Colaborar com o Deus Vivo e Verdadeiro


a) Colaborar com a Acção de Deus em Nós
b) Oração e Sintonia com a Acção de Deus
c) Comunhão com Deus e Felicidade
d) Deus, Fonte da Vida Nova
e) Sintonia com o Dinamismo Salvador de Deus
f) Deus está Connosco mas não em Nosso lugar
g) Fé e Libertação Pessoal
h) O Amor como Fonte de Harmonia Interior


a) Colaborar com a Acção de Deus em Nós

A presença de Deus em nós não é apenas uma questão teórica. A força e o poder de Deus é real e está disponível em cada momento para fluir de Deus para nós se lhe abrirmos as vias de circulação: “Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o Agricultor. Ele corta os ramos que não dão fruto e poda os ramos fecundos, a fim de darem mais fruto (…). Tal como os ramos não podem dar fruto por si mesmos, mas só permanecendo na videira, assim acontecerá convosco se não permanecerdes em mim (…). Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e assim acontecerá” (Jo.15,1-7).

Com Deus podemos dominar os problemas do dia a dia. O grande segredo é confiar. Em primeiro lugar confiar em Deus e depois em nós mesmos, pois na medida em que estamos unidos a Deus através de Cristo somos fortalecidos e capacitados para coisas extraordinárias. Podemos ter a certeza de que Deus optimiza as nossas capacidades fazendo que, sem deixarmos de ser os mesmos, passamos a ser profundamente diferentes. Na medida em que permitimos ao Espírito Santo actuar em nós, a força e o poder de Deus passa a circular em nós.

No evangelho de São João, Jesus diz que ele e o Pai são um (Jo 10, 30). Não por se confundirem ou fundirem, mas porque vivem em comunhão orgânica animada pelo Espírito Santo.  Assim acontece connosco se deixarmos que o Espírito Santo alimente esta mesma comunhão orgânica com Deus Pai e Deus Filho. Quando isto acontece, podemos ter a certeza de que o sucesso está garantido.

Agora já podemos compreender a raiz da confiança cristã. Por estar fundamentada em Cristo (a cepa da videira) e no Espírito Santo que é a seiva a circular da cepa para nós, os ramos, esta confiança e segurança não é de modo nenhum presunção ou vaidade. É através da união a Cristo que o poder de Deus flui para nós. São Paulo diz que o Espírito Santo é o amor de Deus derramado nos nossos corações (Rm 5, 5).

Estar em sintonia com o Espírito Santo que nos habita é estar em sintonia em sintonia com a força criadora e salvadora de Deus. Esta certeza de gera em nós uma auto confiança enorme capacitando-nos para realizações cheias de sucesso. Mas não pensemos que esta realidade acontece de modo mágico. Sem um empenhamento sistemático da nossa parte, não oferecemos a Deus condições para agir. Possuímos um feixe enorme de energias no nosso íntimo. Mas estas energias só podem ser dinamizadas e orientadas de modo libertador na medida em que estejamos em sintonia com a acção de Deus em nós.

Quando activadas por traumas e experiências muito dolorosas, as energias do nosso ser profundo são activadas de modo desarmonioso e descontrolado, provocando situações de grande sofrimento e distúrbio social. É muito frequente encontrarmos pessoas infelizes e privadas de auto estima. Em geral estas pessoas estão atormentadas por sentimentos de inferioridade e falta de segurança.

A libertação destas pessoas passa pela desdramatização das experiências negativas que estão na base da sua auto estima. Estas pessoas têm de libertar a mente de pensamentos negativos, ocupando-a com outros pensamentos positivos. Se o não puder fazer sozinha pode recorrer a uma ajuda técnica. A este respeito a carta aos Filipenses diz o seguinte: “Tudo posso através de Cristo, o qual me fortalece e capacita” (Flp 4,13).

Os crentes devem repetir este e outros pensamentos semelhantes durante o dia. Pouco a pouco a mente negativa e geradora de fracasso começa a ser um manancial de paz e fortaleza. Porquê caminhar quando posso voar. Esta viragem psíquica e espiritual acontece não só pela nossa técnica de mudar os pensamentos. A técnica apenas oferece condições a Deus para actuar.

Quanto mais difícil for a situação da pessoa maior deve ser o esforço de esvaziar a mente de pensamentos negativos, colocando em seu lugar pensamentos positivos, alimentando a mente com a sabedoria das Escrituras que é o alimento da Fé. É bom repetirmos muitas vezes para nós: “Deus é real e verdadeiro. Eu sei que Ele está comigo e por mim. Eu sei que a Palavra de deus e a presença maternal do Espírito Santo em mim me ajuda a transformar a mente e o coração. A luz de Deus vai emergir no interior da minha mente e do meu coração. Por isso tenho a certeza de que, com ele, vou ter sucesso nas minhas tarefas e empreendimentos. Logo de manhã podemos dizer-nos cheios de confiança em Deus: “Sei que o meu dia vai ser bom”. Se dissermos isto com fé e confiança podemos ter a certeza de que isto vai mesmo acontecer.

Deus é dinâmica amorosa. Deus é amor, dizem as Escrituras (1 Jo 4, 7; 4, 16). A fonte criadora de todas as coisas, portanto, é o amor de Deus. Ora este amor habita em nós (Rm 5, 5). Se lho permitirmos, a força criadora de Deus começa a criar em nós e por nós. Então teremos oportunidade de fazer a experiência de que isto ultrapassa tudo o que podíamos imaginar. Isto é obra de Deus, não nossa. O nosso mérito consiste apenas em desobstruirmos as vias da interacção e circulação da energia de Deus em nós.

A Fé é profundamente poderosa e capaz de vencer as forças negativas do medo, da ansiedade, dos ressentimentos e de nos capacitar para realizarmos maravilhas que, sem ela, nunca poderíamos realizar. As atitudes das pessoas são mais importantes do que os factos em si. Seja qual for o acontecimento, a atitude que tomamos face a ele é mais importante do que o próprio acontecimento. O modo de pensar sobre um acontecimento pode derrotar a pessoa ainda mesmo antes de fazer algo. Um pensamento positivo é capaz de modificar ou ultrapassar as dificuldades relacionadas com o acontecimento.

As pessoas dominadas por um complexo de inferioridade vêem os factos através de uma lente sombria e triste. Se estas pessoas começarem a alimentar a Fé com a Palavra e deixar o Espírito Santo actuar em si dentro de pouco tempo e sem saber bem como, fazem a experiência de que as coisas estão mesmo a mudar. Deixando-se transformar pela força de Deus, a pessoa vai passando pouco a pouco do sentimento de derrota para a sensação de vitória.

É um facto importante Deus estar em nós e por nós. Isto não quer dizer que, pelo facto de estar por nós esteja contra alguém. Deus é amor e por isso nunca se vinga de ninguém. É muito perigoso brincar com Deus. Não porque Deus se vingue, pois Deus nunca se vinga. Mas é perigoso brincar com Deus, pois isso é o sinal evidente de que a pessoa entrou no caminho do malogro e do fracasso.

É muito importante que a pessoa saiba que a vontade de Deus a seu respeito coincide rigorosamente com o que é melhor para a pessoa. Por esta razão é bom para a pessoa dizer-se com frequência: “Sinto-me seguro, pois sei que Deus está comigo e me ama mais que qualquer outra pessoa. Eis o que a este propósito diz a segunda Carta aos Coríntios: “Por isso não desfalecemos, pois ainda que o homem exterior se vá degradando, o interior renova-se e fortalece-se mais e mais em cada dia que passa” (2Cor.4,16).

Este texto magnífico revela que São Paulo tinha uma experiência magnífica da presença e da acção de Deus em nós. Para aprofundarmos esta experiência da acção de Deus em nós é importante pararmos, concentrarmo-nos e tentar visualizar a presença deste Deus Vivo e Verdadeiro a actuar em nós e através de nós. Segundo a Bíblia, o coração é o núcleo essencial da personalidade onde se joga a tarefa de optar por Deus e os irmãos ou contra Deus e o próximo. Depois de tentarmos visualizar com a mente e a imaginação este núcleo essencial da personalidade e a acção de Deus em nós, podemos dizer algo parecido com isto:

“Deus está no meu interior ajudando-me e guiando-me. Por isso tenho a certeza de que este é um dia de libertação e salvação para mim. Sei que os factos deste dia, graças à presença de Deus em mim e por mim vão ser adequadamente resolvidos, acabando por ser positivos”.

Tenhamos a certeza de que isto não é mera auto-sugestão, mas exercício da Fé. Graças a este exercício, começamos a dar espaço à circulação da força criadora de Deus em nós. Procedendo assim, podemos verificar com alegria como a força criadora e libertadora de Deus está a realizar mudanças significativas em nós, capacitando-nos para enfrentar os acontecimentos e construirmos de modo positivo a nossa vida.

Na medida em que a nossa mente comece a ser habitada com os conteúdos da Palavra de Deus e por pensamentos de confiança em Deus e de auto estima, começamos a agir sem medo, sem ansiedade e sem angústia. Como resultado desta mudança, começamos a ser capazes de minimizar e ultrapassar os obstáculos, dizendo com São Paulo: “Se Deus está por nós quem pode estar contra nós?” (Rm.8,31).

A Bíblia, usando um símbolo bonito, diz que, no centro do Paraíso, estava a árvore da Vida. Os seus frutos davam vida eterna às pessoas que os comessem (Gn.2,9). Ao ser expulso do Paraíso, Adão ficou sem a possibilidade da vida eterna (Gn.3,22). Deus enviou o Seu Filho que nos comunicou a vida de Deus em grandeza humana. Ele é a Árvore da Vida que nos dá o fruto da Vida Eterna mediante o dom da ressurreição (Jo.6,55-58). O fruto da Árvore da Vida Eterna é o Espírito Santo que enche o nosso coração e a nossa mente com a força de Deus, activando o melhor das nossas energias somáticas, psíquicas e espirituais. No nosso íntimo, diz o evangelho de São João, o Espírito Santo é uma Água Viva a jorrar Vida Eterna (Jo.4,14; 7,37-39).

O Espírito Santo é o amor maternal de Deus. Ele é princípio animador de relações de amor e vínculo de comunhão orgânica. O Espírito Santo difunde a força de Deus no nosso íntimo, activando e optimizando o manancial das nossas energias espirituais, as quais são um potencial maravilhoso de comunhão com os irmãos e de interacção criativa com todas as coisas.

Para conseguirmos esta sintonia espiritual com Deus é importante esforçarmo-nos por esvaziar a mente de pensamentos negativos como medo, ansiedade, vingança, ressentimento, ódio ou sentimentos de culpa. Vale a pena repetir uma frase que Santa Teresa gostava de dizer: “Tudo passa excepto Deus”. Frases como esta e tantas outras parecidas têm um efeito directo e eficaz sobre a nossa mente e o nosso coração. É verdade que os pensamentos geram as palavras. É certo que as palavras veiculam e dão corpo aos pensamentos. Mas também é verdade que as palavras modificam profundamente a nossa maneira de pensar. Por outras palavras, não é indiferente o facto de repetirmos para nós mesmos certas afirmações positivas ou citações da Escritura. Esta maneira de proceder vai modificando a nossa mente, ajudando-nos a ser mais positivos na nossa maneira de pensar e agir.

Como amor de Deus derramado nos nossos corações, o Espírito Santo é, no nosso íntimo, a certeza do perdão e do amor de Deus, bem como da nossa salvação: “Foi também em Cristo que ouvistes a Palavra da Verdade, o Evangelho que vos salva. Foi também em Cristo que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido, o qual é a garantia da nossa herança da salvação, a fim de tomarmos posse dela no dia da Redenção” (Ef 1, 13-14).

A Palavra de Deus é a força interior que nos limpa e põe em comunhão com Deus: “Vós já estais limpos pela Palavra que vos tenho anunciado. Permanecei em mim que eu permaneço em vós” (Jo.15,3-4). Deus é a fonte de todas as energias. Com efeito, as energias cósmicas são criação de Deus. A mais nobre e potente destas energias é o Amor. O próprio Deus, fonte destas energias, é Amor.


b) Oração e Sintonia com a Acção de Deus

Procura, sentar-te num sítio silencioso durante uns quinze minutos pelo menos. Começa por fazer silêncio antes de começares a dialogar com Deus. Começa por pensar que, no mais íntimo do teu coração, Deus está em ti e por ti. Procedendo assim, a tua mente começa a ficar predisposta para acolher a presença e a acção transformadora do Espírito Santo.

Depois podes iniciar o diálogo com Deus. Tomemos a Divindade a sério. Para nós, cristãos, a Divindade é uma comunhão de três pessoas. Podemos iniciar o nosso diálogo ou com o Pai, de quem somos filhos, ou com o Filho de quem somos irmãos. Também nos podemos dirigir ao Espírito Santo que é, no nosso interior, o amor maternal de Deus. É ele que nos põe em sintonia com o Pai e o filho.

O nosso diálogo com Deus deve ser simples, sem palavras rebuscadas. Devemos usar as palavras mais naturais como fazemos com as pessoas que amamos. Falemos a Deus da nossa vida, sabendo que Deus a conhece e entende muito bem. Digamos a Deus como vão as nossas actividades e as dificuldades que, por vezes nos surgem. Não nos ponhamos a pedir muitas coisas ou a insistir muito num aspecto concreto. Este modo de orar cria em nós uma consciência miserabilista. É verdade que somos pobres e frágeis, mas com deus podemos tudo.

A nossa atitude, portanto, deve ser de consciencializar a presença de Deus em nós e dar-lhe muitas graças por nos capacitar para podermos fazer maravilhas. Segundo o evangelho de Lucas, Maria tinha uma plena consciência disso: “A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva. De hoje em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1, 46-49).

Oremos e tenhamos a certeza de que a oração é sempre eficaz. Não no sentido de mudar o coração de Deus, mas no sentido de modificar o nosso coração e a nossa mente e capacitando-nos para fazer coisas que nunca seríamos capazes de imaginar. Na medida em que nos transformamos e somos invadidos pela força amorosa e criadora de Deus tornamo-nos mediações de libertação e felicidade para os irmãos.

Na oração não devemos utilizar palavras ou pensamentos negativos. Esse procedimento não altera nem influencia Deus. Além disso devemos ter presente que os pensamentos e as palavras negativas moldam padrões negativistas na nossa mente. Apenas as palavras positivas que exprimem fé na presença de Deus e de gratidão pela sua acção em nós são dignas de Deus.

Ao pedirmos qualquer coisa não deixemos de insistir que se faça a vontade de Deus. Deste modo estamos a reforçar a certeza de que a vontade de Deus, a nosso respeito, é muito melhor para nós do que a nossa própria. Por outras palavras, normalmente o que Deus nos quer dar é muito melhor do que aquilo que nós lhe pedimos. O querer de Deus é muito melhor do que o nosso no que se refere ao nosso bem e felicidade.

Tenhamos a coragem de dizer a Deus com fé: “ponho-me nas tuas mãos, pois sei que o teu querer a meu respeito coincide com o que é melhor para mim”. Procedendo assim estamos a abrir o coração a Deus, permitindo que o manancial infinito a força criadora e salvadora de Deus circule em nós.

São Paulo dá-nos o suporte perfeito para esta confiança em Deus: “Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados de acordo com o seu desígnio. De facto, àqueles que Deus conheceu antecipadamente também os predestinou, a fim de serem uma imagem idêntica à do seu Filho, o qual se tornou o primogénito de muitos irmãos” (Rm 8, 28-29).

Depois, passemos da oração para a vida, procurando dar o melhor de nós com a certeza de que, graças à força de Deus em nós, as nossas actividades terão os melhores resultados. Não nos esqueçamos de pedir a Deus pelas pessoas que nos querem prejudicar ou nos maltrataram. O ressentimento, a raiva e o ódio são forças negativas que bloqueiam os circuitos através dos quais circulam as energias activadas em nós pela acção do Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Quando surge um problema devemos falar a Deus sobre ele de modo simples e directo e com uma atitude de humildade, como por exemplo: “Eu sei que eu e tu, Espírito Santo, os dois em conjunto, podemos resolver de modo satisfatório todos os meus problemas e dificuldades". Podemos fazer como um filho faz com o pai, a mãe ou um irmão mais velho perguntando a Deus sobre o melhor modo de resolver determinado problema.

A nossa vida corporal, psíquica ou espiritual é em grande parte condicionada pelas nossas emoções. Por outro lado, a nossa vida emocional é profundamente condicionada pelos nossos pensamentos. A oração ajuda-nos a configurar a nossa mente com a Palavra de Deus. Como sabemos, a originalidade do cristão é a vida teologal de Fé, Esperança e Caridade. A vida teologal põe a nossa mente e o nosso coração ao ritmo da revelação de Deus. Quanto mais cresce em nós a vida teologal mais circulam, no nosso íntimo, as energias que nos capacitam para agir com acerto e sucesso no dia a dia. No evangelho de João Jesus garante-nos que veio para que tenhamos vida em abundância (Jo.10,10). O cultivo da vida teologal é o modo mais eficaz de viver em sintonia com as energias de Deus.

Há muitas pessoas vivem habitualmente cansadas, fazendo esforços enormes para obter resultados minúsculos. Isto significa que as suas energias criadoras não flúem normalmente. Além disso, essas pessoas bloqueiam a força criadora de Deus, impedindo-a de circular espontaneamente nem em grande abundância. Estas pessoas não se sentem motivadas para criar, pois sentem-se sem forças para o fazer. Estas pessoas sentem-se tristes. E têm razão, pois o seu estado significa que estão psíquica e espiritualmente e doentes.

O caminho para sair deste sofrimento é desbloquear as vias pelas quais circulam as energias e deixar-se habitar pela força criadora de Deus. Um primeiro passo para superar estas situações é tentar cultivar pensamentos positivos como, por exemplo: “Estar cansado e triste não é uma fatalidade”; “podes mudar esta situação”; “sentes-te permanentemente cansado e triste porque não emergem pensamentos positivos na tua mente. Além disso não deixas que, no teu coração, circule a força do amor de Deus a optimizar as tuas capacidades de amar a Deus e aos irmãos”.

É muito importante que façamos momentos de silêncio, visualizando a presença e acção de Deus no nosso interior. É importante não admitir pensamentos negativos na nossa mente, expulsando-os, cinco, dez, vinte ou cinquenta vezes por dia. Eis ainda outro aspecto importante: Quanto mais cultivarmos atitudes de não julgamento, de perdão, de amor a Deus e aos irmãos, mais os bloqueios vão sendo destruídos e mais circulará a seiva da alegria e felicidade.

As pessoas que carecem de energia estão emocional e psicologicamente desorganizadas. Isto tem um impacto enorme na saúde do seu corpo. Estas pessoas sentem-se constantemente envolvidas em conflitos interiores e problemas de saúde, seja de ordem corporal, psíquica ou espiritual. Precisamos de cultivar uma Fé sólida e uma grande harmonia interior, a fim de o nosso diálogo e encontro com Deus atingir profundidade e dinâmica libertadora. Como sabemos, a Palavra de Deus é o alimento fundamental para crescermos na Fé. As energias espirituais que nos habitam, tanto as de Deus como as nossas são, no nosso íntimo, a fonte do milagre. Deus está em nós e quer o nosso equilíbrio corporal, psíquico e espiritual. A oração no Espírito Santo, fundamentada numa Fé forte é condição fundamental para acontecer, em nós, o milagre.

Com Deus podemos caminhar para uma crescente harmonia da nossa personalidade. Mas não pensemos que Deus actua sem a nossa colaboração. A Fé, a harmonia interior e a paz que dela resulta são mediações excelentes para que as nossas energias interiores se encontrem com as energias de Deus e sejam activadas por elas.

O diálogo com Deus é sempre criador, pois estamos interagindo com a fonte das energias espirituais e criadoras do mesmo Deus. É isto que o evangelho de Lucas quer dizer ao afirmar que o Reino de Deus está dentro de nós (Lc.17,21). Quando sintonizamos com o Espírito Santo que nos habita sentimo-nos melhor, trabalhamos melhor, fazemos melhor, dormimos melhor e facilitamos melhor a realização e felicidade dos que vivem a nosso lado.

Como diálogo com Deus, a oração muda a nossa mente e o nosso coração, alterando profundamente a nossa vida e as relações com os outros. Mas não devemos confundir a oração enquanto diálogo amoroso e familiar com as pessoas divinas com rezas ditas de modo mecânico e segundo um número determinado para obter a devida eficácia. É importante não fazer da oração uma questão de um número determinado de palavras mágicas. Este tipo de rezas não conduz à experiência da acção libertadora de Deus no nosso íntimo.

O próprio Jesus nos previne do perigo de distorcermos a oração, fazendo dela uma questão de formular mágicas: “Nas vossas orações não sejais como os gentios que usam de vãs repetições, pois pensam que, por falarem muito, são mais atendidos. Não façais como eles, pois o vosso Pai do Céu bem sabe do que precisais, antes de lho pedirdes”.

Orar é encontrar-se e comunicar com Deus no nosso íntimo. O Espírito Santo conduz-nos ao diálogo com Deus em termos familiares. Conduz-nos a Deus Pai com sentimentos de filhos e a Deus Filho com sentimentos de irmãos. Como já vimos, é o Espírito Santo que nos introduz na comunhão com as pessoas divinas a qual nos leva depois à comunhão com as pessoas humanas: “O primeiro mandamento é: Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, com todo o teu espírito, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças” (Mc.12,29-30; Mt.22,37-38; Lc.10,27).


c) Deus, Fonte de Felicidade

“Pedi e recebereis, a fim de a vossa alegria ser completa” (Jo.16,24). À luz do Evangelho, ser feliz ou infeliz depende de nós. De manhã, ao acordar, posso decidir em grande parte ser feliz ou infeliz nesse dia. Tudo depende da higiene mental que começo por realizar. É importante começar o dia dizendo a Deus: “os pensamentos negativos não vão ter lugar na minha mente”; “eu sei, meu Deus, que estás em mim e que, pelo Espírito Santo optimizas as minhas forças”; “tenho a certeza de que este dia vai ser positivo para mim”; “sei que vou ser capaz de realizar as minhas tarefas, pois estou habitado pela tua força criadora”.

Eis uma maneira excelente para começar a viver um dia em que a experiência de Deus é, ao mesmo tempo, um apelo a cooperar com a acção do Espírito Santo em nós. Mas também podemos optar pela infelicidade, basta começar o dia dizendo e repetindo coisas deste tipo: As coisas vão muito mal. Nada surge de bom na vida. A nossa existência não é satisfatória. A Humanidade está a caminhar para o caos. Este mundo está perdido. Com esta atitude de espírito podemos ter a certeza de que esse dia será profundamente infeliz.

Se pelo contrário, a pessoa disser de modo consciente e decidido coisas mais ou menos como estas: “As coisas vão caminhar bem, pois Deus está em mim e por mim”. Quando vivemos com Deus, a vida é bonita e está cheia de coisas boas”. Se depois de nos repetirmos coisas deste género recordarmos coisas boas que a vida nos tem proporcionado. Podemos ter a certeza de que os acontecimentos deste dia vão ser uma fonte de felicidade para nós.”

A Bíblia insiste em que não devemos ter medo. Basta estarmos unidos a Deus, limpando a mente de pensamentos negativos e o coração de sentimentos de medo. Eis o que diz a primeira carta de São João: “No amor não há temor. O perfeito amor lança fora o temor. Com efeito, o temor implica castigo. O que teme não é perfeito no amor” (1Jo.4,18).

Jesus diz-nos que devemos ser confiantes como as crianças, tendo um coração simples e uma mente liberta. Quatro em cada cinco pessoas não são tão felizes quanto podiam ser. Muitas destas pessoas fabrica a sua própria infelicidade, deixando que a sua mente seja invadida por pensamentos negativos. Se desenvolvermos o hábito de excluir os pensamentos negativos, deixando emergir apenas os positivos, a felicidade surgirá e a vida ganha sabor a festa: “Nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem dos que o amam” (Rm.8,28).

A lei da felicidade é esta: “O hábito de limpar a mente de pensamentos negativos deixando emergir apenas os pensamentos positivos torna feliz a vida de uma pessoa”. Como a criação de hábitos depende de nós, podemos dizer que está nas nossas mãos o facto de sermos felizes ou não. É verdade que a plenitude da felicidade depende do facto de as energias de Deus poderem ou não circular livremente em nós. Mas isto não altera o facto de termos a última palavra na construção da felicidade. Com efeito, somos nós que facilitamos ou bloqueamos a circulação das energias de Deus em nós, dando lugar apenas a pensamentos saudáveis nas nossas mentes.

É importante seleccionar sempre pensamentos saudáveis. Lembremos as palavras de Jesus: “Felizes os que ouvem a Palavra de Deus e a guardam” (Lc.11,28). E ainda: “Sereis felizes se compreenderdes as minhas palavras e a praticardes” (Jo.13,17).

A maneira mais nobre de criar felicidade é amar: “Por isso te digo: os seus pecados são perdoados, pois deu provas de amar muito. Ao que ama pouco, pouco lhe será perdoado” (Lc.7,47). Mantenhamos o nosso coração livre de ressentimentos e desejos de vingança, bem como a mente livre de pensamentos negativos de medo e ansiedade. Fazendo isto podemos ter a certeza de estar prestes a fazer experiências profundas de felicidade.

Tem mais facilidade em caminhar para a felicidade a pessoa que vive com simplicidade, não é ambiciosa e dá muito de si: “Há mais felicidade em dar do que em receber” (Act.20,35). Se procurarmos encher o coração com o amor a Deus e aos irmãos, se procurarmos esquecer-nos um pouco de nós, pensando nos outros, vamos fazer experiências espantosas de felicidade num curto espaço de tempo. Jesus ensinou-nos isto com uma sabedoria infinita: “Felizes os pobres de espírito; felizes os mansos; felizes os que choram; felizes os que têm fome e sede de justiça; felizes os misericordiosos; felizes os puros de coração; felizes os que promovem a paz; felizes os que são perseguidos por causa da justiça” (Mt.5,3-12; Lc.6,20-26).

Jesus inverte os critérios do mundo sobre a questão da felicidade. O Senhor estava seguro sobre o que ensinava. Sabia que estava oferecendo ao homem a via da felicidade, isto é, a participação na própria felicidade divina: “Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo.15,11). A felicidade é tarefa. A sua plenitude não pode acontecer sem Deus. Mas a decisão para virmos a ser felizes ou não, é nossa. Deus já nos ofereceu o dom da plenitude em Cristo. A realização é nossa. Ninguém nos pode substituir nesta tarefa.


d) Deus Fonte da Vida Nova

O homem não nasce feito. Humanizar-se é emergir como interioridade pessoal mediante relações de amor e convergir para a comunhão universal, cujo coração é a comunhão amorosa da Santíssima Trindade. Os pensamentos negativos levam consigo uma força destrutiva. Não trazem qualquer vantagem à pessoa que os alimenta.

Os evangelhos dizem-nos que devemos evitar os pensamentos negativos., pois eles não contribuem para a solução dos nossos problemas e dificuldades: “Quem de entre vós, com as suas preocupações, pode prolongar a duração da sua vida?” (Mt.6,25-27; Lc.12,22-31). E ainda: “Tende cuidado, disse Jesus, para que as vossas vidas não fiquem pesadas devido às preocupações” (Lc.21,34).

Os pensamentos negativos geram emoções criadoras de stress que aceleram o ritmo do coração e a pressão arterial. Apesar do ritmo acelerado em que o mundo caminha, nós podemos contrariar em nós esta tendência a provocar super excitação. Acolhamos o dom das forças de Deus e teremos a paz necessária para vivermos de modo feliz: “O fruto do Espírito é a paz” (Ga.5,22; Rm.8,6).

Os estímulos fortes e o stress produzem secreções tóxicas e espalham-nas pelo corpo, provocando um cansaço emocional que bloqueia as capacidades da pessoa. Além de se sentir sempre cansada, a pessoa sente-se frustrada por não poder produzir. Os pensamentos positivos como fé, confiança, segurança, vontade de perdoar e desejo de servir os outros são um remédio milagroso para curar esta enfermidade.

Cristo deixou-nos a Paz interior como o grande dom do Espírito Santo: “Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou” (Jo.14,27). São Paulo, depois de ter experimentado a riqueza do dom da paz, diz aos colossenses: “Reine em vossos corações a paz de Cristo à qual fostes chamados, formando um só corpo” (Col.3,15). Estas afirmações não são produto de uma teoria qualquer. São revelação de Deus. O Espírito Santo, no nosso íntimo, é o manancial da paz que faz jorrar em nós alegria e felicidade.

Deus oferece-nos a paz como remédio para edificarmos a nossa felicidade, diz o evangelho de Lucas: “O Senhor guia os nossos passos no caminho da paz” (Lc.1,79). A paz e a felicidade não são produto do mundo ruidoso. Emergem no interior da pessoa na medida em que a pessoa sintoniza com a presença de Deus no seu interior. Segundo o ensinamento de Jesus, as coisas mais importantes acontecem no nosso interior. Por isso ele aconselha os discípulos a buscarem o silêncio: “Retiremo-nos para um lugar deserto e fiquemos ali por algum tempo” (Mc.6,31).

Quinze ou vinte minutos de meditação diária são fundamentais para realizarmos a “higiene” da mente e do coração. Este exercício vai-nos introduzindo gradual e progressivamente na comunhão com Deus. Nesses momentos, o nosso coração dilata-se ao ponto de nos sentirmos em comunhão com todos os seres humanos, como diz São Paulo: “Tudo vos pertence (…) a vida, a morte, as coisas presentes e as futuras. Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é de Deus” (1Cor.3,21-23).

Quando sentirmos o nervosismo a progredir ponhamos um travão dizendo-nos: “Para quê toda esta agitação? Não pretendo dominar o mundo! Se me deixo vencer por este frenesim destruo-me e não conseguirei ajudar os outros. Tenho de me livrar desta sobrecarga nervosa. A pressa excessiva e o activismo não trazem vantagens para ninguém. O remédio para curar esta doença está em grande parte ao meu alcance.

Sei que Deus está em mim e por mim. A alegria que brota da paz interior está ao meu alcance. Com efeito, se esvaziar a mente e o coração o dinamismo libertador de Deus invade-me e enche-me da sabedoria necessária para acolher o dom da paz: “Felizes os servos que o Senhor, ao chegar, encontrar vigilantes” (Lc.12,37). A presença libertadora de Deus é uma realidade que podemos experimentar. Não se trata apenas de ideias teóricas. Se treinarmos a mente e o coração para acolher a Palavra e o Espírito Santo, muito em breve sentiremos uma mudança na qualidade da nossa vida pessoal e relacional.

Esta experiência significa o Reino de Deus a acontecer dentro de nós como diz a Carta aos Romanos: “O Reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm.14,17). Quando Paulo escreveu estas palavras não estava a pensar numa realidade distante e fora do mundo. Pelo contrário, estava a falar de algo que se experimenta, como diz o evangelho de Lucas: “A vinda do Reino de Deus não é observável no nosso exterior. Não se poderá dizer: ei-lo aqui! ou ei-lo acolá, pois o Reino de Deus está dentro de vós” (Lc.17,20-21). É importante tomarmos estas afirmações bíblicas a sério.


e) Sintonia com o Dinamismo Salvador de Deus

A nossa interioridade pessoal é um feixe de energias espirituais, constituídas numa identidade única, original, irrepetível e capaz de comunhão amorosa. A comunicação com Deus acontece a partir deste núcleo íntimo atingindo sucessivamente o nível psíquico e somático, dinamizando-os e possibilitando a libertação de emoções, pensamentos e impulsos destrutivos: “Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em Espírito e Verdade” (Jo.4,24).

Deus é a origem e a cúpula das forças espirituais do Universo. As energias divinas correspondem ao nível mais nobre de todas as energias que é a vida de três pessoas de perfeição infinita em comunhão de amor incondicional. O amor é uma dinâmica de bem-querer que tem como origem as pessoas e como meta a comunhão. A Divindade é uma emergência permanente de três pessoas de perfeição infinita em convergência de comunhão amorosa.

A comunhão como dinamismo criador e salvador de Deus acontece através de Cristo que é o ponto de encontro do humano com o divino. O melhor está, portanto, ao nosso alcance, isto é, a comunhão com as pessoas divinas. Esta comunhão é orgânica e tem o jeito das relações familiares. Somos filhos em relação a Deus Pai e irmãos em relação a Deus Filho. O Espírito Santo é o amor maternal de Deus a inserir-nos na família de Deus (Rm 8, 14- 17).

Podemos ter a certeza de que se nos prepararmos para acolher o melhor, teremos o melhor. Pelo contrário, se imaginamos o pior para nós teremos o pior. Os nossos pensamentos, emoções e decisões são a força que determina em grande parte o que vamos ser. A Fé é que nos confere estes horizontes e a capacidade de conseguirmos o melhor, como diz o evangelho de Marcos: “Se acreditas, todas as coisas são possíveis para o que acredita” (Mc.9,23).

A fé converte-nos em crentes, capacitando-nos para termos sucesso nas nossas realizações. Mas isto é um dom que nos vem do Espírito Santo: “Jesus abriu-lhes a mente, a fim de entenderem as Escrituras” (Lc.24,45). Marcos dá-nos a garantia do sucesso pleno dos que acreditam e tomam Deus a sério: “Todas as coisas são possíveis para aquele que acredita” (Mc.9,23). Mateus vai nesta mesma linha: “Se tiveres fé nada será impossível para ti” (Mt.17,21). A Fé capacita-nos para tudo podermos em Deus: “Faça-se segundo a tua fé” (Mt.9,29).

As coisas tornam-se óptimas quando esperamos o melhor em vez do pior. Muita gente é derrotada pela vida, não por falta de habilidade ou competência, mas por falta de auto confiança, entusiasmo e Fé. A Fé dinamiza as nossas forças espirituais as quais formam o núcleo da nossa personalidade. Quando fazemos o exercício de Fé, o nosso pensamento e a nossa acção ficam em sintonia com Deus: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes discernir sobre a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito” (Rm.12,2).


f) Deus está connosco mas não em nosso lugar

Como vimos, a realização plena das nossas aspirações, os nossos sonhos mais perfeitos podem realizar-se. Para isso devemos procurar sintonizar o nosso ser com a realidade de Deus: “Não andeis como os gentios, na futilidade dos seus pensamentos, com o entendimento obscurecido, alienados da vida de Deus pela ignorância e a dureza de coração” (Ef.4,18).

Já vimos que é possível atingir os objectivos que mais nos encantam e concretizar os sonhos que queríamos realizar. Mas isto só é possível se estivermos conscientes de qual é o objectivo que queremos atingir e o sonho que desejamos realizar. Nada disto poderá ser feito se não soubermos onde queremos ir. Para conseguirmos isso é muito importante criarmos espaços de silêncio e diálogo com Deus sobre os nossos planos e objectivos: “Se vivemos pelo Espírito, pautemos também a nossa vida pelo Espírito” (Ga.5,25).

Se quisermos ir a qualquer parte mas não sabemos onde ir, nunca poderemos saber o que fazer ou qual o rumo a tomar. Se quisermos atingir um objectivo devemos saber quais os passos que devemos dar para o atingir. Depois de nos certificarmos de que o projecto ou objectivo que queremos atingir é justo e correcto, falemos a Deus sobre ele. Em seguida tentemos visualizar na nossa mente esse plano, procuremos retê-lo e, de seguida, avancemos sem qualquer medo: “O vosso Pai do Céu sabe do que tendes necessidade ainda antes de lho pedirdes” (Mt.6,8).

Esperemos o melhor e a nossa mente, ajudada pela força criadora de Deus, será capaz de atingir o melhor. A fé abre-nos para esta comunhão com o Deus criador. Isto significa que a nossa actividade será uma autêntica colaboração com o Deus criador. É fundamental aceitar tudo isto com humildade: “Eu te bendigo, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, pois ocultastes estas coisas aos sábios e as revelastes aos simples. Sim Pai, foi este o teu agrado” (Mt.11,25-26).

Se nos deixamos dominar por pensamentos negativos, a nossa meta será o fracasso. Se, pelo contrário, animados pela fé procuramos atingir objectivos claros, esta será a nossa meta: “Se Deus está connosco, quem poderá estar contra nós” (Rm.8,31). O poder da fé realiza maravilhas. Por outras palavras, a fé activa em nós uma enorme força criadora, a qual emerge da própria força criadora de Deus. Com a força da fé podemos atingir objectivos insuspeitáveis.

Como poderemos desenvolver em nós a força da fé? Enchendo a nossa mente com a Palavra de Deus. A fé tudo pode: “Tende fé em Deus. Em verdade vos digo, se alguém disser a este monte: ‘tira-te daí e lança-te ao mar’ sem vacilar no seu coração, acreditando que isso vai acontecer, acontecerá” (Mc.11,22-23). Com este exemplo, Jesus quis dizer-nos que as forças espirituais são poder maior que existe no Universo. O poder da fé realiza maravilhas!

Em cada manhã não deixemos de repetir: “Eu acredito que Deus me dá a força para atingir o que realmente eu quero; eu espero o melhor e sei que, com Deus, vou conseguir realmente o melhor; não acredito no fracasso dos que confiam realmente em Deus”. Eis o caminho para viver uma vida fecunda e, portanto feliz. O sentimento de ser uma pessoa realizada. Eis o que diz São Paulo aos Filipenses: “Tudo posso realizar através de Cristo que me fortalece” (Flp.4,13).

Se enfrentarmos os obstáculos com olhar positivo, perceberemos que estes não tinham metade do poder destrutivo que antes lhe atribuíamos. Perante um obstáculo devemos manter-nos de pé diante dele. Se tivermos fé em Deus e em nós mesmos encontraremos a força necessária para contornar as nossas dificuldades. A fé é a chave mais importante para atingirmos as nossas metas mais queridas. Capacita-nos para enfrentar e superar os obstáculos de maneira inimaginável. Associada ao pensamento positivo, a fé capacita-nos para ultrapassar todas as dificuldades da vida. Pela fé o nosso coração abre-se ao poder de Deus que nos transforma e torna mediações da sua força criadora.

As Escritura comunicam-nos critérios e Sabedoria divina, capacitando-nos para sermos colaboradores de Deus na obra da Criação e Salvação, como diz a segunda Carta a Timóteo: “As Escrituras têm o poder de comunicar a Sabedoria que conduz à Salvação pela fé em Jesus Cristo. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, refutar, corrigir e educar na justiça” (2Tim.3,15-16).

Em geral, os obstáculos não são imaginação. Mas a nossa atitude para com eles é mental. De facto, as nossas atitudes são moldadas por processos mentais. O que pensamos acerca das dificuldades determina em grande parte o que fazemos em relação a elas. É importante conservarmos na mente a ideia de que os obstáculos nunca são tão grandes como os imaginamos à partida. É importante ter, à partida, a convicção de que os obstáculos são removíveis. A partir do momento que começamos a pensar deste modo, está iniciado o processo de superação dos mesmos obstáculos.

Uma pessoa muitas vezes derrotada por obstáculos, passou de certeza muito tempo a dizer-se a si mesma: não há nada a fazer. A mente desta pessoa foi aceitando gradualmente os seus pensamentos negativos, orientando-se no sentido do fracasso. Somos em grande parte o que pensamos. Pelo contrário, quando a pessoa desenvolve a atitude contrária, acaba por descobrir de um momento para o outro uma força exterior que desconhecia totalmente. É importante termos sempre presente que Deus abre caminhos, lá onde não havia qualquer caminho. Com Deus todas as coisas possíveis entram dentro da esfera das nossas possibilidades.


g) Fé e Libertação Pessoal

A preocupação e a ansiedade doentia são hábitos mentais de carácter doentio e destrutivo do equilíbrio psíquico. Não nascemos com este ou quaisquer outros hábitos. Os hábitos são realidades adquiridas, por isso podem ser corrigidos e, através do exercício, ser expulsos da nossa mente. A ansiedade doentia é a causa de muitas tensões altas, problemas de coração, úlceras e artrites reumatóides. Mas podemos ultrapassar as nossas preocupações doentias e as ansiedades.

Podemos utilizar a nossa imaginação para vencer os sentimentos de medo, tentando visualizar a acção libertadora de Deus a fortalecer-nos, capacitando-nos para vencer as causas que geraram em nós pensamentos persistentes ligados ao medo. O que imaginamos pode tornar-se um facto na medida em que nos predispõe para agir de acordo com os conteúdos dessa imaginação.

Com o pensamento positivo podemos eliminar os medos anormais da nossa mente. Sabemos que, de facto, Deus está habitando em nós, enchendo-nos dessa força que vence os obstáculos e as causas dos nossos medos. Não esqueçamos que, no próprio momento em que surge um problema ou um obstáculo Deus está agindo em nós se lho permitirmos. Por outras palavras, Deus não se retira no momento das dificuldades.

O medo é dos pensamentos mais fortes que acontecem em nós, com excepção da fé. Isto quer dizer que só agindo com fé podemos vencer o medo. Pedro quis caminhar ao lado de Jesus sobre as águas dos problemas e dificuldades, mas a fé começou a fracassar e Pedro começou a afundar-se. Então Jesus disse-lhe: “Homem de pouca fé porque duvidaste?” (Mt.14,31). Quando Jesus foi a Nazaré não fez lá muitos milagres pela falta de fé dos seus conterrâneos: “E não fez ali muitos milagres por causa da incredulidade deles” (Mt.15,38; Mc.6,6).

Se tememos uma realidade de modo contínuo, começamos a criar condicionamentos psíquicos, ao ponto de fazermos que aconteça aquilo que tememos. Nas nossas conversas eliminemos palavras associadas ao medo e à ansiedade. As palavras podem ser resultado dos nossos pensamentos, mas estas também geram o nosso modo de pensar.

Se todas as manhãs procurarmos encher as nossas mentes com conteúdos de fé e esperança, o nosso modo de estar e agir vai-se modificando. É importante criarmos o hábito de falar com Deus sobre os nossos assuntos, acreditando que ele nos ouve e compreende. Acreditemos que esta maneira de falar com Deus é essencial para recebermos a inspiração necessária para superarmos os problemas da vida sem dificuldade: “Se tivesses fé do tamanho de um grão de mostarda, nada seria impossível para ti” (Mt.17,20). Como vemos, se tomarmos os evangelhos a sério temos muitas razões para vencermos os medos e as ansiedades.

A nossa falta de fé leva-nos muitas vezes a temer que tudo isto não passe de uma ilusão. Precisamos de ter fé para tomar estas afirmações a sério, pois foram escritas por gente que viveu muitos problemas e dificuldades. Não se trata de fantasia ou mero simbolismo. Não se trata de simples metáforas, mas de afirmações que apontam para uma realidade profunda. A fé é a solução para uma vida feliz: “faça-se segundo a tua fé” (Mt.9,29).

Acreditemos que para cada problema existe uma solução. Mantenhamo-nos calmos. A tensão bloqueia os pensamentos positivos e a livre circulação das energias positivas em nós. O nosso cérebro, sob stress não consegue actuar com normalidade. Falemos da dificuldade ou problema com Deus e a luz adequada para os ultrapassar surgirá.

O equilíbrio pessoal pressupõe interacção harmoniosa entre os níveis somático, psíquico e espiritual. A pessoa é um todo interactivo. A fé bíblica associa muitas vezes fé e saúde. Já vimos como os pensamentos negativos são geradores de desequilíbrio e doenças. Por outras palavras, muitas doenças estão interligadas com pensamentos negativos de medo, de inferioridade, de culpa, ressentimento e ódio.

É importante termos presente que, como diz a carta aos Hebreus, Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre (cf. Heb.13,8). O Jesus que libertou tanta gente continua vivo a actuar em nós. Se tivermos fé, Ele poderá libertar-nos como libertou tantas outras pessoas. Se existe muita desarmonia em nós, isso deve-se em primeiro lugar ao facto de haver desarmonia nos nossos pensamentos e emoções. O facto de uma actividade ou missão se tornar fácil ou difícil depende em grande parte do modo como pensamos acerca dessa mesma missão.


h) O Amor como Fonte de Harmonia

A harmonia a nível das relações é uma fonte maravilhosa de paz. Sabemos que esta harmonia não depende apenas de nós, pois o tecido das relações é, por natureza, um campo assente na interacção e reciprocidade. Mas de nós depende muita coisa. São Paulo reconhece esta situação quando escreve: “Se possível, tanto quanto depende de vós, vivei em paz com todos os homens” (Rm.12,18).

Sentir que está a mais, que não é procurado é uma das experiências mais destrutivas que a pessoa pode ter. Um dos aspectos mais significativos da natureza humana é o desejo de ser apreciado. Todos desejamos que as pessoas gostem de nós. Quando ouvirmos uma pessoa dizer: “Não me interessa se as pessoas gostam ou não de mim”, podemos ter a certeza de que essa pessoa ou está psiquicamente doente ou está a mentir. Uma expressão deste tipo pressupõe sempre um sofrimento de fundo.

O sentimento de não ser procurado nem necessitado produz frustração, envelhecimento e doença. Quando uma pessoa nota que ninguém a procura, sente-se dominada pela solidão. A sua vida psíquica fica profundamente abalada. Tal pessoa terá a tendência de culpar os outros. A realidade, porém, é diferente. A causa desta perturbação relacional está sobretudo dentro de si.

É muito importante tomar consciência deste estado das coisas, a fim de mudar de atitude. À medida que a pessoa começa a descobrir caminhos para se dar e aproximar dos outros, começa a descobrir que no mundo há muitas pessoas interessantes e bondosas. Devemos recordar sempre que o melhor dos outros começa a circular para nós quando o melhor de nós começa a circular para os outros. A Bíblia entende profundamente de amor e humanização dos seres humanos. Esta sabedoria ela a sintetiza de maneira brilhante quando afirma: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior que este” (Mc.12,28-31; Mt.22,34-39; Lc.10,25-27).

Na sua essência, o facto de os outros gostarem de nós, é a resposta normal ao facto de nós gostarmos deles. Ajudemos as pessoas a realizar-se e ser felizes e elas amar-nos-ão por este facto. Facilitemos a realização dos outros tanto quanto pudermos, a fim de a alegria e felicidade começarem a germinar em nós. Para os cristãos este amor atinge uma densidade nova devido à dinâmica do Espírito Santo que, no íntimo dos crentes, vai dizendo a Palavra de Deus. Neste caso o amor chama-se caridade devido à dinâmica da revelação em nós.

Ajudemos os irmãos a ser felizes e a realizar-se e sentiremos que, afinal, não temos falta de amigos. Procedendo assim estaremos a sintonizar com Deus que, no íntimo dos nossos irmãos, está presente como força criadora e salvadora: “O amor vem de Deus e todo o que ama nasceu de Deus. O que não ama não conheceu a Deus, pois Deus é Amor” (1Jo.4,7-8).

O amor é a dinâmica que faz acontecer a realização pessoal, fonte de alegria e felicidade: “Sabemos que passamos da morte à vida porque amamos os irmãos. O que não ama permanece na morte. De facto, o que odeia o seu irmão é homicida. Nisto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo.3,14-17).

Não podemos atingir a nossa realização e maturidade humana sem um cultivo sério das nossas relações com os outros. Um passo importante para esta construção da harmonia relacional é facilitar aos outros o acesso à comunicação connosco. Não queiramos ser pessoas muito importantes. Este aspecto não nos pertence a nós afirmá-lo, mas aos outros reconhecê-lo.

O egocentrismo é certamente um dos muros que mais dificulta o acesso dos outros à comunicação connosco: “Ouvistes dizer: ‘amai o próximo e odiai o inimigo’. Eu, porém, digo-vos: ‘amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, pois ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Sede perfeitos como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt.5,43-48). É importante não pretendermos saber tudo. A humildade e a naturalidade cativam: “Felizes os mansos, porque possuirão a Terra (…). Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt.5,5-9).

Tenhamos o cuidado de mostrar interesse por coisas que são muito importantes pelos que se aproximam de nós. Nunca deixemos de felicitar o outro pelas suas realizações mesmo que sejam pequenas, bem como mostrar pena pelas suas dores e tristezas. Fazendo assim estamos a entrar em comunhão profunda com o irmão e com Deus que o habita. Os que fazem isto estão a viver a plena reconciliação com Deus e os irmãos: “O amor cobre a multidão dos pecados. Consagrai-vos ao serviço uns dos outros, segundo o dom que cada qual recebeu. Fazendo assim tornais-vos despenseiros do amor salvador de Deus” (1Ped.4,8-10).

Se, pelas nossas atitudes, dermos força e coragem às pessoas, podemos estar seguros de que elas procurarão dar-nos afecto e amizade. Deus é o coração da energia espiritual do Universo que são todos os seres pessoais que existiram, existem ou virão a existir. Quando amamos os irmãos estamos a sintonizar com esta comunhão universal. Em perspectivas cristãs esta comunhão das pessoas divinas com as humanas e outras chama-se Reino de Deus. De facto não fomos criados para a solidão mas para a comunhão. A plenitude da pessoa não se encontra em si mas nos outros.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

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