Relações Pais-Filhos (II)




2) A Resposta dos Pais


É normal que os pais tenham muito medo de que os seus filhos enveredem por caminhos errados. Isto não só faz dos filhos seres desencaminhados, como também faz que os pais se sintam pessoas fracassadas na sua missão. Esta insegurança e estes receios aparecem na confissão dos pais:

Tens razão. Por vezes dou-te coisas para ver se te portas bem. De facto tenho muito medo de que te aconteça algo de mal. Eis a razão de, por vezes, ser pouco tolerante e compreensivo. Começo a compreender que é mais importante dar-me a ti do que dar-te coisas. Também começo a compreender a importância de depositar confiança em ti.

Eu pensava que dar-te ordens e proibições era o melhor caminho para te tornares uma pessoa competente e realizada. Agora compreendo que o diálogo e o amor são mais importantes que tudo o resto. Reconheço que não fiz bem quando te gritei em vez de dialogar contigo e explicar serenamente as razões de determinada proibição. No fundo, muitos dos meus gritos eram expressão da minha própria insegurança. Entro em pânico quando penso que te pode acontecer o pior.

Não me apercebi bem da importância de disponibilizar mais tempo para ti, a fim de te poderes dizer. Também é verdade que, por vezes, fui demasiado autoritário. No fundo, era uma tentativa de disfarçar o medo de me enganar. Agora compreendo que a missão paternal não é uma questão de força e autoritarismo, mas antes de amor e diálogo. Quando me apercebo de que estás a ter dificuldade em gerir os teus próprios problemas sinto-me muito assustado, pois tenho medo que te desorientes.

Não imaginas como sou feliz quando vejo que tens sucesso e te sinto identificado com os grandes valores. Nesses momentos considero-me a pessoa mais feliz do mundo! Quando isto acontece, tu tornas-te um ídolo para mim. Só me apetece falar de ti a toda a gente. Como vês, tu és um suporte para a minha felicidade paternal. Preciso de te sentir forte para me sentir seguro na minha missão paternal. Os teus sucessos são para mim a coisa mais importante da vida. Quando vejo que és verdadeiro, leal e sincero, agradeço muito a Deus e desaparecem muitos dos meus receios.

Tenho a certeza de que quero sinceramente a tua felicidade. Mas por vezes penso que sou eu a medida dessa felicidade. Por isso a tentação de pretender ser a tua medida, esquecendo-me de que és uma pessoa única, original e irrepetível. Agora começo a compreender que a grandeza da minha missão paternal está no facto de ser uma mediação para que possas sentir-te apoiado e amado, condição para te sentires capaz de optar pelo melhor.

Muitas vezes pensei que o modo de fazer de ti uma pessoa a sério era dar-te ordens. Agora começo a entender que o essencial da missão paternal é o amor. Às vezes não cumpri o que dizia. Mas agora penso que é fundamental cultivar a fidelidade à palavra. Peço-te para compreenderes que também eu sou uma pessoa falível.

Hoje compreendo que foi um erro comparar-te com outras crianças. Eu queria apenas estimular as tuas capacidades e dar-te razões para avançar, mas acabei por te prejudicar. Tenho dificuldade em aperceber-me do teu crescimento. A minha tendência é ver sempre em ti a criança frágil e sem possibilidades de se defender. Eis a razão pela qual tinha tendência a substituir-te.

Hoje compreendo que não havia razão para o meu azedume no período da tua adolescência. Quando começaste a querer agir por ti eu assustei-me e pensei que já não gostavas de mim ou então, o que seria muito pior, estavas a desprezar-me e a troçar de mim. Tomei as tuas tentativas de conquistar autonomia como faltas de amor. Agora sei que não é assim. Pelo contrário, compreendo que essa vontade de autonomia é um passo fundamental para o teu amadurecimento como pessoa humana.

Estou convencido de que a melhor maneira de aceitares o que fiz por ti é começares a agir e a tentar construir uma história própria e com sucesso. Já sei que não estás a crescer para seres meu filho ou filha, mas para seres pai ou mãe dos meus netos. Este passo é difícil e doloroso para os pais, mas é fundamental para a felicidade dos filhos. Tu sabes bem que, se falhares como filho, a sociedade passará a olhar-me como uma pessoa que falhou na sua missão paternal. Tudo isto condicionou muito a minha maneira de me relacionar contigo.

Arrependo-me de ter sublinhado tanto os erros que cometias e exigindo muitas justificações. Agora compreendo que a melhor maneira de corrigir os filhos é dialogar, compreender e perdoar. Por vezes assustei-me com a novidade e a diferença que começou a emergir em ti à medida em que ias crescendo. Agora vejo essa diferença com admiração e carinho e compreendo que ela deriva do facto de seres uma pessoa única, original e irrepetível.

Hoje sinto que é injusto exigir que os filhos façam aquilo que nós não fazemos. Tem mais autoridade a pessoa que age de acordo com o que diz e apenas exige que os outros façam na medida em que ela faz. É bem verdadeiro o ditado popular que afirma: “As palavras movem, mas os exemplos arrastam”.

Hoje entendo bem a importância de ter sido teu confidente. Por vezes o cansaço de um dia de trabalho era a desculpa para não te escutar. Desculpa por não te ter dado o tempo de que precisavas para me falar das tuas coisas. Queria pedir-te para não te tornares demasiado exigente quando me julgas. Sou uma pessoa humana e, como sabes, as pessoas humanas têm limitações.

Gostava de pedir-te para procederes de forma a eu entender que, de facto, gostas de mim. De uma coisa estou certo e queria que ficasses seguro dela: Se fosse necessário, estava disposto a dar a minha vida por ti. Podes ter a certeza do que acabei de afirmar.

Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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