Era uma noite escura, embora serena e calma. No dia anterior, Deus tinha dito a Moisés que queria libertar o seu povo, pois este estava a sofrer o tormento de uma escravidão humilhante. O povo de Moisés também se chamava o povo de Deus. Era constituído pelos filhos de Abraão, um homem honesto e muito amigo de Deus.
Deus tinha escolhido Abraão para fazer com ele uma aliança de amizade, dando-lhe a garantia de que ia fazer com os seus descendentes um povo escolhido através do qual ia fazer bem a toda a Humanidade (Gn 12, 3). Quando Deus apareceu a Moisés, os filhos de Abraão estavam a sofrer os tormentos humilhantes da escravidão no Egipto. As pessoas eram reduzidas à condição de animais mal alimentados e espancados para trabalhar mais.
Perante esta humilhação, Deus lembrou-se da promessa que tinha feito a Abraão: “Com os teus descendentes farei um grande povo. Abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. Abençoarei aqueles que te abençoarem e tu serás uma fonte de bênçãos. Todas as famílias da terra serão abençoadas graças aos filhos que te vou dar (Gn 12, 2-3). Quando Deus disse isto a Abraão já estava a pensar em Jesus Cristo, o descendente de Abraão através do qual foram abençoadas as famílias da terra.
O Povo de Deus era constituído por pessoas de muita fé e por isso ficou conhecido como o Povo de Deus ou Povo Hebreu. Ao ver os sofrimentos do seu povo, Deus lembrou-se da aliança que tinha feito com Abraão. Foi por esta razão que Deus chamou Moisés, homem cheio de fé e da força do Espírito Santo para libertar o povo da escravidão do Egipto.
Moisés começou a preparar as pessoas, dizendo-lhes que Deus tem um plano de libertação para os filhos de Abraão que ele ama como seus filhos. Moisés queria fortalecer a fé das pessoas, pois ele sabia muito bem que a fé é uma força capaz de fazer grandes heróis. Eis as suas palavras: “Cobrai ânimo, pois esta noite o Deus do nosso pai Abraão vai chegar para nos libertar. Esta será a noite do grande castigo para os egípcios, pois eles têm oprimido de forma cruel os filhos de Abraão que são também filhos de Deus. Lembrai-vos, dizia Moisés, que o Senhor jurou ao nosso pai Abraão que viria sempre em nossa ajuda, a fim de nos libertar das mãos dos nossos inimigos. Na véspera Deus tinha aparecido a Moisés para lhe explicar a noite do dia seguinte ficaria a chamar-se a noite da Páscoa, isto é, a noite da passagem do Deus forte que toma partido pelos fracos e oprimidos. Depois, Moisés acrescentou: “Deus comunicou-me que não podia ouvir mais os gemidos do seu povo. Por isso escolheu esta noite para ser a noite da Páscoa, pois ia passar para libertar o seu povo querido.
Logo ao escurecer, acrescentou Moisés, ides fazer o seguinte: entrai nas vossas casas e preparai as coisas para partir. Os egípcios nem suspeitam o que está para lhes acontecer, pois o Senhor vai chegar como juiz castigador, pois ele não suporta o sofrimento das pessoas humilhadas e maltratadas pelos soberbos e orgulhosos”. Pouco antes de começar a marcha libertadora Deus disse a Moisés: “Nesta noite a peste vai entrar nas casas dos egípcios, matando os seus filhos primogénitos”.
Conhecedor destas coisas, Moisés começou a preparar os hebreus para a grande intervenção de Deus. Esta noite, dizia ele, o Senhor Deus vai passar pelas casas dos egípcios, a fim de os castigar pelo mal que têm feito ao nosso povo que é o filho querido de Deus. Depois Moisés acrescentou: “Esta Vai ser uma noite de dor e sofrimento para o povo do Faraó, e para o próprio rei que vai perder o seu filho primogénito, isto é, o herdeiro do trono. Cada família deve sacrificar um cordeiro, a fim de preparar uma ceia especial que ficará a chamar-se para sempre a ceia da Páscoa, pois fica como testemunho da passagem libertadora de Deus.
Com o sangue do cordeiro deveis pintar a porta das vossas casas, a fim de que o anjo da morte, quando vier castigar os egípcios reconheça as vossas casas e passe em frente. Juntamente com o cordeiro, as famílias israelitas devem comer ervas amargas e pão ázimo, isto é, sem fermento. As ervas amargas são para recordar aos vossos filhos o sofrimento amargo dos setenta anos da escravidão no Egipto. O pão ázimo significava a urgência de partir, pelo que não havia tempo para que a massa pudesse levedar.
Moisés tinha ordenado às famílias que comessem de pé, a fim de estarem preparados para partir em direcção à liberdade. Para encorajar os hebreus a empenhar-se na conquista da liberdade ele dizia às pessoas que os frutos da terra para a qual Deus os ia a conduzir tinham um sabor a requeijão e a mel, coisas que as pessoas apreciavam muito.
Ao entardecer, as pessoas começaram a preparar a refeição. Por volta da meia-noite, quando as famílias já tinham jantado, ouviu-se um grito cheio de angústia e desespero: Era uma mãe egípcia que acabava de perder o seu filho primogénito. Logo em seguida, ouve-se outro grito e outro e outro e outro e muitos outros. Em cada família egípcia, o anjo da peste deixava morto o filho primogénito. o ver o sinal do sangue nas portas dos hebreus, o anjo da morte passava à frente. Algum tempo depois ouve-se uma forte trombeta. Logo ouvem-se muitos bombos e flautas. Eram os músicos hebreus a avisar que chegara a hora de partir.
Chegou o momento de iniciar a grande viagem da libertação, gritou Moisés. Temos de ser fortes, pois a liberdade é uma conquista. Deus está connosco, mas não está em nosso lugar, isto é, não nos substitui. Preparai-vos, pois teremos de enfrentar provas muito difíceis como atravessar o Mar Vermelho e enfrentar o perigo dos escorpiões e serpentes que abundam no deserto. Teremos ainda de sofrer o tormento da sede, pois no deserto há pouca água. Temos de ser muito solidários, dando-nos as mãos nos momentos difíceis, a fim de ficarmos mais fortes. Lembremo-nos de que a tarefa da libertação só é possível se as pessoas forem amigas, leais e fraternas.
E a viagem começou. Foi difícil e longa, pois durou quarenta anos. O Povo nunca mais esqueceu este beijo libertador de Deus. Muitos anos mais tarde, Deus apareceu ao profeta Oseias e disse-lhe: “Vai dizer a todos que tenham confiança em mim, pois quando o povo era ainda eu salvei-o”. Depois Deus acrescentou: “Quando Israel era ainda menino, eu amei-o e chamei o meu filho do Egipto” (Os 11, 1).
Passados muitos séculos, Deus enviou o seu Filho à terra que tinha dado aos filhos de Abraão. O Filho de Deus veio como Messias, isto é, o Salvador Prometido, a fim de realizar uma Páscoa Nova e mais perfeita: em vez da morte dos inimigos, Cristo realizou a Páscoa do perdão, pedindo a Deus seu Pai que perdoasse aos seus inimigos. Jesus sabia que Deus toma partido pelos que passam a vida a fazer o bem. Por outras palavras, Jesus tinha a certeza de que Deus o ia ressuscitar e, com ele, salvar todos os seres humanos como Deus tinha prometido a Abraão (Gn 12, 3). A Nova Páscoa tornou-se a festa da libertação total, pois Cristo, ao ressuscitar, venceu a sua e a nossa morte. E foi assim que todas as famílias da terra foram abençoadas em Cristo o descendente de Abraão.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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