Confirmação e Evangelização do Mundo




a) Confirmação e Testemunho Cristão
b) Confirmação e Emergência dos Carismas
c) Confirmação e Anúncio do Evangelho
d) Confirmação e Fortaleza Apostólica



a) Confirmação e Testemunho Cristão

O sacramento da confirmação, como acontece com os demais sacramentos, é uma celebração comunitária da Fé. Tal como o seu nome indica, o sacramento da confirmação é um espaço privilegiado para confirmar e fortalecer a opção baptismal dos que o celebram. Isto quer dizer que o sacramento da confirmação está pleno de sentido para os jovens ou adultos que foram baptizados em criança.

Com efeito, enquanto celebração sacramental, é a única que se coloca ao nível de decisão e opção associada à celebração baptismal. Outro tanto já não podemos dizer em relação às pessoas que foram baptizadas de jovens ou adultos. Na verdade, celebrar a confirmação separada do baptismo no caso de uma pessoa que foi baptizada de adulto além de não ter sentido, revela uma visão com uma forte carga mágica. É como se a confirmação se destinasse a dar o resto do Espírito Santo que o baptismo não deu.

Comos sabemos, o Espírito Santo é uma pessoa divina com a qual o crente pode comunicar permanentemente no mais íntimo de si. Ninguém dá uma pessoa a outra como se tratasse de uma coisa. A celebração da confirmação optimiza a compreensão e a capacidade de o crente interagir com o Espírito Santo que o habita e consagra para a missão de testemunhar Cristo ressuscitado, bem como anunciar a Boa Nova da Salvação de Deus.

Precisamos de nos abrir, como a Igreja das origens, à acção do Espírito, a única capaz de tornar a nossa vida fecunda. O sacramento da confirmação é, na verdade uma mediação excelente para o crente que foi baptizado em criança assumir de modo mais convicto e esclarecido a sua condição de consagrado pelo Espírito para trabalhar na vinha do Senhor.

Na verdade, é importante que os cristãos de hoje encontrem o ardor apostólico que animava os primeiros cristãos. Foi este ardor apostólico que os capacitou para evangelizarem e transformarem o poderoso e extenso Império Romano. É fundamental que os crismados dos nossos dias adquiram, como os primeiros cristãos, uma espiritualidade centrada em Cristo ressuscitado e na missão de o testemunhar no meio do mundo.

Temos de cultivar esta espiritualidade, mas mantendo-nos como cristãos do nosso tempo. O Espírito Santo é suficientemente renovador para não nos conduzir para um anacronismo que desfigure o rosto da Palavra de Deus. O anacronismo é uma forma de infidelidade ao Espírito e à Palavra de Deus, os quais se exprimem e comunicam de modo sempre novo.

Uma espiritualidade com o dinamismo das origens torna-nos cada vez mais livres e mais configurados com Cristo. Na verdade, o Espírito que nos capacita e consagra é o mesmo que capacitou e consagrou Jesus (cf. Lc 4, 18-21). No mundo de hoje há poucas pessoas livres. Os homens de hoje estão profundamente condicionados predispostos para se deixarem conduzir e manipular pelos meios de comunicação social, pelas ideologias ou os discursos políticos. Facilmente se tornam escravas da moda ou do consumo.

Estamos invadidos por uma multidão de ruídos vindos do mundo que nos envolve, tentando impedir-nos de ouvirmos a voz da consciência e os apelos do Espírito Santo no nosso coração. Os confirmados devem ser pessoas robustecidas pela Palavra de Deus, a fim de fazerem frente a este mundo manipulador.

Seremos tanto mais pessoas realizadas e felizes quanto mais deixarmos emergir a nossa originalidade pessoal. A nossa vocação fundamental, antes de qualquer outra, é crescer como pessoa, condição para podermos comungar mais com as pessoas humanas e as divinas.

Jesus atingiu o pico mais alto da sua realização ao dar a vida por amor dos outros. De facto a plenitude do ser humano encontra-se na dinâmica da Comunhão Universal do Reino de Deus. Se falha o fundamental, isto é, a realização pessoal, o edifício cristão está construído sobre areia.

Como consagrados pelo Espírito de Cristo não podemos deixar de ser testemunhas da Palavra e do projecto do amor de Deus pela Humanidade. Somos testemunhas de Deus no mundo. O nosso testemunho será tanto mais eficaz quanto melhor exprimir um jeito de viver semelhante ao de Jesus Cristo. Os crentes que estão em preparação para a confirmação devem tomar consciência de o seu testemunho de Cristo tem de assentar na vivência da sua Fé. Isto implica, de facto, uma identificação com Jesus Cristo, a fim de não sermos um sino que tine.

O nosso testemunho comporta também a compreensão da realidade do Cristo que anunciamos. Sem esta compreensão daríamos logo a impressão de que estamos a falar de alguém sobre quem não temos conhecimentos sérios. Os cristãos confirmados têm de ser apóstolos, sob pena de serem uma contradição. É fundamental que tenham noções claras de Cristo, o qual é plenamente homem connosco e plenamente Deus com o Pai e o Espírito Santo.

Com efeito, o nosso Salvador é, em Si mesmo, uma unidade orgânica de grandeza humano-divina. Isto implica uma noção clara do rosto trinitário de Deus. Implica igualmente saber descobrir o Jesus histórico, sobretudo conhecendo o impacto profético das suas atitudes. Finalmente, é importante saber situar, de modo equilibrado, a figura de Maria no acontecimento messiânico e salvador. Depois de Cristo, Maria é a maior mediação para dizer o projecto salvador de Deus.

O apóstolo cristão tem de ter uma noção clara de como a ressurreição de Cristo introduziu uma qualidade nova na marcha histórica da Humanidade, isto é, a divinização do Homem. É esta a Vida Nova ou a Nova Criação cujo alicerce e cabeça é Cristo ressuscitado (2 Cor 5, 17-19). É esta a novidade da plenitude dos tempos, diz São Paulo (Ga 4, 4-7).

O evangelizador deve saber que entre criação e salvação existe uma continuidade histórica. O Apóstolo se sente à vontade para falar do mistério de Cristo, saberá falar do sentido da história humana e do rosto amoroso de Deus que é uma comunidade familiar de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.


b) Confirmação e Emergência dos Carismas

Através do Espírito Santo, Deus é verdadeiramente o Emanuel, isto é, o Deus connosco. O Nosso Deus é um Deus sempre presente. O princípio de interacção nós e a Divindade é o Espírito Santo, a ternura maternal de Deus no nosso íntimo. São Paulo diz que ele é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

O Novo Testamento testemunha que Jesus Cristo é o Messias, o portador do grande dom do Espírito Santo. Este dom não é uma coisa nova que Jesus nos deu, mas uma capacidade nova de interagirmos com Deus mediante o Espírito Santo.

Após a sua ressurreição, Jesus partilha o dom do Espírito Santo como quem partilha a própria vida ou, se quisermos a sua carne e o seu sangue: Eis o que a este propósito diz o evangelho de São João: “E se virdes o filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não serve para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63).

Os Actos dos Apóstolos proclamam a ressurreição de Jesus como o momento da grande difusão do dom do Espírito Santo: “No dia de Pentecostes Pedro faz um discurso aos judeus interpelando-os ao baptismo, a fim de receberem o Espírito Santo: “Então Pedro disse-lhes: “Arrependei-vos e cada um de vós seja baptizado no nome de Jesus Cristo para a remissão dos pecados. Então recebereis o dom do Espírito Santo” (Act 2, 38).

É habitual fundamental o sacramento da confirmação no seguinte texto de dos Actos: “Após a conversão dos primeiros samaritanos, Pedro e João foram à Samaria e oraram por eles, a fim destes convertidos receberem o Espírito Santo. Com efeito, o Espírito Santo ainda não tinha vindo sobre eles, pois apenas tinham sido baptizados em nome de Jesus. Então Pedro e João impuseram-lhes as mãos e eles receberam o Espírito Santo” (Act 8, 15-17).

Esta passagem é muito importante, pois afirma claramente que o baptismo no Espírito não é um acto mágico derivado do rito baptismal. O baptismo no Espírito assenta sobre a dinâmica da palavra e da oração na comunidade. Os Actos dos Apóstolos descrevem o encontro de São Paulo em Éfeso com um grupo de crentes que apenas tinham recebido o baptismo de João Baptista. Estas pessoas não conheciam o baptismo no Espírito. Então Paulo baptizou-os em nome de Jesus e, ao impor-lhes as mãos estes ficaram cheios do Espírito Santo (Act 19, 1-6)

O Baptismo no Espírito pode preceder o próprio rito baptismal no caso dos adultos, como testemunham os Actos dos apóstolos no seguinte texto: “Pedro estava ainda a falar, quando o Espírito desceu sobre quantos ouviam a Palavra. Os fiéis circuncidados ficaram estupefactos ao verificarem que o dom do Espírito Santo fora derramado também sobre os pagãos, pois ouviam-nos falar línguas e glorificar a Deus. Pedro, então, declarou: “Poderá alguém recusar a água do baptismo aos que receberam o Espírito Santo como nós” (Act 10, 44-47).

É este o baptismo no Espírito de que falam os evangelhos: “E João dizia: “Vai chegar alguém que vai vir depois de mim que é maior do que eu. Eu nem sequer sou digno de lhe levar as sandálias. Eu baptizo-vos em água, mas ele vos baptizará com o Espírito Santo” (Mc. 1, 8). É com a força do Espírito Santo que os discípulos vão testemunhar a ressurreição de Jesus Cristo até aos confins da Terra, como o Senhor ressuscitado garante aos discípulos: “Ides receber a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, até aos confins da Terra” (Act 1, 8).

A Fé Cristã é um privilégio, pois concede ao crente a possibilidade de olhar e compreender a vida e os acontecimentos com uma nova sabedoria. A celebração do sacramento da confirmação é um momento privilegiado para o crente baptizado em criança poder experimentar o sabor do chamamento a ser evangelizador. Isto acontece na medida em que os crismandos abrem o coração para uma nova interacção com o Espírito que está permanentemente à porta do seu coração.

É importante termos consciência de que o Espírito Santo só nos consagra se nós nos deixarmos consagrar. De facto, o amor propõe-se, mas nunca se impõe e, como vimos, o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). À medida em que as pessoas se deixam consagrar pelo Espírito Santo, estas começam a realizar maravilhas em favor dos irmãos.

A consagração pelo Espírito é a fonte dos carismas, os quais são sempre dons em favor dos outros, tanto dos membros da comunidade crente como em favor dos não crentes. No fundo, os carismas são a optimização pelo Espírito Santo das qualidades de um crente. Ao optimizar estas qualidades, o Espírito Santo consagra-as, isto é, destaca-as como dons em favor dos outros.

A dinâmica consagradora do Espírito Santo consiste, pois, em capacitar as pessoas para servir os irmãos. Estamos a tocar o coração do baptismo no Espírito do qual os sacramentos do baptismo e da confirmação são sacramentos, isto é, explicitações e corporizações.

A acção do Espírito no coração dos crentes acontece na medida em que estes vivem de modo consciente e coerente o baptismo no Espírito. Como sabemos, não basta ter qualidades para se ser uma pessoa válida para a Humanidade. Ao longo da história houve muitas pessoas possuidoras de grandes qualidades mas que foram grandes agentes de destruição da Humanidade.

Para serem válidas e dignas do reconhecimento humano, as qualidades necessitam de ser consagradas ao bem da Humanidade. Por si sós, as qualidades humanas tanto podem ser postas ao serviço do bem como do mal da Humanidade. Eis a razão pela qual o Espírito optimiza e consagra as qualidades humanas, tornando-as carismas, isto é, dons em favor do bem comum.

À medida em que a pessoa se deixa consagrar pelo Espírito Santo não só começa a ser um dom especial de Deus para os irmãos como começa atingir uma plenitude pessoa absolutamente nova. Esta experiência leva a pessoa a sentir-se profundamente feliz ao ponto de exultar de alegria no Espírito Santo como Jesus.

Eis o modo como o evangelho de São Lucas descreve esta exultação de alegria e felicidade: “Nesse mesmo instante, Jesus estremeceu de alegria sob a acção do Espírito Santo e disse: “Bendigo-te, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e aos inteligentes e as revelastes aos pequeninos. Sim, Pai, foi este o teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Pai a não ser o Filho. Também ninguém conhece o Filho a não ser o Pai e aquele a quem o Pai o quiser revelar. Depois virou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que vêem o que estais a ver, pois digo-vos que muitos reis e profetas desejaram ver o que estais a ver e não o viram, e ouvir o que estais a ouvir e não o ouviram!” (Lc 10, 21-24).

Como vemos viver a consagração que resulta do baptismo no Espírito introduz o crente numa galáxia nova de alegria e felicidade! São Paulo tem uma visão orgânica dos carismas. Como estamos organicamente unidos a Cristo, o Espírito de Cristo optimiza o nosso ser e capacita-o para dar frutos de muito melhor qualidade.

Na visão de São Paulo a nossa união a Cristo é semelhante à união dos membros do corpo com a cabeça. As pessoas da comunidade são membros do corpo de Cristo (1 Cor 10, 17; 12, 27). O princípio vital que alimenta e dinamiza esta união orgânica é o Espírito Santo (1 Cor 12, 12-13). Segundo a visão de São Paulo ninguém é dinamizado pelo Espírito Santo se estiver em união com os outros membros da comunidade: “A respeito dos dons do Espírito Santo, irmãos, não quero que fiqueis na ignorância (…). Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de serviços mas o Senhor é o mesmo. Há diversidade de modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum. A um é dada uma palavra de Sabedoria (dom de aconselhar). A um outro é dada uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito (dom de conhecer os mistérios da Fé) (…). O Corpo é um só e tem muitos membros e todos os membros, apesar de serem muitos, constituem um só corpo. Assim também Cristo! De facto, fomos baptizados num único Espírito, a fim de formarmos um só corpo” (1 Cor 12, 4-13). São João vê o Espírito Santo como o sangue de Cristo ressuscitado, isto é, o princípio vital que alimenta a nossa união orgânica com Cristo (Jo 6, 62-63).


c) Confirmação e Anúncio do Evangelho

O cristão está chamado a ser um Apóstolo, isto é, um evangelizador no nosso mundo. Como vimos acima, é o Espírito Santo que capacita os crentes para esta missão. O testemunho de Fé dos cristãos é uma das dimensões fundamentais da dinâmica do baptismo no Espírito.

Evangelizar é comunicar uma Boa Notícia que diz respeito a todos os homens. Os baptizados estão todos chamados a ser evangelizadores, mas cada qual com seus dons e diferenças. Como sabemos, cada pessoa é única, original e irrepetível. Cada ser humano tem as suas qualidades e talentos. É com os talentos reais de cada pessoa que o Espírito Santo conta para realizar a missão do Reino de Deus.

A consagração do Espírito Santo, portanto, assenta sobre pessoas concretas. Os apóstolos não são super homens feitos em série. Os que se preparam para a confirmação devem aprender a ser comunicadores da Boa Nova do Evangelho, cada qual com os seus carismas e capacidades.

Para realizarem a missão de evangelizadores, os cristãos têm de ser pessoas que acolhem com amor a Palavra de Deus no seu coração. Na medida em que a Palavra entra morada no coração do crente torna-se sabedoria que se comunica como anúncio de Evangelho. Por outras palavras, quando a Palavra vem habitar o coração do crente, o Espírito Santo capacita-nos para sermos evangelizadores.

Só uma pessoa com uma bem fundamentada pode ser Apóstolo, isto é, mediação do Espírito Santo para dizer aos homens o projecto salvador de Deus. Só com a força do Espírito Santo somo suficientemente fortes para enfrentarmos um mundo cheio de violência e injustiça. Por outras palavras, é o Espírito Santo que nos comunica a coragem necessária para denunciar os ídolos ou falsos deuses que dominam os homens do nosso tempo, impedindo-os de ser livres felizes. Eis alguns dos ídolos que escravizam os homens do nosso tempo: fome de poder, apego exagerado ao dinheiro, ânsia de ser famoso, desejo de dominar e explorar os outros, oprimindo-os de mil e uma maneiras e tantos outros desejos negativos.

São Paulo diz que a missão do Apóstolo é uma graça de Deus. É esta verdade que o sacramento da confirmação explicita de modo privilegiado. Eis as palavras da Carta aos Efésios: “Foi-nos dada a graça de anunciar aos gentios a maravilhosa salvação de Jesus Cristo” (Ef 3, 8).

Ao receberem a Palavra de Deus, os cristãos recebem ao mesmo tempo a vocação ou chamamento para ser testemunhas do Reino de Deus no meio do mundo. Na celebração do sacramento da confirmação os crismandos sentem que Jesus ressuscitado lhes diz agora o que disse aos primeiros Apóstolos: “A Seara é grande, mas os operários são poucos. Pedi, pois, a Deus que é o Senhor da seara que mande operários para a sua seara” (Lc 10, 4-5).

Os cristãos que vivem de modo consciente o baptismo no Espírito compreendem bem as palavras que o evangelho de São Mateus põe na boca de Jesus: “Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se corromper, com que se há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens” (Mt 5, 13).

Logo mais à frente, Jesus acrescenta: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte. Nem se acende a candeia para a colocar debaixo da mesa, mas sim em cima, a fim de iluminar todas as pessoas. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que, vendo as vossas boas obras glorifiquem o vosso Pai que estás nos céus” (Mt 5, 14-16).

Se as igrejas tivessem posto em primeiro lugar a evangelização do mundo, há muito tempo que estariam unidas. Mas voltaram a pôr o velho problema dos Apóstolos e que Jesus condenou: Quem de nós é o primeiro? (cf. Mc 10, 35-40). Como ternura maternal de Deus no coração dos crentes o Espírito Santo faz do evangelizador uma pessoa semelhante a Cristo, isto é, simples, próxima dos outros, despida de atitudes arrogantes ou sentimentos de superioridade. O Apóstolo é humilde. Ele sabe que não leva Deus às pessoas. Pelo contrário, a sua missão é ajudar as pessoas a descobrirem a presença salvadora de Deus no coração delas.


d) Confirmação e Fortaleza Apostólica

Como acabámos de ver, a humildade é uma atitude fundamental para o sucesso da missão do evangelizador. Se o Apóstolo julga que o sucesso da sua missão assenta nos seus dotes, esquecendo-se que o protagonismo fundamental é do Espírito Santo não passará de um ramo estéril. Os crentes que se preparam para celebrar o sacramento da Confirmação devem aprender que a eficácia da acção do evangelizador é obra do Espírito Santo.

O Evangelho de São João realça a importância fundamental da união a Cristo, a fim da missão ser fecunda: “Permanecei em mim que eu permaneço em vós. Tal como o ramo da videira não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto, pois sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 4-5).

Ser um Apóstolo humilde é dispor-se a aceitar do Espírito Santo a força e a aptidão para a missão. A primeira Carta de São Paulo aos Coríntios é um testemunho desta verdade quando diz: “Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de serviços, mas é o mesmo Senhor. Há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito comum (1 Cor 12, 4-7).

O Espírito Santo trabalha em nós, a fim de os nossos trabalhos pelo Evangelho chegarem a bom termo, diz a Carta aos Filipenses: “ É nesta certeza que se apoia a minha esperança: Aquele que em vós deu início a uma obra boa há-de levá-la até ao fim, isto é, até ao dia de Cristo” Flp 1, 6). Nesta perspectiva, a humildade é, como dizia Santa Teresa, a verdade. E a verdade é que a missão do Evangelho não é nossa mas de Cristo. Mas nós somos mediações fundamentais da acção do Espírito Santo.

Esta afirmação constitui o coração do sentido da celebração sacramental da confirmação. Podemos dizer que a nossa missão de evangelizadores faz parte da missão evangelizadora de Jesus Cristo. De facto, o Espírito Santo que nos consagra é o mesmo que consagrou Cristo e ele, ao ressuscitar, nos comunica.

A humildade do evangelizador assenta nesta verdade de sermos mediação do Espírito Santo para a evangelização do mundo. A pessoa humilde, diz a carta de São Tiago, está em alta consideração diante de Deus. Mas Deus não encontra lugar no coração da pessoa orgulhosa (Tg 1, 9-11).

O verdadeiro apóstolo é sempre uma pessoa humilde. Jamais se coloca acima das outras pessoas. Tal como acontecia com Cristo sente-se especialmente próximo dos simples e humildes, dando graças a Deus pelo modo como eles aceitam e compreendem o mistério de Deus (cf. Lc 10, 21-24). Esta humildade é que torna o Apóstolo uma pessoa segura e forte para enfrentar as forças que se opõem ao Evangelho.

O segredo da coragem e eficácia da missão do Apóstolo está na sua confiança inabalável no Espírito Santo que o anima e capacita. O próprio Jesus se apresenta como modelo de simplicidade e humildade diante dos discípulos, convidando-os a imitá-lo: “Sentando-se, Jesus chamou os doze e disse-lhes: Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 35).

Podemos dizer que o apóstolo, se por um lado se sente uma pessoa humilde, por outro lado sente-se forte e corajoso, pois sabe com quem conta. O evangelizador não pode ignorar que terá de enfrentar muitas dificuldades e oposições. São Paulo fala-nos dos muitos sofrimentos que teve de passar para anunciar o Evangelho: “Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, a fim de que se veja que o nosso poder extraordinário é de Deus e não nosso. Em tudo somos atribulados, mas não esmagados. Somo confundidos, mas não desesperados. Somos perseguidos, mas não abandonados. Somo abatidos, mas não aniquilados” (2 Cor 4, 8-9; cf. 11, 22-29).

O discípulo de Cristo sabe que, ao realizar a sua missão, encontra a resistência do mundo. O evangelizador sabe que apesar de estar no mundo ele não é do mundo, pois os seus critérios não são os do mundo mas os do Evangelho. O próprio Jesus Cristo preveniu os discípulos de que o mundo lhes faria grande oposição, pois detesta aquilo que o põe em causa, como diz o evangelho de São João: “Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu. Mas, vós não vindes do mundo, pois fui eu que vos escolhi do meio do mundo. É esta a razão pela qual o mundo vos odeia. Lembrai-vos da Palavra que vos disse: “o servo não é mais que o seu senhor.” Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Porém, se cumpriram a minha palavra também hão-de cumprir a vossa” (Jo 15, 18-21).

Como vemos, Jesus, ao mesmo tempo que prepara os discípulos para enfrentarem perseguições, dá-lhes a garantia de que sua missão será eficaz. Por outras palavras, vale a pena gastar a vida pela mesma causa pela qual Jesus gastou a sua. A primeira carta de Pedro diz que ser perseguido por causa de Cristo é o sinal indubitável de pertencermos a Deus e não ao mundo. É o modo mais profundo de estarmos em sintonia com Cristo, o totalmente rejeitado pelo mundo.

As perseguições dos discípulos são a confirmação de que fazem parte dos discípulos de Jesus: “Felizes sereis quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, pois será grande a vossa recompensa no Céu, pois também assim perseguiram os profetas que vos precederam” (Mt 5, 11-12).

A Carta aos Efésios dá uma série de conselhos importantes, para os evangelizadores de todos os tempos: “Mantende-vos firmes, tendo os rins cingidos com a verdade e a couraça da justiça vestida. Tende os pés em forma para partir a anunciar o Evangelho da Paz. Acima de tudo tomai o escudo da fé com o qual podereis apagar as setas incendiadas do maligno. Ponde ainda o capacete da salvação e a espada do Espírito Santo que é a Palavra de Deus. Servi-vos de toda a espécie de orações e preces. Orai sem cessar no Espírito Santo. Vigiai e sede perseverantes, orando por todos os santos” (Ef 6, 14-18).

É interessante ver como Paulo faz do Apóstolo um guerreiro. Mas este guerreiro combate com outras armas: a espada do Espírito é a Palavra de Deus, a qual é eficaz e penetrante, pois chega ao mais fundo do espírito humano. As setas que arremessamos são as nossas orações. O escudo para nos defendermos das setas dos inimigos do Evangelho é a nossa Fé.

Na Carta aos Romanos São Paulo diz que não tem quaisquer dúvidas de que sairemos vencedores desta luta contra o mundo velho que se opõe ao Evangelho, pois estamos de tal modo unidos a Cristo que ninguém nos pode separar dele: “Quem poderá separar-nos do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome a nudez, o perigo, a espada? Como está escrito, por causa de ti estamos expostos à morte o dia inteiro, fomos tratados como ovelhas destinadas ao matadouro. Mas de tudo isto saímos vencedores, graças àquele que nos amou (…). Nenhuma criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso” (Rm 8, 35- 39).

A Palavra de Deus e o Espírito Santo são as forças que nos capacitam para desfazer as distorções dos corações retorcidos pelas mentiras do mundo velho que ainda não foi recriado por Jesus Cristo. Por vezes temos ainda de lutar contra as tentações do desânimo e do medo de falhar. Se pusermos em primeiro lugar a Palavra e o Espírito Santo não falhamos de certeza.

Não podemos esquecer que a oração é uma fonte fundamental para sintonizarmos com a Palavra que é a espada do Espírito Santo. A meditação e o estudo da Palavra de Deus mantêm-nos aptos a dar testemunho de Cristo no mundo. É importante estarmos sempre preparados, diz a primeira Carta de Pedro, a fim de darmos razões da nossa esperança aos que no-las pedem (1 Pd 3, 13). São Paulo diz que está seguro de dizer a verdade em Cristo, pois é o Espírito Santo que dá testemunho na sua consciência de estar a anunciar a verdade do Evangelho (Rm 9, 1).

Não devemos esquecer, diz São Paulo, que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam Jesus Cristo (Rm 8, 28). O evangelizador consciente sabe que basta possuir o conhecimento dos conteúdos doutrinais da fé. É fundamental exercitar a mesma fé, sabendo que a Palavra do Senhor se realiza em nós se, com plena confiança, contarmos com o Senhor em harmonia com as suas promessas.

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