A Virgindade de Maria




a) Enquadramento Bíblico
1- Virgindade e Fecundidade na Bíblia
2-Virgindade e Maternidade de Maria
3-Virgindade e Reino de Deus

b)Evolução do Conceito de Maria Virgem
1- A Maternidade Virginal nos Santos Padres
2- Evolução Histórica da Noção de Maria Virgem
3- Maria Como Mãe e Símbolo Virginal


a) Enquadramento Bíblico

1- Virgindade e Fecundidade Bíblia

O Antigo Testamento não começa por valorizar a virgindade. A morte de uma jovem virgem é considerada um grande mal e um castigo de Deus. A vida de uma jovem que morre virgem assemelha-se à de uma árvore que secou sem dar fruto. Na verdade, morrer virgem significava que essa pessoa não foi alvo das bênçãos de Deus, as quais são geralmente portadoras de uma promessa associada a uma posteridade duradoira.

Uma mulher com muitos filhos, pelo contrário, era considerada como uma pessoa abençoada e agraciada pelas bênçãos de Deus. Os filhos são a alegria e a plenitude do casamento (Gn 24, 60; Sal 127; Sal 128, 3). Os filhos são vistos sempre como uma recompensa de Deus (Ex 1, 21; 1, 26). A Aliança de Deus com o homem leva consigo a promessa de uma prole numerosa e importante para a Humanidade (Gn 15, 5; 22, 17). É esta a razão pela qual o filho primogénito é pertença de Deus, pois ele é o primeiro dos grandes dons de Deus. O filho primogénito é como o dízimo das colheitas. Pertence a Deus e, por isso, deve ser resgatado pelos pais. (Ex 34, 20).

Para afirmar que a fecundidade é um dom de Deus, a Bíblia diz que os homens mais importantes da história da salvação nasceram de mulheres estéreis. Estes homens foram um dom de Deus e não obra da fecundidade humana. O eunuco, homem castrado por acidente ou por mutilação, não podia tomar parte na assembleia de Deus (Dt 23, 2). A esterilidade era sempre considerada como um problema da mulher. O homem que tem sémen é fecundo. O eunuco, como não tem sémen, é uma árvore seca. Como não é uma árvore fecunda, o eunuco não pode fazer parte do jardim de Deus, isto é, a assembleia do culto.

O conceito de fecundidade, neste período, limitava-se à capacidade reprodutora. Se uma mulher morria sem filhos, era uma mulher para esquecer. Se era o varão que morria sem filhos, o irmão deste devia ter relações com a viúva para dar descendência ao seu irmão (Dt 25, 5-6). O papel procriador era do varão. A mulher era apenas uma coadjuvante do varão. Movidos pelo Espírito Santo, os profetas começam a modificar esta forma de ver as coisas. O profeta Jeremias escolheu o celibato para indicar que é melhor não ter filhos que fazê-los membros de um povo corrupto. O profeta Amós diz que os homens que não produzem frutos de vida são como uma donzela que morra virgem (Am 5, 1).

A esterilidade que é uma desonra e causa de maldição de Deus não é a incapacidade de procriar, mas sim a vida dos que não cultivam o amor e a fraternidade. Mesmo que tenham muitos filhos, o ímpio e o injusto não contribuem para o bem do povo de Deus e da Humanidade. Esta esterilidade desonra o homem, pois é resultado das suas escolhas e opções egoístas e fratricidas. O homem é culpado desta esterilidade, não da outra.

O juízo de Deus, dizem os profetas, é diferente do juízo dos homens. O eunuco, diz o profeta Isaías, se tiver uma vida cheia de obras boas pode considerar-se uma árvore fecunda e, portanto, abençoada por Deus. Não tem razões para se considerar um lenho seco, isto é, um ramo sem frutos (Is 56, 3b). Se for fiel à Aliança de Deus, o eunuco terá um monumento e um nome muito mais duradouro que os filhos que por hipótese tivesse deixado. O profeta Isaías diz ainda que o nome do eunuco foi fiel à aliança de Deus não se apagará jamais (Is 56, 4-5).

O livro da Sabedoria diz que vale mais a vida justa de uma pessoa sem filhos, do que ser injusto e ter uma prole numerosa. A memória desta pessoa será imortal, apesar de não ter deixado filhos (Sab 4, 1). Os ímpios, mesmo que tenham muitos filhos não serão recordados com gratidão por ninguém, pois não contribuíram para o bem da Humanidade (Sab 4, 3). Os filhos são um bem para a Humanidade na medida em que são dons de amor, isto é, seres bem amados, isto é, seres capazes de ajudar a edificar o Homem tal como Deus o sonhou. Os filhos que nascem de um contexto de desamor, no dia do juízo, acusarão aqueles que os geraram, diz o livro da Sabedoria (Sab 4, 6). Por outro lado, os eunucos que fizeram o bem durante a vida terão uma parte honrosa na morada de Deus (Sab 3, 14). Do mesmo modo, a esterilidade da mulher não é castigo de Deus nem razão para qualquer desonra. A mulher estéril que segue os caminhos de Deus será bem-aventurada. No dia do juízo, encontrar-se-á cheia de frutos. A fecundidade das mulheres estéreis está na qualidade das suas obras (Sab 3, 13).

Como vemos, o conceito de fecundidade vai-se espiritualizando e tornando mais que uma mera questão de procriação. O profeta Isaías diz que a mulher estéril que viveu a Aliança de Deus terá uma prole mais numerosa do que a mulher que procriou (Is 54, 1-4). O seu esposo destas mulheres é Jahvé o qual é sempre fiel (Is 54, 5-7). A mulher estéril, diz o Livro da Sabedoria, pode ser profundamente fecunda (Sab 3, 12-13). Por outras palavras, a fecundidade que Deus ama são as atitudes que geram fraternidade, paz, alegria, justiça, misericórdia.

Não é por acaso que os Actos dos Apóstolos diz que o primeiro pagão a ser convertido foi um eunuco, o superintendente da rainha Candace da Etiópia: “O Anjo do Senhor falou a Filipe e disse-lhe: “põe-te a caminho e dirige-te para o Sul, pela estrada que desce de Jerusalém para Gaza, a qual se encontra deserta”. Filipe pôs-se a caminho e foi para lá. Ora, um etíope, eunuco e alto funcionário da rainha Candace, da Etiópia, e superintendente de todos os seus tesouros, que tinha ido em peregrinação a Jerusalém, regressava, na mesma altura, sentado no seu carro, a ler o profeta Isaías (…).

Partindo desta passagem da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus. Pelo caminho encontraram uma nascente de água e o eunuco disse: “Está ali uma nascente de água! Que me impede de ser baptizado? Filipe respondeu: “Se acreditas de todo o coração, isso é possível”. O eunuco respondeu: “Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus” e mandou parar o carro. Filipe e o eunuco desceram à água e Filipe baptizou-o” (Act 8, 26-38).

A opção celibatária de Jesus insere-se, naturalmente, nesta perspectiva teológica. Já não nos será difícil entender a razão pela qual Jesus Cristo optou pelo celibato. O evangelho de São João diz que ele é a fonte de uma nova fecundidade que faz de nós filhos de Deus: “Mas a quantos o receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Estes não nasceram dos laços do sangue, nem de um impulso da carne, nem da vontade de um homem, mas de Deus. E o Verbo fez-se homem e habitou entre nós” (Jo 1, 12-14).

Segundo os ensinamentos de Jesus, a vida fecunda é um apelo que Deus nos faz todos os dias. A fecundidade amorosa não está limitada aos períodos fecundos da procriação. Pelo contrário é um deve de todos os dias. Eis o significado do ensinamento da figueira chamada a dar figos durante todo o ano (Mt 21, 18-20; 7, 15-20). O profeta Jeremias dizia que a esterilidade de vida será punida por Deus (Jer 6, 14-15; 6, 26; 7, 11; 7, 25).

Segundo os critérios do Novo Testamento a fecundidade de uma vida mede-se pelo bem que a pessoa faz e não pelo número de filhos que se tem. Há mesmo homens e mulheres que permanecem celibatários para serem mais fecundos, dizem os evangelhos e Paulo (Mt 19, 12ss; 1Cor 7, 7-8; 2Cor 6, 6; 1Tim 4, 12).

Jesus veio inaugurar a família de Deus. Esta não é constituída pelos laços do sangue, mas sim pelos laços do Espírito Santo. O homem nasce para a Família do Reino de Deus através de um novo nascimento, o qual acontece pelo Espírito Santo (Jo 3, 6). Para o novo Testamento é mais fecundo quem ama mais. É pelo amor que os seres humanos serão julgados (Mt 25, 31-46). Segundo estes critérios, o maior mal que pode acontecer ao homem é tornar-se estéril. A esterilidade, nesta perspectiva, é uma opção da pessoa humana. Acontece pela decisão de enterrar os talentos que Deus nos concedeu através dos outros (Mt 25, 14-30).


2- Virgindade e Maternidade de Maria

Se exceptuarmos os relatos da infância (Mt 1-2; Lc 1-2), o Novo Testamento não pressupõe uma concepção miraculosa de Jesus. Por outro lado, os Evangelhos da Infância são, como sabemos, um “midrash”, isto é, uma elaboração literária com uma intenção teológica bem determinada. A intenção dos evangelhos da infância é proclamar a messianidade e o chamamento de Jesus desde o primeiro momento da sua existência.

O procedimento dos dois primeiros capítulos de Lucas e Mateus está de acordo com os midrash dos grandes personagens bíblicos. As descrições do nascimento miraculoso de Isaac, Jacob, Sansão, Samuel e João Baptista tem em mente sublinhar o papel fundamental destes personagens no pleno de Deus, bem como afirmar o seu chamamento desde o seio materno. O midrash é uma elaboração literária muito conhecida no mundo bíblico. Em geral tem como pano de fundo outros textos bíblicos, a fim de enquadrar o personagem dentro da História da Salvação.

É neste contexto que se situam os relatos da concepção miraculosa de João Baptista e da concepção virginal de Jesus. Mateus diz expressamente que a concepção virginal de Jesus é a realização da profecia do profeta Isaías que fala do Emanuel (cf. Mt 1, 22-23). Por outro lado, Mateus, ao elaborar este texto, estava a fazer uma proclamação sobre a vocação messiânica de Jesus e não fazer qualquer proclamação sobre Maria. O mundo bíblico entendia o midrash como elaboração teológica, não como relato histórico.

É uma constante nos evangelhos a afirmação de que Jesus realizou o predito pelos profetas: “Começando por Moisés e seguindo todos os profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, o que lhe dizia respeito” (Lc 24, 27). Fazem mesmo extrapolações para dizer que tudo o que aconteceu com Jesus estava já predito pelos profetas: “Todos os profetas que falaram, a partir de Samuel e dos seguintes, anunciaram igualmente estes dias” (Act 3, 24).

No que diz respeito à profecia do Emanuel, Isaías não fala de uma virgem, mas de uma jovem que está grávida. Trata-se da jovem esposa do rei Acaz. Esta vai dar à luz um filho a quem chamarão Emanuel (Is 7, 14). Ao falar da jovem grávida, o profeta pretende sublinhar que se trata de um filho primogénito. Como primogénito, este menino é pertença de Deus. Trata-se de um descendente de David, o qual será fiel e realizará aquilo que Acaz, rei infiel, não está a realizar. Acaz deixou de confiar em Deus ao ver-se ameaçado pelos reis da Síria e Samaria (Is 7, 1). Assustado, faz um pacto com o rei da Assíria, tornando-se seu vassalo: “Eu sou teu servo e teu filho. Vem e salva-me das mãos do rei da Síria e do rei de Israel que se coligaram contra mim (2Rs 16, 7).

Na perspectiva profética, isto era a maior afronta que se podia fazer a Deus. Segundo a profecia de Natã a David, os seus descendentes eram filhos de Deus (2Sam 7, 14). A partir do momento da sua entronização, eram possuidores da protecção divina. Eis a razão pela qual não deviam submeter-se aos reis pagãos. Deus, seu pai, os protegeria: “Fui eu que consagrei o meu rei e o estabeleci sobre o meu monte Sião! Vou anunciar o decreto do Senhor. Ele disse-me: “Tu és meu filho, hoje mesmo te gerei (dia da entronização). Pede-me e eu te darei povos como herança, e os confins da terra por domínio” (Sal 2, 6-8). No dia da sua entronização, além de declarado filho de Deus, proclama-se que o seu trono está à direita de Deus (Sal 110, 1). Crente na fidelidade de Deus, Isaías anuncia o nascimento e a vinda de um outro sucessor de David.
O relato da Concepção virginal de Jesus não é para Lucas e Mateus uma proclamação da maternidade virginal de Maria. Significa apenas a proclamação da condição messiânica de Jesus. No conjunto das concepções miraculosas de que a Bíblia fala, só o midrash da infância de Jesus fala de concepção virginal. Os outros relatos falam de concepção miraculosa. A intenção desta diferença é afirmar que Jesus é o Messias-rei, isto é, o filho de David constituído filho de Deus, como diz São Paulo (Rm 1, 3-5). Esta particularidade não se aplicava a nenhum outro dos grandes personagens bíblicos.

A filiação divina do Messias não implicava para a mentalidade dos autores a ausência de paternidade humana, pois ele é o filho de David (cf. Lc, 1, 32-33). Paulo pensava que Jesus fora constituído plenamente filho de Deus pelo Espírito no momento da Sua ressurreição (Rm 1, 3-5). Como os Judeus mataram Jesus antes de este subir ao trono, Deus entronizou-o à Sua direita no céu e ungiu-o com o Espírito Santo (Act 2, 32-33).

Os Sinópticos representam uma reflexão mais tardia. Os evangelhos da infância representam uma reflexão posterior. Aqui, Jesus aparece como tendo sido ungido e constituído Messias desde o momento da sua concepção. Este passo, no entanto, não aconteceu sem antes ter acontecido outro: Jesus foi ungido e constituído Messias, o Filho de Deus, no momento do seu baptismo (Mc 1, 9-11; Mt 3, 16; Lc 3, 22). O Evangelho de João vê Jesus em interacção permanente com o Logos mediante o Espírito Santo. Eis a razão pela qual não recorre à ideia de uma concepção especial. O Logos incarna em Jesus, conferindo-lhe a plenitude do Espírito (Jo 3, 34).

É neste enquadramento bíblico que é preciso entender o midrash da Conceição virginal de Jesus. É importante termos presente que a descrição da concepção virginal de Jesus tem a intenção de sublinhar que a paternidade de Jesus como Messias-rei é Deus e não os homens. O mesmo acontece connosco enquanto filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-14). Por outras palavras, os relatos dos evangelhos da Infância não implicam uma maternidade virginal de Maria. Os evangelistas elaboram o relato da concepção virginal de Jesus para dizer que este é o Messias, Filho de Deus. Esta condição não é obra da carne, nem do sangue, nem da vontade humana, mas sim de Deus (Jo 1, 12-13).

3) Virgindade e Reino de Deus

Como valor teológico, isto é, como realidade válida para o Reino de Deus, a virgindade é uma qualidade espiritual que o Espírito Santo vai fazer emergir no coração das pessoas. Eis a razão pela qual o Novo Testamento defende o valor do celibato e da virgindade, não como valores em si mesmo, mas como opção que optimiza as possibilidades de algumas pessoas para serem mais fecundas. Esta fecundidade vai no sentido de edificar a Família de Deus (Act 21, 9; Cor 7, 8; 7, 26; 7, 28). Ser virgem por causa do Reino de Deus é pôr ao serviço da edificação da Família de Deus o melhor das suas energias emocionais, afectivas e impulsivas.

As fontes referem a opção especial de Cristo, o qual decidiu viver como virgem e propõe a virgindade para alguns (Mt 19, 12; 19, 21). Mas não devemos pensar que a virgindade vale pela simples ausência de relações sexuais. Em primeiro lugar, Deus não tem ciúmes da sexualidade humana; além disso a sexualidade não é uma coisa impura. A virgindade vale como atitude de consagração. É válida para as pessoas que, permanecendo assim, são mais fecundas. A associação de sexualidade com impureza é estóico, isto é, tem origem pagã e não bíblica.

Para o Novo Testamento, a fonte da pureza ou da impureza é o coração, o núcleo mais íntimo da nossa espiritualidade a partir do qual emergem as decisões pelo amor e a fraternidade ou contra estas realidades (Mc 7, 14-23; Mt 5, 8; Jo 15, 3; 13, 10). É no interior do coração que o homem decide agir, ou não, em harmonia com a misericórdia, o perdão, a partilha fraterna.

Segundo o Novo testamento, a fecundidade que vale para o reino de Deus assenta nas decisões, opções e projectos de vida orientados pelo amor. Por outras palavras, a fecundidade humana é uma questão de amor. Os ritos de purificação legal, diz o Novo Testamento, não valem para o Reino de Deus e não tornam a pessoa fecunda (Act 10, 15; 11, 9; 15, 9; Rm 14, 14; Heb 9, 10; 1Jo 1, 7-9; Apc 7, 14).

A virgindade como opção válida para o Reino de Deus, portanto, significa uma consagração para viver uma fecundidade mais rica e profunda. Não é por acaso que o evangelho de Mateus fala das virgens loucas (Mt 25, 1-12). Estas eram loucas porque a sua virgindade era estéril. Como vemos, a virgindade como valor teológico vai muito além de uma questão biológica. Como valor para o Reino de Deus, a virgindade é uma meta atingir do que uma coisa a guardar: “O que vos digo irmãos, é que a carne e o sangue não herdarão o Reino de Deus, nem o que é corruptível herdará a incorruptibilidade” (1 Cor 15, 50). A virgindade como valor decisivo para o Reino de Deus é fecundidade na edificação da comunhão humana que culmina na edificação da Família de Deus. Esta fecundidade é obra do Espírito Santo a actuar no coração humano (Rm 8, 14-17; Gal 4, 4-7).

É neste contexto bíblico que é preciso situar a maternidade virginal de Maria. Foi muito bom para a Fé o facto de a virgindade de Maria ter sido proclamada como antes do parto, no parto e depois do parto. Isto quer dizer que não pode tratar-se de uma questão de hímen inteiro, pois o nascimento de Jesus foi igual ao de todas as crianças que nascem de modo normal. É importante que se diga isto, pois querer pôr aqui uma excepção é negar um dogma muito mais importante para a Fé do que a virgindade física de Maria: Jesus Cristo como homem em tudo igual a nós, excepto no pecado.

Podemos dizer que a maternidade virginal de Maria atingiu a sua plenitude na experiência pascal de Maria: “E todos unidos pelos mesmos sentimentos, entregavam-se assiduamente à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus” (Act 1, 14).

A plenitude da maternidade virginal de Maria é um dom pascal, isto é, um dom feito por Jesus morto e ressuscitado, como o evangelho de João diz. Por outras palavras, a plenitude da maternidade virginal de Maria, a sua plena fecundidade, é um dom do Espírito Santo realizado quando chegou a hora de Jesus. Sabemos que, no evangelho de Jesus, a hora significa o momento em que Jesus concede a plenitude do Espírito Santo (Jo 7, 37-39). Foi precisamente nesta hora que Maria é dotada com a plenitude da maternidade virginal, a qual é uma realidade espiritual realizada pelo Espírito Santo no coração de Maria.

Por outras palavras, é pelo Espírito Santo que Maria atinge a densidade e a fecundidade máxima da sua maternidade virginal: “Junto à Cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Cleopas, e Maria Madalena. Então Jesus, ao ver ali a sua mãe e o discípulo que ele amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!”. Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!”. E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua” (Jo 19, 25-27).

Esta passagem significa que Maria, após a ressurreição de Jesus, passou a viver na comunidade da Igreja nascente, como dizem os Actos dos Apóstolos (Act 1, 14). Quando chegou a hora de Jesus, Maria atingiu o topo da sua maternidade: Mãe do Cristo total, Jesus ressuscitado e de todos os que formam o corpo de Jesus ressuscitado (cf. 1 Cor 10, 17; 12, 27; 12, 13). Vista nesta perspectiva espiritual, a maternidade virginal é Evangelho, isto é, Boa Nova para todos nós! A virgindade espiritual é teológica, não biológica. É fecunda e tem densidade definitiva para o Reino de Deus. Reduzir esta realidade a uma questão fisiológica carece de sentido, pois a dimensão biológica acaba no cemitério.


b) Evolução do Conceito de Maria Virgem

1- A Maternidade Virginal nos Santo Padres

A cultura helenista não soube manter o dinamismo bíblico da fé. Os teólogos dos primeiros séculos da Igreja (os Santos Padres), não entenderam o alcance do midrash da infância, começando a interpretar os textos à letra. O Novo Testamento achava normal que Jesus fosse um homem, em tudo igual a nós, excepto no pecado. Agora, para os Santos Padres, o facto de Jesus não ter pai humano era fundamental, a fim de não ser herdeiro do pecado de Adão. Se Jesus tivesse tido pai humano tinha a carga do pecado de Adão e, portanto, a Humanidade não estaria salva.

Como vimos acima, não é nada disto que os evangelhos da infância pretendiam dizer. Se quisermos falar em termos genéticos teremos de dizer que o filho é tanto herdeiro de Adão pelo pai como pela mãe. No entanto, a ideia de o pecado de Adão ser herdada de modo genético está totalmente fora dos horizontes bíblicos. Ora, se os postulados eram falsos, as conclusões não podiam ser verdadeiras.

Santo Inácio dizia que o facto de Jesus não ter tido pai humano era condição fundamental para a salvação. Nesse caso, o Demónio via-o como um homem igual aos demais homens, isto é, distorcido pelo pecado de Adão. O mistério da sua concepção virginal de Jesus escapou ao Demónio (Inácio de Antioquia, Ef., 18-19). Mas ninguém, neste período, pensava que Maria, devido a esta excepção, pudesse permanecer fisicamente virgem após o parto.

No século terceiro, Tertuliano afirma que não há salvação para os que combatem a maternidade de Maria. O gnosticismo, ao afirmar que Jesus tinha apenas um corpo aparente, negava que Ele fosse verdadeiramente filho de Maria. Para Tertuliano o Verbo é Deus e é eterno como o Pai. Ao tomar carne humana não precisou de a tomar de nenhum homem (De Car. 18).

Por outras palavras, o Verbo tomou carne humana, embora de modo não humano: “Esta é a nova vida que faz o homem nascer de Deus. Neste homem (Jesus) Deus nasceu tomando carne de linhagem humana, embora de modo não humano. Deste modo, renova espiritualmente a Humanidade e limpa-a da mancha hereditária. Este novo nascimento, em virtude do qual o Senhor nasceu de uma virgem, segundo uma racional economia, tem, como todas as outras coisas, uma figura antiga. A terra estava ainda virgem, isto é, ninguém a tinha ainda lavrado nem lançado nela a semente quando Deus plasmou nela o homem vivo. Por conseguinte, como se diz, o primeiro Adão foi tirado da terra. Do mesmo modo, o novo Adão, como lhe chama o Apóstolo, devia ser tirado por Deus de uma terra, isto é, de uma carne, a qual não tinha sido fecundada por nenhum homem, em ordem à geração” (De Car., 19).

No entanto, Tertuliano afirma expressamente que Maria, no momento de dar à luz, perdeu a virgindade (De Car. 23). A ideia de Maria ter perdido a virgindade com o parto ainda não era contestada por ninguém. Eis a razão pela qual ninguém contradisse Tertuliano. No século Segundo, Santo Ireneu afirmava que apenas foi salvo aquilo que foi assumido por Cristo. No século seguinte, Tertuliano deixa-se conduzir pelo rigorismo montanista. Uma vez que Cristo não é Cristo não é fruto de uma relação sexual, Cristo não assumiu a sexualidade. Devido a isto os pecados do sexo não têm perdão, pois Jesus Cristo apenas obteve o perdão e a salvação para aquilo que assumiu, como diz Santo Ireneu. Tudo isto vai contribuir enormemente para a visão negativa da Igreja a propósito da sexualidade.

No Oriente, Orígenes segue a mesma linha que Tertuliano assumiu no Ocidente. Segundo Orígenes, para salvar a humanidade, tinha de ser homem, mas tinha de ser fruto de uma maternidade virginal. Como não podia ser herdeiro do pecado de Adão, o Logos encarnou no seio de uma virgem (Hom. in Lev., 12, 4).

No século terceiro, Tertuliano afirma que no momento do parto, Maria deixou de ser fisicamente virgem. Pensava que os irmãos de Jesus de que fala o Novo testamento eram filhos de Maria e José. O docetismo, heresia helenista, afirmava que Jesus tinha aparência de homem não era verdadeiramente homem. Afirmar a virgindade física de Maria após o parto vinha ao encontro desta heresia.

Os Santos Padres foram unânimes em defender a condição plenamente humana de Jesus. Para o docetismo, Jesus Cristo era o Logos a manifestar-se em aparência de homem. Após o parto, Maria continuou virgem porque Cristo não tinha um corpo humano. Como vemos, esta teoria é bastante mais perigosa para a Fé do que qualquer afirmação da virgindade física de Maria após o parto.

Segundo o docetismo neoplatónico, a matéria é uma realidade impura. Só o mundo espiritual é puro. Jesus, para ser o salvador da Humanidade, não podia ter um corpo material. Eis a razão pela qual Maria continua virgem após o parto. Tertuliano refuta esta heresia dizendo que Jesus é um homem como nós e que o parto de Maria foi idêntico ao nosso.

O primeiro autor a defender a virgindade de Maria após o parto, foi São Cirilo (séc. IV). Seguindo esta linha de pensamento, Leão Magno (séc. V) diz que Maria foi perpetuamente virgem. No século VII, o concílio de Latrão (649), proclamou como dogma a virgindade perpétua de Maria. Eis os termos da definição: “Todo o que não confessar, de acordo com os Santos Padres, que a Mãe de Deus, a Santa e sempre virgem Maria, concebeu sem sémen viril, do Espírito Santo, o Verbo de Deus e, de modo incorruptível, o deu à luz, permanecendo a sua virgindade intacta depois do parto, seja anátema” (Denz. 256).

Ao entrar na dogmática, a questão da virgindade perpétua de Maria torna-se uma questão teológica. Como disse acima, penso que foi providencial que a definição dogmática tivesse proclamado a virgindade perpétua, pois para defender a plena condição humana de Jesus, devemos interpretar a questão como espiritual e não física. Não podemos esquecer que o património da Fé não é um conjunto de verdades isoladas entre si como ilhas. Os diversos aspectos da Fé funcionam de modo orgânico, dinâmico e interactivo.

Como vimos, é como questão teológica que a virgindade perpétua de Maria se torna mediação de Boa Nova para nós. Uma vez definida como dogma, a virgindade perpétua de Maria torna-se mediação para falar do sentido humano do casamento e da sexualidade humana. Maria, mulher casada e mãe de família, é a maior das virgens cristãs. Esta afirmação associa necessariamente a virgindade com fecundidade. A esta luz podemos dizer que Maria foi a mais fecunda das mulheres. Após a Páscoa, Maria compreendeu que pode continuar a ser mãe muitos irmãos de Seu filho (cf. Mc 3, 31-35). A Sua missão de mediação maternal do Espírito Santo não terminou por Jesus ter morrido.


2- Evolução Histórica da Noção de Maria Virgem

É certo que a virgindade de Maria foi tradicionalmente afirmada com realidade biológica. Mas nesta perspectiva Maria ficava um ser totalmente estranho para os seres humanos. Não era modelo para solteiros porque era casada e mãe. Não era modelo para casados porque era esposa e mãe e conservava o hímen inteiro.

Por detrás da afirmação biológica de Maria está uma visão profundamente negativa da sexualidade. É importante estarmos conscientes de que a Salvação não fica comprometida pelo facto de Jesus ter nascido como os demais homens. Uma vez que foi proclamada como dogma, a virgindade perpétua de Maria torna-se ponto de referência obrigatório para a sistematização da fé. Mas isto não quer dizer que a sua linguagem não deve ser reformulada.

Muitos pregadores, referindo-se à virgindade de Maria, gritavam do púlpito que Jesus passou pelas vias maternais de Maria como o sol passa pela vidraça. Estes pregadores não se davam conta de que estavam a reafirmar a heresia docetista que nega a verdadeira humanidade de Jesus. Esta maneira de falar desfigurava não só a realidade de Cristo como também a verdade de Deus e do homem em geral.

A virgindade enquanto valor para o Reino de Deus é um estado de coração que o ser humano vai adquirindo pela acção do Espírito Santo. Por outras palavras, a virgindade como qualidade válida para o Reino é mais um estado a atingir que uma coisa a conservar. A proclamação de Maria, esposa e mãe de família, como a maior das virgens, significa que se trata de uma tarefa para solteiros, casados e viúvos. É o Espírito Santo que vai tornando o nosso coração virgem, isto é, fecundo em vida humana e amorosa.

No entanto, não podemos ignorar o peso enorme de pronunciamentos que, ao falar da sempre Virgem Maria estavam a pensar no aspecto físico. Eis alguns destes pronunciamentos mais significativos: No século XI, o papa Leão IX fala de Cristo como tendo nascido por obra do Espírito Santo e de Maria sempre virgem. Cristo teve dois nascimentos. Tem duas vontades (humana e divina). Isto significa que é homem perfeito, pois ele é perfeito nas duas naturezas. Tem alma humana [Denz., 344]. Felizmente que se salvou a questão do homem perfeito, até no aspecto espiritual.

No século XII, Inocência III diz que o Logos incarnou por obra da Trindade. Depois, acrescenta que foi concebido por Maria por intervenção do Espírito Santo [Denz., 429]. A Idade Media não distingue as missões históricas das pessoas divinas. O que actua em Deus é a natureza divina. O conceito de Deus como dinamismo de comunhão trinitária desaparece inteiramente. No século XV, o papa Eugénio IV, na Bula «Cantate Domino», diz que para a salvação do género humano o Verbo tomou, no seio de Maria virgem, uma natureza humana à qual se ligou tão intimamente que, onde há homem, não está desligado do divino [Denz., 708].

Como vemos, mantém-se constantemente a uniformidade de conceitos e expressões. Isto incapacitava um salto teológico e qualitativo. A fidelidade à fé não significa fidelidade a condicionamentos culturais e linguísticos. Foi isto mesmo que aconteceu em relação à virgindade perpétua de Maria.

No século IV, S. Cirilo condena os que falam dos outros filhos de Maria referindo-se aos irmãos de Jesus. Para ele, não podia sair outro filho do ventre original do qual nasceu Cristo segundo a carne [Denz., 91]. Isto prepara o campo para a virgindade perpétua entendida, naturalmente, em termos biológicos. O primeiro Concílio de Latrão (649) declara que Maria ficou virgem mesmo depois do parto [Denz., 256]. Esta mesma linguagem é continuada sem modificações significativas. Os argumentos devocionais serviam apenas para tornar ainda mais ininteligível o plano salvador de Deus na obra da encarnação.


3) Maria Como Mãe e Símbolo Virginal

Nunca nenhuma foi chamada de mãe por tantos seres humanos. Durante séculos mais de vinte séculos, os cristãos dirigem-se a Maria, invocando-a como mãe. Ao mesmo tempo, é proclamada a “rainha das virgens”. Como vimos acima, o facto de Maria ser esposa e mãe de família, não é obstáculo ao título de virgem. Com efeito, a virgindade como valor teológica não é uma questão de hímen inteiro. Com efeito, a virgindade, como valor teológico, é algo que transcende o conceito sócio-cultural ou biológico de virgindade.

Tertuliano diz que a concepção de Jesus é obra do Espírito Santo. Isto significa que Cristo é a semente vital de Deus. Mas Tertuliano defende que Maria perdeu a virgindade física com o parto. Além disso diz, como vimos, que os irmãos de Jesus foram gerados por Maria e José. Esta opinião de Tertuliano não foi contestada por nenhum autor, o que quer dizer que isto era considerado normal na época. Os irmãos de Jesus, diz Tertuliano, nasceram depois de Jesus [De monog. 8].

Na verdade, os Santos Padres dos séculos segundo e terceiro, apesar de interpretarem literalmente os Evangelhos da Infância, não pensavam que alguém pudesse falar de Maria como virgem após o parto. É importante sublinharmos que a maternidade e a perda de virgindade física associada ao parto não diminui em nada a bondade e a pureza do coração da mulher.

Como vimos acima, a opção celibatária é muitíssimo importante para as pessoas a quem esse dom é concedido. Mas este dom não existe pelo facto de a maternidade ou a paternidade ser um mal, mas porque, para essas pessoas, optimiza a qualidade e amplitude da fecundidade dessas pessoas. Por outras palavras, não é a maternidade nem a vivência amorosa do matrimónio que torna o homem impuro.

Graças ao dogma de Maria sempre virgem, apesar de esposa terna e mãe carinhosa, podemos dizer que a virgindade plena é uma qualidade do coração. Mais ainda, podemos afirmar que a virgindade de coração confere à pessoa a qualidade para as relações de comunhão na terra e terá na comunhão do Reino. Por outras palavras, a virgindade que vale para a comunhão do Reino de Deus não é uma película a conservar, mas um estado de coração a conquistar.

Não ignorarmos que a partir do século quinto se começa a falar na Igreja da virgindade perpétua de Maria. Por outro lado, esta afirmação tinha uma conotação física, pois a sexualidade era vista como uma realidade impura e menos capaz de comungar com Deus. No entanto, o dogma da virgindade perpétua de Maria é mediação de Evangelho, como vimos.

A questão da virgindade perpétua de Maria entrou mais cedo no discurso dos teólogos do que a imaculada concepção. No entanto as duas questões estão muito relacionadas. A doutrina da virgindade perpétua adiantou-se em séculos à doutrina da Imaculada devido à visão negativa da sexualidade. Dizer que Maria perdeu a virgindade física com o parto parecia a estes autores diminuir a divindade de Jesus. Penso que o contrário é mais importante. Com efeito, afirmar que Maria após o parto não era fisicamente virgem em nada diminui a divindade de Cristo e afirma plenamente a sua humanidade.

Aos teólogos da antiguidade parecia-lhes que a perda da virgindade física de Maria significava a profanação do santuário onde o Verbo de Deus ficou encerrado durante nove meses. Isto é uma distorção da verdade da Encarnação. Com efeito, a segunda pessoa da Santíssima trindade não deixou o Céu para habitar na terra enquanto Cristo aqui viveu. Na verdade, o Céu não ficou reduzido a duas pessoas enquanto a terceira se deslocou à terra. Deus é uma reciprocidade amorosa de três pessoas que não pode dissolver-se.
Devido à sua visão negativa da sexualidade, os Santo Padres do século quinto consideravam a virgindade perpétua de Maria mais importante do que a imaculada Conceição. Assim, por exemplo, os grandes teólogos deste período afirmavam que Maria tinha sido vítima do pecado de Adão como os outros seres humanos que tiveram pai. Orígenes diz expressamente que Maria foi vítima do pecado de Adão [Hom. in Luc. 17]. O grande defensor da mãe de Deus, S. Cirilo, pensava do mesmo modo [Comm. in Joah. 16, 25]. São Basílio reconhecia que Maria tinha herdado o pecado de Adão [Litt. 260]. Pensavam, além disso, que Maria tinha tido outros pecados além do pecado original. S. João Crisóstomo fala claramente do pecado de Maria por não ter aceite Jesus como Messias. Para ele isto era um pecado contra a fé [Hom. in Joah. 21, 2]. Mas estes autores, apesar de afirmarem a pecabilidade de Maria, defendem acerrimamente a sua perpétua virgindade. Isto denota a visão negativa destes autores no que se refere à sexualidade.

A visão dos evangelhos, sobretudo dos evangelhos da infância é outra totalmente diferente. Como valor teológico, a virgindade perpétua é indissociável da pureza do coração. Sublinhando as bem-aventuranças podemos dizer que o grau de virgindade de coração de uma pessoa é a medida da sua reciprocidade amorosa com Deus.

Maria é bendita, pois graças à virgindade excepcional do seu coração verá a Deus comunga com Deus de modo privilegiado: “Felizes os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8).Ver a Deus significa comungar plenamente com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta pureza é tarefa de toda uma vida. É o resultado do acolhimento e cooperação com os apelos do Espírito Santo no nosso coração.

Podemos dizer que a virgindade de coração se mede pela capacidade incondicional de doação e comunhão. Esta capacidade é relacional, e refere-se tanto à comunhão com as pessoas divinas como com as humanas. Agora ser-nos-à fácil compreender o valor teológico da virgindade. Também já nos será fácil compreender a relação fundamental que existe entre virgindade e fecundidade. A virgindade de coração corresponde à capacidade de dançar eternamente o ritmo do amor no Reino de Deus. Esta capacidade, no entanto, adquire-se agora na terra. Por outras palavras, dançaremos eternamente o ritmo da comunhão e do amor com o jeito com que tivermos treinado agora.

Não nos iludamos, a fim de não sermos negativamente surpreendidos, pois a virgindade de coração é uma condição básica para tomarmos parte na festa universal do Reino de Deus. O Espírito Santo, como vimos, é a ternura maternal de Deus. É a virgindade infinitamente perfeita. O Espírito Santo é uma pessoa divina cujo jeito de ser é criar e animar relações de amor e comunhão entra as pessoas. O seu modo de se relacionar é criar laços de reciprocidade entre as pessoas. Ama e dá-se de modo incondicional. Nunca cativa para si, mas cativa para acontecer dom e comunhão entre as pessoas. Eis o modo infinitamente virginal de se relacionar, a maneira de viver a felicidade em grau de perfeição plena e total.

1 comentário:

  1. Para os judeus entender a concepção virginal de Jesus criava um grande problema. Deixava a descendência dividida do messias de fora, já que este só o seria de fato, se fosse tido como filho de José. Então se Mateus a incluiu como fato é porque tem um fundamento histórico e não é apenas um símbolo. Jesus não foi gerado por José. Afirmar o contrario é ir de encontro ao que todos os padres defenderam e negar a fé católica. Alem disto o próprio Lucas afirma que se suponha que Jesus fosse Filho de José (Lc 3,23) mostrando que ele entendia a concepção virginal de Cristo como real e não como um “midrash. " Claro que isto não torna invalido o verdadeiro sentido teológico do fato. Mas é justamente por ser histórico que ele adquire este sentido. Quanto a virgindade no parto, Jesus não seria menos humano se houvesse nascido sem romper a virgindade física de Maria, assim como não é quem nasce de parto cesariana. E quando o seu corpo se transfigurou deixou de ser um corpo humano? Ah, já entendi, a transfiguração também é apenas um símbolo não ocorreu de fato embora na segunda carta de Pedro (2Pd 1,18) seja afirmando que este presenciou tal fato no monte. Tudo é alegoria,simbologia... tudo e metáfora. Grande coisa defender uma fé que no final das contas tudo é apenas símbolo e não fatos que indicam um outro sentido maior.. Desta forma vocês estão destruindo a fé das pessoas e prejudicando a Igreja. Tudo isto já ouvi quando fiz teologia progressista, a qual o senhor pertence e defende em Fortaleza. Graças a Deus mantive a fé.

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