I. Criação, Promessa e Aliança no Génesis
a) Relatos do Génesis e História da Salvação
b) Textos Significativos
II. O Êxodo Como Nascimento Histórico de Israel
a) O Livro do Êxodo
b) A Realização da Promessa
I. Criação, Promessa e Aliança no Génesis
a) Relatos do Génesis e História da Salvação
O livro do Génesis é, na realidade, uma introdução ao Êxodo, o poema dos altos feitos de Deus e das maravilhas que o Senhor operou em favor do seu Povo. As histórias dos patriarcas são feitas dentro de um mesmo modelo. Todas têm como pano de Fundo a posteridade de Abraão, Isaac e Jacob como o povo eleito. Está presente a Terra Prometida, a estadia do povo no Egipto, e o acontecimento da libertação. Os relatos do livro do Génesis foram escritos tendo como pano de fundo a tradição da libertação do Egipto e a experiência da Aliança de Deus feita a David (cf Sal 89).
Podemos dizer que os relatos do livro do Génesis pertencem à história da Humanidade apenas na medida em que lhe conferem sentido. Isto é evidente, por exemplo no relato da permanência no Paraíso (Gn 2, 4-3, 24). A história está cheia de descrições simbólicas como a Árvore da Vida ou a serpente maldosa, as quais já existiam no folclore antigo.
A existência humana é personalizada na figura de Adão. O Homem vem da terra, mas a sua humanização não é produto da terra. O Senhor Deus insufla nas suas narinas o sopro da vida graças ao qual o homem se torna um ser vivente. O Homem está talhado para a relação com Deus e, como demonstra o relato da criação da mulher, talhado igualmente para a relação com os demais seres humanos. Apenas pode realizar-se e atingir a sua plenitude nesta interacção humano-divina.
A vida, portanto, é um diálogo entre o Homem e Deus. O Espírito de Deus, o sopro de vida, é quem nos capacita para esta dinâmica relacional. O pecado surge aqui como uma opção do Homem contra Deus. Mais à frente, no relato do dilúvio verificamos que Deus tem intenção de salvar a Humanidade. Por isso poupa um resto fiel, isto é, o núcleo familiar de Noé.
O tema do pequeno resto é muito importante na Bíblia, pois significa que Deus vai recriar a Humanidade a partir de um pequeno resto de homens fieis. Eis algumas passagens que nos dão a entender a importância do resto fiel no plano de Deus
Sir 47, 22: “Deus não esqueceu a sua misericórdia, nem anulou a sua palavra. Não arrancou pela raiz a posteridade do seu escolhido. Por isso deixou um resto a Jacob e a David um rebento da sua linhagem”;
Is 10, 20-21: “Naquele dia, o resto de Israel e os sobreviventes de Jacob já não voltarão a apoiar-se no seu agressor, mas apoiar-se-ão, no Senhor o santo de Israel. Um resto de Jacob voltará para o Deus Forte”;
Is 10, 32: “De Jerusalém sairá um resto, os sobreviventes do Monte de Sião”;
Jer 23, 3: “Vou reunir o resto das minhas ovelhas espalhadas pelos países em que as exilei. Fá-las-ei voltar às suas pastagens onde crescerão e se multiplicarão”;
Mq 2, 12: “Eu te reunirei ò Jacob na totalidade dos sobreviventes. Congregarei o resto de Israel”.
A Torre de Babel é a confirmação de que não basta a ciência, a técnica, a cultura e a arte para o Homem atingir a sua plenitude. O Homem precisa de escutar e seguir a Palavra do Senhor. Sempre que o Homem faz novas conquistas a nível da ciência, da técnica ou das artes crescem as possibilidades do bem e do mal. Desde o pecado de Adão até ao chamamento de Abraão, a Humanidade progrediu muitíssimo na ciência, na técnica e na cultura. Mas o mal também não deixou de aumentar. A Torre de Babel leva o Homem a querer colocar-se no lugar de Deus.
Deus vai escolher um novo medianeiro para difundir a sua bênção para toda a Humanidade. Chama Abraão, a fim de formar um povo que seja, no meio dos outros povos, o portador da Palavra e das bênçãos de Deus para os demais povos (Gn 12, 2-3). Com o chamamento de Abraão, Deus inicia uma dinâmica nova na história: a dinâmica da Aliança, mediante a qual o Senhor Deus passa a fazer história com o Homem, através do seu povo. O objectivo de Deus é reconstruir uma Nova humanidade.
Os relatos sobre Isaac e Jacob estão decalcados sobre o relato de Abraão. Apresenta exactamente os mesmos motivos. Na realidade não se trata de biografias mas relatos nos quais o autor personaliza a história de Israel, sobretudo os altíssimos feitos de Deus associados ao Êxodo. Abraão é mais que um indivíduo. Ele é o protótipo do povo com o qual o Senhor Deus fez uma aliança.
O autor Javista, responsável por estes relatos, confere ao período patriarcal uma unidade que, na realidade, só aconteceria com a confederação tribal e, sobretudo com a monarquia, durante o período de David e Salomão. Com a morte de Salomão o reino de David divide-se e rompe-se a unidade da confederação tribal (1 Rs 12, 16-24; 2 Cron 10, 16-19).
Eis as passagens mais significativas:
Gn 1, 1-2, 4 a: Deus cria por amor. A criação é resultado de uma decisão de Deus. Deus é criador desde toda a eternidade. Mesmo que não tivesse feito surgir criaturas exteriores a si, Deus seria plenamente criador no interior das suas relações de amor.
v. 6-7: Deus disse: que exista um cúpula, no meio das águas, a fim de separar umas águas das outras. Então o Senhor Deus fez a cúpula e separou as águas que estão sob a abóbada celeste das águas que estão acima dela.
v. 26-27: Então o Senhor disse: “façamos o Homem à nossa imagem e semelhança, a fim de dominar sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, os animais selvagens, bem como os animais que rastejam sobre terra. Então o Senhor Deus criou o Homem à sua imagem, criou-os à imagem de Deus e fê-los varão e mulher (O plural significa que a decisão foi tomada em conselho divino).
Gn 2, 4 b-2, 24: Segundo Relato da Criação. Mais que de um relato de criação, trata-se de uma introdução ao relato da queda original e a difusão orgânica do mal a partir de um pecado primordial.
v. 7: Então o Senhor Deus formou o Homem do pó da Terra e soprou nas suas narinas o sopro de vida. E o Homem tornou-se um ser vivente.v. 8-9: O Senhor Deus plantou um jardim no Eden a oriente e aí colocou o Homem que tinha formado. O Senhor Deus fez nascer as árvores agradáveis ao olhar e boas para comer. No meio colocou a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal.
v. 15-16: O senhor Deus colocou o homem no jardim do Eden, a fim deste o cultivar e guardar. Então o Senhor disse ao Homem: “podes comer livremente os frutos de todas as árvores. Mas não comas o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, pois no dia em que comeres desse fruto morrerás. Só Deus pode decidir o que é bem e mal, pois não se trata de uma questão arbitrária ou caprichosa.
v. 18: Então o Senhor Deus disse: “Não é bom que o varão esteja só. Vou fazer-lhe (Deus fala em singular) um auxiliar que seja seu companheiro. v 23-24: Nesse momento, Adão exclamou: “Este é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Esta será chamada mulher, pois foi tomada do varão. Por isso o varão deixa pai e mãe e une-se à sua mulher e os dois tornam-se uma só carne. O osso dos meus ossos e carne da minha carne é para dizer que nenhum animal era proporcional ao homem.
Gn 3, 1-6: A Serpente. Eva deu ouvidos à serpente. O melhor é nunca discutir muito com a tentação, sobretudo quando esta é perigosa. A tentação surge sempre de modo subtil, como sugestão alternativa ou insinuação de uma experiência diferente. Eva comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal.
Gn 3, 7-13: A Nudez de Adão e Eva. O homem foi criado em perfeita harmonia com Deus, isto é, agia de acordo com a sua consciência. Deus vinha todas as tardes dialogar com Adão e Eva: a consciência é o altifalante de Deus. Os olhos de Adão e Eva abriram-se e descobriram que estava nus. O Homem percebeu que está aberto à transcendência e que não pode atingir a sua plenitude sozinho. O Homem precisa de Deus para atingir a sua plena humanização.
O Homem teve medo e escondeu-se. Deus chama-o e pergunta-lhe onde está. Deus sabe bem onde está mas pergunta a Adão se quer ou não continuar a Aliança que tinham feito, apesar desta rotura. Deus nunca se impõe. Surge e propõe-se. A última palavra é do Homem.
O Homem não pode deixar de ser criatura de Deus. Mas pode deixar de ser filho de Deus. Por outras palavras, se a pessoa humana assim o decidir, Deus não consegue impedir a perda de um filho. De facto, o amor propõe-se, não se impõe. Se a pessoa humana decide condenar-se, nem Deus o consegue evitar. Ninguém se condena por decisão de Deus. A condenação é sempre uma decisão pessoal.
Deus é amor. Pode tudo o que pode o amor, mas não pode nada que negue o amor. Deus começou logo a vestir Adão e Eva, isto é, a restaurar a sua dignidade pessoal, condição para entrar em comunhão com Deus.
Gn 3, 15-16: Porei inimizade entre ti e a serpente, entre a tua descendência e a descendência da mulher. O pano de fundo é a descendência dos patriarcas, o povo de Deus liberto da escravidão do Egipto. Este, graças aos altos feitos de Deus, vence a serpente, símbolo do deus Faraó, inimigo de Deus.
A descendência individualiza-se de modo especial no filho de David, o qual será um filho para Deus (cf 2 Sam 7, 12-16) . É pelo filho de David que chegam ao povo as bênçãos prometidas a Abraão. Com efeito, o filho de David é o sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec, o qual abençoa Abraão e oferece a Deus um sacrifício de pão e vinho.
Gn 3, 21-22: Deus fechou as portas do Paraíso, pois estava lá a árvore da vida. O Paraíso não está no começo, mas na plenitude.
Gn 4, 2-5: Abel era pastor e Caim agricultor. Este pormenor tem uma história de conflitos entre pastores e agricultores. Abel, o pastor, simboliza os patriarcas que eram pastores; simboliza Moisés que era pastor; simboliza Israel que era pastor, ao contrário de Canaã; simboliza David que era pastor, ao contrário de Saul que era agricultor. Caim teve um filho chama Enoc. Este foi o construtor da primeira cidade, isto é, o autor da vida sedentária (Gn 4, 17). Deus olhou para a oferenda de Abel, aceitando-a com agrado, rejeitando a de Caim.
Gn 4, 8- 14: O Fratricídio de Caim. A inveja de Caim conduziu-o ao crime do fratricídio... Deus toma partido. Yahweh está do lado da vida. Sou porventura o guarda de meu irmão, responde Caim a Deus? Todos devemos ser solidários com os nossos irmãos. Hoje expulsaste-me desta terra: os cananeus foram expulsos da terra prometida, a desta ser entregue ao povo de Deus.
Gn 6, 2-4: Os filhos de Deus viram que as filhas dos homens eram bonitas. Tomaram-nas como esposas. Desta união nasceram os antigos gigantes, guerreiros muito perigosos. Alguns filhos de Israel juntaram-se às mulheres pagãs. Desta união nasceram homens perigosos que punham em perigo o povo de Deus. Está aqui o tema dos gigantes que ameaçam David, o eleito de Deus: David matou Golias, gigante perigoso que ameaçava o povo de Deus (1 Sam 17, 48-51).
Gn 6, 11-14: Deus convida Noé a construir a arca. A Terra está corrompida e Deus está desiludido com a humanidade.
Gn 7, 7: O resto fiel e os animais entram na arca
Gn 8, 15-22: Noé oferece um sacrifício a Deus e Deus faz a Aliança com Noé. Enquanto a Terra durar haverá Primavera e Verão; tempo para semear e tempo para ceifar;
Gn 9, 9-17: O arco íris como símbolo da Aliança de Deus com a Humanidade.
Gn 11, 1-9: A torre de Babel
Gn 12, 1-8: Diálogo de Deus com Abraão e promessa. Todas as famílias da terra serão abençoadas na descendência de Abraão.
Gn 13, 14-18: Deus garante a Abraão que vai dar as terras de Canaã aos seus descendentes. Abraão montou a sua tenda junto aos carvalhos de Mambré que estão em Hebron.
Gn 14, 18-20: O rei Melquisedec abençoa Abraão e oferece a Deus um sacrifício de pão e vinho. Abraão paga-lhe o dízimo.
Sal 110, 4: Os reis da casa de David são sacerdotes para sempre segundo a ordem de Melquisedec. Heb 7, 11-28: Jesus Cristo é sumo-sacerdote segundo a ordem de Melquisedec.
Gn 15, 1-7: Anúncio do nascimento de Isaac... Olha para as estrelas do Céu e conta-as se és capaz. Assim será a tua descendência... Mt 3, 9: Deus pode fazer das pedras filhos de Abraão. A promessa de Deus ultrapassa as questões da carne e do sangue...
Gn 16, 1-9: Nascimento de Ismael.
Gn 17, 1-21: o rito da circuncisão e promessa do nascimento de Isaac.
Gn 18, 1-8: Aparição dos três personagens junto aos carvalhos de Mambré.
Gn 18, 16-23: Os dois anjos seguem para Sodoma e Deus fica com Abraão, anunciando-lhe o seu propósito de destruir Sodoma.
Gn 19, 1-28: Os dois anjos chegam a Sodoma ao fim da tarde. Lot estava sentado à entrada da cidade e acolheu-os em sua casa. Agora os anjos tornam-se homens (v. 16). Segue-se a destruição de Sodoma e salvação da família de Lot.
Gn 21, 1-8: Nascimento de Isaac.
Gn 22, 1-18: O sacrifício de Isaac (v 18: todas as nações da Terra serão abençoadas, graças à descendência de Abraão.
Gn 24, 1-9: A escolha de esposa para Isaac.
Gn 24, 42-60: Rebeca torna-se esposa de Isaac. Deus conduz a história dos homens.
Gn 25, 20-26: Isaac orou ao Senhor pedindo-lhe que libertasse Rebeca da sua esterilidade e esta concebeu dois gémeos. Deus avisou Rebeca que dois p0ovos se estavam a digladiar no seu ventre. O mais velho servirá o mais novo.
Gn 26, 1-7: Deus aparece a Isaac e renova com ele a promessa de dar-lhe a Terra de Canaã.
Gn 27, 1-29: Jacob obtém a bênção de Isaac em lugar de seu irmão Jacob
Gn 29, 9-31: Jacob encontra Raquel e começa a servir Labão.
Gn 30, 1-5: Raquel descobre que é estéril e isso fá-la sofrer, pois sua irmã Lia já tinha vários filhos.
Gn 30, 22-26: Deus lembrou-se de Raquel e esta dá à luz José.
Gn 35, 10-19: Deus muda o nome de Jacob para Israel, pois este vai ser pai de muitos povos. Em Betel, Deus promete dar a terra de Canaã aos seus descendentes. Raquel dá à luz Benjamim e morre de parto.
Gn 37: José e o conflito com os seus irmãos.
Gn 39: José vendido como escravo.
Gn 40: José na prisão
Gn 41: O Sonho de Faraó
Gn 42-50: Os irmãos de José no Egipto
Gn 50, 24-26: José anuncia aos irmãos o Êxodo que acontecerá mais tarde. A história de José e a descida de Jacob ao Egipto é o ponto de ligação do Génesis com o Êxodo.
II. O Êxodo Como Nascimento Histórico de Israel
a) O Livro do Êxodo
Os relatos do livro do Êxodo devem ser vistos como um drama histórico e não apenas como um conjunto de relatos factuais sem colorido. O drama supõe envolvimento, pinta a vida com o colorido da vida e da fé dos autores dos relatos. Os relatos estão revestidos da linguagem cultual, não na linguagem de uma prosa científica. O objectivo das narrativas é comunicar o sentido dos acontecimentos nos quais a comunidade de culto participa. O Pentateuco assume a sua forma final por volta do ano 400 a . C.
Os principais contornos do Pentateuco começaram a ganhar forma especialmente no ambiente das festas religiosas nos santuários que aglomerava grandes multidões. Aqui as tradições de Israel eram contadas fazendo sempre realçar o maravilhoso, a fim de acentuar as maravilhas do Senhor.
Eis alguns dos grandes temas da fé de Israel e que se repetiam nos grandes momentos de peregrinação:
1 – A Promessa feita aos patriarcas
2 –A libertação divina da opressão do Egipto
3 - As andanças e a Condução através do Deserto
4 – A herança da Terra Prometida
A história do Êxodo não pretende ser história objectiva. Trata-se de relatos interpretativos de acontecimentos que, vistos de um outro ponto de vista, podiam muito bem ser apresentados de um modo totalmente diferente. Por outras palavras, os relatos do Êxodo são interpretação de fé.
Os historiadores contemporâneos reconhecem que não existe história sem que esta seja já uma interpretação. Ninguém é capaz de ser totalmente neutro ao elaborar os relatos dos acontecimentos históricos. Por outras palavras, a história não é nunca um conjunto de acontecimentos organizados numa ordem cronológica e despidos de qualquer interpretação. Há sempre uma interpretação ideológica ou religiosa na redacção dos acontecimentos históricos.
De um certo ponto de vista, o Êxodo era um acontecimento político: a libertação de um grupo de escravos do jugo do Faraó. Deste ponto de vista, o acontecimento central do Êxodo podia ser externa e objectivamente descrito e comparado com outros acontecimentos políticos semelhantes na vida de outros povos.
Para os narradores bíblicos os quais comunicam a partir da comunidade de fé, o Êxodo é um acontecimento divino. O que aconteceu é resultado da acção redentora de Deus. O Êxodo é um acto de Deus. É o sinal da sua revelação e da sua presença. Para Israel escrever história é narrar os altíssimos feitos do Senhor. Os relatos dos primeiros capítulos do livro do Êxodo estão intimamente ligados com a história e a experiência religiosa do período patriarcal.
Esta ligação manifesta-se claramente intencional sobretudo pela referência aos acontecimentos que têm lugar após a morte de José, um dos doze filhos de Jacob (Ex 1, 8) e pelo vibrante relato da teofania na sarça ardente. Aí Moisés é informado de que está a falar com o Deus de seus pais: “ Eu sou o Deus de teus pais. O Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob” (Ex 3, 6).
O Deus que se manifesta na visão da montanha sagrada é o mesmo que apareceu aos pais. Deste modo o período patriarcal aparece como o prólogo do relato das altíssimos feitos de Deus ao libertar o seu povo do Egipto. As tradições do Génesis foram revistas à luz do Êxodo e da Aliança do Sinai.
O Êxodo é, com efeito, o coração da história de Israel. Quando queremos conhecer alguém pedimos a essa pessoa que nos fala da sua história pessoal. Deste modo a pessoa revela quem é realmente. O mesmo acontece com a história antiga do povo bíblico.
A história de Israel tem o seu verdadeiro princípio numa experiência histórica crucial, a qual o torna consciente da sua condição de povo eleito de Deus. Este acontecimento foi tão decisivo que os acontecimentos anteriores foram interpretados a esta luz. Podemos dizer que o Êxodo é o acontecimento central na memória de Israel.
Os profetas, por exemplo, quando mencionam os altos feitos de Deus não mencionam a emigração de Abraão, tal como ela é relatada no capítulo doze do Génesis. Em vez disso eles mencionam o Êxodo e as andanças do deserto como o começo histórico de Israel e a expressão dos altíssimos feitos de Deus em favor do seu povo.
Na sua mensagem, Amós recorda que Israel foi congregado como uma família através dos actos libertadores de Deus, aquando da libertação do Egipto (Am 3, 1-2). O próprio livro do Génesis deve ser lido e entendido como um prólogo ao tempo glorioso em que Deus toma partido em favor dos seus filhos oprimidos no Egipto.
De Moisés só sabemos o que está contido nas narrações bíblicas. Este conhecimento é tanto mais limitado quanto é verdade que os autores bíblicos não estavam nada interessados nos dados biográficos de Moisés. A sua intenção era apenas narrar os altos feitos de Deus em favor do seu povo. Eis a razão pela qual a história de Moisés é colorida com tantos elementos folclóricos.
Temos um exemplo claro da história do menino Moisés metido dentro de um cesto de vimes e lançado ao rio (Ex 2, 1-10). Este relato está nitidamente inspirado no relato de Sargão de Akkad (2.300 a . C.). Numa inscrição, Sargão diz que a sua mãe o deu à luzem segredo, colocou-o num cesto de vimes com betume e lançou o cesto ao rio. Akki, uma pessoa que vinha buscar água ao rio, tirou-o das águas do rio e criou-o como seu filho (cf Anderson, Bernard, The Living World of de Old Testament, Longman, London 1966, p 36).
A figura de Moisés aparece liga à imagem de um Deus libertação, cujos feitos maravilhosos deram origem a Israel como comunidade da Aliança, parcela de Deus no meio dos outros povos. Na antiga confissão de fé, Israel afirmava: “Yahweh ouviu a nossa voz e viu a nossa aflição e labuta, bem como a nossa opressão. Então o Senhor trouxe-nos para fora do Egipto... com sinais e maravilhas” (Dt 26, 5-9).
A tradição de Moisés está ligada ao nome de Deus como Yahweh. O nome de Yahweh significa uma novidade e um aprofundamento teológico da realidade de Deus. Por vezes aparece fundido com outros conceitos e nomes anteriores de Deus “E Deus (Eloim) disse a Moisés: ‘Eu sou Yahweh. Apareci a Abraão, a Isaac e a Jacob como Deus altíssimo (El Shadai), mas pelo meu nome Yahweh eu não me tornei conhecido para eles (Ex 6, 23).
Ex 7, 8-11: Moisés e as pragas contra o Egipto. Não devemos exagerar no sentido de afirmar a historicidade das pragas e muito menos em exagerar o carácter milagroso dos factos narrados. O relato sugere que as pragas são sinais da eleição do povo e maravilhas do Deus libertador de Israel.
Os acontecimentos podiam ter sido interpretados de modo totalmente diferente por outras pessoas que não fizessem parte da comunidade crente de Israel e que vissem os factos a partir de outra perspectiva. Mas para Israel Mas para Israel, os acontecimentos eram interpretados como actos salvadores de Yahweh.
Não podemos esquecer que as narrativas foram escritas vários séculos após a permanência dos Israelitas no Egipto, o que explica bem a presença de elementos folclóricos nos relatos. Por exemplo o cajado de Moisés e Aarão. Moisés lança o cajado no chão e este converte-se numa serpente (Ex 4, 2-5). Aarão fez a mesma coisa e com o mesmo resultado (Ex 7, 8-13). Mas nenhuma destas acções são considerados milagres ou acções extraordinárias, pois os mágicos do Egipto usando as suas artes mágicas conseguiram fazer o mesmo.
Existia uma tendência natural de, ao relatar as tradições do Êxodo de geração em geração, aumentar o elemento miraculoso, a fim de glorificar Yahweh e o lugar de Israel no coração de Deus. O milagre no mundo bíblico é algo diferente da nossa noção de milagre como rotura da lei natural. Os escritores bíblicos não tinham um concito de natureza como um domínio no qual Deus fixou uma série de leis. Pelo contrário, Deus sustém constantemente a sua Criação. A vontade é expressa através de acontecimentos.
No entanto, a ordem da Criação, para os autores bíblicos, não é caprichosa. Há acontecimentos regulares como as estações do ano, o tempo das sementeiras e das colheitas, com as quais o homem pode contar. Mas a ordem e a sequência das coisas é fruto da fidelidade de Deus em virtude da sua Aliança universal feita com Noé (Gn 8, 22).No entanto o querer de Deus pode deduzir-se em cada momento através de cada acontecimento.
Nas narrações do Êxodo as pragas são descritas como “sinais e maravilhas”. Um sinal pode ser descrito como uma constatação evidente da presença e do projecto de Deus. Os relatos bíblicos dão testemunho de uma fé forte na imediatez da presença de Deus: Cada acontecimento, ordinário ou extraordinário pode ser um sinal do querer e da actividade de Deus.
Na Bíblia, o conceito de milagre é algo muito diferente dos nossos conceitos. Para nós o milagre implica uma rotura com as leis da natureza. Os autores bíblicos não tinham um conceito de “natureza” como uma realidade para a qual Deus estabeleceu antecipadamente leis e princípio rígidos.
Para os autores bíblicos Deus sustenta a natureza em cada momento. Por outras palavras, o querer de Deus é expresso de modo concreto nos acontecimentos do dia a dia, seja a chuva, a primavera ou o nascimento de uma criança.
A liberdade no deserto era um substituto pobre para muitos dos escravos que viviam no Egipto onde havia abundância de água e alimentos. No deserto a água escassa. Não havia alimentos. A existência era precária. É isto que explica os protestos contra Moisés e o próprio Deus.
O período do deserto foi um tempo de murmurações e rebeldias, as quais exprimiam, muitas vezes, uma fé vacilante. O povo várias vezes gritou: “Deus está no meio de nós ou não?” (Ex 17, 7).
Apesar dos ataques inimigos, da falta de alimentos e de água e das murmurações do povo, o indomável Moisés leva os peregrinos em frente, até que, por fim, repousam no Oásis do Sinai. Aqui têm oportunidade de reflectir sobre as experiências vividas no processo de libertação para o qual Deus os guiou. O resultado deste processo é que Deus os congregou como um povo de pessoas livres.
Neste ambiente de repouso e tranquilidade, as pessoas começam a compreender a natureza peculiar da comunidade para a qual Deus as está a conduzir: comunidade de fé e de relações de Aliança com Deus. Israel é o povo da Aliança. Isto significa que eles não são uma multidão, mas uma comunidade reunida para viverem em Aliança com Yahweh e uns com os outros. É uma comunidade chamada para anunciar as maravilhas de Deus (Ex 19, 3-6).
A iniciativa da Aliança cabe a Deus: “Vós vistes tudo o que fiz”. No entanto, a iniciativa de Deus pede uma resposta: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha Aliança, então sereis a minha pertença pessoal.
O relato actual da Aliança manifesta uma clara fusão de tradições. Segunda a visão sacerdotal, a Aliança é feita no decorrer de uma refeição sagrada com Moisés, Aarão e os seus setenta anciãos. (Ex 24, 1-2, 9-11). Segundo a versão eloísta, a totalidade da assembleia de Israel toma parte na cerimónia da Aliança no sopé da montanha (Ex 24, 3-8).
Era normal selar uma relação entre parceiros humanos (Gen 3, 46, 54). Sobretudo a prática de fazer uma Aliança através de um sacrifício era bem conhecido dos antigos, sobretudo no mundo bíblico (Gn 15, 7-21; Jer 34, 18-19). Conhecemos a antiga crença de que o sangue de um sacrifício tinha o poder de unir de modo especial os participantes de uma aliança. É este o sentido dado por Jesus ao sangue da Nova e Eterna Aliança (Mt 26, 28-29; Mc 14, 24-25; Lc 22, 20).
A aliança do Sinai foi feita tendo como pano de fundo a Palavra orientadora de Yahweh, à qual se passou a chamar os Dez Mandamentos (Ex 20, 1-17). Em hebraico são chamados “As dez Palavras”. As relações do povo da Aliança com Yahweh não são relações de escravo dono, como acontecia no Egipto, mas relações de paternidade filiação, pois Israel é o primogénito de Deus, o qual foi gratuitamente resgatado por Deus (Ex 4, 22-23).
Eis as passagens mais significativas:
Ex 1, 15-21: Morte dos meninos hebreus...
Ex 2, 1-10: Midrash de Moisés. Está decalcado no relato do cilindro de Sardão....
Ex 3, 1-15: Vocação de Moisés. Deus toma partido em favor do povo oprimido. O Deus que chama Moisés é o Deus dos pais, o Deus dos patriarcas. Os relatos das tradições patriarcais são, na realidade, uma introdução ao livro do Êxodo.
Ex 12, 29-32: Morte dos primogénitos egípcios. Israel é o primogénito de Deus. Os egípcios estão a maltratar o primogénito de Deus. Por isso Deus mata os seus primogénitos.
Ex 13, 11-16: Os israelitas devem consagrar a Deus todos os primogénito, tanto de Deus como dos animais.
Ex 17, 1-6: A Água que brota do rochedo do deserto. São Paulo diz que esta água era já Cristo (1 Cor 10, 1-6).
Ex 34, 29-35: A glória de Deus reflecte-se no rosto de Moisés.
b) A Realização da Promessa
A conquista de Canaã foi um processo gradual e progressivo. Demorou mesmo várias gerações. Ficou apenas completa com David. Dt 26, 5-10: Segundo uma antiga liturgia preservada no livro do Deuteronómio, os crentes oferecem os primeiros frutos da colheita como reconhecimento agradecido das maravilhas de Deus que libertou Israel da escravidão do Egipto.
Associada à libertação do Egipto está a doação da Terra à descendência de Abraão: “Aos teus descendentes darei esta Terra”. Esta promessa feita a Abraão feita a Abraão é reafirmada a Isaac e a Jacob e foi renovada no tempo de Moisés. Por isso Canaã é reconhecida como Terra Prometida. Devemos ter presente, no entanto, de que as tradições patriarcais, foram escritas depois de conquista de Canaã.
O Reconhecimento de que a Terra prometida é um dom de Deus foi reconhecido pelos grandes profetas, apesar do seu vigoroso ataque contra o orgulho nacionalista de Israel (cf Am 2, 10; Os 2; Jer 3, 19). Este dom foi o sinal supremo da benevolência e da gratuidade de Yahweh para com o seu povo.
Segundo a fé de Israel, a conquista da Terra Prometida não aconteceu por razões circunstanciais nem são o resultado de uma capacidade militar superior. A conquista da Terra Prometida aconteceu devido à fidelidade de Deus. Esta Terra é um dom para ser acolhida com humildade e gratidão (Jos 24, 13).
Segundo a tradição Israel demorou quarenta anos a caminhar pelo deserto antes de entrar na Terra prometida. O número quarenta de ser entendido como uma expressão estilizada para dizer toda uma geração. Por vezes este número é usado apenas para significar muito tampo, como no caso da permanência de Elias no deserto durante quarenta dias e quarenta noites (2 Rs 19, 8). Na mesma linha está a afirmação dos evangelhos segundo a qual Jesus jejuou durante quarenta dias no deserto (Mc 1, 13).
No entanto, a realidade não esteve longe. Nenhum dos adultos que deixaram o Egipto entraria em Canaã. Todos eles morreriam durante a permanência no deserto (Num 14, 26-35; 26, 63-65; Dt 8, 2-3).
A presença de Deus no meio do seu povo era expressa através de dois objectos Sagrados de grande significado: A Tenda do Encontro e a Arca da Aliança. Ex 33, 7-11: A Tenda do Recontro é mencionada em ligação com a permanência no Sinai; Num 11, 16-17; 11, 24-26; Dt 31, 14-15: Mais tarde, a Tenda do Encontro é relacionada com a caminhada do deserto.
Moisés montou a Tenda fora do acampamento, a fim de ir ali encontrar-se a sós com o Senhor. Yahweh descia do Céu dentro de uma coluna de nuvem para junto da porta da Tenda. Aí falava com Moisés face a face como um homem fala com o seu amigo ( Ex 33, 11).
A Tenda, portanto, era o lugar de encontro com Yahweh. Aí podia acontecer um oráculo ou a Palavra de Deus podia ser proclamada para o Povo reunido em frente à Tenda. Ex 25, 10-22; 37, 1-9: O outro objecto sagrado era a Arca da Aliança. O relato é sacerdotal. Originalmente parece que a Arca era um trono móvel, no qual, segundo a fé de Israel, Deus estava invisivelmente entronizado. Não há dúvida de que Israel acreditava que Deus estava invisivelmente presente no meio do Seu povo.
No tempo das caminhadas errantes ou das batalhas Deus ia à pessoalmente frente deles como seu guia entronizado sobre a Arca. Um dos mais antigos fragmentos do Pentateuco é a Canção da Arca da Aliança (Num 10, 35-36). Durante o tempo de David a Tenda do Encontro e a Arca da Aliança foram reunidas. Por isso a tradição sacerdotal, a qual reflecte a nova situação no reino de David e Salomão, afirma que a Arca da Aliança permanecia do Tabernáculo no Sinai (Ex 40, 2-3).
Balaão era um adivinho Caldeu que vivia na Babilónia. Apesar de ser pagão, Deus serviu-se dele para abençoar o seu povo. No mundo antigo acreditava-se que as palavras pronunciadas como bênção ou maldição têm poder de realizar o resultado desejado (cf Gn 27).
Devido a esta crença no poder das palavras pronunciadas, Balaão foi convidado por Balac, rei de Moab, a subir ao cimo de uma colina, lugar a partir do qual podia avistar o acampamento de Israel, amaldiçoando-o. O poder da maldição era mais eficaz que as forças militares de Balac.
Balaão, movido pelo Espírito de Deus, abençoa Israel, pronunciando vários oráculos favoráveis ao Povo de Deus: Ex 22, 1-8: Balac, rei dos Moabitas manda chamar Balaão, pedindo-lhe para amaldiçoar o Povo de Israel;
Ex 22, 21-35: O anjo do Senhor surge e força a burra onde Balaão ia montado a mudar de rumo. Balaão maltrata a burra e esta, exprimindo-se em linguagem humana, proclama uma mensagem.
Ex 23, 7-10: Primeiro Oráculo de Balaão a favor de Israel: Israel será vencedor, pois Deus está com ele.
Ex 23, 16-24: Segundo Oráculo de Balaão;
Num 24, 2-9: Terceiro Oráculo em favor de Israel;
Num 24, 17-18: Balaão profetiza a estrela de David e o cetro do seu poder. O tempo de David foi considerado a idade de oiro de Israel. A vinda do Messias era entendida como a restauração do império glorioso de David. Segundo as palavras de Balaão, Israel era visto não como uma nação mas como um povo escolhido por Deus e liberto da opressão do Egipto. Por isso nenhuma magia ou adivinho podia desviar a bênção que Deus outorgou ao seu povo: “Yahweh, o vosso Deus está convosco vades vós para onde fordes” (Jos 1, 9).
Durante o tempo de vida de Josué, diz o livro de Josué, o povo permaneceu fiel a Yahweh. No entanto, os tempos passam e eis “que surge uma nova geração, a qual não conhecia Yahweh nem o trabalho que fez por Israel” (Jz 2, 10).
A fé em Yahweh não significa um conjunto de conhecimentos que podem ser comunicados como uma cartilha ou conta bancária de pai para filho. Ter fé em Yahweh é conhecê-lo pessoalmente. A fé dos pais não se torna necessariamente a fé dos filhos. Cada geração deve renovar ou repudiar a Aliança no seu próprio modo de viver.
Os altos e baixos de Israel ilustra bem a ideia central da Bíblia: A obediência a Deus conduz para a paz e o bem. A desobediência conduz ao fracasso. Jz 2, 13; 10, 6; 1 Sam 7, 4; 12, 10: Estes textos apontam para o tipo de religião dos cananeus. Baal significa “Senhor” ou “proprietário” e designa a divindade masculina, o Senhor e proprietário dos solos, o qual controla a fertilidade das terras. A sua consorte é conhecida por Baalath “Senhora”, a qual tem por nome próprio “Ashtart”.
No Crescente Fértil onde a cultura era totalmente dependente da fecundidade da terra, o mistério da fertilidade da Natureza tinha uma conotação profundamente religiosa. A fecundidade dos solos era uma esfera dependente dos poderes divinos. O Baal de uma região é o Senhor e o proprietário das terras.
A sua fecundidade dependia das relações sexuais de Baal com a sua consorte. Quando chegam as chuvas, estas misturam-se com a terra. Deste encontro e interacção surge a fertilidade. E é assim que, na Primavera, ressuscita uma nova vida após a aridez do Inverno. Este ressurgir maravilhoso da natureza, segundo as pessoas acreditavam, era devido à relação sexual entre Baal e a sua companheira, Baalath.
Segundo a crença de então, as pessoas deviam cooperar com esta comunicação amorosa de Baal e a sua consorte, fonte de fertilidade para as terras. Assim está fundamentada a prostituição sagrada nos templos de Baal. Esta era uma das características fundamentais do culto cananita (Dt 23, 18-19). No acto da prostituição sagrada, o homem identificava-se com Baal e a mulher com Ashtart ou Baalath.
Não é de surpreender, portanto, que os israelitas inexperientes nos assuntos da agricultura tendessem a recorrer aos deuses dos campos. Isto não significava para eles abandonar Yahweh, o Deus que os libertou do Egipto e fez com eles a Aliança do Sinai.
Assim como recorriam a Baal para pedir a fertilidade das terras, do mesmo modo recorriam a Yahweh nos tempos de crise militar. Deste modo podiam servir Yahweh e Baal em simultâneo. Do mesmo modo que muitos dos nossos contemporâneos mantêm religião e ciência em compartimentos separados, do mesmo modo os israelitas tentavam atribuir esferas diferentes a Yahweh e Ball.
Este comportamento não era sentido como contraditório. Os israelitas deste período não pensavam que os dois cultos se poderiam excluír um ao outro. Alguns dos antigos santuários cananitas foram dedicados a Yahweh e o calendário das festas agrícolas dos cananeus foi adaptado para as peregrinações e festas dos judeus (Ex 34, 22-23).
Os pais começara a incluir no nome dos filhos a designação de Baal. Com este procedimento não queriam significar o abandono de Yahweh. Saúl e David, dois ardentes devotos de Yahweh, inseriram o nome de Baaal nos nomes de alguns de seus filhos (2 Sam 21, 8; 4, 4; 9, 6; 1 Cron 8, 34; 14, 7).
De acordo com os termos da Aliança, Israel não devia ter outros deuses além de Yahweh. Yahweh Tem o Senhorio absoluto sobre todos os aspectos da vida do povo que elegeu e libertou da escravidão do Egipto. Mais tarde os profetas viram com muita clareza o conflito fundamental desta perigosa confusão. Por isso denunciam a idolatria do povo que se liga a Baal como se de um deus verdadeiro se tratasse.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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