A realização pessoal é resultado de um processo histórico. Para nos dizermos temos de contar uma história. Quando nos queremos comunicar em profundidade sentimos uma necessidade enorme de contar a nossa história. Estruturamo-nos de modo gradual e progressivo. A força que faz avançar a estruturação pessoal é o amor. O bem-amado vai emergindo como pessoa bem estruturada. O mal-amado, pelo contrário, emerge como pessoa complicada, mal estruturada e condicionada nas suas possibilidades de realização pessoal. Só o amor possibilita uma boa estruturação pessoal.
Nascemos com um leque de talentos que são a condição básica da nossa realização pessoal. Ninguém é herói por ter recebido muitos talentos. Também não somos culpados se o feixe das nossas capacidades é limitado. A heroicidade está na fidelidade aos talentos que recebemos.
O amor é a opção mais livre que a pessoa humana é capaz de realizar. Por isso ninguém é capaz de nos obrigar a amar. O outro torna-se nosso próximo a partir do momento em que o elegemos no nosso íntimo como tal. Amar é sempre uma decisão pessoal. Quando elegemos o outro como nosso próximo, o nosso coração dilata-se. Como vemos, amar não é uma questão de sentimentos, mas de decisões e opções que implicam o bem do outro e, por efeito de reciprocidade, o nosso próprio bem.
Amar é quer bem e querer o bem do outro, solidarizando-se com a sua realização e felicidade. Quando decidimos amar, as nossas atitudes tomam o jeito da fraternidade, da solidariedade, da reciprocidade e da partilha. Quando amamos uma pessoa, esta sente que uma porta se lhe abriu para a felicidade e alegria. A sua força interior cresce e a confiança em si aumenta.
Sem o amor dos outros não somos capazes de nos auto estimar e resolver adequadamente as nossas dificuldades. Amar não é pretender que o outro seja à minha medida e segundo os meus critérios. Pelo contrário, é deixar o outro ser segundo o melhor das sua possibilidades, as quais não são iguais às minhas. Amar é não pretender ser a medida do outro. O Evangelho interpela-nos no sentido da universalidade do amor. Convida-nos a eleger o outro como próximo, para lá da língua, da raça, da nacionalidade ou dos laços do sangue.
O próximo, portanto, é todo aquele que elegemos dentro do coração como sujeito da nossa solidariedade e comunhão. Todo o ser humano é uma proposta que Deus nos faz para o elegermos como próximo. Eis as palavras de Jesus: “Eu, porém, digo-vos: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Procedendo assim tornar-vos-eis filos do vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 44-45).
Com efeito, sabemos que a família de Deus não assenta nos laços do sangue, mas nos laços do Espírito Santo, o qual deseja conceder ao nosso coração a medida do coração de Cristo. É esta a proposta que Jesus nos faz: “ Se amais apenas os que vos amam, que recompensa tereis. Os publicanos também fazem isso. Se saudais apenas os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem assim também os pagãos? Sede antes perfeitos como perfeito é o vosso Pai do Céu” (Mt 5, 46-48).
A proposta de Cristo é para que abramos o nosso coração à medida do coração de Deus: amar a todos. Amar é a opção mais nobre e humanizante que a pessoa humana é capaz de realizar. O nosso amor possibilita a realização e felicidade do outro. A solidão estrutura-se no coração do mal amado mal amado. Por isso ele se sente só. Cada um de nós é possibilitado pelo amor dos outros. Do mesmo modo, o nosso amor possibilita a realização dos demais. O mal amado não é capaz de se amar bem. Fecha-se e desconfia dos outros. É uma pessoa estruturada no desencontro e na solidão. O amor torna a vida das pessoas ternas e doces. O amor ajuda a pessoa a despertar para o encontro e a comunhão. As pessoas mal amadas são muito frequentemente azedas e agressivas.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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