais circulam as energias activadas em nós pela acção do Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Quando surge um problema devemos falar a Deus sobre ele de modo simples e directo e com uma atitude de humildade, como por exemplo: “Eu sei que eu e tu, Espírito Santo, os dois em conjunto, podemos resolver de modo satisfatório todos os meus problemas e dificuldades". Podemos fazer como um filho faz com o pai, a mãe ou um irmão mais velho perguntando a Deus sobre o melhor modo de resolver determinado problema.

A nossa vida corporal, psíquica ou espiritual é em grande parte condicionada pelas nossas emoções. Por outro lado, a nossa vida emocional é profundamente condicionada pelos nossos pensamentos. A oração ajuda-nos a configurar a nossa mente com a Palavra de Deus. Como sabemos, a originalidade do cristão é a vida teologal de Fé, Esperança e Caridade. A vida teologal põe a nossa mente e o nosso coração ao ritmo da revelação de Deus. Quanto mais cresce em nós a vida teologal mais circulam, no nosso íntimo, as energias que nos capacitam para agir com acerto e sucesso no dia a dia. No evangelho de João Jesus garante-nos que veio para que tenhamos vida em abundância (Jo.10,10). O cultivo da vida teologal é o modo mais eficaz de viver em sintonia com as energias de Deus.

Há muitas pessoas vivem habitualmente cansadas, fazendo esforços enormes para obter resultados minúsculos. Isto significa que as suas energias criadoras não flúem normalmente. Além disso, essas pessoas bloqueiam a força criadora de Deus, impedindo-a de circular espontaneamente nem em grande abundância. Estas pessoas não se sentem motivadas para criar, pois sentem-se sem forças para o fazer. Estas pessoas sentem-se tristes. E têm razão, pois o seu estado significa que estão psíquica e espiritualmente e doentes.

O caminho para sair deste sofrimento é desbloquear as vias pelas quais circulam as energias e deixar-se habitar pela força criadora de Deus. Um primeiro passo para superar estas situações é tentar cultivar pensamentos positivos como, por exemplo: “Estar cansado e triste não é uma fatalidade”; “podes mudar esta situação”; “sentes-te permanentemente cansado e triste porque não emergem pensamentos positivos na tua mente. Além disso não deixas que, no teu coração, circule a força do amor de Deus a optimizar as tuas capacidades de amar a Deus e aos irmãos”.

É muito importante que façamos momentos de silêncio, visualizando a presença e acção de Deus no nosso interior. É importante não admitir pensamentos negativos na nossa mente, expulsando-os, cinco, dez, vinte ou cinquenta vezes por dia. Eis ainda outro aspecto importante: Quanto mais cultivarmos atitudes de não julgamento, de perdão, de amor a Deus e aos irmãos, mais os bloqueios vão sendo destruídos e mais circulará a seiva da alegria e felicidade.

As pessoas que carecem de energia estão emocional e psicologicamente desorganizadas. Isto tem um impacto enorme na saúde do seu corpo. Estas pessoas sentem-se constantemente envolvidas em conflitos interiores e problemas de saúde, seja de ordem corporal, psíquica ou espiritual. Precisamos de cultivar uma Fé sólida e uma grande harmonia interior, a fim de o nosso diálogo e encontro com Deus atingir profundidade e dinâmica libertadora. Como sabemos, a Palavra de Deus é o alimento fundamental para crescermos na Fé. As energias espirituais que nos habitam, tanto as de Deus como as nossas são, no nosso íntimo, a fonte do milagre. Deus está em nós e quer o nosso equilíbrio corporal, psíquico e espiritual. A oração no Espírito Santo, fundamentada numa Fé forte é condição fundamental para acontecer, em nós, o milagre.

Com Deus podemos caminhar para uma crescente harmonia da nossa personalidade. Mas não pensemos que Deus actua sem a nossa colaboração. A Fé, a harmonia interior e a paz que dela resulta são mediações excelentes para que as nossas energias interiores se encontrem com as energias de Deus e sejam activadas por elas.

O diálogo com Deus é sempre criador, pois estamos interagindo com a fonte das energias espirituais e criadoras do mesmo Deus. É isto que o evangelho de Lucas quer dizer ao afirmar que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc.17,21). Quando sintonizamos com o Espírito Santo que nos habita sentimo-nos melhor, trabalhamos melhor, fazemos melhor, dormimos melhor e facilitamos melhor a realização e felicidade dos que vivem a nosso lado.

Como diálogo com Deus, a oração muda a nossa mente e o nosso coração, alterando profundamente a nossa vida e as relações com os outros. Mas não devemos confundir a oração enquanto diálogo amoroso e familiar com as pessoas divinas com rezas ditas de modo mecânico e segundo um número determinado para obter a devida eficácia. É importante não fazer da oração uma questão de um número determinado de palavras mágicas. Este tipo de rezas não conduz à experiência da acção libertadora de Deus no nosso íntimo.

O próprio Jesus nos previne do perigo de distorcermos a oração, fazendo dela uma questão de formular mágicas: “Nas vossas orações não sejais como os gentios que usam de vãs repetições, pois pensam que, por falarem muito, são mais atendidos. Não façais como eles, pois o vosso Pai do Céu bem sabe do que precisais, antes de lho pedirdes”.

Orar é encontrar-se e comunicar com Deus no nosso íntimo. O Espírito Santo conduz-nos ao diálogo com Deus em termos familiares. Conduz-nos a Deus Pai com sentimentos de filhos e a Deus Filho com sentimentos de irmãos. Como já vimos, é o Espírito Santo que nos introduz na comunhão com as pessoas divinas a qual nos leva depois à comunhão com as pessoas humanas: “O primeiro mandamento é: Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com todo o teu espírito, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças” (Mc.12,29-30; Mt.22,37-38; Lc.10,27).

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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