Colaborar com o Deus Vivo: h) o Amor como Fonte de Harmonia



A harmonia a nível das relações é uma fonte maravilhosa de paz. Sabemos que esta harmonia não depende apenas de nós, pois o tecido das relações é, por natureza, um campo assente na interacção e reciprocidade. Mas de nós depende muita coisa. São Paulo reconhece esta situação quando escreve: “Se possível, tanto quanto depende de vós, vivei em paz com todos os homens” (Rm.12,18).

Sentir que está a mais, que não é procurado é uma das experiências mais destrutivas que a pessoa pode ter. Um dos aspectos mais significativos da natureza humana é o desejo de ser apreciado. Todos desejamos que as pessoas gostem de nós. Quando ouvirmos uma pessoa dizer: “Não me interessa se as pessoas gostam ou não de mim”, podemos ter a certeza de que essa pessoa ou está psiquicamente doente ou está a mentir. Uma expressão deste tipo pressupõe sempre um sofrimento de fundo.

O sentimento de não ser procurado nem necessitado produz frustração, envelhecimento e doença. Quando uma pessoa nota que ninguém a procura, sente-se dominada pela solidão. A sua vida psíquica fica profundamente abalada. Tal pessoa terá a tendência de culpar os outros. A realidade, porém, é diferente. A causa desta perturbação relacional está sobretudo dentro de si.

É muito importante tomar consciência deste estado das coisas, a fim de mudar de atitude. À medida que a pessoa começa a descobrir caminhos para se dar e aproximar dos outros, começa a descobrir que no mundo há muitas pessoas interessantes e bondosas. Devemos recordar sempre que o melhor dos outros começa a circular para nós quando o melhor de nós começa a circular para os outros. A Bíblia entende profundamente de amor e humanização dos seres humanos. Esta sabedoria ela a sintetiza de maneira brilhante quando afirma: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não existe outro mandamento maior que este” (Mc.12,28-31; Mt.22,34-39; Lc.10,25-27).

Na sua essência, o facto de os outros gostarem de nós, é a resposta normal ao facto de nós gostarmos deles. Ajudemos as pessoas a realizar-se e ser felizes e elas amar-nos-ão por este facto. Facilitemos a realização dos outros tanto quanto pudermos, a fim de a alegria e felicidade começarem a germinar em nós. Para os cristãos este amor atinge uma densidade nova devido à dinâmica do Espírito Santo que, no íntimo dos crentes, vai dizendo a Palavra de Deus. Neste caso o amor chama-se caridade devido à dinâmica da revelação em nós.

Ajudemos os irmãos a ser felizes e a realizar-se e sentiremos que, afinal, não temos falta de amigos. Procedendo assim estaremos a sintonizar com Deus que, no íntimo dos nossos irmãos, está presente como força criadora e salvadora: “O amor vem de Deus e todo o que ama nasceu de Deus. O que não ama não conheceu a Deus, pois Deus é Amor” (1Jo.4,7-8).

O amor é a dinâmica que faz acontecer a realização pessoal, fonte de alegria e felicidade: “Sabemos que passamos da morte à vida porque amamos os irmãos. O que não ama permanece na morte. De facto, o que odeia o seu irmão é homicida. Nisto conhecemos o amor: Ele deu a vida por nós, também nós devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo.3,14-17).

Não podemos atingir a nossa realização e maturidade humana sem um cultivo sério das nossas relações com os outros. Um passo importante para esta construção da harmonia relacional é facilitar aos outros o acesso à comunicação connosco. Não queiramos ser pessoas muito importantes. Este aspecto não nos pertence a nós afirmá-lo, mas aos outros reconhecê-lo.

O egocentrismo é certamente um dos muros que mais dificulta o acesso dos outros à comunicação connosco: “Ouvistes dizer: ‘amai o próximo e odiai o inimigo’. Eu, porém, digo-vos: ‘amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; deste modo vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, pois ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Sede perfeitos como o vosso Pai do Céu é perfeito” (Mt.5,43-48). É importante não pretendermos saber tudo. A humildade e a naturalidade cativam: “Felizes os mansos, porque possuirão a Terra (…). Felizes os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt.5,5-9).

Tenhamos o cuidado de mostrar interesse por coisas que são muito importantes pelos que se aproximam de nós. Nunca deixemos de felicitar o outro pelas suas realizações mesmo que sejam pequenas, bem como mostrar pena pelas suas dores e tristezas. Fazendo assim estamos a entrar em comunhão profunda com o irmão e com Deus que o habita. Os que fazem isto estão a viver a plena reconciliação com Deus e os irmãos: “O amor cobre a multidão dos pecados. Consagrai-vos ao serviço uns dos outros, segundo o dom que cada qual recebeu. Fazendo assim tornais-vos despenseiros do amor salvador de Deus” (1Ped.4,8-10).

Se, pelas nossas atitudes, dermos força e coragem às pessoas, podemos estar seguros de que elas procurarão dar-nos afecto e amizade. Deus é o coração da energia espiritual do Universo que são todos os seres pessoais que existiram, existem ou virão a existir. Quando amamos os irmãos estamos a sintonizar com esta comunhão universal. Em perspectivas cristãs esta comunhão das pessoas divinas com as humanas e outras chama-se Reino de Deus. De facto não fomos criados para a solidão mas para a comunhão. A plenitude da pessoa não se encontra em si mas nos outros.


Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias

O texto completo podemos vê-lo  em Colaborar com o Deus Vivo e Verdadeiro, no tema Maturidade de Fé e Vida Cristã

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