Liberdade, é uma conquista e uma tarefa a realizar. É a capacidade de a pessoa se relacionar amorosamente com os outros e interagir criativamente com as coisas. A liberdade não acontece sem decisões amorosas e atitudes criativas.
Com efeito, a nossa liberdade é o resultado de uma cadeia de opções, escolhas e decisões na linha do amor. O ser humano não nasce livre. Mas tem a possibilidade de se realizar como pessoa livre, consciente e responsável. As pessoas não são peças de artesanato feitas em série. Isto significa que os seres humanos têm diferentes graus de liberdade realizada.
Esta situação deriva do facto de o ser humano estar em construção histórica. Faz-se, fazendo. Cada pessoa se realiza de modo único, original e irrepetível. A liberdade é sempre uma consequência das opções, escolhas e decisões pessoais. Trata-se, naturalmente, de opções na linha do amor e da criatividade.
Por outras palavras, a liberdade, tal como a realização pessoal, é fruto de uma vida comprometida. É verdade que não há realização pessoal nem liberdade sem sonho. No entanto, a pessoa não é igual aos sonhos que tem, pois a pessoa faz-se fazendo. Temos de dizer que a pessoa é igual aos sonhos e projectos que realiza.
Alguns sonhos não passam de fugas da realidade. A pessoa que se deixa embalar por tais sonhos não se realiza. E por esta mesma razão não atinge um nível profundo de liberdade. Não devemos confundir liberdade com livre arbítrio. Este é a capacidade psíquica de optar. Mas não basta decidir e optar para sermos livres.
De facto, podemos optar pelo amor ou pelo egoísmo. Apenas as opções na linha do amor e da criatividade tornam a pessoa livre. Como vimos, ser livres é ser capaz de se relacionar amorosamente com as pessoas e interagir criativamente com as coisas.
Como capacidade psíquica de optar, o livre arbítrio é a possibilidade de sermos livres. Mas tudo depende do estilo das nossas opções. Ninguém é capaz de matar a liberdade da pessoa que se tornou livre. Mas também ninguém é capaz de dar a liberdade a alguém.
A sociedade pode prender uma pessoa profundamente livres. Pode limitar as possibilidades de esta pessoa exercitar a sua liberdade e, portanto, condicionar o seu crescimento em liberdade. Mas ninguém é capaz de lhe roubar a liberdade, pois esta é uma dimensão espiritual. A liberdade pertence à interioridade máxima da esfera espiritual da pessoa.
Jesus disse que quem comete o pecado é escravo do pecado (Jo 8, 34). O pecado é exactamente o contrário do amor. É a recusa da pessoa humana a realizar-se mediante relações de amor.
Cristo libertou-nos das amarras do medo e deu-nos duas asas fundamentais para voarmos em direcção à liberdade: o Espírito Santo e a Palavra de Deus. As asas não se nos impõem, mas capacitam-nos para voar. Só voam se entrarmos em sintonia com a sua força de voar.
Eis o que diz o evangelho de João a este respeito: “Se permanecerdes na minha Palavra sereis meus discípulos, conhecedores da verdade. E a verdade vos libertará” (Jo 8, 31-32). A Palavra de Deus, por ser a verdade, dá-nos os critérios certos para optarmos e decidirmos na linha do amor, condição fundamental para sermos livres. No nosso íntimo, Deus é um grito que nos convida a agir de acordo com o amor, a fim de sermos livres.
Como vemos a liberdade não é uma coisa que possamos dar aos outros. Mas podemos dar melhores ou piores condições para que os outros se tornem livres. A afirmação segundo a qual Deus nos dá a liberdade precisa de ser explicada: Em primeiro lugar é preciso saber que todos os dons de Deus nos são feitos em forma de possibilidades ou talentos. Esta é uma condição essencial para as dádivas divinas serem dons. Se assim não fosse não seriam dons mas imposições.
Como já vimos, a liberdade é uma dimensão espiritual. É a capacidade de nos relacionarmos amorosa e criativamente. A possibilidade de sermos livres assenta tanto no nível biológico como no psíquico.
A nível biológico a possibilidade de sermos livres assenta no nosso cérebro o qual, pelo neocortex, nos liberta da estrutura instintiva rígida dos animais e que é a matriz do livre arbítrio. Com efeito, os animais não têm livre arbítrio, pois todos os seus comportamentos são determinados pelos instintos.
A nível psíquico temos o livre arbítrio possibilidade de optarmos pelo bem ou pelo mal. Se decidimos optar pelo mal, isto é, pelo que impede o homem de se realizar como pessoa em comunhão com os outros não nos tornamos livres. Se, pelo contrário, decidimos e optamos na linha do amor, então emergimos e robustecemo-nos como pessoa livre, consciente, responsável e capaz de comunhão amorosa.
São Paulo, na carta aos Gálatas diz uma coisa muito importante em relação à liberdade: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto permanecei e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão (…). Que a liberdade não sirva de pretexto para vos deixardes subjugar pela carne, o homem velho. Pelo contrário, mediante o amor, ponde-vos ao serviço uns dos outros” (Ga 5, 1-13).
Como dissemos acima, nem todas as pessoas têm o mesmo nível de liberdade. São Paulo aconselha as pessoas que têm um nível maior de liberdade a não chocarem os mais fracos: “Mas tende cuidado que a vossa liberdade não venha a ser ocasião de queda para os mais fracos. Se alguém te vê, a ti que tens a ciência e a liberdade, comer alimentos que foram consagrados aos ídolos, é capaz de se voltar para os ídolos. Deste modo, pela tua ciência vai perder-se quem é fraco?” (1 Cor 8, 9-10).
A lei do amor continua a ser a expressão da liberdade já realizada e o caminho para continuar a crescer na mesma liberdade.
Em Comunhão Convosco
Calmeiro Matias
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