O Matrimónio no Plano de Deus: b) O Matrimónio como Lugar de Santificação





Deus é uma comunhão amorosa de três pessoas. Eis o sentido da afirmação bíblica que define Deus como Amor (1 Jo 4, 16). Só através do amor o ser humano pode chegar a conhecer Deus, diz a Primeira Carta de São João. Quem não ama nunca chegará a conhecer a Deus (1 Jo 4, 7-8). Conhecer, para na Bíblia, significa formar uma união orgânica. Só se conhece alguém na medida em que acontece reciprocidade amorosa e fecunda. Adão conheceu Eva e deste facto nasceu-lhes um filho: “Adão conheceu Eva, sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Caim, e disse: “Gerei um homem com a ajuda do Senhor” (Gn 4, 1).

Através da revelação e graças à sua vida amorosa, o casal cristão tem condições excelentes para atingir estádios profundos de santidade. Deus é santo por ser comunhão amorosa. Na medida em que o casal se edifica sobre o amor está a crescer em santidade. Como sabemos, o amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem a pessoa e como meta a comunhão. Eis o caminho para conhecer Deus e crescer na santidade.

O chamado privilégio Paulino permite o casamento entre um crente e um não crente ou membro de outra religião. São Paulo diz que o cônjuge cristão é mediação para a santificação do cônjuge não cristão:

“Aos outros, digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem uma esposa não crente e esta consente em habitar com ele, não a repudie. Do mesmo modo, se alguma mulher tem um marido não crente e este consente em habitar com ela, não o repudie. De facto, o marido não crente é santificado é santificado pela esposa e a mulher não crente é santificada pelo marido. Se assim não fosse, os filhos que tendes ou venhais a ter seriam impuros, quando, na realidade, são santos. No entanto, se o marido não crente quiser separar-se, que se separe, pois em tais circunstâncias, nem o irmão nem a irmã estão vinculados. Deus chamou-vos para viverdes em paz. Deste modo, talvez tu, esposa, possas salvar o teu marido. Do mesmo modo, talvez tu, marido, possas salvar a tua esposa” (1 Cor 7, 12-16).

O essencial da santidade matrimonial, portanto, não está nos conceitos religiosos, mas a vivência fiel e dedicada do amor. A plenitude dos mandamentos e da própria Fé é o amor. Paulo partia de um princípio muito importante que é este: se o cônjuge cristão é realmente um crente bem preparado, tem um jeito de viver para partilhar com o outro cônjuge e com os filhos, que não pode deixar de os transformar segundo os valores do Evangelho. Além disso, nenhuma religião seja ela qual for, possui uma sabedoria que se compare à sabedoria teologal. Por outras palavras, a sabedoria teologal confere sentidos de vida e razões para viver e se comprometer com o amor como nenhuma outra sabedoria religiosa é capaz de conferir.
A razão desta originalidade cristã radica, não em qualquer tipo de superioridade dos cristãos, mas na Palavra de Deus que é o alicerce e o alimento dessa sabedoria teologal. A Palavra de Deus e o Espírito Santo a actuar na comunhão familiar através do cônjuge cristão não pode deixar de conduzir a comunidade familiar aos horizontes da Fé, da Esperança e da Caridade, isto é do amor ao jeito de Cristo.

Outro aspecto importante para a felicidade e a santificação dos esposos é o cumprimento dos deveres conjugais. Como vimos acima, São Paulo insiste que os esposos não se devem defraudar em relação aos deveres conjugais. O marido proceder em favor da esposa e esta do marido, pois os dois fazem uma só carne, isto é uma união orgânica. Neste aspecto, os esposos não são donos de si próprios (1 Cor 7, 1-5).

O amor é, portanto, o único caminho da santidade. O amor depende da vontade. A paixão é um impulso emocional que não depende de nós. Vem sem nós querermos e desaparece sem darmos por isso. Com o amor não é assim. Ninguém ama sem querer. O amor supõe decisões, escolhas e projectos em favor de outro. Por isso os esposos podem perguntar-se sobre as suas decisões e projectos em relação ao fortalecimento do amor, sobretudo tendo como pano de fundo o texto de São Paulo sobre o amor:

Procuro ser paciente com o meu companheiro?
Lembro-me de ser amável?
Procuro perdoar quando sou magoado?
Procuro honrar o meu companheiro, dispondo-me a servir e não a pretender sempre ser servido?
Tento robustecer a minha confiança no meu companheiro, sabendo que este é o caminho para o ajudar a ser transparente?
Procuro ser compreensivo, aceitando as diferenças e até os seus defeitos?
Procuro encorajar o meu companheiro e facilitar a sua realização pessoal?
Esforço-me realmente por ser fiel?

Convido o meu companheiro, no sentido de criarmos momentos de diálogo e revisão do nosso amor?
Tento reforçar a minha decisão de construir uma história de amor até que a morte nos separe?
Lembro-me de convidar o meu companheiro para momentos de oração conjugal, sabendo que a rocha firme para construirmos o nosso amor é o próprio Deus?
Lembro-me de convidar o meu companheiro a ler a Bíblia em conjunto, sabendo que a Palavra de Deus optimiza o nosso amor, conferindo-lhe os horizontes do amor de Cristo?
Lembro-me de que é muito importante ser lento para falar e estar atento para escutar?

Lembro-me de dar graças a Deus pelo meu companheiro e pelos meus filhos?
Lembro-me que a nossa aliança de amor está inscrita na Aliança do amor de Deus para connosco?
O amor depende da vontade. Procuro criar atitudes que reforcem o amor?
Não esqueçamos que existem umas tantas palavras mágicas que fortalecem o amor: Obrigado, por favor, desculpa, amo-te, etc.
Quando te sentires confuso e não souberes o que fazer, pára e não faças nada!
Há coisas que se resolvem magicamente se as adiarmos para o dia seguinte.

Como vemos, o amor é algo que precisa de ser alimentado. É muito importante que os esposos recordem propositadamente o amor dos primeiros tempos e concluam que esse amor é para crescer e ficar cada vez mais robusto. Isto quer dizer que a santidade matrimonial é um projecto onde podemos contar com a presença sempre presente do Espírito Santo. É muito importante que os esposos se lembrem de que a primeira prioridade da sua vida é a felicidade conjugal e familiar. Para isso, os esposos devem dialogar e decidir sobre dias para gastarem junto, libertos das demais preocupações.

É sinal de grande sabedoria não deixar acumular tensões e silêncios prolongados. Não esqueçam a sábia equação sobre o modo de chegar a acordo: SIM + NÃO = NÃO. Quando isto acontece é sinal de que chegou o momento de fazer uma paragem para rever como está a caminhar a vossa aliança matrimonial. O caminho da santidade é o caminho do amor. Amar implica saber morrer a muitas coisas para poder ressuscitar com uma nova capacidade de amar. E importante lembrarmo-nos de que o Homem em construção e de que o matrimónio é um dos pilares fundamentais para as pessoas humanas chegarem à sua plena humanização.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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