a) Ser Cristão é Ser Evangelizador
b) Evangelizar é Anunciar a Alegria da Fé
c) Evangelizar é Contar Uma História
d) Evangelizar é Anunciar a Nova Aliança
e) Como Anunciar a Realeza de Cristo
f) Evangelizar é Falar da Beleza de Deus
a) Ser Cristão é ser Evangelizador
Todos os cristãos estão chamados a ser anunciadores de Cristo ressuscitado. Este chamamento vem do próprio Cristo ressuscitado que nos dá o Espírito Santo, a fim de iluminar a nossa mente e fortalecer o nosso coração para o serviço do Evangelho.
No dia a dia da nossa vida, o Espírito Santo consagra-nos para realizarmos de modo adequado e cada qual com os seus talentos, a evangelização no nosso mundo. O Espírito Santo ajuda-nos a compreender o sentido das Escrituras, tornando-nos aptos para anunciar a Palavra que nos faz compreender e saborear o projecto de Deus.
A acção evangelizadora do cristão é uma exigência que deriva da sua própria Fé. Na verdade, sem o dom da Fé, ninguém pode ser evangelizador, pois não tem condições para saborear o sentido do plano salvador de Deus. A acção evangelizadora é o modo concreto de o cristão viver o baptismo no Espírito, isto é, a dinâmica reveladora do Espírito Santo, a qual nos confere a sabedoria do Evangelho.
Evangelizar é contar a história de um amor incondicional, o qual confere um sentido pleno à nossa existência na História. Evangelizar é proclamar a divinização do Homem, graças ao dom do Espírito Santo que nos incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-17).
Pelo baptismo os cristãos são consagrados, isto é, capacitados e postos ao serviço da evangelização dos irmãos. Deus conta connosco segundo os talentos que temos. É com o leque de talentos que temos que o Espírito Santo nos consagra para a tarefa da evangelização do mundo.
A Palavra de Deus faz emergir no nosso coração a Sabedoria que vem do alto a qual nos capacita para saborear o plano salvador de Deus. Como sabemos, a Fé brota da Palavra. Ao dizer no nosso coração o sentido profundo da Palavra de Deus, o Espírito Santo comunica-nos os dons que nos capacitam para a obra do Evangelho.
Eis o que São Paulo diz a este respeito: “Por seu lado são estes os frutos do Espírito Santo: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e auto domínio” (Ga 5, 22-23). À medida em que o cristão possui uma Fé bem fundamentada na Palavra de Deus, torna-se mediação do Espírito Santo, a fim de o amor salvador de Deus ser anunciado aos homens.
O evangelizador precisa da força que vem do Espírito Santo, a fim de ter a coragem necessária para denunciar os falsos deuses que dominam os homens e os impedem de ser livres e felizes. Eis alguns desses falsos deuses que se manifestam no nosso mundo: Fome de poder, apego exagerado ao dinheiro, ânsia de ser famoso, desejo de dominar e explorar os outros.
São Paulo dizia que a sua vocação de evangelizador é uma graça muito especial de Deus. Na Carta aos Efésios São Paulo fala desta graça especial que torna apto o evangelizador. Eis as suas palavras: “Foi-nos dada a graça de anunciar aos gentios a maravilhosa salvação de Jesus Cristo” (Ef 3, 8).
No nosso coração, o Espírito Santo repete em cada dia da nossa vida as palavras que Jesus disse aos discípulos: “A Seara é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, ao dono da seara que mande operários para a sua seara” (Lc 10, 4-5). Os cristãos que escutam no seu coração os apelos do Espírito Santo compreendem bem as palavras que o evangelho de São Mateus põe na boca de Jesus quando diz: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens” (Mt 5, 13).
E um pouco mais à frente, Jesus acrescenta: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte. Também não se acende a candeia para a colocar debaixo da mesa, mas sim em cima do candelabro, a fim de iluminar as pessoas. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que vendo as vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5, 14-16).
Como ternura maternal de Deus, o Espírito Santo gera no interior do cristão um coração evangelizador semelhante ao de Jesus. O evangelho de São Mateus pede-nos para modelarmos o nosso coração em harmonia com o coração de Jesus, pois este é o modo de sermos eficazes na obra da evangelização. Eis as palavras de Jesus: “Tomai sobre vós a minha carga e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração. Deste modo encontrareis alívio para as vossas vidas” (Mt 11, 29).
Graças ao dom da Fé, os cristãos sabem que não estão sozinhos para realizar a enorme missão da evangelização do mundo. O Espírito Santo é o primeiro protagonista desta tarefa grandiosa. É ele que nos capacita, tornando-nos fortes e ousados, conscientes de que não estamos sozinhos na tarefa da evangelização.
O Novo Testamento insiste em que a Fé nos faz participar do próprio poder de Deus, capacitando-nos para fazermos maravilhas. Eis algumas afirmações dos evangelhos que nos asseguram de que podemos dispor da força de Deus para realizarmos a obra do Evangelho: ”Se acreditas, todas as coisas são possíveis para aquele que acredita” (Mc.9,23).
A fé converte-nos em crentes capazes de realizarmos as maravilhas que Deus realiza pelos seus apóstolos. Mas temos de estar sempre preparados através da oração e meditação das Escrituras. Eis o que diz o evangelho de São Lucas: “Jesus abriu-lhes a mente, a fim de entenderem as Escrituras” (Lc.24,45).
No evangelho de São Marcos, Jesus dá-nos a garanti de que, se acreditarmos, e tomarmos Deus a sério teremos pleno sucesso nas nossas vidas: “Todas as coisas são possíveis para aquele que acredita” (Mc.9,23). E São Mateus acrescenta: “Se tiveres fé nada será impossível para ti” (Mt.17,21). E ainda: “Faça-se segundo a tua fé” (Mt.9,29).
Na verdade, Deus está em nós e por nós, embora nunca esteja em nosso lugar. O Espírito Santo optimiza as nossas capacidades e possibilita-nos a realização de maravilhas, embora sem jamais nos substituir. Quando agimos movidos pela Fé, o nosso pensamento e a nossa acção ficam em sintonia com Deus.
Eis como São Paulo explica isto na Carta aos Romanos: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir sobre a vontade de Deus, descobrindo o que é bom, agradável e perfeito” (Rm.12,2).
Mas nada disto acontecerá se não soubermos com quem podemos contar. O evangelho de São João diz-nos claramente que a nossa vida só dará frutos de vida se estivermos unidos a Cristo. Ele é a cepa da videira e nós os ramos. A seiva que alimenta esta união orgânica, dinâmica e fecunda é o Espírito Santo, como diz Jesus:
“Permanecei em mim que eu permanecerei em vós. Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).
É fundamental estarmos unidos a Cristo e deixarmo-nos conduzir pelo Espírito Santo, a fim de a nossa acção evangelizadora ser fecunda.“Se vivemos pelo Espírito Santo, diz São Paulo, devemos também orientar a nossa vida em harmonia com o mesmo Espírito Santo” (Ga.5, 25).
b) Evangelizar é Anunciar a Alegria da Fé
Jesus de Nazaré veio revelar aos homens o amor incondicional de Deus. Testemunhou este amor de modo muito claro sobretudo nas suas atitudes para com os doentes, os pobres, as crianças, os mais fracos e desprotegidos. Através do seu modo de agir e falar, as pessoas entendiam o jeito de Deus as amar e a força libertadora do seu amor.
As atitudes de Jesus revelavam de modo muito claro que Deus Pai acolhe os seres humanos como filhos sem estar à espera de que estes o amem primeiro. Podemos dizer a mesma coisa do amor de Deus Filho para connosco. Na verdade, o Filho Eterno de Deus não esteve à espera que fôssemos bons para encarnar, fazendo de nós irmãos seus.
Jesus foi um sinal muito claro do amor incondicional de Deus por nós, sobretudo pelo modo como nos amou até à morte. Através de histórias e parábolas, Jesus ensinou-nos que mesmo nas alturas em que viramos as costas ao amor de Deus, ele não se esquece de nós, como diz a parábola do Filho Pródigo. Pelo contrário, o Pai vem todos os dias ao alto da colina para ver se o filho pródigo já está de regresso a casa.
Com esta parábola, Jesus quis ensinar-nos que Deus Pai, com um coração cheio de misericórdia está sempre disposto a acolher de braços abertos o filho perdido. Depois de o acolher, veste-lhe um fato novo e manda-o entrar para a sala dessa festa.
O conhecimento do amor e da ternura de Deus por nós é um dom que o Espírito Santo nos concede de modo gradual e progressivo. À medida em que nos faz experimentar o amor incondicional de Deus, o Espírito Santo convida-nos a anunciar aos homens a força libertadora do amor de Deus. Por outras palavras, o Espírito Santo que consagrou Jesus para anunciar o Evangelho aos pobres e libertar os cativos, consagra-nos também a nós para continuarmos a mesma missão.
Quando o Espírito Santo nos faz saborear a ternura de Deus, desperta imediatamente no nosso coração o desejo de anunciar a Boa Nova do amor de Deus aos irmãos. A conversão de São Paulo é o testemunho mais claro de como o Espírito Santo não separou a experiência do amor de Deus por si e o renascer de uma paixão enorme pela evangelização dos irmãos:
“Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher que estava sob o domínio da Lei de Moisés, a fim de resgatar todos os que se encontravam sob o domínio desta Lei. E foi assim que nós, libertos da Lei de Moisés, recebemos a adopção de filhos de Deus. E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo o qual clama em nós:”Abba” ó Pai. Deste modo já não és servo de Deus mas filho. E se és filho também és herdeiro, pela graça de Deus” (Ga 4, 4-7).
Podemos dizer com toda a verdade que a grande paixão de Jesus foi anunciar aos seres humanos a grandeza do amor de Deus por nós. Quando saboreamos o amor de Deus pelos seres humanos, compreendemos que a missão evangelizadora é um acto de grande amor pela Humanidade. Deus chama-nos a anunciar o Evangelho da bondade de Deus aos homens de todas as raças, línguas, culturas e nações. Quando o fazemos, somos nós os primeiros a ser evangelizados e configurados com Cristo.
c) Evangelizar é contar uma História
Evangelizar é contar uma história de amor cheia de sentido para a vida humana. Esta história é fecunda, pois assenta na verdade de Deus e do Homem. Por outras palavras, a acção evangelizadora tem uma enorme força libertadora por ser a narração da verdade de Deus e do Homem: Podemos dizer que Jesus Cristo é o ponto de encontro da verdade de Deus com a verdade do Homem. É esta a razão pela qual Jesus disse aos discípulos que ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14, 6).
Ao ressuscitar, Jesus enviou-nos o Espírito Santo o qual, como diz Jesus no evangelho de São João, nos conduz de modo gradual e progressivo para a verdade total (Jo 16, 13). Através das suas palavras e do seu jeito de actuar, Jesus foi o grande narrador da história do amor incondicional de Deus por nós. Depois, ao ressuscitar, comunicou-nos a força e a sabedoria do Espírito Santo, a fim de nos capacitar para evangelizarmos o nosso mundo. Segundo o evangelho de São João, Jesus vivia de tal modo unido ao Pai que um dia afirmou: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). O evangelho de São Lucas diz que o conhecimento de Jesus sobre a verdade de Deus e do Homem era perfeito.
Um dia, Jesus exultou de alegria pela força do Espírito Santo, pois deu-se conta de que alguns dos seus ouvintes estavam a acolher a verdade de Deus no seu coração. Este relato de São Lucas é um excelente exemplo da alegria que invade o coração do evangelizador, ao verificar que a sua palavra está a ser acolhida.
Eis as palavras de Jesus no evangelho de São Lucas: “Naquele momento, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai e ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai, como ninguém conhece quem é o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
Depois, voltando-se para os discípulos, disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver. Porque eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que vedes e o não o viram, ouvir o que ouvis e não o ouviram!” (Lc 10, 21.24).
Jesus ensinou-nos que Deus Pai, nos ama de modo incondicional. Na verdade, Deus não esteve à espera de que fôssemos bons para gostar de nós. Na parábola do Filho Pródigo, Jesus ensina-nos que Deus Pai tem um coração cheio de bondade para connosco. Todas as tardes dizia Jesus, o Pai vinha ao alto da colina, a fim de ver se o filho que tinha fugido estava de regresso. Num dia de sol, mesmo à tardinha, o Pai avista ao longe o filho que regressa. Com os braços abertos corre ao encontro do filho. Cheio de ternura beija-o e leva-o para casa, vestindo-lhe o fato da festa (cf. Lc 15, 25-32).
Com esta parábola, Jesus quis ensinar-nos que o Pai nos ama sempre, apesar de sermos pecadores. O Espírito Santo, no nosso íntimo, ajuda-nos a fazer a experiência deste teu amor por nós. É também o Espírito Santo que nos dá a sabedoria necessária para anunciarmos aos nossos irmãos este teu amor infinito por todas as pessoas.
Na verdade, evangelizar é anunciar aos homens uma história de amor incondicional que diz respeito a todos os homens. Com efeito, a Palavra Deus projecta uma luz sobre os acontecimentos, ao ponto de mesmo alguns acontecimentos que parecem tirar sentido à vida acabam por ter sentido quando olhados à luz da Vossa Palavra.
Podemos dizer que a Palavra potencia o sentido daquilo que já o tem e confere sentido àquilo que, à simples luz da razão, parece não o ter. É a revelação que faz emergir no coração e na mente dos crentes a vida teologal, distinguindo-o dos demais crentes pelo modo novo de ver e ajuizar acerca dos acontecimentos. À medida em que o crente vai cresce nesta vida teologal, torna-se sal, luz e fermento no mundo.
A vida teologal é a sabedoria que emerge no coração dos crentes à medida em que o Espírito Santo nos vai confidenciando os mistérios de Deus. Pouco a pouco, a revelação de Deus vai respondendo a questões deste tipo: Quem somos? Qual o nosso lugar no plano salvador de Deus? Como é o Deus que nos está criando e salvando em Cristo?
No coração da revelação está, pois, o mistério da Encarnação e o sentido que ele tem para a salvação da Humanidade. Pela revelação nós compreendemos que o divino se enxertou no humano para que este seja divinizado. Se assim não fosse, a Encarnação seria apenas uma visita que Deus nos fez através da segunda pessoa da Santíssima Trindade.
À luz da fé, a nossa meta é incorporação na Família Divina como filhos em relação a Deus Pai e como irmãos em relação a Deus Filho. O sentido máximo da vida humana é, naturalmente, Jesus de Nazaré, um homem em tudo igual a nós excepto no pecado. Se é homem perfeito quer dizer que faz um todo orgânico connosco. Um homem só é perfeito na medida em que está interligado com toda a Humanidade. Se além de ser um homem perfeito, Jesus é ainda o ponto de união do humano com o divino, então a Humanidade está organicamente unida à Divindade.
A plenitude do humano, portanto, é a divinização mediante a assunção e incorporação orgânica na comunhão familiar da Santíssima Trindade. É este o sentido profundo que a revelação confere à vida humana. No entanto, não devemos pensar que Deus nos substitui, fazendo aquilo que nos compete a nós fazer.
Na verdade, Deus apenas diviniza aquilo que o homem humaniza. A humanização é uma tarefa que compete a cada ser humano e que ninguém pode realizar por nós. É verdade que começámos por ser aquilo que os outros fizeram de nós. Dos outros recebemos as possibilidades de humanização ou os talentos. Mas o mais importante não são os talentos que recebemos, mas a maneira como os fazemos render. A lei da humanização é: Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal.
A pessoa é, portanto, um ser em construção. Quanto mais emerge em densidade espiritual e capacidade de interagir amorosamente com os outros, mais converge para o todo orgânico que é a Humanidade. Esta constitui-se como um entretecido orgânico universal onde a riqueza de cada pessoa circula pela totalidade humana.
Entramos de modo activo na Comunhão Universal na medida em que emergimos mediante atitudes, escolhas e opções de amor. Quem não teve oportunidade de fazer tais opções faz parte desta orgânica mas de modo passivo, isto é, atingindo a sua plenitude humano-divina recebendo mais que dando. Jesus ensinou aos seus discípulos que é melhor dar que receber (Act 20, 35). Estas pessoas encontram-se plenamente realizadas na plenitude da comunhão humano-divina, mas recebendo mais do que dando.
A grande tarefa da pessoa, portanto, é a sua humanização, respondendo fielmente aos apelos do Amor. O poder de Deus é, afinal, o poder do Amor. Se Deus é Amor, então os atributos divinos são apenas os atributos do Amor. Deus é só Amor porque é plenitude de pessoas em comunhão.
A Humanidade, apesar de não ser ainda uma comunhão perfeita, está em processo de amorização. Ainda não é uma plenitude amorosa, mas está a caminhar para lá. Eis a razão pela qual o Amor é a dinâmica que está a fazer avançar o processo da humanização. As pessoas vão emergindo como seres livres, conscientes, responsáveis e capazes de comunhão amorosa.
É por este motivo que podes dizer que a plenitude da pessoa é a comunhão universal do Reino de Deus. Nesta comunhão universal ninguém está a mais, pois cada pessoa emerge de modo único, original, e irrepetível. Quanto mais emergirmos como pessoas na História, mais capazes seremos de participar na plenitude da Comunhão Universal, cujo coração é a Santíssima Trindade. Com efeito, será eternamente mais divino quem mais se humanizar agora.
Eis a grande síntese da história de amor que o evangelizador tem para contar. Trata-se de uma história que confere sentido pleno à vida do Homem. Trata-se de umas história que temos de contar, a fim de ajudar os seres humanos a encontrar razão para viver, gastando a vida pelas causas do amor. À medida em que o cristão evangeliza está a possibilitar aos seres humanos o conhecimento e a experiência da ternura de Deus por eles.
Ao contar às pessoas esta história do amor de Deus, o evangelizador procura motivar as pessoas a acolher a salvação, permitindo ao Espírito Santo que as conduza para a Comunhão da Família Divina. Mas devemos saber que a salvação é um dom que a pessoa pode aceitar ou não. O evangelizador deve motivar as pessoas no sentido de as levar a aceitar com alegria e gratidão a salvação que Deus nos oferece em Cristo.
d) Como Anunciar a Nova Aliança
Por ser eterna, a Nova Aliança já estava presente como fonte inspiradora no momento em que Deus sonhou Universo e o Homem que o habita: “Deus escolheu-nos em Cristo antes da fundação do mundo, a fim de sermos santos e irrepreensíveis na sua presença e vivermos no amor. Predestinou-nos para sermos adoptados como seus filhos por meio de Jesus Cristo, de acordo com a sua vontade” (Ef 1, 4-5).
Este plano esteve oculto durante milénios, mas foi dado a conhecer na plenitude dos tempos, diz a Carta aos Efésios: “Agora podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, o qual não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas pelo Espírito Santo” (Ef 3, 4-5).
O Deus Aliança é fiel e verdadeiro, pois a Nova e Eterna Aliança representa a plenitude de um projecto querido por Deus ainda antes de ele ter iniciado a génese da Criação. A Antiga Aliança foi um passo fundamental para Deus conduzir a Humanidade até Jesus Cristo. Mas o seu plano criador tinha como meta e cúpula da Criação a Nova e Eterna Aliança.
A Antiga Aliança era o sinal da acção pedagógica o Espírito Santo que foi preparando a Humanidade para a plenitude dos tempos, introduzindo a Humanidade no único Reino de Deus, diz a Carta aos Efésios: “Com efeito, Cristo é a nossa paz. De dois povos fez um só, anulando o muro da separação que os dividia: a Lei de Moisés com suas normas, preceitos e leis, a fim de criar um só Homem Novo com judeus e pagãos. Portanto, os pagãos já não são estrangeiros nem imigrantes, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Ef 2, 14.19).
O Novo Testamento repete várias vezes que a Antiga Aliança estava em função da Nova e Eterna Aliança: “Antes de chegar a plenitude da Fé estávamos prisioneiros da Lei Mosaica. Por isso era preciso que a Fé se revelasse. A Lei tornou-se o nosso pedagogo até Cristo, a fim de sermos justificados pela Fé. Agora já sois filhos de Deus, por isso não estais sob o domínio do pedagogo. Já não há judeu ou grego. Não há escravo ou homem livre. Não há homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus ” (Ga 3, 23-29).
A antiga Aliança tinha como alicerce a Lei de Moisés, a qual se multiplicava em normas, preceitos, ritos e mandamentos que não tinham qualquer eficácia para a obtenção da salvação. A Nova Aliança tem como alicerce o dom do Espírito, o qual realiza em nós a obra da salvação, diz São Paulo na Carta aos Gálatas: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm 8, 14).
Viver a dinâmica da Nova aliança significa deixar-se conduzir pelo Espírito Santo: “Eis os frutos do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e auto-domínio. Contra tais coisas não há Lei” (Ga 5, 22). A Antiga Aliança foi superada pela Nova e Eterna Aliança, tal como as metas que estão em função de um objectivo são superadas quando o objectivo é atingido.
De facto, a Nova Aliança não é uma simples continuidade em relação à Antiga, tal como Cristo não está apenas numa linha de continuidade em relação a Moisés. Pelo contrário, a Nova e Eterna Aliança representa um salto de qualidade em relação à Antiga Aliança.
Com efeito, a libertação e a divinização do Homem, realizada pela Encarnação, não está numa simples continuidade em relação à libertação dos hebreus da escravidão do Egipto. Entre estes dois acontecimentos existe, na verdade, uma diferença qualitativa. A libertação realizada pela Nova e Eterna Aliança tem o alcance de uma salvação definitiva, a qual implica a assunção e incorporação da humanidade na Família da Santíssima Trindade (Jo 1, 12-14).
Já no livro do profeta Ezequiel Deus promete ao povo uma Nova aliança, a qual será mais perfeita do que a Antiga: “Lembrar-me-ei da Aliança que fiz contigo, no tempo da tua juventude e estabelecerei contigo uma Aliança Eterna. Estabelecerei contigo a minha Aliança e então saberás que eu sou o Senhor, a fim de que te lembres de mim” (Ez 16. 60-63).
Segundo o profeta Jeremias, a Nova aliança assenta em novos alicerces, pois terá como fundamento um coração renovado pelo dom do Espírito Santo: “Dias virão em que estabelecerei uma Nova Aliança com a casa de Israel e a casa de Judá, oráculo do Senhor. Não será como a Aliança que estabeleci com seus pais, quando os tomei pela mão para os fazer sair da terra do Egipto, aliança que eles não cumpriram, embora eu fosse o seu Deus, oráculo do Senhor. Esta será a aliança que estabelecerei com a casa de Israel, depois desses dias, oráculo do Senhor: Imprimirei a minha Lei no seu íntimo e gravá-la-ei no seu coração. Serei o seu Deus e eles serão o meu povo.” (Jer 31, 31-33).
A Nova Aliança, não é escrita em tábuas de pedra, como a Antiga, mas será escrita no coração das pessoas. São Paulo diz aos membros a comunidade de Corinto que eles são uma carta de Cristo, escrita pelo Espírito Santo, pois pertencem à Nova Aliança: “A nossa carta sois vós, uma carta escrita nos nossos corações, conhecida e lida por todos os homens. Sois uma carta de Cristo confiada ao nosso ministério, escrita, não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo. Escrita, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne que são os vossos corações. Na verdade, é Deus que nos torna aptos para sermos ministros de uma Nova Aliança, não da letra, mas do Espírito, pois a letra mata, enquanto o Espírito dá vida” (2 Cor 3, 2-6).
Segundo o plano da Nova e Eterna Aliança, nós recebemos, através da ressurreição de Cristo, o dom definitivo da Salvação: o Espírito Santo que nos incorpora na Família de Deus (Rm 8, 14-17). Deste modo, diz São Paulo, Cristo torna-se o primogénito de muitos irmãos (Rm 8, 29).
e) Como anunciar a Realeza de Jesus Cristo
São Paulo diz que Jesus foi constituído rei em todo o seu poder no momento da sua ressurreição. Nesse momento ele foi ungido com a força do Espírito Santo e entronizado como rei do Universo junto de Deus Pai (Rm 1, 3-5). Podemos dizer que Jesus é rei, mas um rei que não se impõe às pessoas.
Eis como a Carta aos Colossenses descreve a realeza de Jesus: “Ele é a imagem perfeita do Deus invisível, a Cabeça de toda a Criação e o irmão primeiro de todos os seres humanos. Na verdade, foi nele que todas as coisas foram criadas, nos céus e na terra, tanto as visíveis como as invisíveis (…). Todas foram criadas por ele e para ele. Ele é anterior a todas as criaturas e todas permanecem por ele. Os cristãos são membros do seu corpo e ele é a Cabeça deste corpo. Ele é o princípio de tudo e o primeiro a ressuscitar dos mortos. Na verdade, ele é o primeiro entre todas as coisas. Com efeito, foi do agrado de Deus que habitasse nele a medida perfeita de todas as coisas, tanto das criaturas da terra como das criaturas do céu. Foi fiel até à morte de cruz e por isso a Criação encontrou nele o seu sentido pleno. Do mesmo modo, foi nele que a Humanidade foi reconciliada com Deus” (Col 1, 15-20).
Jesus é rei no sentido de ser o que nos conduz à comunhão do reino de Deus. Uma vez constituído rei, ele decidiu reinar com todos nós. Ele é rei porque nos deu a sua lei que, a qual coincide com o que é melhor para nós: o mandamento do amor. A maneira de oferecermos a Jesus condições para reinar e para reinarmos com ele é obedecermos ao mandamento do amor.
De facto, Jesus é um rei que só reina com a força do amor. É esta a razão pela qual, após a sua ressurreição, ele vem todos os dias ao nosso encontro com a força do Espírito Santo, a fim de modelar o nosso coração de acordo com o seu. Eis as suas palavras no evangelho de São João: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15, 12-13).
Quando a força de um reino é o amor, todos reinam, pois o amor cria comunhão orgânica e dinâmica. Antes da morte e ressurreição de Jesus, o Reino de Deus estava no meio das pessoas, diz Jesus no evangelho de São Lucas (Lc 17, 21).
Enquanto Jesus viveu na terra o Reino de Deus estava apenas a emergir no coração de Jesus, pois era aí que estava a acontecer o mistério da Encarnação, isto é, o enxerto do divino no humano. De facto, foi no coração de Jesus que interagiam directamente a interioridade espiritual do Filho Eterno de Deus e a interioridade do homem Jesus, o Filho de Maria.
Por outras palavras, foi no coração de Jesus que a Divindade se enxertou na Humanidade, a fim de divinizar os seres humanos. É esta a razão pela qual o Reino de Deus começou primeiro a desabrochar no coração de Jesus. No momento da sua ressurreição, o Espírito Santo faz quer o Reino de Deus esteja a crescer no coração de todos os seres humanos. Por outras palavras, no momento da sua morte e ressurreição, Jesus passou da face exterior das coisas para a face interior que é a face da comunhão profunda e universal com toda a Humanidade.
Jesus ressuscitado, agora, aproxima-se sempre de nós a partir do interior, através do Espírito Santo que ele nos comunica. Podemos dizer que Jesus ressuscitado está sempre presente. Vem todos os dias para comungar connosco. Vir significa aproximar-se para interagir e comungar connosco no nosso coração. Com a ressurreição de Jesus o Reino de Deus ficou tão perto de nós que está ao alcance de todos nós. Basta fazer silêncio para podermos entrar no nosso interior.
A Carta aos Colossenses diz que pela ressurreição de Jesus, Deus libertou-nos do reino exterior das trevas e transferiu-nos para o Reino de seu amado Filho, o qual é interior (Col 1, 13). Era isto que Jesus queria dizer quando afirmou a Pilatos que o seu Reino não é deste mundo. Na verdade o Reino de Deus é universal, isto é, presente a todos os seres humanos a partir do momento em que Jesus ressuscitou e difundiu para nós o Espírito Santo.
Jesus convida-nos a reinar com ele, pois o seu reino, por ser um reino de amor, é partilhado por todos. Ninguém se impõe aos outros, pois este reino assenta sobre os pilares da comunhão orgânica. Dizer que o reino de Deus assenta sobre os pilares da comunhão orgânica significa que a sua força vital, o Espírito Santo, circula por todos.
Eis como Jesus explicou a comunhão orgânica do seu reino: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).
Jesus foi muitas vezes a Jerusalém a proclamar a Palavra de Deus. Mas Jerusalém não aceitou a Palavra de Deus, acabando por matar Jesus. Após a morte e ressurreição de Jesus, Jerusalém foi destruída pelos romanos. Deus tomou partido por Jesus, ressuscitando-o e fazendo dele o rei de uma Nova Jerusalém.
A Nova Jerusalém é o Reino de Deus no qual há morada para todos nós e onde todos podemos reinar com Jesus. Na Nova Jerusalém, diz o livro do Apocalipse, Deus está junto de todos como um Pai bondoso está junto dos seus filhos. A Nova Jerusalém, portanto, é a morada de Deus com todos os seres humanos que escolheram o amor como seu jeito de viver.
Eis o modo como o Livro do Apocalipse descreve a morada de Deus onde também há moradas para todos nós: “Vi então um Novo Céu e uma Nova Terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham desaparecido. E o mar também já não existia! E vi descer do Céu, de junto de Deus, a cidade santa, a Nova Jerusalém, já preparada como uma noiva adornada para o seu esposo no dia do casamento. E ouvi uma voz forte que vinha do trono de Deus e gritava: “Esta é a morada de Deus entre os homens”. Ele habitará com as pessoas humanas e estas serão o seu povo. Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará todas as lágrimas dos olhos dos seres humanos. Nesse encontro de Deus com as pessoas humanas já não há morte, nem luto, nem pranto, nem medo, nem dor, pois as primeiras coisas passaram!” (Apc 21, 1-4). Depois acrescenta: “Todo o que vencer vai herdar todas estas coisas. Eu serei o seu Deus e ele será o meu filho” (Apc 21, 7).
Como sabemos, Deus é uma Família de três pessoas. Nesta família todas as pessoas reinam. A Segunda Carta de São Pedro diz que os cristãos são um povo de reis, sacerdotes e profetas, a fim de anunciarem ao mundo as maravilhas de Deus (1 Pd 2, 9). Na festa do Reino de Deus, nós formamos a grande família de Deus onde a lei é a mesma para todos: o amor.
f) Evangelizar é Falar da Beleza de Deus
A Criação está repleta de perfeições e sinais que nos falam das perfeições de Deus. Ao imprimir os sinais das suas perfeições na Criação, Deus deu-nos a possibilidade de nos elevarmos da contemplação da Criação para a contemplação do Criador. Além da natureza, Deus revelou-nos expressamente, através da sua Palavra as perfeições da sua natureza divina.
Jesus foi a expressão mais plena da perfeição e da profundidade do amor de Deus na História. Um dia, o próprio Jesus convidou os discípulos a amar, ao jeito do próprio Deus. É verdade que a perfeição de Deus é um ideal inatingível, no entanto é um ponto de referência a convidar-nos a caminhar constantemente em direcção a essa meta.
Deus é infinitamente perfeito nos que se refere às perfeições das três pessoas divinas. Na verdade, podemos falar separadamente da perfeição infinita do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Além disso, ainda podemos falar da perfeição infinita da natureza divina, a qual é comum às três pessoas.
A nossa fé diz-nos que existe um só Deus, o qual é uma comunhão de três pessoas de perfeição infinita. Na verdade, o Uno, em Deus, é a comunhão da Santíssima Trindade. As três pessoas são o plural. Apesar de ser um só Deus, a Divindade não é um sujeito, mas uma comunhão de três pessoas. É esta a razão pela qual, ao falarmos das perfeições divinas, tanto podemos falar das perfeições próprias de cada uma das pessoas da Santíssima Trindade, como das perfeições da Divindade enquanto comunhão de amor e Deus único.
A nossa fé diz-nos que a maior parte das perfeições em Deus são comuns às três pessoas divinas, como, por exemplo: A Grandeza infinita, a eternidade, o conhecimento perfeito de todas as coisas, a presença a todo o Universo e a capacidade infinita de amar.
As pessoas divinas não têm limitações ou imperfeições. As humanas, pelo contrário, têm limitações, tanto a nível corporal, como psíquico ou moral. Uma das perfeições de Deus que mais se nos impõem é a sua condição eterna. Nunca houve um tempo em que Deus não existisse. É verdade que os seres humanos, pelo facto de serem pessoas com dimensão espiritual, são imortais, mas ao contrário das pessoas divinas não existem desde sempre.
As pessoas divinas são infinitamente perfeitas. Não podem mudar para melhor, pois são sempre o melhor possível. As pessoas humanas, pelo contrário, são seres em construção e por isso estão em processo histórico de aperfeiçoamento. A natureza divina é profundamente dinâmica e geradora de novidade permanente.
Na verdade, Deus é emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em total convergência de comunhão Trinitária. Isto quer dizer que Deus é criador desde toda a eternidade, pois a natureza divina é criatividade permanente.
Podemos dizer que as relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo nunca se repetem. Quando dizemos que Deus é imutável, queremos dizer que não muda neste seu jeito de ser sempre novo. Com efeito, Deus emerge como amor paternal na primeira Pessoa da Santíssima Trindade e como amor filial na segunda. Deus emerge como amor maternal na terceira pessoa da Santíssima Trindade. Na verdade, o Espírito Santo é a ternura maternal de Deus.
O conhecimento de Deus é total e perfeito, pois todas as coisas foram criadas a partir do diálogo amoroso da Santíssima Trindade. Outra qualidade que a fé reconhece a Deus é o seu modo de estar presente a todos os lugares, apesar de não caber em nenhum.Seja qual for o lugar em que nos encontremos podemos dizer com toda a verdade: “Deus está aqui”.
De facto, Deus é a realidade que está mais perto de nós, pois encontra-se connosco no nosso coração. Quando subimos a uma montanha muito alta, não estamos mais perto de Deus do que quando descemos a um vale muito profundo. Nenhum ponto do Universo está mais perto de Deus do que outro. Por isso não precisamos de gritar para nos fazermos ouvir de Deus, pois ele está onde cada um de nós se encontra. Os Actos dos Apóstolos dizem que Deus não está longe de cada um de nós, pois nele estamos e nos movemos (cf. Act 17, 24-28).
A nossa fé proclama a santidade de Deus como uma qualidade fundamental. A santidade é igual a comunhão de amor. Se Deus é uma comunhão de amor infinito, então Deus é santidade infinita. Os seres humanos serão tanto mais santos quanto mais profunda for a densidade do seu amor.
As pessoas humanas, diz a Primeira Carta de São João, conhecerão tanto melhor a realidade de Deus quanto maior for a sua capacidade de amar: “Quem não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 Jo 4, 8). E depois acrescenta: “Quem ama permanece em Deus e Deus nele, pois Deus é amor” (1 Jo 4,16).
As Sagradas Escrituras são unânimes em reconhecer que Deus é a Verdade. Aquilo que Deus conhece das coisas, corresponde exactamente àquilo que as coisas são. Por ser a verdade, Deus nunca se engana nem nos pode enganar. Com efeito Deus é a verdade plena. Este atributo não pode ser aplicado a mais ninguém. A verdade é a compreensão e enunciação adequada da realidade: de Deus, do Homem, da História e do Universo. Por outras palavras, o que Deus conhece de Deus, do Homem, da História e do Universo corresponde exactamente àquilo que elas são.
Deus é uma comunhão de três pessoas infinitamente perfeitas. Isto quer dizer que Deus é relações de amor. A pessoa só é verdadeiramente grande quando é assumida e incorporada na dinâmica da comunhão. É este o jeito de Deus ser e também a nossa vocação a realizarmo-nos como imagem e semelhança de Deus.
A comunhão nunca anula a pessoa. Pelo contrário, optimiza tudo aquilo que ela é e possibilita a emergência de todas as possibilidades de felicidade que possam existir no seu ser. Deus é amor e a pessoa humana realiza-se na medida em que se constrói à imagem e semelhança de Deus.
Por outras palavras, tornamo-nos imagens perfeitas de Deus na medida em que morremos ao egoísmo e emergimos em dinâmica de amor. Não há amor sem relações. Quando dizemos que Deus é amor estamos a dizer que Deus é relações de comunhão amorosa. O amor é a qualidade máxima das relações interpessoais e comunitárias.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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