a) O Homem Como Cúpula da Criação
b) Jesus Cristo o Novo Adão
c) A Nova Humanidade
d) A Salvação Como Plenitude da Criação
e) Jesus Cristo é a Fonte da Vida Eterna
a) O Homem Como Cúpula da Criação
Por se concretizar em pessoas, a Humanidade já faz parte da cúpula personalizada da Criação a qual está unida à esfera de Deus. Deus é a interioridade máxima da Criação. Chega a nós sempre a partir de dentro. Por ter sido talhado para a comunhão com Deus, o Homem faz parte do melhor que a Criação conseguiu concretizar.
A marcha evolutiva, ao atingir o nível da complexidade cerebral específica do Homem possibilitou o salto para a interioridade pessoal-espiritual. A este nível, as pessoas humanas, apesar de não serem iguais às divinas são-lhe verdadeiramente proporcionais. Por outras palavras, as pessoas humanas não são divinas por natureza, mas graças ao acontecimento da Encarnação já estão divinizadas por graça.
Na verdade, pela Encarnação o divino enxertou-se no humano, a fim deste ser divinizado. Podemos dizer que o Homem em construção é a grande paixão de Deus. A sua identidade é histórica, pois está a realizar-se na história. Com efeito, para se dizer, o ser humano tem de contar uma história.
À medida em que a pessoa conta a sua história de modo adequado e verdadeiro, os outros entendem o seu ser e são capazes de comungar com ele. Como sabemos, a realidade profunda de uma pessoa não é evidente para os outros. Mas as pessoas revelam-se, quer contando a sua história pessoal, quer começando a relacionar-se em profundidade com os outros.
Apesar de a identidade dos seres humanos ser histórica, a sua vida profunda, por ser pessoal-espiritual, já tem sabor a eternidade. Por se estar a edificar como comunhão de pessoas, a Humanidade é já proporcional à própria Divindade. Na verdade, a Divindade é comunhão de pessoas e a Humanidade, também.
Por ser comunhão de pessoas, a Humanidade é compatível com o seu Criador. Fomos criados para sermos divinizados. A plenitude do humano é o divino. Ao criar-nos, Deus talhou-nos para sermos membros da Família de Deus. Com efeito, a comunhão da Santíssima Trindade tem uma matriz familiar. Por isso a Primeira Pessoa da Trindade Divina tem um jeito paternal de amar. A Segunda pessoa, por seu lado, ama com um jeito filial. A Terceira Pessoa, o Espírito Santo, é a Ternura Maternal de Deus. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).
É isto que torna clara a razão pela qual, em Cristo, a Humanidade foi incorporada na Divindade. A Humanidade é todos e cada um dos seres humanos. Não apenas os que vivem hoje na história, mas também todos os que já viveram. Nós, os que vivemos hoje na história, somos a parcela dos que estão de turno na edificação da Humanidade. Os que nos precederam são a multidão dos que já realizaram a missão histórica de se construírem como pessoas, colocando o alicerce e as traves básicas deste edifício em construção que é o Homem.
Nós, os que estamos no turno da História Humana, estamos a caminhar para a plenitude da Comunhão Universal da Família de Deus. Eles, os que nos precederam na História, já atingiram a meta para a qual estamos a caminhar.
Mas eles continuam organicamente unidos a nós e nós a eles, formando a comunhão Universal dos Santos. Ao incorporar-nos na Família de Deus, Jesus Cristo inaugurou a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos. Após o mistério da Encarnação, isto é, o enxerto do divino no humano em Cristo, os seres humanos, à medida em que se humanizam mediante o amor são já divinizados.
Com efeito, graças à união que nos liga a Cristo e, por ele, à Santíssima Trindade, já vivemos a vida da graça. Na verdade, a vida humana já está a ser optimizada de modo permanente pela acção do Espírito Santo, o qual no incorpora na Família de Deus. A Carta aos Romanos a este respeito diz quer todos os que são movidos pelo Espírito Santo são filhos e herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com o Filho de Deus. Por isso já podemos dizer com Cristo Abba, ó Pai (Rm 8, 14-16).
Por ser um homem plenamente realizado, Jesus Cristo é a Cabeça da Nova Humanidade. É por ele que temos acesso à Comunhão da Santíssima Trindade, pois nele se encontra organicamente unido o melhor de Deus e o melhor da Santíssima Trindade. Através da evolução animal, Deus foi amassando o barro até este adquirir a sua configuração adequada, isto é, a complexidade própria do ser humano.
Depois deu-lhe o beijo primordial mediante o qual o hálito de Deus passou para o interior do Homem. Foi assim que o ser humano passou à condição de pessoa em construção. Graças ao beijo criador de Deus, o barro primordial tornou-se barro com coração. O hálito da vida que passou de Deus para o interior do Homem é o Espírito Santo, passando a agir como presença personalizante no nosso interior.
Graças a esta presença do Espírito Santo no nosso íntimo, as relações humanas foram optimizadas na sua capacidade de amar e querer bem ao outro. O beijo primordial de Deus e a comunicação do Espírito Santo são o impulso que inaugura a dinâmica da humanização cuja lei é: “Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal”. Graças a esta dinâmica da humanização, o nosso ser interior emerge dentro do nosso ser exterior como o pintainho emerge dentro do ovo.
Haverá um dia em que a casca do ovo rebenta e a pessoa entra definitivamente na plenitude da Universal que é a Família de Deus. O crescimento espiritual da pessoa acontece, pois, como densidade espiritual e capacidade de se relacionar com os outros de modo livre, consciente, responsável e amoroso. O Espírito Santo é, no nosso interior, o modelador que nos vai configurando com Cristo, tornando-nos perfeita imagem de Deus.
É também o Espírito Santo que nos dá a sabedoria que nos capacita para compreendermos o sentido da vida, da História e do Universo. Depois, para compreendermos o plano do Criador, Deus concedeu-nos o dom da Revelação, a fim de olharmos a realidade com as lentes e os critérios do próprio Deus. Imaginando o plano da criação e da salvação como se fosse um dia, diríamos que Deus, ao nascer da aurora, Deus amassou o barrou e comunicou-lhe a força personalizante do Espírito Santo.
Ao meio-dia, Deus enxertou o divino no humano através do mistério da Encarnação. E foi assim que Cristo inaugurou a plenitude dos tempos, isto é, a fase da divinização do Homem. Os cristãos, preparados pela Palavra e o Espírito Santo, são convidados a celebrar e anunciar este plano criador e salvador que Deus sonhou em favor de toda a Humanidade.
A fome de felicidade e plenitude que levamos dentro não é a expressão do fracasso humano. Pelo contrário, é o sinal de que a nossa vocação é a incorporação na própria Família de Deus. O acontecimento de Cristo ressuscitado é a garantia de que Deus não nos frustrou e de que estamos a caminhar de modo seguro para a plenitude da Vida Eterna.
O apelo interior que nos convida a crescer e a realizarmo-nos como pessoas tem sentido pleno, pois o ser humano não nasce acabado. A Humanidade em geral e cada pessoa humana em particular é chamada a realizar a grande tarefa da humanização, a qual tem como meta a própria divinização. Com efeito, não estamos a construir para o vazio da morte e a nossa meta não a perda definitiva da nossa identidade pessoal-espiritual. No Reino de Deus, a pessoa é assumida e optimizada na Comunhão da própria Santíssima Trindade.
O Homem não nasce acabado. Deus criou-nos para que nos criemos mediante decisões, opções e realizações com a densidade do amor. A nossa identidade histórica, isto é, o nosso jeito de amar e comungar com os outros não se perde, pois o nosso destino não é o vazio do nada. Podemos resumir a plenitude da pessoa no Reino de Deus dizendo o seguinte: No Reino de Deus, todos dançam o ritmo do amor. Mas cada pessoa com o jeito que tiver treinado aqui na terra.
Cada pessoa está chamada a construir-se de modo único, original e irreversível. Isto quer dizer que ninguém está a mais, pois ninguém é a uma réplica do outro. Eis a razão pela qual ninguém pode ser substituído. É também por este motivo que Deus não nos criou acabados, a fim de sermos autores de nós a partir do que recebemos dos outros.
Cada pessoa está chamada a ser como quiser ir sendo através de uma cadeia de escolhas, opções e projectos de vida. É verdade que ninguém nos pode realizar nesta tarefa da nossa construção humana. Mas também é verdade que ninguém se pode realizar sozinho, pois a humanização é uma tarefa de amor. Do mesmo modo que não se pode realizar sem os outros, também a plenitude da pessoa não está em si, mas na comunhão.
Reduzida a si, a pessoa está em estado de malogro ou perdição. Podemos dizer que a pessoa que corta os laços da comunhão entra na lógica da morte eterna, pois não pode encontrar-se e possuir-se plenamente fora da comunhão com os demais. O Homem sonhado por Deus tem um rosto comunitário, como diz o livro do Génesis (Gn 1, 26-27).
b) Jesus Cristo, o Novo Adão
São Paulo diz que assim como em Adão todas as pessoas morrem, assim também em Cristo, o Novo Adão, todos ressuscitam (1 Cor 15, 20-21; Rm 5, 17-19). Segundo o Livro do Génesis, Adão, depois do pecado, foi expulso do Paraíso no qual estava a Árvore da Vida. Essa árvore era verdadeiramente importante, pois as pessoas que comessem do seu fruto viveriam para sempre. Deus expulsou Adão do Paraíso por causa dele ter sido desobediente ao mandamento divino. Devido ao seu pecado, Adão ficou impedido de comer o fruto da Árvore da Vida (Gn 3, 23).
Jesus Cristo, ao ressuscitar, abre de novo as portas do Paraíso. No momento da sua morte ele declarou ao bom Ladrão: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso (Lc 23, 43). O Senhor ressuscitado revela-se como a verdadeira Árvore da Vida. Quem comer o fruto que esta Árvore nos dá, viverá para sempre.
À luz do Novo Testamento, o fruto desta Árvore é o Espírito Santo, a Água Viva que, segundo o evangelho de São João, faz jorrar uma fonte abundante de Vida Eterna (Jo 4, 14; Jo 7, 37-39). O Espírito Santo é a força da salvação trazida por Cristo. É este o fruto da Vida Eterna que nos dá o Novo Adão. Quem come deste fruto também ressuscita com Jesus Cristo.
Deste modo, a Árvore da Vida renova-nos e liberta-nos do pecado do velho Adão, curando as feridas do coração que o pecado do primeiro Adão provocou nas pessoas. São Paulo, para mostrar a diferença entre o Velho e o Novo Adão, diz que o primeiro Adão era apenas um ser vivente, enquanto Cristo Ressuscitado se tornou para nós a fonte da Vida Eterna (1 Cor 15, 45).
Graças ao Espírito que Cristo nos dá, estamos a ser interiormente transformados, ficando cada vez mais parecidos com Jesus (2 Cor 3, 18) e passamos a fazer parte da família de Deus: filhos em relação a Deus Pai e irmãos do Filho de Deus. O Espírito Santo é o sangue de Deus a comunicar-nos a vida divina que no liga ao Pai e ao Filho (Rm 8, 14-16). Mesmo que o nosso corpo, com os anos, se vá gastando e envelhecendo, a nossa interioridade espiritual vai-se tornando cada mais robusto e forte graças à transformação que o Novo Adão realiza em nós pelo Espírito Santo (2 Cor 4, 16).
Em Cristo ressuscitado, o Novo Adão, nós converte-nos numa Nova Criação reconciliada com Deus. O primeiro Adão conduziu-nos para o caminho do fracasso universal. O Novo Adão guiou-nos para o caminho da amizade com Deus reconciliando-nos com Deus. Por isso Deus nos reconciliou consigo, ao ponto de não levar mais em consideração os nossos pecados.
Graças a Jesus Cristo, Deus Pai acolhe-nos como seus filhos. São Paulo, O Novo Adão obteve para nós o perdão dos nossos pecados, diz São Paulo (2 Cor 5, 17-19). Foi por esta razão que o Filho se comunicou e veio à Terra. Chama-se Encarnação ao acto de amor pelo qual o Filho de Deus se tornou homem como nós, isto é, o Novo Adão.
Jesus é apresentado no Novo Testamento como o Pão da Vida. O Filho de Deus deu-nos a sua própria vida, fazendo de nós uma Nova Criação (2 Cor 5, 17). São Paulo diz que estamos organicamente unidos ao Novo Adão, fazendo de nós o seu corpo. Cada um de nós é membro do Corpo Cristo (1 Cor 12, 27).
Nós só podemos ser bons apóstolos se estivermos unidos a Cristo, o Novo Adão. Jesus disse que temos de ser como os ramos de uma árvore que apenas têm vida e dão fruto se estiverem unidos ao tronco que é Cristo (cf. Jo 15, 1-8). Ao dar-se a nós, Jesus cria uma união entre nós e Ele. Esta união é a fonte da vida Eterna que passa do Novo Adão para nós. Deste modo, diz a Bíblia, tornamo-nos novas criaturas. Ao comungarmos na Eucaristia, nós comemos o fruto da Árvore da Vida, a fim de permanecermos unidos a Cristo. Nesta comunhão, o Espírito Santo é como o sangue de Deus que leva a vida de Cristo aos os membros do seu corpo que somos nós.
c) A Nova Humanidade
Graças ao acontecimento de Cristo, a Humanidade e a Divindade ficaram orgânica e definitivamente unidas. Como sabemos, as pessoas não são ilhas. Isto quer que as pessoas sejam humanas, divinas ou quaisquer outras que possam existir, apenas se possuem plenamente em relações de comunhão amorosa. A Humanidade, tal a Divindade, formam uma união orgânica.
Com efeito, existe apenas uma Divindade, apesar de serem três as pessoas. Do mesmo modo, existe apenas uma Humanidade, apesar de serem biliões as pessoas que a constituem. Isto quer dizer que o bem e o mal que os seres humanos fazem não os afecta apenas a eles, mas também à Humanidade inteira. Por outras palavras, possibilitamos o crescimento e o sucesso humano com o bem que fazemos, tal como perturbamos e bloqueamos a marcha da Humanidade com as consequências do nosso pecado.
São Paulo diz graças ao acontecimento da Encarnação, as pessoas humanas são membros da família de Deus, pelo que já não tem sentido valorizar as pessoas pela sua religião, pela raça, pelo estatuto social ou pelo sexo: “Já não há diferença entre judeu ou grego, escravo ou livre. Já não há diferença entre homem ou mulher, pois todos formamos um em Jesus Cristo” (Ga 3, 28).
O evangelho de São João diz que Jesus Cristo é o fundamento da nossa união orgânica com a Divindade: “Nesse dia compreendereis que eu estou no Pai, vós em mim e eu em vós” (Jo 14, 20). Um pouco mais à frente, São João põe na boca de Jesus as palavras deste mesmo ensinamento: “Eu neles e tu em mim, Pai, a fim de eles serem perfeitos na unidade. Deste modo o mundo conhecerá que me enviaste e os amaste a eles, tal como me amaste a mim” (Jo 17, 23).
Graças à união orgânica que existe entre nós e Cristo, fomos incorporados na Família de Deus. São Paulo exprime esta verdade de modo muito bonito quando afirma: “Todos os que se deixam guiar pelo Espírito Santo são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual chamais “Abba”, ó Pai (…). Ora, se somos filhos somos também herdeiros. Somos herdeiros de Deus pai e co-herdeiros com Cristo, pressupondo que sofremos com ele, a fim de sermos também glorificados com ele (Rm 8, 14-17).
O Senhor ressuscitado é, pois, a nascente a partir da qual se difunde para nós o princípio vital que alimente a Nova Humanidade, isto é, o Espírito Santo. Ele é a seiva que circula de Cristo, o tronco da videira para os ramos que somos todos nós. Só podemos estar vivos e dar bons frutos, diz o evangelho de São João, se estivermos unidos à cepa (Jo 15, 4-5).
Graças a esta união a Cristo e à força recriadora do Espírito Santo nós vamo-nos convertendo na Nova Humanidade, a qual se torna fecunda, dando frutos segundo o Espírito e não segundo a Carne, como diz a Carta aos Gálatas: “A carne deseja o que é contrário ao Espírito e o Espírito o que é contrário à carne. Se sois conduzidos pelo Espírito não estais sob o domínio da carne, pois as obras da carne são patentes: Impureza, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, fúrias, ambições, discórdias, partidarismos, invejas, bebedeiras, orgias e outras coisas parecidas. Sobre tudo isto repito o que vos disse antes: Os que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus. Por seu lado, os frutos do Espírito São: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, auto domínio. Contra estas coisas não há lei. Os que são de Cristo crucificaram a carne. Se vivemos pelo Espírito, sigamos o Espírito. Não nos tornemos soberbos, provocando-nos e tendo inveja uns dos outros” (Ga 5, 17-26).
Como acabamos de ver, o amor é o primeiro fruto do Espírito Santo. Isto quer dizer que quando uma pessoa decide amar está a dizer sim à voz do Espírito Santo que se faz ouvir no seu coração. Apenas em dinâmica de amor a pessoa se pode humanizar. O amor dos outros capacita-nos para amar. Por outro lado, o Espírito Santo, através da nossa consciência, convida-nos a ser fiéis às possibilidades de amar que os outros inscreveram em nós. Como vemos, a pessoa humana é ela e todo o seu contexto histórico. Por seu lado, o Espírito Santo é o princípio que optimiza as capacidades de amar que os outros inscreveram em nós.
d) A Salvação Como Plenitude da Criação
A plenitude humana não está na Humanidade, mas sim na comunhão com Deus. As pessoas humanas precisam de um contexto familiar para se realizarem e serem capazes de amar os outros. Mas a plenitude humana acontece através da incorporação das pessoas humanas na Comunhão da Família divina.
É esta a razão pela qual temos de nascer de novo pelo Espírito Santo, como diz o evangelho de São João (Jo 3, 6). Esta possibilidade de nascermos de novo é-nos dada pelo mistério da Encarnação. Eis o que nos diz o evangelho de São João: “Mas a quantos o receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram dos laços do sangue, nem dos impulsos da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. E o Verbo encarnou e veio habitar entre nós” (Jo 1, 12-14).
A grande tarefa dos seres humanos é completar em si a obra criadora de Deus, realizando-se como pessoa e procurando melhorar a marcha desta Humanidade em construção. Emergir como pessoa significa crescer em densidade espiritual e capacidade de relações e comunhão. O ser humano nasce hominizado, isto é, com a constituição natural própria de um ser humano, mas não humanizado, isto é, livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
A humanização do ser humano é uma tarefa que dura a vida inteira. Além disso ninguém a pode realizar por nós. A lei da humanização é: Emergência pessoal mediante relações de amor e convergência para a Comunhão Universal. Para nós, cristãos, a Comunhão Universal é também chamada de Reino de Deus. O projecto de Deus para a Humanidade implica duas dimensões: a criação e a salvação.
A criação acontece como processo histórico de humanização. A salvação acontece como divinização mediante a assunção e introdução das pessoas humanas na comunhão familiar das pessoas divinas. O processo da humanização, tal como o processo da divinização é iniciado através de um beijo de Deus.
A humanização é iniciada com o beijo primordial de Deus Pai, no barro amassado, para utilizar a imagem do Livro do Génesis. Na verdade, a palavra hebraica “Neshama” significa beijo e sopro. Em consequência deste beijo, o hálito dinâmico e gerador de vida espiritual (o Espírito de Deus), passou de Deus para o Homem e este torna-se um ser espiritualmente animado. A intervenção especial de Deus na criação do Homem acontece, pois, através deste beijo (Gn 2, 7).
O segundo beijo é-nos dado por Deus filho no momento da Encarnação. Pelo mistério da Encarnação, o divino enxertou-se no humano em Jesus de Nazaré. Deus comunica-nos o dom do Espírito Santo através destes dois beijos. Através do segundo beijo, os seres humanos passam a interagir de modo orgânico com o Espírito Santo através de Jesus Cristo. Segundo a imagem do evangelho de São João, Jesus é a cepa da videira da qual nós somos os ramos. Nós apenas podemos ser ramos vivos e fecundo se estivermos unidos à cepa (Jo 15, 4-5).
A seiva que alimenta esta união orgânica é o Espírito Santo. Jesus comunica-nos esta seiva em forma de uma Água Viva que faz emergir Arroios de Vida Eterna no nosso coração (Jo 7, 37-39; 4, 14). Portanto, falar da seiva da videira que vem da cepa para os ramos ou da Água Viva que vem de Cristo para o nosso coração é a mesma coisa.
Em qualquer dos casos estamos a falar do Espírito Santo. É este, acrescenta o evangelho de São João, o sangue de Cristo ressuscitado a circular de Cristo para nós e a comunicar-nos a Vida Eterna (Jo 6, 62-63). O Espírito Santo é, pois, o Sangue da Nova Aliança que vai ser derramado por todos para perdão dos pecados (cf. Mt 26, 28). É este o produto da videira, acrescentam os evangelhos, que Jesus beberá com os discípulos no Reino de Deus (Mt 26, 29 cf. Mc 14, 25; Lc 22, 17-18).
O beijo da encarnação leva à plenitude a comunicação do Espírito Santo iniciada com o beijo primordial da criação. Eis a razão pela qual, São Paulo diz que Cristo inaugura a plenitude dos tempos, isto é, a fase dos acabamentos que é a dinâmica histórica da divinização: “Mas quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos. E porque somos filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito Santo de seu filho que, no nosso íntimo clama: Abba, ó Pai” (Ga 4, 4-6).
São Paulo diz que o Espírito Santo é quem nos introduz na Família de Deus (Rm 8, 14). O Espírito Santo é uma pessoa cujo jeito de ser é animar as relações de comunhão entre as pessoas e criar laços de comunhão orgânica. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5). É, pois, de modo orgânico, que o Espírito Santo nos introduz na comunhão familiar da Santíssima Trindade.
Os dois beijos através dos quais Deus nos comunica a força criadora e salvadora do Espírito Santo devem ser entendidos como uma realidade dinâmica e progressiva. Por outras palavras, a acção humanizante, tal como a acção divinizante do Espírito Santo estão presentes e activas no ser humano ao longo de toda a vida. São Paulo vê a acção do Espírito Santo em nós como uma presença adequada a cada pessoa. Eis a razão pela qual ele afirma que Deus concorre em tudo para o bem dos que o amam (Rm 8,28).
Graças a esta presença dinâmica do Espírito Santo em nós, Deus torna-se realmente o Emanuel, isto é, o Deus connosco. Isto aconteceu de modo pleno graças ao nascimento de Jesus Cristo, diz São Mateus: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho a quem chamarão Emanuel, isto é, Deus connosco” (Mt 1, 23). Isto deve ser entendido que o Espírito Santo está em nós, para nós e por nós e, portanto, ilumina-nos e ajuda-nos no sentido de sabermos encontrar a melhor solução e orientação para os acontecimentos do nosso dia a dia.
Pelo primeiro beijo, Deus cria-nos à sua imagem e semelhança (Gn 1, 26-27). É a acção humanizante do Espírito Santo. Pelo segundo, Deus integra-nos na Família Divina (Jo 1, 12-14). É a acção divinizante do mesmo Espírito. O primeiro beijo ajuda-nos no sentido de nos humanizarmos. O segundo realiza em nós a dinâmica da ressurreição, a qual culmina na assunção e incorporação na Família Divina.
O evangelho de São João vê no sacramento da Eucaristia a expressão desta acção divinizante do Espírito Santo, alimentando a nossa união orgânica com Cristo e, através dele, com o próprio Deus: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e eu vivo pelo Pai, do mesmo modo quem me come viverá por mim” (Jo 6, 56-57).
A Encarnação aconteceu porque o Espírito Santo encontrou na interioridade pessoal humana de Jesus, uma proporcionalidade adequada e suficiente para estabelecer uma interacção com a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Deste modo, Jesus de Nazaré, o Filho de Maria, faz um com a pessoa do Filho Eterno de Deus, tal como o Pai e o Filho, em Deus, fazem um. Eis as palavras de Jesus no evangelho de São João: “Eu e o Pai somos Um” (Jo 10, 30).
Como vemos, Jesus Cristo é a condição para o dinamismo salvador do Espírito Santo se difundir organicamente pela Humanidade, incorporando-a na família da Santíssima Trindade. Deste modo o Filho unigénito de Deus, pelo mistério da Encarnação tornou-se o primogénito de muitos irmãos, como diz a Carta aos Romanos (Rm 8, 29). Todos os que são movidos pelo Espírito Santo, diz São Paulo, são filhos de Deus Pai e irmãos do Filho de Deus (Rm 8, 14-16).
Não nos podemos esquecer de que este sonho amoroso de Deus é para toda a Humanidade, não apenas para os homens e mulheres que vieram depois de Cristo. No momento da morte e ressurreição de Jesus Cristo, a Humanidade que o precedeu e que já fazia uma união orgânica de grandeza humana, passou a fazer uma união orgânica de grandeza humano-divina. São Paulo diz que o nosso coração é templo do Espírito Santo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito Santo habita em vós?” (1 Cor 3, 16).
Na Segunda Carta aos Coríntios, São Paulo volta a insistir neste ponto, dizendo: “Nós é que somos o templo do Deus vivo, como disse o próprio Deus: Habitarei e caminharei no meio deles, serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (2 Cor 6, 16). É, pois, a partir do nosso íntimo que se constitui essa união orgânica que nos insere na Família de Deus: “Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que está em vós e que recebestes de Deus? “ (1 Cor 6t, 19).
A única força que pode destruir em nós o templo de Deus é o egoísmo, a fonte de todas as formas de pecado: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá, pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (1 Cor 3, 16-17).
O livro do Apocalipse descreve esta comunhão do Homem com Deus de maneira muito bonita: “E ouvi uma voz potente que vinha do trono e dizia: ‘Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com os homens e eles serão o seu povo. O próprio Deus estará com eles e será o seu Deus, enxugando todas as lágrimas dos seus olhos e não haverá mais morte nem pranto nem dor”. (Apc 21, 3-4).
Como vemos, Jesus Cristo é a cúpula do plano de Deus iniciado com a Criação. Nele a humanidade foi plenificada ao ser assumida na Família da Santíssima Trindade. O pecado humano não alterou nem destruiu o plano de Deus, pois em Cristo, Deus reconciliou consigo a Humanidade, diz São Paulo, não levando mais em conta o pecado dos homens. Eis a razão pela qual Jesus Cristo é a Cabeça da Nova Criação (2 Cor 5, 17-18).
No princípio, diz o evangelho de São, o Logos foi o protagonista da acção criadora de Deus. Na plenitude dos tempos, o mesmo Logos, ao encarnar, insere o Homem na Família de Deus, conferindo plenitude à mesma Criação (Jo 1, 12-14). Com o mistério da Encarnação, o plano da criação, da revelação e da salvação atingem o nível da plenitude.
Se o mundo é criação de Deus, então todas as coisas são boas, diz o livro do Génesis (Gn 1, 25). Mais tarde, os fariseus com as suas distorções rabínicas tentaram dividir as coisas entre puras e impuras, boas e más, benditas e malditas. Jesus opõe-se a este dualismo e reafirma a bondade de todas as coisas. Os alimentos, diz ele, são todos puros. O que torna o homem impuro é a maldade que lhe sai do coração e não os alimentos que possa ingerir (Mc 7, 14-20).
Por ser constituída por pessoas, a Humanidade é a cúpula da Criação. A Divindade é pessoas e a Humanidade também. O prólogo do evangelho de São João representa o cume da Cristologia do Novo Testamento e o ponto mais alto da fé na obra criadora de Deus realizada Por Cristo. Eis a razão pela qual São João inicia o prólogo com as mesmas palavras com que o Génesis inicia o relato da criação: “ No princípio” (Jo 1,1; cf. Gn 1, 1). Se a consumação de todas as coisas acontece em Cristo ressuscitado, então a nossa meta não é o vazio da morte, mas a plenitude da vida na Comunhão Familiar da Santíssima Trindade.
e) Jesus Cristo é a Fonte da Vida Eterna
O Novo Testamento associa Adão com o pecado e a morte e Jesus Cristo com a Vida Eterna: “Assim como todos morrem em Adão, diz São Paulo, todos recebem a Vida através de Jesus Cristo” (1 Cor 15, 22). Esta perspectiva é proclamada em muitas passagens do Novo Testamento.
Eis algumas passagens que nos ajudam a compreender o mistério de Cristo como Fonte da Vida Eterna: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (Jo 11, 25-26). Jesus é a fonte da Vida Eterna, pois ao fazer uma união orgânica connosco, liga-nos de modo intrínseco, isto é, vital e interior, com o Espírito Santo que é a dinâmica da Vida Eterna: “A Água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna” (Jo 4, 14). Jesus Cristo foi enviado por Deus, a fim de que não pereçamos, mas tenhamos a Vida Eterna (Jo 3, 16).
Como está unido ao Pai, Jesus comunica a Vida que lhe vem do Pai: “Como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, também o Filho dá a vida a quem entender” (Jo 5, 21). Procedendo deste modo, Jesus está a realizar a missão que o Pai lhe confiou: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito, a fim de que todos os que o acolherem não pereçam mas tenham a Vida Eterna” (Jo3, 16).
Para afirmar que Deus não nos criou para a morte, o Livro do Génesis diz que Deus, no Paraíso, pôs ao dispor do Homem a Árvore da Vida, cujo fruto era portador da Vida Eterna. Eis as palavras do Livro do Génesis: “O Senhor Deus disse: ‘eis que o Homem, quanto ao conhecimento do bem e do mal, se tornou como um de nós. Agora é preciso que ele não estenda a mão para se apoderar também do fruto da Arvora da Vida e, comendo dele, viva para sempre. Então, o Senhor Deus expulsou Adão do Jardim do Éden (…). Depois de ter expulsado o Homem colocou a oriente do jardim uns Querubins com uma espada flamejante, a fim de guardarem o caminho da Árvore da Vida” (Gn 3, 22-24).
No centro do Paraíso havia duas árvores decisivas para o destino do homem: a Árvore do Conhecimento do bem e do mal e a Árvore da Vida. Os frutos da árvore do conhecimento do bem e do mal são a arbitrariedade e do capricho, atitudes que levam ao fracasso. Ao comerem o fruto desta árvore, Adão e Eva descobrem que estão nus, pois entraram na via do malogro e do fracasso, pois bloqueiam a liberdade humana e a capacidade de amar.
As pessoas cuja vida é orientada pelo capricho e a arbitrariedade não chegam a atingir a maturidade humana. Para atingir a sua maturidade e realização, a pessoa precisa de crescer como ser livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa. Ao contrário da árvore do conhecimento do bem e do mal, a Árvore da Vida faz germinar a Vida Eterna no coração dos que comem o seu fruto.
Os ensinamentos do evangelho de São João sobre a Eucaristia têm como pano de fundo estas alegorias do Livro do Génesis para dizer que Jesus é a Árvore da Vida e o Espírito Santo é o seu fruto, o qual faz jorrar vida eterna no nosso íntimo (Jo 7, 37-39). Nós recebemos a Vida Eterna de Jesus, pois fazemos uma união orgânica com ele que é a Árvore da Vida.
O Livro do Apocalipse contempla a multidão dos salvos a receber o fruto da Árvore da Vida, a qual lhes proporciona a Vida Eterna: “Ao vencedor conceder-lhe-ei comer o fruto da Árvore da Vida que está no Paraíso” (Apc 2, 7). Apenas os que têm as vestes limpas, isto é, os que estão aptos a viver a dinâmica da comunhão, terão acesso à Árvore da Vida: “Felizes os que lavam as suas vestes para ter acesso à Árvore da Vida” (Apc 22, 14).
O Paraíso é uma realidade da plenitude dos tempos, não dos primórdios míticos da criação. Eis a maneira poética como o Apocalipse descreve a plenitude da Vida Eterna no Paraíso: “ No meio da Praça da Cidade, nas margens do rio, está a Árvore da Vida, a qual produz doze colheitas de frutos: em cada mês o seu fruto. As folhas da Árvore servem de medicamento para todas as nações” (Apc 22, 2).
É na perspectiva de Cristo como Árvore da Vida que devemos entender o texto do evangelho de São João que nos apresenta Jesus como a cepa da videira da qual nós somos os ramos. Nós só podemos viver e ser fecundos na medida em que estivermos unidos à cepa e sejamos alimentados por ela (Jo 15, 4-5).
O profeta Isaías utiliza também o símbolo da Árvore, dizendo que o Messias é um rebento da Árvore da Aliança que vem de David, o filho de Jessé. Por isso diz que o Messias é um rebento da árvore de Jessé, o qual vai ser fortalecido pelo Espírito Santo que o torna fecundo, capacitando-o para criar um povo justo que possa ser o fermento de uma Nova Humanidade.
Eis as palavras de Isaías: “Brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes. Sobre Ele repousará o Espírito do Senhor: Espírito de sabedoria e entendimento, Espírito de conselho e fortaleza. Espírito de Ciência e Temor de Deus” (Is 11, 1-2).
Segundo os relatos das origens, o fruto das duas árvores mencionadas estava ao alcance do ser humano. Dependia do Homem comer de uma ou outra. Esta linguagem do Génesis é fundamental para dizer que a pessoa humana não nasce livre, mas sim com a possibilidade de o ser. Com o símbolo das duas árvores, o livro do Génesis exprime de modo muito bonito o significado do livre arbítrio, o qual é a possibilidade de sermos livres. O livre arbítrio é a capacidade psíquica de optar pelo bem ou pelo mal. O Homem cedeu à tentação e optou pelo mal, acabando por comer o fruto errado.
Como consequência deste pecado, o Paraíso foi fechado, ficando fora do alcance de Adão. Como Adão é a cabeça da Humanidade, esta foi introduzida por Adão no caminho do Malogro e do fracasso. Como é Amor Infinito, Deus não podia deixar de nos amar infinitamente. Eis a razão pela qual ele sonhou um plano de amor para restaurar o Homem distorcido pelo pecado.
No momento da sua morte e ressurreição, Jesus Cristo abriu o Paraíso fechado a Adão e introduziu nele a Humanidade que o tinha precedido na história. Eis as palavras de Jesus ao Bom Ladrão: “Em verdade te digo: hoje mesmo estarás comigo no Paraíso” (Lc 23, 43). Cristo é a Árvore da Vida. É o rebento do tronco de Jessé e o renovo que brota das raízes deste tronco, a Santíssima Trindade.
De facto, Jesus Cristo não é apenas da raça dos homens. A sua realidade é humano-divina. Isto quer dizer que a raiz mais profunda do seu mistério é a própria comunhão da Trindade Divina (Jo 1, 12-14). Por outras palavras, no mistério de Jesus Cristo encontram-se organicamente unidos o melhor de Deus e o melhor da Humanidade.
A Ascensão de Jesus significa que ele e a Humanidade que o precedeu, no momento da sua ressurreição são incorporados na Família Divina. Em Jesus ressuscitado, portanto, passámos a fazer parte da Árvore da Vida, tornando-nos ramos organicamente ligados ao rebento de Jessé e às suas raízes que é a comunhão orgânica da Trindade Divina.
Jesus abriu as portas do Paraíso à Humanidade e esta foi divinizada. O relato do Génesis sobre o Paraíso não deve ser entendido como uma realidade existente num princípio mítico, mas antes um projecto sonhado por Deus para a plenitude dos tempos, como diz São Paulo: “Quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho nascido de uma mulher (…), a fim de recebermos a adopção de filhos” (Ga 4, 4-6).
Jesus Cristo é, na Verdade, o Adão fiel, a cabeça da Humanidade reconciliada com Deus (2 Cor 5, 17-19). Ele é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna como Jesus diz no evangelho de São João: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a Vida Eterna e eu hei-de ressuscitá-lo no último dia. Na verdade, a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue verdadeira bebida. Quem come a minha carne a bebe o meu sangue fica a morar em mim e eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também o que me come viverá por mim” (Jo 6, 54-57).
Mas o evangelho de São João tem o cuidado de acentuar que esta comunhão orgânica com Cristo ressuscitado nada tem de biológico. Trata-se do grande dom do Espírito Santo, como Jesus esclareceu: “E se virdes o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito é que dá vida, a carne não presta para nada. As palavras que vos disse são Espírito e Vida” (Jo 6, 62-63).
A carne e o sangue de Cristo são a seiva da Árvore da Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo. Com Jesus, a Humanidade entra no Paraíso e é amorosamente assumida na família de Deus sendo, por consequência, divinizada. Eis como o Paraíso sonhado pelo livro do Génesis se torna realidade.
Os que são animados pelo Espírito Santo são membros da Família de Deus, diz São Paulo: “Todos os que são movidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para andardes no temor. Pelo contrário, recebestes um Espírito de adopção graças ao qual clamamos “Abba”, isto é, Papá. E se sois filhos sois também herdeiros. Herdeiros de Deus Pai e co-herdeiros com Jesus Cristo” (Rm 8, 14-17).
Os habitantes do Paraíso são alimentados pelo fruto da Árvore da Vida, comunicando a Vida Eterna a todos os que o comem: “Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à Árvore da Vida e poderem entrar nas portas da cidade” (Apc 22, 14).
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