No momento de morrer e ressuscitar, Jesus passou da face exterior da realidade, isto é, do espaço e do tempo, para a sua face interior, passando a relacionar-se connosco a partir de dentro. Por outras palavras, no momento de ressuscitar, Jesus entra na morada do Pai e fica presente a nós a partir de dentro: “Nesse dia compreendereis que eu estou no meu Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20).
Isto quer dizer que ao deixar as coordenadas do espaço e do tempo, Jesus entrou nas coordenadas da universalidade e da equidistância, tornando-se presente a tudo e a todos. Com efeito, a morada de Deus é um campo espiritual contínuo de interacções amorosas e que constitui a interioridade máxima do Universo. A face interior da realidade é o ponto de encontro e comunhão das pessoas humanas que já partiram com as que estão ainda na marcha histórica da construção humana. Na linguagem da fé, este face a face da comunhão universal chama-se a Comunhão Universal dos Santos.
Isto quer dizer que os nossos seres queridos que já partiram fazem parte do Comunhão dos Santos e habitam as coordenadas da equidistância e da omnipresença. Estão próximos de tudo e de todos, pois para eles já não há distância nem lonjura.
Quando dizemos que, pela Encarnação, o Filho de Deus veio até nós, não estamos a afirmar que se deslocou de um sítio para outro. Na realidade tudo se passa entre a interioridade espiritual humana de Jesus e a interioridade divina do Filho de Deus. Pelo mistério da Encarnação a interioridade humana de Jesus de Nazaré e a interioridade divina do Filho Eterno de Deus ficaram a interagir de modo directo, formando uma união orgânica animada pelo Espírito Santo.
Pela Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim de nós sermos divinizados. No momento da ressurreição de Jesus, união humano-divina que existia no coração de Jesus, atingiu as coordenadas da universalidade e difundiu-se para todos nós (Jo 7, 37-39). E foi assim que o Reino de Deus passou para o nosso interior e nós fomos divinizados, pois o sangue de Jesus ressuscitado, isto é, o Espírito Santo, passou a circular nas “veias” da nossa interioridade. Para exprimir esta realidade, São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
Esta dinâmica interior do Reino de Deus é proclamada de modo sacramental pelo Eucaristia. Segundo o evangelho de São João Jesus ressuscitado é o alimento que vitaliza e robustece a nossa vida divina: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a viva eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, também aquele que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).
Viver o mistério do Reino de Deus como realidade interior é sentir-se a caminhar com Deus e em Deus.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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